quinta-feira, 29 de abril de 2021

A génesis da vida no Sistema Solar na concepção teosofista e na ciência

 

BENNU'S JOURNEY - Early Earth – Flickr – Creative Commons Licence
https://images.app.goo.gl/yVHCwQvEmyeAjHFQ6


É consensual que a vida só é possível com a presença de um solvente universal conhecido como água. A água, quimicamente conhecida pela fórmula molecular H2O, tem uma estrutura constituída por dois átomos de hidrogénio e um de oxigénio partilhando entre si os seus electrões e formando uma ligação geometricamente assimétrica de 104,50. A partilha faz-se entre o electrão do hidrogénio com um electrão do oxigénio, criando as denominadas ligações covalentes. No entanto os campos orbitais dos electrões dos átomos de hidrogénio encontram-se sempre deslocados pela forte atracão do núcleo positivo do átomo de oxigénio o que cria uma polaridade molecular apesar de globalmente a água ser uma molécula neutra. Este aspecto dipolar faz com que as moléculas de água se alinhem entre si formando as pontes de hidrogénio cuja presença permite à água funcionar como agregador de moléculas orgânicas mais complexas, como aquelas pertencentes á classe das proteínas, enzimas, nucleotídeos, açucares e mesmo o próprio DNA, sendo que todas elas apresentam também polaridade (moléculas hidrófilas). São também estas pontes de hidrogénio que autorizam a água no seu estado sólido, quando congela, a assumir uma estrutura semi cristalina hexagonal formada por 4 pontes de hidrogénio.

A água como solvente universal, pelas suas propriedades de coesão e adesão, conferida pelas tais pontes de hidrogénio, apresenta-se como a solução natural e sustentável encontrada pelo Universo onde abundam o hidrogénio em primeiro lugar (92%), seguido pelo hélio (7,1%) e em terceiro lugar o oxigénio (0,1%), apesar de raramente se encontrar na sua forma molécula O2, devido precisamente ao facto de espontaneamente se ligar ao hidrogénio formando água. Por essa razão a água é tão abundante em todo o Universo sob a forma de gelo intersticial nos agregados de poeiras interestelares.

O Oxigénio que tem a sua origem no final do processo de combustão do hélio que domina no interior das estrelas massivas através do ciclo CNO-I (Carbono-Azoto-Oxigénio) nas reacções de fusão, torna-se assim o elemento preferencial para síntese da água.

Curiosamente o HeH + (hidreto de hélio), carregado positivamente, é a primeira molécula conhecida a ser formada no universo, cerca de 380.000 anos após aquilo que se considera ser o Big Bang, num período conhecido como época de recombinação e que vai posteriormente dar origem às primeiras estrelas.

Na Terra, no éon Arqueano, um período geológico compreendido aproximadamente entre 3,85 e 2,5 mil milhões de anos o nosso planeta era totalmente coberto por oceanos. Um estudo das rochas australianas datadas desse período geológico, revelaram ainda que os oceanos arcaicos tinham uma presença do isótopo pesado O18 muito superior aos actuais oceanos. Na África do Sul em Barberton Greenstone Belt, onde existem algumas das mais antigas rochas na Terra, os geólogos Maarten De Wit e Harald Furnes estudaram uma espécie de sílica chamada “chert” (uma variedade de quartzo) cuja formação é atribuída a grandes profundidades sob água onde predominariam fontes hidrotermais, concluindo que há cerca de 3,5 mil milhões de anos, os oceanos da Terra foram relativamente frios, e não inospitamente quentes como se pensava anteriormente (1). Surgem assim evidências geoquímicas e paleomagnéticas de que ao longo dos últimos 3,5 mil milhões de anos, a Terra tem permanecido dentro de uma faixa de temperatura favorável a vida.

Pela mesma altura, Marte tinha 36% da sua superfície coberta por oceanos e possuía um ciclo hidrológico de acordo com estudos recentes da Universidade do Colorado nos EUA e das missões da NASA naquele planeta nomeadamente a Mars Reconnaissance Orbiter (MRO).

Figura 1 - Carbonatos marginais destacados em vermelho. (NASA/MRO/Horganet al. 2019).



A recente descoberta de carbonatos na beira de extintos lagos (caso da área geológica da cratera Jezero) (2), e de depósitos de sílica hidratada no fundo do delta durante o período Noachiano, o primeiro período geológico de Marte e que teve o seu término há cerca de 3,5 mil milhões de anos, parece confirmar as suspeitas de vida arcaica no planeta. Naquela época Marte tinha um clima relativamente húmido e uma atmosfera rica em dióxido de carbono (CO2). Os carbonatos só se formam quando rochas e água reagem com o CO2. Entretanto, como é do domínio público, a investigação no terreno prossegue já que encontrar água líquida em Marte foi um dos principais objectivos do programa da NASA, e tal hipótese foi já confirmada. A hipótese inicial era de que a água ocorresse sob a forma de água salgada com sais de perclorato (compostos de cloro e oxigénio) que reduzem o ponto de congelamento da água fazendo com que permaneça líquida apesar das temperaturas congelantes de Marte atingirem em média -63°C.

Vénus tinha oceanos e atmosferas onde preponderavam a água, o azoto e o oxigénio. A recente detecção de gás fosfina (PH3), caracterizada por ser a bio assinatura da vida por excelência, poderá ser um indício da existência de vida antiga que adquiriu formas biológicas adaptadas às condições das camadas externas da atmosfera venusiana onde persistem temperaturas propícias à vida microbiológica actual (180 C). É verdade que a fosfina foi detectada na década de 70 do século passado em Júpiter e Saturno, onde se formou nas camadas mais internas das suas atmosferas. Mas, só a presença de calor e da pressão do hidrogénio muito grandes, favoreceram a produção abiótica de fosfina, condições extremas não verificáveis em Vénus. A síntese de fosfina fora de condições extremas implica fornecimento contínuo de muita energia o que só é possível pela via biológica como na Terra.

Carl Sagan e Harold Morowitz sugeriram em 1967 formas de vida num cenário envolvendo “balões ecológicos” flutuando entre as nuvens, metabolizando água e minerais.

De encontro a esta ideia, simulações feitas em computador sobre a história climática de Vénus, pelo Instituto Goddard de Ciência Espacial da NASA, mostraram que até há bem pouco tempo (cerca de 715 milhões de anos) as temperaturas podiam ter variado entre 20 e 50 °C, suficientemente frias para a existência de água líquida formando extensos oceanos por 2 a 3 mil milhões de anos, sugerindo que a vida poderia ter evoluído naquele planeta.

No entanto a crosta terrestre de Vénus é espessa e sem sinal de tectonicidade e o planeta não tem basicamente campo magnético o que deverá ter contribuído de forma irredutível para a sua situação actual.

A presença de água em Vénus, Terra e Marte está também de acordo com a teoria geral da formação do sistema solar e em particular dos planetas telúricos a partir do gás nebular original. Enquanto os planetas exteriores e gigantes como Júpiter, Saturno, Úrano e Neptuno, arredados da influência radiactiva do Sol tinham condições para acumular a água presente na nebulosa primordial, os três planetas telúricos não tinham essa hipótese. A composição isotópica da Terra indica que os principais blocos de construção dos planetas rochosos são materiais semelhantes a enstatita condrite dos asteróides e cometas cuja concentração em água e as razões de deutério para hidrogénio (D/H) correspondem às da Terra (3).

Assim, a probabilidade do surgimento da vida deve ter sido transversal aos planetas telúricos. Contudo a Terra poderá ter sido o local preferido dado que um acontecimento inesperado poderia ter acelerado ou mesmo justificado o aparecimento de vida. Um corpo planetesimal gelado que se encontrava na mesma órbita do que a Terra, num ponto de Lagrange L4, viria fazer pender o prato da balança no que respeita à presença da água.

Theia colidiu com a Terra há 4,5 mil milhões de anos e trouxe mais água. Para além de outros factores estabilizadores. Dessa colisão iria resultar a Lua, como massa arrancada ao nosso próprio planeta e em quantidade suficiente para formar um futuro corpo esferóide. A assimilação pela Terra de uma parte de Theia foi extremamente importante para que o material metálico dos dois fosse unido e se estabilizasse no centro do nosso planeta, caso contrário a Terra seria apenas uma estrutura rochosa estérea muito semelhante a Vénus, sem um campo magnético e sem placas tectónicas. Por outro lado, a presença do efeito gravitacional da Lua induziu a uma oscilação muito pequena do eixo da Terra à medida que evolui em torno do Sol, diferente do que parece ter acontecido com Marte que é orbitado por apenas dois asteróides capturados, para além de ter perdido o seu campo magnético e deste modo a protecção aos raios cósmicos e aos ventos solares que assim lhe arrancaram a atmosfera, precisamente numa época em que o Sol, mais jovem, era mais activo.

A vida na Terra surgiu entre 3,5 e 4,5 mil milhões de anos, corolário provável de um conjunto de “homeostasias” como a nova força exercida pela gravidade de uma lua, a sua protecção em parte ao bombardeamento meteorítico tardio e a estabilidade magnética da Terra e do seu eixo em que o clima passa a ser regulado por estações. Na Terra, alguns dos fósseis mais antigos são estromatólitos datando para cima de 3,5 mil milhões de anos. Os estromatólitos são estruturas estratificadas formadas por camadas de cianobactérias.

A descoberta de que os sistemas naturais podem conduzir a reacções electroquímicas entre os minerais e o líquido circundante tem implicações importantes para o campo da astrobiologia, indicando que em qualquer lugar a presença de salmouras (água e sais) e de rochas ígneas poderão conduzir às condições necessárias ao aparecimento da vida. Tais eram as condições presentes nas fontes hidrotermais nas profundidades oceânicas como à superfície terrestre nas lagoas quentes pela actividade vulcânica na Terra Arqueana pré-biótica, onde os componentes essenciais dos nucleotídeos, plasmados primeiramente nos polímeros de RNA, fornecidos por meteoritos carbonáceos, aumentavam de concentração através de fenómenos de precipitação, evaporação e infiltração em ciclos contínuos de fases húmidas e secas. Estas condições seriam o catalisador que levaria à ligação dos blocos de construção molecular básicos e que dariam nascimento ao primeiro código genético que garantiria a replicação das primeiras proto-células (3).

Podemos concluir, com alguma segurança, que o aparecimento da vida foi transversal e simultâneo nos três planetas entre 3 e 4,5 mil milhões de anos porque existiriam as condições necessárias e suficientes para tal. O seu surgimento foi relativamente rápido, pois pensa-se que teria levado cerca de 550 milhões de anos a surgir no nosso planeta, ou seja o período de tempo que medeia entre a formação da Terra (4,5 mil milhões de anos) e o primeiro registo biogénico conhecido - LUCA (Last Universal Common Ancestor). Iremos assumir que o mesmo se tenha passado tanto em Vénus como em Marte.

I Diagrama

Um cladograma juntando todos os grupos principais de seres vivos ao Último Ancestral Comum (o tronco preto na parte de baixo). Este gráfico foi feito a partir de sequências de RNA ribosomal. – Fonte Wikipédia



Chegámos agora a um ponto do nosso conhecimento que nos possibilita explorara e estabelecer eventualmente linhas de aproximação com doutrinas muito antigas, sobre a evolução da vida planetária, nomeadamente daquelas defendidas pela Teosofia e por Helena Blavatsky na sua Doutrina Secreta (4) nos respectivos volumes da Cosmogénese e da Antropogénese.

Começaremos por expor de forma sucinta e simples a estrutura do corpo desta doutrina quanto a este assunto.

O conceito ligado à Constituição Septenária vai estender-se agora à evolução planetária quando atribui a cada corpo do sistema solar, sob a designação de Globo, a existência simultânea de sete dimensões ou Globos, dos quais apenas um é materialmente visível. No seu conjunto formam uma Cadeia que agrupadas em ciclos de 7 definem uma Ronda em que foram percorridos 49 Globos. A doutrina postula que cada planeta evolui durante sete Rondas estando o nosso planeta a atravessar o período correspondente à 4ª Ronda. Os Puranas hinduístas designam os Globos por Dvipas sendo a Terra conhecida por Jambudvipa.


II Diagrama

Diagrama interpretativo de Globos terrestres baseado em Geoffrey Farthing (5)

Upadhi significa veículo. A,B e C são veículos de G, F e E.



Esta estrutura toma por base que cada planeta é um organismo vivo (próximo do conceito Gaia) que durante éons de tempo evolui desde uma forma densa (D) até a uma subtil (A e G). Ou seja, este diagrama e os conceitos nele expresso nada tem haver com a evolução biogénica que até agora expusemos. Poderemos dizer que a evolução do planeta obedece a 4 planos de manifestação, onde o Plano Físico da Terra (a matéria fermiónica) ocorre sobretudo no presente éon, não deixando, no entanto, de evoluir nos outros planos dos Globos existentes noutras dimensões. Como se o espaço fosse ocupado simultaneamente por 4 campos de natureza quântica.

Assim as outras 4 dimensões referidas no II Diagrama, ou “Planos da Manifestação”, poderiam ser consideradas como sendo de natureza idêntica aos campos quânticos, a saber o campo electromagnético (no diagrama C e E) que está ligado presentemente aos efeitos dos campos eléctricos e magnéticos terrestres, o campo das forças fracas, (B e F) ligado aos fenómenos de degradação radioactiva geradora do calor interno do planeta, controlando o “humor” do planeta através da sua actividade vulcânica e tectonicidade, e finalmente o campo das forças nucleares fortes que mantêm o planeta coeso como um corpo único (A e G) e ligado ao denominado “Plano dos Arquétipos”, que sempre constituiu fonte de reflexão para a Filosofia, desde Platão a Kant.

III Diagrama


Em todas as mitologias de carácter religioso, o espírito para evoluir tem necessidade de descer à matéria e na sua evolução voltar a deixar a matéria. Estes dois ciclos estão impressos no dualismo do diagrama da evolução dos Globos Planetários da Teosofia, nos conceitos hinduístas do ciclo Rajas-Sattva-Tamas ou na filosofia Taoista no Yin-Yang.

O IV diagrama representa a evolução histórica e futura dos Globos durante éons passando pelos diferentes planos da Constituição Septenária e que globalmente abrange 4 Globos Átmicos, 8 Globos Bhúdicos, 12 Mentais Superiores (Manas superior), 12 Mentais Inferiores (Manas inferiores), 8 Globos Astrais e 5 Globos Físicos. Significa que os corpos celestes nomeadamente os planetas só aparecem materialmente constituídos nas 3ª, 4ª e 5ª cadeias.

Tendo em conta o mesmo diagrama, o Homem tem um plano Atma veículo do plano Kama-manas (A+G), um plano Budhi veículo do Linga sharira (B+F), um plano Manas veículo do energético ou Prana sharira (C+E), e finalmente um plano físico ou Stulasharira veículo de todos os outros (D), perfazendo assim a Constituição Septenária no Homem, representando a ligação do Ternário com o Quaternário (3+4).

IV Diagrama (5)


Neste corpo doutrinário a Humanidade evolui de acordo com as Rondas sendo atribuída a noção de Raça, que nada têm a ver com o conceito racial, mas aos estádios evolutivos da espécie em que as características espirituais seriam cada vez mais apuradas, despertando as nossas capacidades internas e ocultas. Assim nós estaríamos actualmente, e maioritariamente, a atingir a 5º Raça, a Ariana. A 3ª Raça teria sido a do continente Lemuriano (o “Hobbit” da ilha das Flores, Indonésia ou o Homo luzonensis nas Filipinas seriam os seus descendentes) e a 4ª, aquela relativa aos gigantes do continente da Atlântida descrito por Platão e construtores do megalitismo presente em todas as antigas civilizações da Terra e nas suas mitologias.

Fundamentalmente esta concepção da Vida e da sua natureza não atribui propriamente uma origem ou começo, muito menos um acto de criação, mas um ciclo contínuo de transformação onde a existência de um vector na evolução define os impulsos internos da própria natureza, os tais arquétipos. Deste modo, a Terra e os restantes planetas pré-existiam sob a forma de Globos fisicamente invisíveis, em dimensões quânticas como arquétipos antes mesmo da formação material do Sistema Solar. Pressupõe-se então, que a actual existência física dos planetas foi antecedida por formas não materiais (no sentido fermiónico do termo) onde deveriam prevalecer campos quânticos que definiriam o futuro da sua natureza. Não deixa de ser uma teoria absolutamente inovadora e que se enquadraria sem dificuldade nas actuais hipóteses da cosmologia e da astrofísica quando advogam razões fractais e holográficas e sistemas hierárquicos na formação do Universo.

Ponto de possível encontro entre a ciência e estes conceitos teosóficos é o postulado compartilhado do aparecimento simultâneo da vida em diversos corpos planetários no sistema solar. Vejamos então o estádio das Rondas e dos Globos nestes éons temporais para os planetas telúricos.

Segundo este esquema, que foi basear-se nas milenares Estâncias de Dzyan, na Cabala Hebraica e no Budismo do Norte, primeiramente tem formação o planeta não-material (fases A e B) pelo surgimento de extensos campos toroidais eléctricos criados pelos vórtices de plasma das ejecções de material coronal da estrela em formação (o Sol). A agregação de material nebular em consonância com estes campos toroidais, conduzem à formação de um corpo esferóide, e só depois de existir massa crítica necessária se inicia o processo de criação do campo toroidal magnético interno (fase C) - seja pelo crescimento acelerado de um núcleo metálico de ferro e níquel, seja pela criação de bolsas magmáticas e circulação de fluidos magmáticos e mais tarde pelo surgimento de um sistema de placas tectónicas. Inicia-se a actividade vulcânica nesta fase que é a expressão maior deste Globo onde se criam as condições bióticas para o aparecimento da vida (fase D). Todas estas fases duram éons de tempo – manvantaras e pralayas planetários, sobre as quais iremos reflectir mais à frente.

Ora é sabido que Vénus possuiu oceanos e um campo magnético forte tendo havido condições para ter surgido vida, que logo desapareceu pelo atroz efeito de estufa. É o planeta mais antigo a manifestar vida e encontra-se na 5ª Ronda, segundo a Teosofia. O futuro longínquo da Terra, que se encontra na 4ª Ronda será então algo semelhante ao actual ambiente venusiano?

Marte teria 1/3 da sua superfície ocupada por oceanos, uma ténue atmosfera, mais densa que a actual, mas um campo magnético extremamente fraco que não protegeu as primeiras formas de vida. No entanto presentemente situa-se na 4ª Ronda.

A Terra, ao ter sido impactada por Theia, adquire um núcleo interno, um acréscimo de água, placas tectónicas, ganha uma lua que cria sinergias com o planeta e tem assim condições para que a vida vingue e evolua estando na 4ª Cadeia assim como Marte. Seria, portanto, possível voltar a acelerar o aparecimento de vida em Marte, talvez pelo processo de terraformação de acordo com alguns projectos ficcionistas de engenharia planetária.

Segundo a Teosofia a Lua é definida como um resíduo de Globo muito maior, que foi o planeta físico da 3ª Cadeia mantendo a mesma posição na 3ª Cadeia que aquela mantida pela Terra na 4ª Cadeia e que irá desaparecer no futuro (na 7ª Ronda). Nisto a coincidência parece ser total.

Interessante verificar que tanto Júpiter como Saturno, se encontram na 3ª Cadeia levando a crer que os processos bióticos ainda não estão em curso, mas que poderão ter-se iniciado nas suas luas Titan, Europa, Encélado, e que poderão corresponder aos 3 “Esquemas Sem Nome” que existem no diagrama da estrutura do Sistema Solar e que a Teosofia nem Blavatsky conseguiram definir, referindo apenas que eram planetas que ainda não existiam.

Na actual 4ª Ronda a Teosofia acrescenta que a Terra, Mercúrio e Marte possuem as mesmas características físicas, ou seja, possuem núcleos densos de ferro e níquel, água sobretudo nas condições de “permafrost” ou em glaciares nas zonas polares, o que coincide também com o actual conhecimento sobre a estrutura interna destes planetas. Marte inclusive apresenta sismicidade detectada muito recentemente pela sonda InSight da NASA que registou até agora mais de 500 sismos ou martemotos atestando que o planeta é geologicamente activo, apesar de não ter sido confirmada a existência de um sistema de placas tectónicas como na Terra.

Verifica-se então alguma semelhança, em termos gerais, daquilo que a Ciência tem vindo a descobrir e a levantar de hipóteses com os axiomas revelados pela doutrina teosofista e por Helena Blavatsky na sua obra Doutrina Secreta.

V Diagrama

O diagrama representa o Sistema Solar com os seus 10 esquemas de evolução, cada um formado por 7 Cadeias de 7 Globos e as 7 Rondas de cada Cadeia (5)

A concepção dos Globos insere-se numa hierarquia evolutiva em que numa Cadeia um Globo dura um período Manvantárico e a passagem de um Globo para outro medeia éons de tempo designados no sânscrito por Pralayas Planetários. O mesmo se aplica aos ciclos entre Cadeias (Pralaya intercatenário). Sete Cadeias constituem um “Esquema Evolutivo” sendo considerado que o nosso Sistema Solar é constituído por 10 “Esquemas Evolutivos” (V Diagrama).

Cada “Esquema Evolutivo” representa patamares sempre mais evoluídos dos Globos onde a dualidade – construção/dissolução, é o mecanismo de aprimoramento.

As cadeias desenvolvem-se de acordo com a proximidade dos planetas ao Sol e tomam o seu nome. Aqui surge uma possível incongruência com uma cadeia denominada de Vulcano que pressupõe a existência de um corpo mais próximo do Sol para além de Mercúrio. Tal nunca foi verificado o que não invalida a hipótese de tal existência no início da formação do Sistema Solar.

Assim, em conclusão o sistema hierárquico da evolução do Universo, de cima para baixo, desenvolve-se sempre em torno de 7 cadeias que constituem um Esquema de Evolução que é formado nesta lógica por 49 Rondas ou 343 Globos ou Períodos Globais. Isto implica tempo! Éons de tempo até ao infinito.

 

Manvantara ou idade de Brahma ou Manu (Manu no hinduísmo e na teosofia é o criador de universos, mas também um período astronómico) deriva de "Manuantara", "manu-antara" ou "manvantara" e significa, literalmente, a duração de Manu, ou a duração da sua vida.

Assim, um dia e uma noite de Brahma corresponde a um ciclo manvantárico/pralaya, ou seja, de construção e dissolução que corresponde a 8 640 000 000 anos terrestres, o que se aproxima dos valores calculados para a idade do Sistema Solar que é entre 4 571 000 000 e 5 000 000 000 de anos.

Multiplicar este valor por 365, que é o número de dias num ano, equivale a um ano de Brahma equivalente a 3 110 400 000 000 anos, enquanto um Maha Kalpa que é uma época ou Ciclo de Brahma é aquele valor multiplicado por 100 (ou 311 040 000 000 000 anos) e que segundo Blavatsky corresponde aos períodos de actividade crescente (Mahamanvantara) e decrescente (Mahapralaya) do Universo – a vida de Brahma.

A idade atribuída à nossa galáxia que é tão antiga quanto o Universo é cerca de 14 mil milhões de anos. Logo aqueles valores da doutrina teosófica superam em muito as nossas estimativas actuais, mas são valores a considerar numa teoria como aquela defendida por Roger Penrose e conhecida como CCC – Cosmologia Cíclica Conforme, em que os Universos surgem de outros antecedentes, em ciclos contínuos de construção e dissolução.

 

Conclusão: é estonteante a imensa e complexa estrutura de sistemas elaborados pelas antigas doutrinas védicas, expressa nas Estâncias de Dzyan, nos Puranas, no Bhagavad Gita, nas quais se basearam posteriormente as diversas escolas Teosóficas, para explicar o surgimento do Universo, a sua natureza e a sua evolução. Contudo, de forma genérica, como verificámos existem pontos comuns entre os conhecimentos científicos actuais e aquelas elaboradas teorias axiomáticas. Como tal é possível? O acaso é tão forte que modela o pensamento e a busca do conhecimento, agora como no passado longínquo? Uma das hipóteses é considerar que os arquétipos existem e se revelaram aos pensadores desses tempos arcaicos da humanidade, tal como hoje é reconhecido nos “insights”, as epifanias, as intuições de cientistas e filósofos.

Na verdade, o que hoje se constata é que o Modelo Padrão não está completo, que mais de 90% dos constituintes do Universo, referidos como Matéria Escura e Energia Escura, não são conhecidos e que a cada passo dado na investigação surgem mais perguntas que soluções.

 

O nosso propósito foi deixar pistas de futura reflexão, sabendo que a verdade de hoje é a ignorância do futuro, parafraseando Helena P. Blavatsky.

 

Notas e Bibliografia

(1) L. Pianiet al., Science 369, 1110 (2020).

(2) Briony H.N. Horgan, Ryan B. Anderson, Gilles Dromart, Elena S. Amador, Melissa S. Rice,
The mineral diversity of Jezero crater: Evidence for possible lacustrine carbonates on Mars,
Icarus, Volume 339, 2020. 

(3) Chyba C, Sagan C (1992) Endogenous production, exogenous delivery and impactshock synthesis of organic molecules: An inventory for the origins of life. Nature 355:125–132.

 (4) Helena P. Blavatsky, Doutrina Secreta, Volume II, Editora Pensamento, São Paulo.

 (5) Deity, Cosmos and Man by Geoffrey Farthing, Published in the late 1900's, Edição Digital.

 




sexta-feira, 16 de abril de 2021

Astrosofia, a astronomia ancestral

 







Creative Commons

https://uago.at/-86LY/sgim.jpg

 

“Sujeito e objecto são uma só. Não se pode dizer que a barreira entre eles tenha ruído em consequência da experiência recente nas ciências físicas, visto que tal barreira não existe.”

Erwin Schrodinger

 

Astrosofia, literalmente sabedoria dos astros, acredita-se ser a mais antiga ciência conhecida sobre o nosso planeta. Faz parte integrante dos primórdios da cultura humana colocando a consciência como “objecto” matricial transversal a todo o Universo e integrando o ser humano e o ambiente numa dinâmica relacional estreita.

O Homem percebeu desde cedo a relação íntima entre as coisas vivas da Terra – a mãe natureza, e as coisas vivas do céu – os arquétipos. No despertar da consciência atribuiu outro significado aos movimentos intrigantes dos astros. Reparou nos agrupamentos de estrelas em determinadas regiões do céu relacionadas com eventos terrestres do clima, do crescimento vegetal ou das transumancias animais. Percebeu que a sua sobrevivência dependia do estabelecimento de uma relação harmónica com o Universo que o rodeava. A sincronicidade dos eventos naturais com a biologia humana e animal em geral tomou significados por um lado concretos e também transcendentes por outro lado, referenciados em rituais cronologicamente estabelecidos e de mímica fenoménica, cuja interpretação competia aos que assumiam estados de consciência elevados, às vezes por meios artificiais, que os aproximavam da revelação.

A disrrupção na natureza, catástrofes ou eventos extremos, representava forçosamente um desequilíbrio nessas forças ocultas que reinavam na natureza. Essas forças ocultas poderiam ser redimidas pela assunção de comportamentos convenientes que reporiam a normalidade. A Terra, e todas as coisas viventes e não viventes, representavam um organismo vivo com todos os seus subsistemas interdependentes, que acumulava a informação relativa a todos os acontecimentos num feedback contínuo. Esta é ainda hoje a concepção Gaia fortemente arreigada às bases teóricas do Panpsiquismo.

Saído de uma evolução natural, tendo absorvido todas as circunstâncias que o rodeavam, tanto na competição como na colaboração com as espécies de maior proximidade, onde a condição inferior ou superior era muito relativa, o Homem, o “bom selvagem”, trazia consigo a carga genética, o inconsciente colectivo da espécie, a constituição holomorfogenética necessária à expressão da consciência.

É em Carl Gustav Jung que surge o conceito do “inconsciente colectivo” que molda o ser humano como um ser colectivo, como um representante de sua espécie num determinado momento de desenvolvimento histórico, desde os tempos ancestrais, onde os arquétipos, género imagens arquiprimitivas gravadas na mente, são já parte do património comum daquela humanidade, reflectindo-se posteriormente em todas as mitologias como expressão do “inconsciente colectivo”.

Os arquétipos pré-existentes, construções de um passado de cuja condição o Homem primitivo se afastava de dia para dia, evoluíam lentamente impulsionados tanto pela amenidade dos fenómenos naturais como pelas condições adversas. O Sol iria tornar-se menos agressivo na sua actividade influenciando os climas, estabilizando o geomagnetismo terrestre, protegendo o ambiente dos raios cósmicos e da radiação ultra-violeta; a Lua distanciar-se-ia permitindo que o gigantismo desse lugar a outras naturezas mais conformes, estabelecendo ciclos biológicos mais adequados e, as agressões meteoríticas e cometárias seriam mais clementes. Os impulsos eram cíclicos e transformantes: basta analisar os sucessivos extractos geológicos. Havia urgência na futura humanização do planeta como ser vivo global.

A consciência, sendo sobretudo fenómeno numénico e de natureza quântica, haveria de promover rupturas epistemológicas na evolução da recente espécie humana, sujeita que estava, está e sempre estará, às influências aditivas e construtivas do emaranhamento dos campos quânticos que se estendem por todo o cosmos. Sempre o Homem sentiu essa presença, uma presença natural da qual se foi afastando progressivamente.

Desse afastamento surgiu a astrologia, vertente prática e utilitarista da Astrosofia. Supostamente descortinaria as melhores confluências e influências astrais para orientar as trocas de bens, as viagens, as relações, a guerra e a paz, e se transformaria num instrumento de dominação deitando por terra o “religare” original, aquilo que unia o Homem ao Cosmos.

Atestam-no ainda os Xamanes das mais diversas culturas, ditas primitivas, em fase acelerada de extinção.

Como se realiza esta união? Os princípios da Física Quântica e a estrutura do Modelo Padrão quando aplicados ao modelo da Constituição Septenária, alargam os nossos horizontes dando outro significado abrangente e unificador a toda a natureza, mais densa ou mais subtil, perpassando esta nova percepção do Cosmos a todos os níveis da existência. Modernamente tanto a Cosmologia como a Astrofísica perdem diariamente a fronteira que as distinguia de doutrinas mais esotéricas e da própria ficção científica mais exótica. Poderíamos citar um sem número de teorias que tentam explicar a Vida, a Consciência e a Inteligência como mais uma propriedade quantificável da existência. No entanto bastar-nos-á apontar, de forma muito resumida, algumas mais conhecidas:

1. A teoria do Big Bang, nas suas mais diversas variações, afirma por base que tudo teve uma origem comum pressupondo que tudo o que existe no momento presente e futuro esteve em contacto. Segundo a Física Quântica, os fenómenos de superposição, do estado de probabilidade e simultaneidade onda-partícula, é o reconhecimento implícito da passagem de uma natureza de uma dimensão física para outra de dimensão mais subtil. A Superposição, a não-localidade e o fenómeno do emaranhamento, de que já temos aplicações práticas pouco ou nada compreendidas na computação quântica, poderão derivar desta partilha original comum o que implica que dois objectos distanciados por milhares de milhões de anos-luz estão permanentemente interligados. Uma partícula ao interagir com outra, mantém um vínculo que não depende do espaço e do tempo. É como se estabelecessem uma comunicação telepática, registando ambas o que ocorre uma com a outra. Será a omnisciência e omnipresença que surgem da profunda união das concepções relativistas com a mecânica quântica.

 

2. A Teoria IIT - Integrated Information of Consciousness de GiulioTononi, na qual a evolução física dos subsistemas é concebida nos termos de um processo integrado quantificável matematicamente por uma variável designada Φ (Phi). Assim, sistemas tais como o cérebro humano seriam o culminar de um Φ muito alto enquanto a inexistência de consciência (uma rocha) significaria um Φ nulo.

A integração da informação inerente aos subsistemas (as partes) no Todo, fariam com que o Todo fosse maior que o conjunto das partes. Esta ideia tem conduzido a tentativas infrutíferas de construir modelos computacionais albergando componentes biológicos na ânsia de que fosse atingida uma espécie de massa crítica necessária ao aparecimento da consciência. Esta situação faz da teoria da informação uma área de pesquisa relativamente recente colocando-a na vanguarda da investigação de ponta profundamente ligada aos fundamentos da mecânica quântica.

3. A Teoria do Network Neuronal olha para o Universo como um ampla rede de ligações estabelecidas entre os aglomerados e superaglomerados de galáxias, estendendo-se por biliões de anos-luz e formando estruturas como a Laniakea com mais de 100 000 galáxias onde se inclui a nossa e o Grande Aglomerado da Virgem. Outros dois superaglomerados vizinhos foram também detectados, a saber o Superaglomerado de Shapley e o Superaglomerado de Perseus-Pices. Estas estruturas titânicas condicionariam a curvatura do espaço conferindo gravitacionalmente a distribuição e movimentação das grandes massas de grupos de galáxias e de estrelas. A descoberta destas tendências conjuntas através dos actuais meios observacionais da Astronomia, parece confirmar esta teoria e aspectos particulares da fluidez da expansão do universo. Estes networks seriam os veículos utilizados pelo trânsito de informação inter-galáctica que faria do Universo uma estrutura única onde a actividade dos Buracos Negros seria uma peça fundamental. A recente descoberta (2019) de jactos, detectados em frequências rádio, ultrapassando extensões de milhões de anos-luz entre aglomerados de galáxias e a formação de campos magnéticos e de fluxos de partículas relativísticas, veio confirmar aspectos desta teoria.

4. A Teoria do Universo Holográfico criado pelo físico Leonard Susskind, nos anos 90 do século passado, revela também a unidade básica do universo. Mostra-nos que não podemos decompô-lo em unidades infinitamente pequenas ou grandes com existências independentes, tal como a física quântica o demonstra à escala pequeníssima de Planck (10-35). Pelo contrário, ao penetrarmos nos menores constituintes conhecidos, evidencia-se uma teia complexa de relações entre as várias partes com o todo unificado. Esta teoria replica a estrutura holográfica bidimensional 2D dos Horizontes de Eventos dos Buracos Negros na própria estrutura geral do Universo como se ela fosse uma emanação em 3D. Daí distar apenas um passo para que o Universo tenha tido origem nos Buracos Negros Primordiais.

A Astrosofia vê-se assim reforçada pelas concepções mais modernas saídas da Astrofísica, da Cosmologia e da Física Quântica. Conceber influências espaciais dos mais diversos tipos, é uma tarefa que agora está ao nosso alcance de uma forma segura, alicerçadas nas provas dos instrumentos mais recentes e poderosos dedicados à investigação científica. Destes poderemos citar a plêiade de observatórios espaciais que vasculham o universo nos mais diversos comprimentos de onda (Fermi, Spitzer, Panstarrs, Kepler, Observatório Chandra Raios-X, Observatório de Raios Gama Compton, etc), o futuro James Webb Space Telescope, ou as grandes máquinas com dezenas de quilómetros como o Grande Colisionador de Hadrões, o LIGO - Laser Interferometer Gravitational-Wave Observatory, ou ainda mega telescópios terrestres (como exemplos o futuro Square Kilometre Array ou o Extreme Very Large Telescope – EVLT, o observatório de neutrinos instalado nas profundezas de um glaciar na Antárctida – o IceCube, o maior radiotelescópio do mundo, o FAST na província chinesa de Guizhou, entre muitos outros.

A Astrosofia assume o modelo fractal que está na base da natureza holográfica da matéria do mesmo modo que as últimas teorias sobre a origem do Universo, como vimos anteriormente. O fractalismo está presente na fórmula 4-3-2-1 da Tetraktys pitagórica bem como na estrutura da doutrina dos Manvataras (os “Mentores, os Manus ou avatares cósmicos) em que a partir de uma fracção do todo em particular, se pode construir o todo completo sob a precisão de fórmula matemática. É o número de ouro que se reflecte na estrutura organizativa da natureza, desde as galáxias até ao nautilus.

A influência da estrutura fractal é transversal a todos os fenómenos naturais, de tal modo que não pode ser encarada como uma coincidência. A sua matriz determinou a concepção dos padrões temporais (Manvatara/Pralaya, Eras), os signos da astrologia, a concepção sobre as idades das civilizações, e os Ciclos Yugas védicos. Esta geometria cíclica quando surge está dividida pela influência das fractais, plasmando o “inconsciente colectivo” ou os fluxos fundamentais da energia akáshica e holomorfogenética. É assim que se reflecte depois mais tarde na estrutura dos “idos” dos meses romanos ou mesmo antes no calendário grego luni-solar e na astrologia hinduísta quando cria os milénios dentro das Eras.

A concepção septenária traduz também esta realidade ao perpassar todas as coisas, adaptando a sua terminologia a cada caso específico do micro ao macrocosmo, aos ciclos da cabala hebraica na “Árvore da Vida”, o Caduceu ou ainda os ciclos Dharmicos hinduístas.

Perpassa todas as cosmogonias presentes nas doutrinas religiosas. Religa o humano à sua natureza mais profunda e oculta e está presente no nosso dia-a-dia.

“Morri mineral e converti-me em planta. Morri planta e nasci animal. Morri animal e me converti em homem. Por que, pois, hei-de temer a alguém? Acaso poderei ser menos ao morrer? Na próxima vez morrerei como homem para que me possam nascer asas de anjo, mas também da condição de anjo me elevarei, por que, como ensina o Corão, tudo perecerá, menos a face do Senhor. Outra vez, tomarei o voo por cima dos anjos e me converterei no que a imaginação não pode conceber. Na verdade, voltaremos a Ele”. - Do livro persa, Mathnawi, autor Jalalu’l Din Rumi (1207-1273).

Nesta métrica até aonde poderemos delimitar influências siderais pré-determinadas matematicamente na evolução da espécie humana, sabendo de antemão que tudo se move no Universo? Qual a probabilidade muito concreta de um acontecimento semelhante aquele que retirou da face do planeta os dinossauros, acontecer de novo? Haverá um calendário cósmico gerido por um relojoeiro multidimensional onde estão assentes os acontecimentos futuros já pré-determinados ou teremos o livre arbítrio como opção num campo probabilístico onde apenas o colapso de onda da opção momentânea faz o acontecer?

A questão fundamental que se coloca: poderá a Astrosofia (o conhecimento dos astros) parametrizar a probabilidade de um evento num campo unificado quântico multidimensional e relativístico como parece tendencialmente concluir a ciência actualmente? Esta será a base conceptual unificadora, a religação do Homem e do Universo, apenas uma dualidade temporária e ilusória.

“Poderemos olhar para a matéria como as regiões do espaço onde o campo é extremamente forte (…). Não poderá haver lugar, nesta nova física, para o campo e para a matéria, uma vez que o campo é a única realidade.” – Albert Einstein, Out of My Later Years (Nova Iorque: Philosophical Library, 1956).

 

João Porto e Ponta Delgada, 16 de Abril de 2021


Publicado na revista Fénix da Nova Acrópole Portugal

https://www.revistafenix.pt/astrosofia-a-astronomia-ancestral/


sábado, 10 de abril de 2021

O que me disseram as Estrelas

 











Vincent Van Gogh - The Starry Night [1888]

Creative Commons - https://images.app.goo.gl/55vG6Kh92cS2v


Em termos cosmológicos o espaço “vazio” é a realidade suprema e as estrelas serão as partículas que revelam a potência nele pré-existente. Chegam-nos das profundezas do Universo, ondas de Tempo reveladas pelas estrelas e trazidas pelo espaço. Todas as vezes quando levantamos o nosso olhar para o fundo estelar do céu nocturno, aquilo que se vê não é aquilo que é, mas aquilo que foi. A luz do Sol leva cerca de 8 minutos para chegar até a Terra e as galáxias do aglomerado da Virgem mostram-se como eram há 65 milhões de anos. Portanto, ao olharmos para o céu à noite, vemos naquele momento presente, fluxos muito distintos do passado da história do Universo. Contudo este tempo é de uma relatividade a toda a prova, dado que sabemos que estas galáxias deste aglomerado deslocam-se a 1 600 km/segundo. Também sabemos hoje que o nosso planeta, gira a 1 600 km/hora em torno do seu próprio eixo e que este gira em torno do Sol a cerca de 108 000 km/hora, que por sua vez gira em torno do centro da galáxia a 830 000 km/hora. Tudo é movimento e por isso relativo. Aqui a Revolução Coperniciana continua a dar cartas na sua contínua expansão universalista.

Como é facilmente perceptível o Universo possui uma natureza hierárquica. A analogia com os objectos fractais poderá ajudar esta visão cosmológica. Fractal é um objecto que pode ser dividido em partes, cada uma das quais semelhante ao objecto original e que no seu conjunto reproduzem o todo. Teilhard de Chardin estava profundamente convencido de que o universo é um todo (Totum):

“Quanto mais longe e profundamente penetramos na Matéria, graças a meios cada vez mais poderosos, mais nos confunde a interligação das suas partes. Cada elemento do Cosmo é positivamente tecido de todos os outros: por baixo de si próprio, pelo misterioso fenómeno da «composição», que o faz subsistir pela extremidade de um conjunto organizado; e, em cima, pela influência recebida das unidades de ordem superior que o englobam e o dominam para os seus próprios fins. Impossível cortar nesta rede e isolar um retalho sem que este se desfie e se desfaça por todos os lados. A perder de vista, em volta de nós, o Universo aguenta-se pelo seu conjunto. E há apenas uma única maneira realmente possível de o considerar: tomá-lo como um bloco, todo inteiro.” – Teilhard de Chardin, O Fenómeno Humano, 3ª Edição 1970, pág. 21, Livraria Tavares Martins, Porto.

Esta ligação de tipo fractal por sua vez reflecte-se ao nível do microcosmo subatómico na existência também predominante do espaço “vazio”. Mesmo nos materiais mais sólidos, como o ferro ou na estrutura cristalina, existe um grande espaço entre as moléculas que os constituem. Um átomo é essencialmente espaço vazio: se o seu núcleo fosse ampliado até o tamanho de uma bola de futebol, a nuvem de electrões circularia nos limites do estádio de futebol. Se o núcleo do átomo fosse ampliado um pouco menos, digamos até o tamanho de um berlinde, o núcleo do átomo mais próximo estaria aproximadamente a cerca de mil metros! Segundo algumas estimativas da astrofísica dos Buracos Negros, se toda a matéria do nosso planeta fosse confinada, eliminando os espaços vazios, ocuparia apenas a dimensão de uma bola de ténis. A densidade no espaço intergaláctico é apenas de 7 a 8 átomos por metro cúbico. Ou seja, o mundo sólido e o espaço entre as galáxias é basicamente espaço vazio!

Esta relação que se estende desde o micro ao macrocosmo é uma relação de organização fractal onde a informação subjacente aos subsistemas que o compõem tem a tendência de replicar estruturas em escalas diferentes, como se houvesse uma acção à distância.

Ora, aqui entra a Teoria dos Campos que surgiu na física precisamente para explicar a acção à distância que Einstein designou como “acção fantasmagórica à distância”. Bem conhecidos são os efeitos dos campos electromagnéticos definidos por Maxwell e dos campos gravitacionais de Newton, Kepler e Galileu. As interacções entre partículas subatómicas são também descritas em termos de campos, combinando ideias da teoria clássica de campo com a teoria granular dos quanta, transformando as partículas em fenómenos transitórios como concentrações de energia que emergem do campo e nele tornam a desaparecer no “vazio”, mas contendo a potencialidade para todos os tipos de partículas que constituem o actual Modelo Padrão.

No entanto o espaço possui um número muito maior de dimensões, pois que para além de se conter a si próprio como campo quântico e a todos os outros campos, é o gerador de toda a manifestação fenoménica. Do micro ao macrocosmo uma coisa em comum existe: o espaço finito granular quantizável a que Carlo Rovelli designa por “espuma de spins” e que os Upanishads chamam de “espuma da água”. Será também aquela realidade numénica kantiana de onde tudo se origina e na qual tudo se retrairá agora confrontada com a teoria CCC – Cosmologia Cíclica Conforme de Roger Penrose!

Qual o papel destes campos e a constituição da Consciência encarada como matriz de informação organizada? Enquanto para uns a Mente seria olhada como mera segregação do cérebro e a Consciência um subproduto da evolução física de unidades quase isoladas, independentes, sem qualquer ou com fraca ligação entre si; para outros que defendem a teoria IIT – Integrated Information of Consciousness de Giulio Tononi, a evolução física dos subsistemas é concebida nos termos de um processo integrado quantificável matematicamente por uma variável designada Φ (Phi). Assim, sistemas tais como o cérebro humano seriam o culminar de um Φ muito alto enquanto a inexistência de consciência (uma rocha) significaria um Φ nulo.

A integração da informação inerente aos subsistemas (as partes) no Todo, fariam com que o Todo fosse maior que o conjunto das partes.

Então vamos partir do axioma de que as estrelas, de que não escapa o caso particular do nosso Sol, têm uma estrutura complexa que permite aceder a um nível relativamente alto de Φ. Senão vejamos:

O plasma (o 4º estado da matéria) é o material de que são feitas as estrelas onde os electrões são arrancados dos núcleos de hidrogénio, formando um gás electricamente carregado gerando campos magnéticos extraordinariamente elevados que provocam correntes de convecção dinamizadas pela rotação da estrela, que na nossa estrela tem a duração média de 28 dias: roda mais depressa no equador do que nas zonas polares, criando o Efeito de Torniquete na distribuição das massas de plasma no espaço e o Efeito Borboleta na distribuição das manchas solares na superfície solar - a fotosfera.

Esta rotação diferencial, que em estrelas milhões de vezes maiores que o Sol gera fluxos internos de plasma incomensuravelmente colossais, na sua ascensão até à fotosfera criam vórtices de vibrações acústicas rítmicas, de frequências ressonantes, que podem ser analisadas pela nova ciência da heliosismologia (no caso do Sol) ou da asterossismologia (para o caso das outras estrelas) permitindo ver o que ocorre por detrás da estrela e literalmente ouvir as suas frequências e amplitudes harmónicas.

Estas oscilações de portentosas massas, criadas por ondas de pressão (modo p) e por ondas gravíticas (modo g), originam pulsações de luminosidade causadas pela propagação do som no interior das estrelas, gerando autêntica música estelar que pode ser detectada e ouvida e que caracterizam a individualidade de cada estrela. As baleias e as estrelas têm esta particularidade em comum.

Toda esta movimentação de massas pode ser estudada e seguida pela aplicação dos princípios da magneto hidrodinâmica que na fotosfera criam um reticulado que a pavimenta em triliões de células, criando a denominada granulação e supergranulação como se fosse a epiderme da estrela. Aqui surgem erupções gigantescas – as espículas e as célebres manchas solares (conhecidas e desenhadas por Galileu) que se desenvolvem ciclicamente – na nossa estrela por períodos de 22 anos, 11 anos de actividade crescente e 11 anos de actividade decrescente e que se caracterizam pela sua marcada polaridade. Esta polaridade bloqueia a ascensão convectiva de plasma e arrefece a fotosfera que está a cerca de 6 000º Celsius, dando o aspecto negro à mancha solar.

Figura 1 – CD sobre o 23º Ciclo Solar.

Reportório resultante das observações do autor, com mais de 2500 imagens da fotosfera e cromosfera solar na luz visível e na primeira linha de emissão do hidrogénio (H-alfa). Edição 2001 sob o patrocínio da Presidência do Governo Regional dos Açores – Direcção Regional da Ciência e Tecnologia


Ao acompanhar o 23º Ciclo Solar (nós estamos presentemente a iniciar o 25º), tivemos a oportunidade de assistir a um dos mais criativos ciclos de actividade solar onde as manchas solares puderam ser classificadas morfologicamente de acordo com o sistema de Macintosh, seguindo quase sempre padrões previsíveis de evolução magnética, algumas vezes originando Fulgurações e Ejecções de Massa Coronal (EMC), como se o sol atirasse para o espaço em redor quantidades astronómicas da sua própria massa (plasma), com efeitos a curto prazo (48 a 72 horas) sobre o nosso planeta.


Figura 2 – Ejecção de Massa Coronal (EMC) em 8/12/2003 entre as 12:00 e as 12:52 horas UT. Gif elaborado pelo autor.

 Estas EMC`s lançam no espaço biliões de partículas electricamente carregadas e como tal são orientadas pelos potentes campos electromagnéticos que se estendem por todo o sistema solar com influência marcante na designada meteorologia espacial, nomeadamente no campo magnético terrestre (o fenómeno mais comum são as Auroras Boreais e Austrais). Marte perdeu a sua atmosfera devido ao seu fraco campo magnético que não protegeu o planeta destas erupções titânicas quando o sol ainda era mais jovem.

Para além disso, as estrelas, e o Sol, possuem uma actividade magnética polarizada cíclica. Durante o ciclo de actividade máxima surge a inversão da polaridade em que o pólo norte magnético passa a pólo sul magnético, recompondo-se a configuração inicial no fim do ciclo. Não me abstenho de comparar estes ciclos com os Gunas védicos – Rajas, Sattva e Tamas.


Figura 3 – Proeminências (2001 e 2006 em H-alfa) e manchas solares (2003 no espectro da luz visível) durante o 23º Ciclo Solar. Imagens do autor.

Esta descrição, de forma muito resumida, revela no entanto a complexidade da estrutura estelar, dos seus subsistemas, dos seus networks hierárquicos e a integração dos seus componentes que funcionam tal como um organismo vivo funcionaria, criando inclusive padrões de actividade previsível e influenciando o espaço para além da heliosfera no caso do Sol, talvez mesmo até em outros sistemas estelares (certamente no caso de sistemas binários e triplos). Poderíamos então inferir da existência de um Φ relativamente alto.

No entanto calcular matematicamente o Φ de uma estrela ou no caso particular do Sol, tornar-se-ia inviável, mesmo utilizando a computação quântica. Acredita-se que o cálculo de Φ para a minhoca C. Elegans que possui menos de um milímetro de tamanho e com apenas 8 000 ligações neuronais, levaria alguns milhares de milhões de anos. A teoria IIT assume que a consciência deriva da integração da informação reforçando a ideia do Panpsiquismo acerca da sua origem e confirmando que a base funcional assenta nos networks electromagnéticos. Contudo não entra em linha de conta com outros campos quânticos como o da ressonância holomórfica de Rupert Sheldrake ou o possível campo quântico da Informação que utiliza os microtúbulos das células cerebrais para se expressar nos seres vivos biológicos, como advogam Stuart Hameroff e Roger Penrose.

As estrelas não poderiam deixar de encerrar em si a estrutura septenária onde no ápice ternário Logoi reside a capacidade de conversão massa-energia-informação, expressa pelas fórmulas E=mc2 ou m=E/c2 , Kb T Ln(2)=mc2 e m=Kb T Ln(2)/c2 pelo princípio de Landauer, criando os campos quânticos de ressonância holomórfica e o de Informação/consciência na IIT designada como Phi (Φ). Como em todos os corpos a força gravítica inerente é o fenómeno resultante da curvatura do espaço granular – a “espuma de spins”, exercida pela massa da própria estrela.

As forças nucleares forte e fraca, para além da electromagnética, mantêm a sua estrutura física e material fermiónica (neste caso o 4º estado da matéria). É a força forte que gera as potentes reacções nucleares e a força fraca que está na base da degradação radioactiva e da própria vida no nosso planeta, e que no seu conjunto formam a estrutura base quaternária desta constituição septenária.

Figura 4 – Um modelo de Constituição Septenária que Unifica os Campos

Neste modelo a massa advém do campo quântico do Bosão de Higgs, que tudo permeia e faz a ligação entre a estrutura quaternária e ternária, tal como o Antahkarana sânscrito.

Para Blavatsky, o nosso sistema solar seria composto de sete planos distintos (modernamente considerados como os campos quânticos e a matéria propriamente dita), coexistindo no mesmo espaço e assumindo uma hierarquia do mais “denso” para o mais “subtil” assim reflectida tanto no ser humano como na partícula subatómica mais ínfima (por ex. um quark):

1 - o plano físico ou os fermiões (protões, quarks, electrões, muões, mesões, neutrinos);

2 - o plano emocional (astral) ou a força electromagnética (fotão);

3 - o plano mental (concreto/abstracto) ou Força Nuclear Fraca (W, Z);

4 - o plano búdico (intuitivo) ou Força nuclear Forte (gluões);

5 - o plano átmico (espiritual) ou Campo Granular do Espaço;

6 - o plano anupadaka (monádico) ou Campo Informação Holomórfica;

7 - o plano adi (divino) ou Campo da Informação/Consciência;

e acrescentaríamos o plano de ligação Antahkarana (Bosão de Higgs).

Por aqui se apercebe que o actual Modelo Padrão está incompleto e que mais uma vez as estrelas e o ser humano são da mesma substância, desde a mais subtil à mais densa. Bases para uma futura Astrosofia!

 

Tenho dó das estrelas

Luzindo há tanto tempo,

Há tanto tempo...

Tenho dó delas.

Não haverá um cansaço

Das coisas.

De todas as coisas,

Como das pernas ou de um braço?

Um cansaço de existir,

De ser,

Só de ser,

O ser triste brilhar ou sorrir...

Não haverá, enfim,

Para as coisas que são,

Não a morte, mas sim

Uma outra espécie de fim,

Ou uma grande razão —

Qualquer coisa assim

Como um perdão?

 

Poesias - Fernando Pessoa

 

João Porto

Ponta Delgada, 10 de Abril de 2021


Publicado na Revista Fénix da Nova Acrópole Portugal

https://www.revistafenix.pt/o-que-me-disseram-as-estrelas/


O Demónio de Maxwell

  James Clerk Maxwell (1831 – 1879) foi um dos maiores físicos possuidor de uma criatividade inigualável que até hoje a humanidade conheceu....