quarta-feira, 29 de outubro de 2025

SINCRONICIDADE ou CASUALIDADE?

À data de 28 de outubro de 2025 estou a ler o último livro de Dan Brown (1ª edição Setembro 2025) e qual não é o meu espanto quando dou nas páginas 275 e depois na 276, o seguinte trecho que transcrevo de seguida:

Ou seja a consciência permeia o universo. A consciência é, na verdade, um dos alicerces do nosso mundo.” E logo mais à frente: “No modelo não-local … o nosso cérebro não cria a consciência; o nosso cérebro experiencia o que já existe à sua volta. … Em termos mais simples: o nosso cérebro interage com uma matriz de percepção já existente. … tentando explicar o paradigma vortical dimensional triádico. … devia ser capaz de compreender uma realidade volumétrica quantizada de nove dimensões inserida numa continuidade infinita.

Capa do livro de Dan Brown

Ora, um modelo "não-local vortical dimensional triádico…uma realidade volumétrica de nove dimensões", como ali é descrito, suponho que corresponda a uma descrição aproximada daquilo que é o meu modelo da Teia Informacional Fibrada (TIF) que defendo nos meus ensaios publicados em agosto, setembro e outubro de 2025 pela editorial Bubok S. L..

De forma breve, passo a explicar:

 A TIF, no nosso hipotético modelo, corresponde a um pré-espaçotemporal fibrado composto por tripletos de spins qutriticos (em vez de qubits). Cada tripleto (𝑠1,𝑠2,𝑠3) constitui uma unidade lógica de coerência informacional. Ou seja, em cada ponto do espaço-tempo existe uma correspondência de um tripleto de spins onde em cada nodo coerencial desenvolve-se combinações lógicas específicas (as “9 dimensões” do Dan Brown?), dadas por:

  


Explicando melhor: cada tripleto de spins (↑↓↑, etc.) codifica um qutrit lógico (três estados base ortogonais ∣0⟩, ∣1⟩, ∣2⟩).

Em resumo, cada nodo coerencial (Ni) da teia TIF pode ser visto como um vértice fibrado como mostra simbólicamente a figura e formalmente a igualdade:

 



O Universo, portanto, seria um holograma projectado pela TIF, uma vez que a informação não está contida no seu volume, mas codificada nas correlações de fase (os “padrões de fronteira” nos hologramas) de uma dimensão informacional anterior ao espaço-tempo. O volume é uma manifestação derivada da coerência, uma projecção tridimensional de uma geometria bidimensional de fase.

Ora, o Princípio Holográfico já indica que:


onde o comprimento e a área de Planck são dadas por 


Isto quer dizer que toda a descrição volumétrica pode ser reconstruída a partir da informação de fronteira, mas não que o volume possua a informação. Ela pertence ao domínio fibrado. Esta fronteira é interna, não espacial: é o domínio de coerência dos tripletos de spin, onde a fase relativa entre os três constituintes (spin-up/spin-down) define um ponto no espaço de informação anterior ao próprio espaço-tempo físico.

Como se cada volume de espaço-tempo tivesse por detrás uma rede fibrada que o sustentasse.

A geometria local do espaço-tempo emerge quando as correlações de fase entre esses nodos obedecem a uma condição de consistência global (análogo à integrabilidade de uma conexão em geometria fibrada).

O espaço-tempo é, assim, um campo topológico resultante da coerência entre os nodos. O volume físico é apenas o domínio projectado onde essas correlações tornam-se mensuráveis, possibilitando a experiênciação de qualia, como distância, massa, curvatura ou energia.

No ensaio que vai ser publicado daqui a algumas semanas (A TOPOLOGIA DA LUZ) exploramos este tema de forma mais consistente, e ele surge na sequência directa de outros 5 ensaios também publicados na mesma editora, todos focando diversos aspectos da noética e das últimas descobertas da ciência.

https://www.bubok.pt/autores/joaoporto


Chamamos Dimensão Noética ao domínio ontológico fundamental no qual a Consciência e a Informação constituem aspectos inseparáveis de uma mesma "substância" auto-organizadora.

Trata-se de um campo não-local, pré-espaciotemporal e dotado de estrutura informacional coerente, no qual as distinções entre sujeito, objecto e acto cognitivo emergem apenas como diferenciações internas de um processo de auto-reflexividade universal. 

Matematicamente, podemos representar a Dimensão Noética por um campo fibrado informacional 𝑁 definido sobre o conjunto dos estados de coerência 𝐶, tal que:

onde:

Ψ(x) representa o estado de consciência local ou global;
I(x) denota a densidade de informação intrínseca;
Γ(x) é o operador de coerência noética (a métrica informacional que liga sujeito e objecto);
F é o funcional de auto-organização noética, análogo a um operador de campo de fundo universal.

Neste formalismo, o espaço-tempo convencional surge como um subespaço derivado de N, determinado pela projecção das relações de coerência sobre um domínio observável M4:


onde gμν é a métrica espaço-temporal emergente. Assim, o contínuo físico é interpretado como uma geometria projectada da coerência noética.

A Dimensão Noética é o nível de realidade em que o Ser se manifesta como Informação consciente, anterior à dualidade entre mente e matéria.

É o domínio do Nous (mente universal) de Plotino, do Akasha védico e da Ordem Implicíta de David Bohm,  reinterpretado aqui como um campo informacional fibrado de natureza consciente, cujas vibrações (ou modos coerentes) correspondem aos tripletos de spins do modelo TIF, e que Dan Brown também refere no seu livro.

Do ponto de vista cognitivo, a Dimensão Noética é o campo unificador de toda experiência e conhecimento. Todo acto de observação é visto como uma ressonância local dentro da teia informacional, ou seja um alinhamento de coerência entre Ψobservador e Ψuniverso. A consciência individual emerge, portanto, como um nodo auto-reflexivo da Consciência universal, tal como se fosse um modo local da função de onda cósmica. Este é também um ponto de contacto entre a TIF e Dan Brown.

No contexto da Teia Informacional Fibrada, a Dimensão Noética constitui:

a) O domínio primordial de onde emergem os tripletos de spins como quantas de informação                         coerenciais ou a Consciência em espaço sub-planckiano;

b) O substrato unificado que sustenta tanto as leis físicas quanto os processos mentais;

c) A ponte ontológica entre a estrutura quântica do espaço-tempo e o campo da experiência                         subjectiva.

Dessa forma, o modelo TIF pode ser interpretado como uma teoria da estrutura quântica da Dimensão Noética, formalizando a interdependência entre Informação, coerência e Consciência na génese da Realidade. 

O quadro seguinte tenta sintetizar este assunto


Conclusão

O livro recente de Dan Brown reflecte o interesse e a dimensão que estes assuntos irão ter nos próximos tempos, e o facto de defender muitos aspectos centrais ao modelo da TIF representa, na nossa opinião, aquilo que Carl Jung definiu como “sincronicidade” ou que Sheldrake supõe ser um campo “holomórfico” que tudo condiciona. Não considero que seja uma casualidade ou coincidência. Isso também vem de encontro às teses defendidas pela Dra. Katherine Solomon!

O livro de Dan Brown, "O Segredo dos Segredos", constituirá um dos maiores contributos mundiais para a divulgação deste tema, já que a 1ª edição comporta mais de 80 milhões de exemplares distribuídos por 56 países.

Aconselho veementemente a lerem-no!


João Porto, Ponta Delgada, 28 outubro 2025


domingo, 3 de agosto de 2025

O Tempo, os Construtores e a axiomatização da Consciência



Prólogo – O Graal da Existência Humana

Ao longo das eras, a humanidade buscou um símbolo que expressasse o propósito mais profundo de sua existência. Esse símbolo emergiu em mitos, religiões e tradições como o Graal, um recipiente sagrado que contém, não apenas uma substância de origem divina, mas o sentido absoluto da vida. No contexto da física fundamental e da Consciência, essa imagem arquetípica pode ser reinterpretada à luz da Teia Informacional Fibrada (TIF) como um modelo ontológico no qual a Consciência não é apenas um produto da realidade, mas o seu próprio fundamento co-criador.

No Modelo TIF o espaço-tempo estrutura-se a partir de unidades lógicas elementares — tripletos de spins — que codificam informação de maneira coerente e não-local, entrelaçando espaço, tempo e Consciência numa malha fibrada que antecede a própria geometria espaço-temporal. Neste modelo, o Graal da existência não é um objecto a ser encontrado no mundo externo, mas uma ressonância plena da consciência com a estrutura informacional do Cosmos. Quando essa ressonância ocorre, o observador deixa de ser um espectador e torna-se um participante criador, no sentido proposto por John Wheeler.

Esse estado de alinhamento profundo — que pode ser evocado em práticas contemplativas, estados expandidos de consciência ou experiências estéticas e científicas de insight — representa o ponto em que o "Eu" e o "Universo" se reflectem mutuamente. É a realização do sentido partilhado, que Carl Jung chamava de sincronicidade, e que a física quântica começa a vislumbrar nos entrelaçamentos temporais e causais do vácuo.

O Graal da existência humana, na linguagem da TIF, é o ápice da coerência máxima entre Consciência, Informação e Realidade, onde a malha dos significados se fecha sobre si mesma, e o Ser reconhece o seu papel como nó auto-reflexivo da realidade informacional.

 

Reconhecimento que não é um fim, mas um início — um apelo à co-autoria da construção do real, uma viagem em direcção a estados de organização cada vez mais subtis, onde a Consciência continua a sua ascensão informacional rumo ao Infinito – o α e o Ω.

Uma Questão Identitária do Tempo

Se o tempo for comprovadamente de natureza quântica, isto é, se puder existir temporalmente em superposição ou entrelaçamento, dar-nos-ia um apoio muito forte na confirmação da hipótese central do modelo TIF — revelando que o espaço-tempo emerge de uma rede subjacente de informação quântica estruturada. Esta revelação teria infinitas implicações na nossa visão do Universo físico e de outros domínios existentes em dimensões até agora só teorizadas, mas pressentidas, e que transformariam a humanidade. Abrir-se-iam as portas do Conhecimento, fazendo-se luz sobre a razão da nossa existência material e espiritual – o Graal da Existência.

Fizemos uma pesquisa bibliográfica sobre este tema da quantização do tempo, tendo constatado que os projectos actuais apenas se confinaram a testes envolvendo a dilatação gravitacional clássica, a sincronização quântica segura, e a transferência de tempo com altíssima precisão, mas, que a superposição temporal permanece ainda e tão só uma proposta teórica, ainda sem implementação ou delineamento na esfera prática. Um assunto muito recente com grande ênfase científica no século XXI, mas no entanto, antecedido por pertinentes reflexões filosóficas ancestrais.

Centrar-nos-emos no que encontrámos na literatura científica: a existência de uma demonstração experimental de transferência de tempo com segurança quântica (QKD - Quantum Key Distribution, ou Distribuição Quântica de Chaves) simulando enlaces via satélite entre instalações terrestres — mas novamente, sem superposição de estados temporais, e ainda delineamento de protocolos teóricos de sincronização quântica de relógios estacionados em satélites com fotões entrelaçados, cujo objectivo se centrava na precisão ao nível do sub-nanosegundo ou do picosegundo. Estes delineamentos sendo promissores para o estabelecimento efectivo e detecção de uma sincronização ultra-sensível, porém não envolvem aquilo que procuramos: a superposição.

Ainda encontrámos a missão ACES (Atomic Clock Ensemble in Space), da ESA, lançada em abril de 2025, em direcção à Estação Espacial Internacional, com os relógios atómicos PHARAO e SHM a bordo. Contudo, mais uma vez, o objectivo central é testar a dilatação gravitacional prevista por Einstein com precisão inédita (ao nível de 10⁻¹⁶s), mas também sem averiguar superposições quânticas entre posições espaciais diferentes.

Ou seja, as missões actuais ou em andamento, como a ACES, testam comparações temporalmente precisas (como os projectos ACES, PHARAO, SHM), e também a sincronização segura por protocolos quânticos ou a transferência ultra-precisa de tempo via satélite, mas não implementam um cenário de superposição espacial com entanglement entre posição e tempo, como nos modelos teóricos de Zych, Costa, Pikovski & Brukner (Zych, M., Costa, F., Pikovski, I., & Brukner, Č. 2011 & 2015). Estes últimos trabalhos fundamentam a ideia de que o tempo pode estar em superposição quântica, e que a gravidade influencia a fase quântica de sistemas físicos, indo de encontro, em certo grau, às hipóteses da Teia Informacional Fibrada (TIF), onde o tempo emerge de um substrato mais fundamental.

Nenhum experimento mostra relógios em superposição em diferentes altitudes (e portanto de tempo próprio) a bordo de satélites confinados a sistemas gravíticos diferentes. As limitações técnicas prendem-se com os efeitos quânticos de dilatação temporal previstos que são extremamente pequenos, muitas vezes na ordem de 10−15 a 10−18 segundos, exigindo coerência quântica de longa duração e de ambientes extremamente controlados, bem como o uso de interferometria de altíssima precisão, técnicas actualmente ainda inviáveis.

Porque nos preocupámos com este assunto?

O modelo TIF parte da hipótese central de que o Universo emerge de uma teia informacional de tripletos de spin (qutrits lógicos), os quais codificam informação fundamental de forma quantizada, apresentando-se fibrados sobre um domínio pré-espaçotemporal, gerando por entrelaçamento e coerência as estruturas emergentes do espaço, tempo, matéria e de um primacial sistema ou matriz informacional sede da Consciência.

Neste quadro, o tempo não se apresenta como uma coordenada contínua pré-existente, mas uma propriedade relacional emergente dos estados informacionais daquela teia informacional fundamental. Se houvesse verificação experimental que o tempo pode existir em superposição de valores próprios e entrelaçado com variáveis internas do sistema (como energia, spin ou posição), podendo ser afectado por estados coerentes ou interferência quântica, estaríamos aptos a confirmar que o tempo seria informacional e quantizado, e não uma entidade contínua nem absoluta. Estaria em total alinhamento com a TIF, porque ali, o tempo surge como uma coerência de fases internas nos tripletos de spin havendo direccionalidade informacional associada à coerência quântica, interpretada como a emergência fenomenológica de uma seta do tempo. Ali, a passagem do tempo está relacionada com a decoerência local e com a distribuição de entropia informacional na própria teia.

A superposição do tempo validaria uma das previsões chave da TIF.

Porque partimos da assunção de que o tempo pode estar em superposição?

Dado que, não sendo uma dimensão geométrica clássica (como no espaço de Minkowski), mas um grau de liberdade quântico dependente do estado do sistema, equivaleria dizer que o tempo é um componente fibrado sobre o domínio dos tripletos informacionais, i.e.,:

onde a fibra codifica as possíveis configurações internas de fase (informacionais) associadas em cada ponto do substrato. Este tema foi por nós amplamente tratado em “Uma Entidade Única” (2025, Bubok Editorial).

Se o tempo é informacional e quantizado, então também pode ser modulado por estados de consciência, como poderia ser o caso reflexo da presença cognitiva de processos intencionais, da memória, ou de antecipação, etc. Poderia ainda estar entrelaçado com estruturas biológicas cognitivas internas como aquelas desempenhadas pelos microtúbulos no modelo Orch-OR de Stuart Hameroff e Roger Penrose, do qual abordaremos mais adiante.

Também, encarado como um grau de liberdade emergente da coerência consciencial, poderia reforçar a ideia de ser passível de modelação, reforçando a visão da Consciência como um dos campos quânticos fundamentais do Universo, porque no Modelo TIF, os constituintes fundamentais do Universo são tripletos de spins (qutrits lógicos) organizados numa rede fibrada informacional TIF, onde o espaço-tempo emerge como geometria relacional induzida por padrões de coerência entre os tripletos.

A eventual comprovação de que o tempo é de natureza quântica — ou seja, que pode estar em superposição, entrelaçamento ou indefinição causalvalidaria directamente os princípios centrais do modelo TIF. São eles:

  • A informação quântica é a base da Realidade;
  • O tempo é um modo emergente e relacional;
  • A codificação em tripletos de spin é feita em coerência de fase;
  • E o espaço-tempo é uma emergência lógica de uma rede fibrada.

O tempo, observado em superposição quântica, não poderia ser uma variável clássica universal, mas uma propriedade interna e relacional daquela teia, associado à fase informacional acumulada em cada tripleto e que poderíamos representar em notação simbólica pela relação:

onde ϕj(τ) representa a evolução de fase associada ao tempo interno τ dos respectivos tripletos. Então podemos descrever formalmente o tempo emergente como uma fibra informacional associada a cada ponto da base Σ, onde Σ representa o domínio pré-geométrico (estrutura fundamental da teia):

com

FTIF sendo o espaço total contendo os graus de liberdade temporais (fibras de fase e coerência) e π representando a projecção que associa a cada tripleto (ou nodo da teia) o seu "tempo local" emergente. Deste modo, as conexões entre fibras determinam a estrutura causal relacional da realidade.

Assim, o tempo deixa de ser uma coordenada absoluta newtoniana e torna-se um modo de organização da informação quântica, também em sintonia com a ideia de um universo "relacional" e "auto-organizado".

Como tal, e partindo destes pressupostos, o Modelo TIF avança previsões específicas que poderíamos consubstanciar deste modo:

·        A gravidade resultaria da perturbação da coerência entre fibras temporais ou seja por uma espécie de decoerência ambiental;

·        O tempo global emerge como fase colectiva dos tripletos mais coerentes (talvez correlacionado à experiência de fluxo);

·        A possibilidade de experimentação delineada de tal forma que testasse a superposição temporal via gravidade ou entrelaçamento, e que confirmaria a estrutura fibrada do tempo.

Em conclusão, a observação de superposição temporal seria uma confirmação empírica do Modelo TIF, que , revendo os seus princípios fundamentais, sustenta que o tempo:

·        É quântico, informacional e emergente;

·        Está fibrado sobre um domínio lógico mais profundo;

·        Emerge de relações de fase e coerência entre os constituintes fundamentais da realidade – os tripletos de spins.

Esta visão, integra de forma unificada, gravidade einsteiniana, geometria topológica e as bases da Consciência, que nos seres vivos se revela em Qualia.

Para além do mais, a ideia de tempo como fibra quântica informacional abre espaço teórico para explicar experiências cognitivas como premonição, sincronicidade e acausalidade psíquica, como formuladas por Carl Gustav Jung e seus colaboradores (notavelmente Wolfgang Pauli).

"Na física moderna, o conceito de causalidade perdeu seu valor absoluto."

— W. Pauli, in The Interpretation of Nature and the Psyche, 1955 

Neste quadro, o tempo sendo não-linear, fibrado e relacional, como vimos, não é uma seta de sentido único e contínua, porque surge da coerência entre estados informacionais locais, podendo estar em superposição ou entrelaçado com outras variáveis. Existindo como uma fibra associada a cada nodo informacional, explicaria as variações locais do fluxo do tempo, como também as múltiplas trajectórias temporais compatíveis (a velha questão do livre arbítrio) e a emergência de direccionalidade subjectiva (a experiência de tempo). Por hipótese, permitiria que certos estados de consciência acedessem a estruturas temporais não-lineares, nas quais eventos futuros já estão latentes ou virtualmente codificados.

Aqui podemos considerar o caso da premonição como um fenómeno de leitura transversal da teia com acesso a ressonâncias informacionais na sua própria estrutura onde certos padrões de spin/fase futuros já estão codificados no tecido lógico e em que a mente, num estado expandido (e.g., sonho, meditação), entra em sincronia com estados informacionais que ainda não se manifestaram fisicamente.

Em forma de notação simbólica poderia ser descrito como:

Onde, é o propagador informacional da TIF, e é um padrão informacional futuro, de modo que a projecção tem valor não-nulo, indicando correlação virtual acausal com o presente.

A premonição pode ser interpretada, neste quadro, como a ressonância consciente com estados informacionais futuros ainda não manifestos no tempo clássico. Um estado de coerência do sistema neuroinformacional (por exemplo, em sonhos, estados meditativos ou intuições profundas) pode estabelecer acoplamentos com ramos possíveis da teia TIF, permitindo o acesso subjectivo a informação "ainda não ocorrida" no plano espaço-temporal. A formulação matemática deste processo exige a introdução de operadores temporais em superposição, assim definidos:

onde ti são os modos temporais coerentes no espaço de Hilbert informacional, com coeficientes complexos ci determinados pela configuração do sistema consciente.

Carl Jung definia sincronicidade como “A ocorrência simultânea de dois eventos ligados não por causalidade, mas por significado.”, Jung, C. G. (1973).

Ora com o Modelo TIF, dois eventos espacialmente separados podem estar entrelaçados a partir de um estado lógico comum da teia, sendo coerentes informacionalmente, ainda que não ligados causalmente, o que permite descrever tal estrutura como entrelaçamento temporal não local, ou uma espécie de loop topológico no fibrado temporal. Iremos rever este assunto mais adiante, a propósito de taquiões superlumínicos.

Permite pensar a realidade como uma estrutura informacional pré-espaciotemporal, semelhante ao que Jung e Pauli chamavam de “Unus Mundus” — uma realidade subjacente onde matéria e psique são inseparáveis. Este domínio, pré-espaçotemporal e fibrado, permite que diferentes "instantes" temporais coexistam como modos ressonantes de uma estrutura holoinformacional (a visão de Bohm). A consciência, ao interagir com essa estrutura, pode aceder — em certos estados — a regiões ainda não colapsadas da malha temporal clássica.

Assim, os arquétipos seriam padrões topológicos recorrentes na teia de tripletos e a acausalidade seria permitida porque a dinâmica não dependeria apenas do tempo local, mas da estrutura global da teia. Ou seja, eventos “acausais” são manifestações coerentes em regiões distintas da rede. A acausalidade e o campo arquétipo-informacional seriam a normalidade fenoménica nesta dimensão quântica qutritica.

O tempo fibrado no modelo TIF não é linear nem universal, mas emerge da organização dos estados de spin informacional. Assim, a própria noção de “antes” e “depois” pode depender do caminho seguido pela Consciência na teia – o designado livre-arbítrio. Esta perspectiva aproxima-se de interpretações relacionais do tempo na gravidade quântica (Rovelli, 2021) e permite explicar acausalidades aparentes como manifestações de uma coerência lógica superior da realidade.

O conceito de sincronicidade, como defendido por Carl Gustav Jung, refere-se à ocorrência simultânea de eventos significativos sem relação causal. No modelo TIF, tais eventos podem ser vistos como colapsos coerentes de domínios informacionais entrelaçados. A ausência de causalidade local é substituída por uma causalidade informacional global, embutida na topologia da TIF.

Podemos descrever a sincronicidade como um fenómeno de fase coerente entre estados de informação assim distribuídos:

onde a correlação αij representa uma conexão no espaço dos estados informacionais, sem necessidade de interacção causal no espaço-tempo fenoménico.

Tais noções encontram pontos de vista aproximados nas abordagens cognitivas que ligam consciência, informação e tempo — como em Jung, Pauli, Bohm e Faggin — e apontam para uma integração entre física fundamental, neurociência e fenomenologia da consciência.

Não poderíamos deixar de referir, e ainda no contexto do modelo da Teia Informacional Fibrada, que a conectividade fundamental do Universo não se apoia na transmissão de sinais por partículas mediadoras no espaço-tempo clássico, mas na coesão topológica e lógica entre tripletos de spin. A estrutura abre a possibilidade de reinterpretar, ou melhor substituir, entidades hipotéticas como os taquiões — tradicionalmente associadas à propagação superluminal — como sendo afinal expressões de um emaranhamento informacional subjacente, sem necessidade de violar a causalidade relativística.

Historicamente, os taquiões foram introduzidos para representar “partículas” com massa imaginária (𝑚2 < 0), implicando velocidades superiores à da luz e, consequentemente, efeitos de retrocausalidade (Feinberg, 1967). No entanto, tais entidades introduzem conflitos com a estrutura dos Cones de Luz e não possuem confirmação empírica. Em contrapartida, a não-localidade quântica comprovada experimentalmente — especialmente através do emaranhamento de estados — fornece um meio de correlação entre eventos espacialmente separados que não envolve transmissão de energia ou sinal físico, e que é consistente com a Relatividade Geral, se interpretado correctamente (Aspect, Dalibard & Roger, 1982; Hensen et al., 2015).

No Modelo TIF, cada tripleto de spins é interpretado como um qutrit lógico vivendo no espaço de Hilbert, em que os graus de liberdade de emaranhamento entre tripletos formam uma teia de coerência quântica sobre uma base fibrada (Porto, J. 2025). Essa teia não depende, como vimos, da métrica espaciotemporal, mas da topologia da conectividade informacional, representada por fibrados de spinor e estruturas de entrelaçamento coerente.

Consequentemente, os efeitos normalmente atribuídos à presença de taquiões — como influências instantâneas, comunicação não local ou retrocausalidade — são transformados em ressonâncias informacionais entre regiões da TIF, nas quais os estados dos tripletos estão fortemente emaranhados em uma base de informação fundamental holográfica, em que cada “parte” conhece o todo. Assim, a existência efectiva de taquiões é eliminada e substituída por uma geometria informacional coerente que preserva também a causalidade estatística do mundo físico.

Formalmente, podemos dizer que no Modelo TIF a conectividade taquiónica implica emaranhamento informacional, ou seja:



onde 
representa a ausência de deslocamento causal no espaço-tempo, mas reflecte as mudanças coerentes no estado informacional global da teia.

Esta reformulação contribui para uma visão unificada, em que a não localidade observada em diversos experimentos quânticos — como os de Bell, Leggett ou teoremas do tipo PBR — não necessita de partículas superluminais, mas emerge como uma característica natural da topologia do emaranhamento dos tripletos (Pusey, Barrett & Rudolph, 2012; Aharonov et al., 2010). Nesse cenário, a causalidade deixa de ser uma restrição mecânica local e passa a ser uma propriedade estatística emergente da organização informacional do Universo.

Entretanto um artigo recente, sob o título “Covariant Quantum Field Theory of Tachyons” (Dragan et al., 2024), oferecia uma tentativa de formalismo inovador para lidar com campos taquiónicos por meio de uma expansão do espaço de Hilbert e da introdução de uma simetria temporal intrínseca. Neste contexto, tornava-se pertinente investigar como esta nova abordagem podia ser compreendida à luz do modelo da Teia Informacional Fibrada (TIF).

Como já referimos anteriormente, o Modelo TIF postula que a realidade é fundamentada numa rede de tripletos de spins acoplados informacionalmente formando qutrits lógicos. A dinâmica global desta teia é descrita por operadores unitários que codificam transformações informacionais internas, permitindo que o tempo e a causalidade surjam como propriedades emergentes da coerência topológica da rede. De forma natural, essa coerência pode manifestar-se sem uma orientação temporal privilegiada, reflectindo uma reversibilidade fundamental da estrutura fibrada.

Porém, na teoria covariante de taquiões, os autores introduzem um formalismo baseado em um espaço de Hilbert duplicado em que cada estado quântico é representado por um par Esta representação estende o formalismo de vectores de dois estados de Aharonov et al., permitindo uma descrição covariante da dinâmica onde não há distinção ontológica entre passado e futuro. Combinada a uma duplicação do Cone de Luz (com a introdução de observadores tipo I e tipo II), essa abordagem viabiliza uma interpretação retrocausal, na qual as condições futuras contribuem para a configuração actual do sistema.

Assim, a retrocausalidade implícita no formalismo taquiónico acaba por encontrar um análogo natural como no Modelo TIF, onde as interacções informacionais entre os tripletos de spin podem sustentar coerências não-locais atemporais. A dinâmica da TIF é descrita por um operador unitário global

onde o tempo t não é absoluto, mas um parâmetro emergente associado a transformações coerentes da rede. O surgimento do tempo como relação entre padrões informacionais permite que as diferentes regiões da teia sejam correlacionadas causalmente sem necessidade de uma direcção temporal fixa. Isto estabelece uma base ontológica também em consonância com a interpretação retrocausal dos estados taquiónicos.

Assim, a teoria covariante dos taquiões de Dragan et al. pode ser vista como a expressão fenomenológica emergente no modelo TIF, no qual a reversibilidade causal e a duplicação do espaço de Hilbert reflectem a simetria fundamental da teia informacional. A estrutura dos Cones de Luz invertidos pode ser reinterpretada como projecções diferenciais da topologia fibrada da TIF, em que diferentes observadores acessam diferentes secções locais da mesma teia não-local e atemporal. Esta perspectiva integrativa sugere que a causalidade quântica, longe de ser unidireccional, é uma manifestação contextual da geometria informacional subjacente à realidade.

De forma simplificada podemos então estabelecer os fundamentos comparativos entre o Modelo TIF e a Teoria Covariante de Taquiões pelo quadro seguinte:

Aspecto

TIF

(Teia Informacional Fibrada)

Teoria Covariante de Taquiões (Dragan et al.)

 

Pré-espaçotemporal

Fibrado de qutrits / tripletos de spin que gera espaço-tempo emergente

Campo taquiónico definido fora do cone de luz, com simetria temporal

 

Estrutura causal

Causalidade informacional reversível, codificada na geometria do fibrado

Dois cones de luz e simetria

 T → −T, com retrocausalidade

Simetria temporal

Reversibilidade intrínseca no acoplamento dos qutrits

Simetria covariante entre passado e futuro (TSVF)

 

Codificação física

Spins e os seus entrelaçamentos determinam a lógica e o tempo locais

Campos com modos positivos e negativos em H1​H2​

 

Observadores

Emergência da experiência consciente a partir do entrelaçamento informacional

Observadores tipo I e II com tempos opostos


Em conclusão:

O Modelo TIF fornece uma estrutura ontológica que:

  • Reinterpreta o tempo como uma fibra quântica e informacional;
  • Permite não linearidade temporal, entrelaçamento causal, e ressonância simbólica;
  • Permite obviar à formulação complexa da existência de “partículas” superlumínicas, como os taquiões;
  • Fornece ainda um fundamento físico-matemático para fenómenos psíquicos como premonição, sincronicidade e acausalidadel.

Assim, o nosso modelo para além de ser uma ponte entre a ciência física quântica e a psicologia, oferecendo uma linguagem unificadora para a consciência, o tempo e a Realidade, fá-lo em bases que também não contradizem a Mecânica Quântica nem a Relatividade.


Uma Questão Ontológica para a Função e o Colapso de Onda

A questão da ontologia da função de onda tem sido central nos debates sobre a interpretação da mecânica quântica. O teorema proposto por Pusey, Barrett e Rudolph (2012), já anteriormente referido e conhecido como teorema PBR, apresenta um argumento forte em favor da interpretação ontológica da função de onda, isto é, de que ela representa um estado físico real e não meramente um estado de conhecimento sobre o sistema. O teorema demonstra que, sob hipóteses razoáveis como a preparação independente de sistemas quânticos, diferentes funções de onda devem corresponder a diferentes estados físicos reais. Esta conclusão exclui as interpretações puramente epistemológicas da função de onda e sustenta modelos onde esta tem existência objectiva.

Tal visão é coerente com as abordagens do modelo da Teia Informacional Fibrada (TIF), no qual a função de onda emerge como projecção de uma estrutura informacional ontológica mais profunda. Ainda, essa perspectiva é compatível com interpretações que associam o colapso da função de onda à consciência, como a proposta Orch-OR (Hameroff & Penrose, 2014), onde o colapso seria um processo físico real ligado à gravidade quântica e mediado por estruturas como os microtúbulos. Uma proposta teórica, já formalmente tratada no nosso trabalho intitulado “Para uma biologia Informacional”, (Porto, J. 2025), assume que a função de onda quântica (Ψ), representando o estado físico de um sistema, possui um estatuto ontológico — ou seja, não é meramente uma ferramenta epistémica para previsão de probabilidades, mas uma entidade real com existência no domínio espaço-temporal. Este ponto de vista aproxima-se do realismo ontológico defendido por autores como Ghirardi, Bohm e Penrose (Penrose, 1996), e diverge de interpretações puramente bayesianas ou da escola tradicional de Copenhaga.

A consciência desempenha agora um papel fundamental, ao ser considerada a instância que efectua o colapso da função de onda, não por um processo arbitrário ou exterior, mas por meio de um mecanismo físico concreto, tratada pela teoria Orchestrated Objective Reduction (Orch-OR) de Penrose (Penrose, 1996) e Hameroff (Hameroff, 2014). Ali propõe-se que o colapso da superposição ocorre de forma objectiva e espontânea quando a diferença gravitacional entre estados supera um limiar, e que tal colapso pode ser “orquestrado” por estruturas biológicas específicas no cérebro através das estruturas microtubulares, que no nosso trabalho já referido, funcionariam como autênticas antenas receptoras.

No modelo da Teia Informacional Fibrada, a Consciência está associada a um domínio pré-espaciotemporal que interage com o espaço-tempo através do colapso quântico. A função de onda ontológica
Ψ encontra-se fibrada sobre este domínio informacional, e a Consciência actua como operador lógico de selecção ontológica, convertendo superposições potenciais em eventos determinados no espaço-tempo.
Os microtúbulos, componentes do citoesqueleto neuronal, são considerados por Hameroff e Penrose (Penrose, 1996) (Hameroff & Penrose (Penrose, 1996), 2014) como possíveis substratos para a “computação” quântica no cérebro.

No contexto da TIF, cada dímero de tubulina pode ser interpretado como um sítio de codificação replicada da base qutrit (três estados lógicos possíveis), formando cadeias coerentes de informação ao longo da rede microtubular (Porto, J., 2025).

Formalmente, podemos considerar que a rede de microtúbulos realiza uma fibragem lógica sobre a base biológica neuronal, onde cada estado de tubulina |A, |B, |C mapeia-se num qutrit lógico {0,1,2} codificado naquela teia. A acção da Consciência, no acto do colapso, selecciona coerentemente configurações de informação que se tornam estados conscientes — ou qualia — experienciados pelo sujeito.

Esta rede não é apenas informacional, mas também temporal: os estados de coerência nos microtúbulos propagam-se em modos oscilatórios que sincronizam múltiplas regiões do cérebro que no Modelo TIF correspondem a fibras de informação coerente que atravessam a base do espaço-tempo local.

Assim, estudos conduzidos por Anirban Bandyopadhyay (Bandyopadhyay, Das, & Sahu, 2013) (NIMS, Japão) têm demonstrado a existência de oscilações coerentes nos microtúbulos, na faixa dos terahertz (THz), utilizando espectroscopia de impedância e técnicas ópticas de femtosegundo. Essas oscilações sugerem que os microtúbulos possuem modos ressonantes compatíveis com dinâmicas quânticas estáveis. Em paralelo, Mathew Craddock (Craddock et al., 2012) e colaboradores propuseram modelos computacionais em que tais modos oscilatórios podem sustentar coerência quântica durante tempos suficientes para que processos como Orch-OR ocorram de forma biologicamente viável. Estas investigações sugerem-nos que a função de onda pode colapsar em pontos específicos da rede microtubular, pontos correlacionados com eventos conscientes localizados.

Estas evidências reforçam a hipótese de que a Consciência está acoplada a processos ontologicamente reais numa base da realidade física, e que o Modelo TIF pode servir como estrutura formal para descrever esse acoplamento entre a dinâmica quântica e o espaço-tempo emergente.

 

Epílogo - O Graal da Existência e a Teia Invisível da Realidade

À medida que os caminhos da física e da Consciência se entrelaçam cada vez mais, emerge uma paisagem ontológica onde as noções clássicas de causalidade, tempo linear e separação entre mente e matéria mostram-se insuficientes. O presente trabalho aventurou-se por essa fronteira, onde a superposição temporal dos relógios quânticos, os teoremas de realidade como o PBR, e os princípios de segurança quântica como o QKD, apoiam a ideia de uma trama informacional pré-espaçotemporal — a Teia Informacional Fibrada (TIF) — cujos modos vibracionais e padrões entrelaçados parecem revelar os arquétipos da psique e a estrutura do Cosmos. 

Neste limiar, a sincronicidade, tal como formulada por Carl Jung, surge não apenas como curiosidade fenomenológica ou conceito psicológico, mas como um possível princípio ontológico complementar à causalidade, reflectindo uma ordem acausal baseada em significados, e não apenas em forças. Wolfgang Pauli, com a sua sensibilidade quântica e filosófica, viu neste princípio um paralelo com o entrelaçamento e os fenómenos não-locais da mecânica quântica. Para ambos, sincronicidade e entrelaçamento poderiam apontar para uma dimensão intermediária, onde sujeito e objecto, consciência e mundo, são espelhados.

A TIF — concebida como um tecido de tripletos de spin logicamente entrelaçados — oferece um modelo em que estas intuições podem ser formalizadas. Cada tripleto codifica não apenas informação quântica, mas também uma orientação dentro de um espaço fibrado, cujas conexões podem ser vistas como os caminhos simbólicos e ressonantes que ligam eventos separados no tempo e no espaço, mas unidos por uma ordem mais profunda.

É nesse sentido que surge uma visão ampliada da realidade, onde a própria estrutura do espaço-tempo, os modos de percepção consciente e os princípios informacionais da Física (a axiomatização da Física: o it from bit) formam um contínuo. Aqui, o Graal da existência humana talvez não seja um objecto escondido em algum ponto do espaço-tempo, mas sim a realização de uma nova percepção, capaz de integrar as dimensões do Ser, do Saber e do Sentir numa mesma matriz informacional. O conhecimento que buscamos do universo é, ao mesmo tempo, o conhecimento do próprio espelho em que nos reconhecemos como co-participantes de uma Realidade consciente. Este modelo — ainda em construção — apoiado na ideia de que informação e as suas transformações são mais fundamentais que espaço, tempo ou partículas, (Deutsch, D., & Marletto, C., 2021)(1), pode inspirar novas aproximações entre ciência e Consciência, entre o visível e o oculto, entre o tempo e aquilo que o transcende. Porque talvez, no final, a própria consciência seja o campo unificador que buscamos, e o Universo, o seu reflexo codificado em luz, tempo e sentido sintáctico. Na formulação da Teoria dos Construtores (Constructor Theory) proposta por Deutsch e Marletto, as leis fundamentais da Física são expressas não por equações diferenciais de evolução temporal, mas por restrições sobre as quais as tasks são fisicamente possíveis ou impossíveis. Tal abordagem inaugura uma linguagem contra-factual, centrada em afirmações do género: "é possível transformar X em Y sob a condição Z".

Esta concepção aproxima-se profundamente de uma visão ontológica informacional em que o Universo pode ser descrito como um domínio de transformações logicamente admissíveis — uma gramática construtiva da realidade.

O modelo da Teia Informacional Fibrada (TIF), propõe que esse espaço de possibilidades não é arbitrário, mas é codificado previamente na estrutura do campo informacional fundamental, composto por tripletos de spins que constituem unidades lógicas. Cada tripleto codifica estados de informação que definem a arquitectura de possibilidades do Universo, de modo semelhante ao papel dos codões no ADN.

Surge assim, a hipótese de uma Mente Informacional Universal subjacente — não como entidade pessoal no sentido antropomórfico, mas como o campo ontológico de consistência e inteligibilidade do Ser — que determina, de forma axiomática, as tarefas possíveis e impossíveis no domínio informacional-fundamental.

Neste contexto, os “construtores” são expressões locais das leis que já emergem naturalmente do entrelaçamento coerente das fibras informacionais inscritas nesta Mente Universal. Assim, o Universo apresenta-se como um sistema lógico emergente, cujo espaço de estados acessíveis já está inscrito numa ordem informacional atemporal, que podemos interpretar como a base própria da Consciência cósmica — um Logos criador.

Esta abordagem encontra ecos nas concepções mais recentes presentes na Mente Unificadora de Faggin (2022) ou na causalidade formal de Floridi (2020), mas também no campo implicado de Bohm (1980) e no platonismo digital de Tegmark (2007). Também encontra apoios nas sincronias acausais estudadas por Jung e Pauli, onde a realidade é estruturada a partir de padrões significativos não-redutíveis à causalidade mecânica clássica. A sincronicidade, neste cenário, pode ser vista como a manifestação local de coerências globais do espaço das tarefas permitidas.

Desta forma, a TIF oferece uma infra-estrutura para modelar a selecção de tarefas possíveis como interacções coerentes entre tripletos informacionais e operadores de construção, tendo como limite superior a “Mente Universal” que garante a consistência do conjunto. O livre-arbítrio condicionado.

 

Notas

(1) A Teoria dos Construtores, da qual fizemos maiores referências no livro Ensaios para a Unidade, (Porto, J., 2025), proposta por David Deutsch e formalizada por Chiara Marletto, representa uma tentativa radical de reformular os fundamentos da Física a partir de uma ontologia centrada não nas leis dinâmicas, mas nas transformações possíveis e impossíveis. Nessa abordagem, o mundo é descrito em termos de quais as tarefas que podem ou não ser realizadas por construtores ideais — sistemas físicos que executam transformações sobre outros sistemas sem se degradarem no processo. Entre os princípios mais fundamentais estão as restrições informacionais, que definem os limites da computação, da cópia e da comunicação de estados físicos.

Esta perspectiva encontra ecos profundos no espírito do Modelo TIF, o qual propõe que a realidade emerge de uma rede de tripletos de spins que codificam qutrits lógicos numa topologia pré-espaciotemporal. Dentro do formalismo TIF, os operadores informacionais que actuam sobre os tripletos de spin podem ser interpretados como construtores elementares, capazes de executar transformações locais e não-locais sobre os estados da teia sem se dissiparem — análogos às máquinas reversíveis de von Neumann.

Mais ainda, o TIF assume que o espaço-tempo 4D é uma geometrização emergente das possibilidades de entrelaçamento e transformação informacional. Esta visão coincide com o eixo fundamental da Teoria dos Construtores: o espaço e o tempo não são arenas absolutas, mas manifestações derivadas das condições sobre as transformações permitidas no substrato informacional. A estrutura fibrada da TIF, com os seus “espaços locais” de informação acoplados por operadores de transporte coerente, oferece uma representação natural do conceito de "construtores distribuídos", capazes de realizar tarefas específicas em regiões distintas da rede global.

O modelo TIF também compartilha com a Teoria dos Construtores o uso de axiomas informacionais como fundamentos físicos. Por exemplo, a impossibilidade de clonar qutrits em estados arbitrários está em conformidade com o no-cloning theorem da mecânica quântica e constitui uma tarefa impossível na Teoria dos Construtores.

A existência de entrelaçamento topológico coerente entre tripletos de spins permite, no Modelo TIF, a realização de tarefas não-locais compatíveis com os princípios de retrocausalidade suave, também contemplados na versão informacional da Teoria dos Construtores.

Em última análise, a Teoria dos Construtores fornece uma estrutura meta-teórica para suportar a conceptualização introduzida pela TIF, encarando-a como uma teoria física baseada em tarefas e transformações informacionais possíveis, e não apenas em equações de movimento. Abre caminho para uma síntese entre Física Quântica, Geometria Emergente e Teoria da Informação Construtiva, permitindo descrever a própria Consciência como um construtor auto-organizado acoplado à teia fundamental da Realidade.


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João Porto, 3 de agosto de 2025

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