quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

Um aviso do Tempo Futuro vindo do Passado

 



Futuro é aquele tempo que nos chega espantosamente já construído. No entanto poderíamos encontrá-lo já inscrito em memórias deixadas pelo passado.
Pois se é a Lei da Causalidade, aquela “potência Contrafactor” (1), que constrói o futuro, então, as grandes escalas, que só o tempo futuro pode construir e abarcar, obra da Entropia, vão definir as pequenas escalas que nos são dadas no presente. Somos fractais por essa razão e também muito pequeninos. Acabamos por ser um produto da retrocausalidade.
Invertendo a causalidade e a localidade destroem-se todos os pressupostos axiomáticos sob os quais vive Sophia – o Conhecimento. No nosso mundo, assim confinada ao espaço-tempo num quadrado que se pode transformar num cubo, não resistirá à Luz do Alhures/Algures – o Inefável, sem a Pistis, as potências Construtoras do triângulo, que se pode transformar numa pirâmide. Afinal a mensagem simbólica básica inscrita na Tetractys da Década Pitagórica.
É o Futuro que vem na nossa direcção! Saibamo-lo construir na dualidade dos opostos: Pleroma versus Kenoma.
Este poderia ser o melhor conselho que nos poderiam dar, inscrito na pedra, o material mais comum e duradouro existente, num sério aviso para o futuro da Humanidade.
Transmitido em todas as cosmogonias e teogonias em todas as civilizações, algumas geograficamente muito distantes, sob formatos mitológicos e camadas de véus obscuros, terá sido a única maneira inteligente de garantir a sua transmissibilidade (para além da oral que se deteriora com o tempo) para as gerações vindouras, sobrevivendo ao caos da existência material. Foi assim nas mensagens dos textos gnósticos do cristianismo primitivo (os manuscritos gnósticos de Nag Hammadi), foi assim pela mitologia védica e Hinduísta, egípcia, babilónica, maia, azeteca, celta, ameríndia e dos povos do pacífico e do sudoeste asiático. Definitivamente um assunto universal com origem provável num grande acontecimento que impactou globalmente de forma acutilante a Humanidade e o planeta, e que hoje é conhecido como a época do Younger Dryas.
Este poderá ser afinal o significado oculto da mensagem até agora indecifrável, transmitido pelas conhecidas “malinhas de mão” presentes na estatuária arcaica distribuída pelos quatro cantos do mundo (ou seis: este, oeste, norte, sul, zénite, nadir) e agora também descoberta na civilização pós-diluviana representada magistralmente nas inscrições das ruínas de Göbekli Tepe na Turquia com mais de 12.000 anos. Época datando exactamente do período do Younger Dryas.


Pilar 43 em Göbekli Tepe


Verifica-se que a presença das “malinhas de mão”, estende-se desde as representações Assírias no Iraque com 880 a 859 anos a.C., até às Olmecas e azetecas na antiga América Central datando de 1200 a 400 a.C., entre civilizações sem qualquer contacto entre si. 
O mesmo sucede ainda mais longe na Nova Zelândia no contexto cultural das tradições Maori, em que uma importante figura da mitologia maori, vinda da dimensão do reino dos deuses, possuidor de uma profunda sabedoria divina, transmitiu-a ao povo maori em artefactos semelhantes a malinhas ou bolsas em tudo semelhantes às de Göbekli Tepe.
Este facto confirma definitivamente a universalidade e a importância da mensagem a transmitir.

O deus sumério Oannes


Ora, se existia uma mensagem tão importante a transmitir, seria lógico que esta mensagem estivesse agregada a outros simbolismos, também eles envoltos num carácter universalista, estendendo-se de certo modo aos fundamentos culturais de quase todas as civilizações. A ideia seria facilitar a interpretação das “malinha de mão”, como que envolvendo-a de outros aspectos redundantes com significados mais abrangentes e/ou complementares.


Friso babilónico com os “deuses alados”, a “Árvore da Vida” e as “malinhas”

 

Na realidade, encontramos outros símbolos com estas características e sempre associados às “malinhas de mão”. São eles: as serpentes aladas ou dragões alados, “A Árvore da Vida” e “Os Sete Sábios”. Tantos uns como outros surgem associados aos registos gráficos encontrados nas próprias “malinhas de mão” ou envolvendo o ambiente artístico onde estas se encontram.

As serpentes aladas ou os dragões alados são símbolos do Conhecimento ou da Sabedoria, da Evolução ligada ao eterno retorno. Veja-se o significado no Jardim do Éden bíblico ou no Hinduísmo com os “Nagas”, no Ouroboros e no Caduceu com Asclépio o deus grego da medicina e da cura.

Reportam-se sempre à mudança e ao mundo futuro. No antigo Egipto era comum a serpente na estatuária simbolizando autoridade e sabedoria divina ou, pelo contrário, a grande serpente Apófis do submundo idêntica ao Basilisco de sete cabeças em Pistis Sophia representando em ambos os casos o mau uso do conhecimento, o seu aspecto dual para o bem e para o mal.

Máscara de Tutankhamon com um ureu, adorno em forma de serpente


Em geral a serpente é assunto comum em todas as mitologias: Na Epopeia suméria de Gilgamesh; na mitologia do Daomé, na África ocidental, a serpente suporta o mundo com as suas muitas espirais; do outro lado do oceano Quetzalcoatl, a serpente emplumada maia, conhecida pelos azetecas como Gukumatz, em ambos os casos símbolo da transformação e da chegada dos deuses do leste que trouxeram o progresso e o conhecimento astronómico; Jormungand, a serpente de Midgard, surge na mitologia nórdica, abraçando o mundo no abismo do oceano.

Uma associação persiste: a da serpente com o oceano ou com o caos das águas revelando a muito provável ligação ao evento catastrófico do Younger Dryas ou do Dilúvio, este último também presente em todas as tradições culturais. Veja-se a representação do deus-peixe sumério Oannes.

Finalmente em Ísis sem Véu de Helena Blavatsky é dito que “Na Serpente estava toda a filosofia do universo”.



A serpente símbolo obrigatório nas “malinhas”


Outra simbologia oculta, associada às “malinhas de mão”, são um grupo de sete deuses ou seres de origem divina, designados por os “Sete Sábios”. São referidos nas mais importantes mitologias como agentes ou construtores civilizacionais portadores do conhecimento, da ciência e da sabedoria surgidos de um profundo cataclismo. Na mitologia suméria o deus Enki, fazendo parte dos quatro deuses primeiros (Anu, Enlil e Ninursague eram os outros que compunham este quaternário integrados nos sete maiores), era guardião das leis divinas, sendo o deus da sabedoria, da água e da fecundidade. Os outros deuses - Istar, Nana e Samas, eram designados por deuses do céu e faziam parte desta tríade que, conjuntamente com os anteriores constituíam uma estrutura septenária. 
Também na mitologia Assíria, surgem os sete Apkallu, considerados seres sábios e divinos que eram responsáveis por transmitir conhecimento e sabedoria aos homens, retratados como seres de aparência humana, figuras de homem-peixe, por vezes alados configurando aves. É o caso de Utuabzu descrito com uma cabeça e asas de águia num corpo humano, era protector dos conhecimentos divinos e guardião da árvore sagrada Ea.
Encontram-se sempre como portadores das “malinhas de mão” e como sobreviventes ao dilúvio.

Utuabzu

Na Índia, são os Saptarishi (em sânscrito sapta, sete e rishi, sábio) que designa os sete  rishis nos textos védicos, possuidores de incríveis poderes visionários e filhos de Brahma. É-lhes atribuída a responsabilidade de perseverar e transmitir o conhecimento no decorrer das eras. 

Esta ideia de organização septenária vai influenciar outro sistema cosmogónico, o gnóstico de Valentinus, recuperando do sistema Tétrakis Pitagórico, aparecem as sete esferas ou planos de existência, os Aeons em pares de syzygies, também informado por princípios duais masculino-feminino nas manifestações hierárquicas, corporizando centros de actividade tal como aqueles Sephirots na Cabala, ou os mesmos princípios Rajas, Sattva e Tamas do Trimurti Hindu, todos eles encimados pela região superior designada por Pleroma, formando no conjunto o Ogdoad.

Sistemas cosmogónicos congéneres encontramos na América Central, O Popol Vuh, o grande repositório da tradição pré-colombiana que conta a história da queda da humanidade e a chegada dos “primeiros homens”, as criaturas do Quetzalcoatl – a Serpente Emplumada, que nos incas toma o nome de Viracocha , os homens louros, brancos e barbudos, nomeadamente Balam-Quitz – o Jaguar do Doce Sorriso; Balam-Acab – o Jaguar da Noite; Mahucutah – o Nome Ilustre e Iqui-Balam – o Jaguar da Lua. Segundo o Popol Vuh “eram dotados de inteligência; viam instantaneamente podiam enxergar longe; tinham sucesso em ver o que queriam; conseguiam saber tudo o que havia no mundo. Sem precisar se mover inicialmente, viam à distância coisas ocultas…Grande era a sabedoria deles; sua vista alcançava as florestas, as rochas, os lagos, os mares, as montanhas e os vales. Na verdade, eram homens admiráveis…Podiam saber tudo e examinavam os quatro cantos, os quatro pontos do céu, e a face redonda da terra.” (2).

Quetzalcoatl, uma “malinha de mão” e a serpente 

Entretanto, Tezcatilpoca, o Espelho Esfumaçado, cujo culto exigia sacrifícios humanos fez desaparecer obrigando-o a abandonar Tula/Tollan no México: a eterna luta da luz contra as trevas. No entanto Quetzalcoatl prometeu um dia voltar. Tezcatilpoca aparece nas lendas ligado à noite, às trevas e ao jaguar sagrado, sendo o deus do céu nocturno, da lua e das estrelas; senhor do fogo e da morte. Segundo a lenda, Tezcatilpoca usava um aparelho, designado por espelho esfumaçado, para observar à distância a actividade dos homens e dos deuses, interpretado mais tarde nas obsidianas – Tezcat, com as facas sacrificiais e espelhos divinatórios.

Outro símbolo designado como “A Árvore da Vida” faz parte de muitas outras tradições religiosas (conceito sagrado) e filosóficas (a árvore do conhecimento a unir o céu e o submundo) e concepções cosmogónicas (a origem da natureza humana e do cosmos) e como tal adquire aspectos dualísticos. A Árvore da Vida tem uma referência muito especial com a Cabala hebraica. Ali é dividida hierarquicamente em 10 Sephirots hierárquicos que podem ser lidos microcosmicamente, do ponto de vista do homem ou de baixo para cima, como também macrocosmicamente, do ponto de vista do universo ou de cima para baixo. No seu seio operam agentes estabilizadores, de acção e não-acção, distribuídos em três colunas que contribuem para a perfeita harmonia das esferas de actividade dos Sephirots ou agentes construtores. Esta mesma estrutura encontra outras congéneres no Hinduísmo, onde os Vedas, os Puranas e os Upanishads referem a Árvore da Vida, símbolo do Conhecimento, ligando a terra e o céu, representando também os agentes duais e da harmonia com a simbologia Trimurti - Brahma (o Criador), Vishnu (O Protector) e Shiva (O Destruidor) ou Rajas, Sattva e Tamas.
Nos livros sagrados do hinduísmo, os Puranas mencionam também uma árvore divina, a Kalpavriksha, guardada pelos gandharvas no jardim da cidade mitológica de Amaravati sob o controlo do deus Indra do Rigeveda, rei dos seres luminosos Devas que controlam a natureza e o clima.
De uma maneira geral o conceito da Árvore da Vida, associado sempre ao sagrado, aos deuses e à mitologia, reflectindo a imortalidade, o fluxo e refluxo cíclico da vida cósmica, reeditando o significado esotérico do Ouroboros, das serpentes ou do Caduceu, estende-se por quase todas as tradições importantes de povos espalhados geograficamente por todo o mundo. É o caso da árvore Chipre sagrado no Irão, a Peepal também conhecida como Bodhi ou Banyan na Índia, e na China, o Baobá na África Ocidental, o Carvalho na tradição celta, o Freixo na Escandinávia, o Limoeiro na Alemanha e o Laurel na Grécia.
O conceito Teosófico liga a Árvore da Vida à Constituição Septenária da Cabala e aos princípios do Budismo Esotérico e às Estâncias do Livro de Dzyan, ambos amplamente comentados na Doutrina Secreta de Helena Petrovna Blavatsky.
Na Teosofia o Homem, encarado como Microcosmo, assim como a natureza ou o Universo, o Macrocosmo, é o saptaparna (a planta de sete folhas), simbolizado geometricamente por um triângulo sobre um quadrado. Nesta constituição septenária o triângulo é a Tríade superior é a parte imortal da natureza humana, constituída por Atman, o raio do Absoluto, no vértice e Budhi, a Alma Divina, e Manas, a Mente Pura, na base. Por sua vez o quadrado, Quaternário inferior, é formado por Sthula sharira, o corpo físico; Prana, o corpo vital; Linga sharira, o duplo etérico ou o corpo astral na teosofia original e finalmente Kâma Rupa, o corpo de desejos ou corpo emocional. Esta constituição pode ser lida em dois sentidos., tal como a organização Sephirótica.

A “Serpente”, a “Árvore da Vida”, os “Sete Sábios”, associadas com as “malinhas de mão”, partilham e reforçam a mesma mensagem. Representam simbolicamente o Conhecimento profundo e a Ciência transmitida por entes de uma cultura ou civilização superior, desaparecida num evento cataclísmico de dimensões planetárias. Estes conhecimentos envolviam a transmissão dos princípios fundamentais da vida humana e do universo, a Constituição Septenária do Microcosmo (relativa à natureza humana) e do Macrocosmo (relativa às cosmogonias e teogonias). 
Por esta razão consideramos que as “malinhas de mão” mais não são do que o símbolo da Constituição Septenária e representam a união do quaternário com o ternário – um quadrado e um triângulo unidos.
Uma mensagem que, uma vez tendo a descodificação simbólica apropriada, revela o âmago da fundamentação da natureza humana e do Cosmos.



Uma “malinha de mão” suméria e a representação gráfica da Constituição Septenária


A “malinha de mão” alvo de muitas interpretações sem grande sentido antropológico e arqueológico, uma delas, mais corrente, atribui a geometria do quadrado da mala à representação da Terra e o arco da pega da mesma, à representação da Via Láctea no céu. Esta interpretação não andará longe da verdade se considerarmos que por exemplo a representação da Via Láctea para os egípcios significava a mãe dos corpos celestes representada pela deusa Nut na abóbada celeste, o que coincide com a ideia filosófica do Tríade Logoica na Cabala e na Teosofia.

A deusa Nut, vista como a Via Láctea

No Antigo Egipto a “malinha de mão” adquire um aspecto hieroglífico com o símbolo ankh ou a Crux Ansata, a “Chave da Vida”, a cruz que representa a transformação ou ressurreição e a imortalidade (transmutação alquímica) ou ainda, de acordo com H. Blavatsky, a Constituição Septenária, tal como a cruz romana.

Ankh

Em conclusão: esta seria uma mensagem profunda sobre os fundamentos da origem humana e do próprio universo. Quem a transmitiu originalmente também tinha a intenção de dar a conhecer a sua existência civilizacional alertando a humanidade para os perigos cíclicos futuros que esta estaria sujeita, seja pelo mau uso da Ciência e do Conhecimento, seja pela possibilidade de ocorrência de eventos cataclísmicos, como a hipótese avançada por alguns investigadores acerca da queda de um cometa no planeta, um evento congénere àquele de Tunguska, ocorrido na Sibéria em 30 de Junho de 1908. Um evento de uma dimensão semelhante, mas potenciada muitas vezes mais, pela explosão de núcleos cometários na atmosfera terrestre, configuraria algo semelhante ao registo deixado pelo Younger Dryas. Sobre este tema poderá consultar a actual investigação conduzida pelo Comet Research Group.

Os Apkallu com a “malinha”e a Árvore da Vida ao centro


Escultura olmeca, a “malinha” e a serpente emplumada


Guerreiros Toltecas e um guerreiro azteca com as “malinhas de mão”


“[…] é importante frisar, desde já, um fato que nos parece essencial: o mito é considerado uma história sagrada e, portanto, uma “história verdadeira”, porque sempre se refere a realidades. O mito cosmogónico é “verdadeiro” porque a existência do Mundo aí está para prová-lo; o mito da origem da morte é igualmente “verdadeiro” porque é provado pela mortalidade do homem, e assim por diante.” (MALINOWSKI, 1995)

Notas

(1) Tão bem descrita em Pistis Sophia.

(2) cit. Graham Hancock, As Digitais dos Deuses, pp 174.


Sem comentários:

Enviar um comentário

O Demónio de Maxwell

  James Clerk Maxwell (1831 – 1879) foi um dos maiores físicos possuidor de uma criatividade inigualável que até hoje a humanidade conheceu....