terça-feira, 29 de dezembro de 2020

Cosmogénese 5 - A Consciência e a Teoria dos Campos Quânticos

Computação quântica

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Não vamos falar sobre as novas aplicações obtidas pela Teoria da Informação Quântica, tais como os algoritmos quânticos ultra-rápidos, a correcção quântica de erros, a criptografia, o teletransporte quântico ou a codificação super-densa, inerentes aos últimos desenvolvimentos da computação quântica. Pelo contrário iremos reflectir sobre os estados quânticos que fundamentalmente representam probabilidades e poderão passar a ser os veículos de informação, que pode ser armazenada (memórias tipo ressonância mórfica), processada e comunicada (fenómenos de superposição e emaranhamento universais). A teoria de informação quântica é uma área de pesquisa relativamente recente e está profundamente entrelaçada com o conhecimento dos fundamentos da mecânica quântica.

 

O maior problema actual da Física é considerar que a realidade como a conhecemos não existe porque só existe quando observada e interferida pela observação. Com Niels Bohr nada existe até ser medido, dado que quando medimos algo estamos a introduzir um factor experimental forçando assim, a existência de uma indeterminação, dada por Δp Δx ˃ h. E assim, nós não estamos a medir o mundo mas a criá-lo, uma vez que as propriedades físicas surgem aos pares complementares: conhecendo a posição não conhecemos o momento e vice-versa. Se conhecemos metade do evento de forma precisa, não conhecemos a outra metade: é este o princípio da incerteza em mecânica quântica.

Durante o acto de medição/observação, a onda psi (Ψ), pelo seu colapso no campo de probabilidades que constitui a sua evolução temporal no espaço, transforma-se em partícula, e aqui surge a segunda regra mais importante da Mecânica Quântica que descreve os fenómenos quânticos numa estrutura alternativa de probabilidades definida como estado de Superposição – o célebre paradoxo do Gato de Schrodinger.

O terceiro princípio da Mecânica Quântica está ligado ao fenómeno anterior e designa-se por “acção à distância” ou emanharamento com a sua regra experimental dos contrários: duas partículas tendo interagido previamente e deslocadas posteriormente a milhões de anos-luz uma da outra, se medirmos a mesma propriedade numa, essa propriedade apresenta o valor contrário na outra.

A onda Psi (Ψ) estende-se por um campo de incerteza e de probabilidades, definidos pelos três princípios da Mecânica Quântica atrás descritos, tomando valores infinitos nos cálculos matemáticos tendo levado por exemplo à concepção mais realista dos Diagramas de Feynman. A actividade espontânea dos campos quânticos envolve quantidades de energia avaliadas como infinitas. Somente as alterações de energia são observáveis e finitas devido a eventos externos como aqueles registados, por exemplo, pelo Efeito Casimir.

Chegámos á conclusão que o espaço vazio não é de modo nenhum vazio face á sua densidade não nula e á presença constante das flutuações quânticas. O espaço por mais vazio que seja, é de estrutura granular, tipo “espuma de spins” (de acordo com Rovelli), e poderá ser, na nossa opinião, o candidato á designada Matéria Escura que preenche, em conjunto com a Energia Escura, pelas contas actuais, 96% do Universo. Só conhecemos 4%!

“Porém quanto ao vazio, que muitas pessoas consideram de grande importância, sustento que isso do vazio não existe, nem pode ter existido no passado, nem nunca existirá. Pois todas as diversas partes do Cosmos estão completamente cheias de corpos de diversas qualidades e formas, tendo cada uma o seu próprio contorno e magnitude; e portanto, o Cosmos como um todo, está cheio e completo.” Cfr Asclépio III, Hermes Trismegisto.

A difícil concepção da realidade dos fenómenos quânticos quanto á dualidade onda/partícula e á separatividade entre o objecto e observador ou o fenómeno e a consciência, ou ainda aquele da acção á distância, poderá desaparecer se considerarmos a equivalência entre Energia-Massa-Informação definida pelo Princípio de Landauer.


Equivalência Energia-Massa-Informação


Se assumirmos que a informação poderá constituir uma espécie de campo quântico que detêm as “variáveis” que “dão forma” aos fenómenos de superposição e emanharamento que definem as circunstâncias da dualidade onda/partícula ou a interacção entre objecto/observador, poderemos pensar neste campo, também de natureza quântica, como se tratasse de uma memória viva onde se inscrevem os acontecimentos passados, presentes e futuros.

Este campo conferiria, ao nível do Universo, também pela aplicação da Segunda Lei da Termodinâmica, a entropia e “orientação - a seta do tempo”, necessárias à sua evolução Manvantárica durante éons de tempo, actualmente conceptualizados de forma muito similar á filosofia védica por Roger Penrose na sua teoria CCC – Cosmogénese Cíclica Conforme.

Também temos de considerar que a entropia de um objecto é sempre dependente do observador, ou seja, na medição da entropia, deve-se ter em mente que um objecto não tem uma certa quantidade de entropia por si só. Em termos práticos este novo campo estabeleceria a ligação informação-entropia e a “razão” da sua evolução no sentido passado-presente-futuro.

De acordo com a filosofia Vedantina, os Ah-ih ou Brahman ou a Mente Cósmica segundo Blavatsky, constituem, na nossa opinião, os antecedentes filosóficos correspondentes a esta concepção.

“ A Mente Cósmica é algo bastante diferente da Ideação Cósmica. A manifestação da Mente faz-se só durante o Período Manvantárico de actividade. Porém, a Ideação Cósmica não conhece nenhuma mudança. Foi, e sempre foi, é e será. Nunca deixou de existir, e só não existia para a nossa percepção por não haver mentes para a aperceber. A Mente Universal não existia porque não havia ninguém para a aperceber. Uma é latente e a outra é activa. Um é uma potencialidade.” - (H.P.Blavatsky, cfr. in “Os Manuscritos Perdidos da Loja Blavatsky”).

Blavatsky num comentário expresso em “A Doutrina Secreta” e respondendo a uma indagação do senhor Kingsland, afirma também: “A mente é uma manifestação. A Mente Universal não é o mesmo. Chamemo-la uma ideação. A Ideação Cósmica foi, tão logo apareceram os Ah-ih, e continua durante o Manvantara. Porém, esta é uma Ideação Absoluta Universal que sempre é e não pode sair fora do Universo, enquanto que a Ideação Cósmica não existia …”

Também afirma que os Ah-ih pertencem aos Planos Cósmicos que correspondem no Homem a Atma, Budhi e Manas.

Os Ah-hi são os sete raios primordiais ou Logoi (leia-se plural de Logos, que poderemos definir como campos quânticos vibratórios que permeiam todo o Universo), emanados do Primeiro Logos (o Verbo ou Paramatman) considerado triplo (porque dele emanam o Segundo Logos (Buddhi) e, depois deste, o Terceiro Logos (Manas no ser humano ou Mahat no plano cósmico), ambos apresentando sempre um aspecto dualístico – activo/passivo ou acção/reacção ou causa/efeito). Contudo o Primeiro Logos é considerado uno na sua essência. A Trindade Cristã tem a sua origem neste Logoi.

Um pouco confuso, mas compreensível para a dificuldade em conceptualizar e expor estas ideias considerando a época (fins do século XIX) e os significados ocultistas atribuídos. Contudo depreende-se a defesa da existência de uma “Mente Cósmica” ou “Ideação Cósmica” que permeia toda a evolução do Universo e que corresponderá aquilo que definimos como Campo Quântico da Informação/Consciência (que utiliza a Fohat, a energia inteligente ou a “Substância Cósmica” similar ao campo quântico defendido pela actual Teoria Antrópica Holo-Morfogenética) e o Espaço granular da Teoria Quântica da Gravidade de Rovelli e Smolin. Esta tríade de campos quânticos vem já definida nos Vedas e em todas as filosofias que lá foram beber os seus princípios, e que representamos na figura 1 pela figura geométrica do triângulo, segundo a nossa concepção do assunto.

Esta ideia é reforçada novamente nesta afirmação de H.P.B. - “Cada átomo do Universo traz em si a potencialidade da própria consciência...é um Universo em si mesmo e por si mesmo.” Cfr. Blavatsky, in “Doutrina Secreta”. Aqui átomo tem um significado diferente do conhecido pela ciência, querendo designar apenas a constituição mais ínfima da matéria. Aqui parece que o Panpsiquismo foi beber a sua inspiração.

Outra forma expressa pela Teosofia: “O Infinito Imutável, o Ilimitado Absoluto, não pode querer, pensar ou actuar. Para fazê-lo, deve converter-se em finito; e o faz por intermédio de seu Raio (leia-se Ah-ih), que penetra o Ovo do Mundo ou Espaço Infinito e dele sai como Deus Finito (leia-se matéria).” Cfr. Blavatsky, in “Doutrina Secreta”. Ou ainda em Hermes Trismegisto em “Corpus Hermeticum”, Libelo XI:

“O Éon (leia-se Espaço, Ah-hi) está em Deus

o Cosmos está no Éon

o Tempo está no Cosmos

e o Futuro está no Tempo”



Figura 1


A figura 1 representa a nossa concepção, seguindo a tradição da constituição septenária teosófica, da hierarquia e interacção dos diferentes campos de natureza quântica no surgimento do Universo (ou dos múltiplos universos?).

Esta ideia, do Verbo que encarna ou o “sacrifício” de Paramatman, está representada no triângulo septenário (não fazemos aqui referência ao quadrado) que se identifica como o processo de “criação” do Universo, e é retomada e está presente na lógica profunda da Teoria dos Campos Morfogenéticos do biólogo inglês Rupert Sheldrake.

“Os campos morfogenéticos ou campos mórficos são campos que levam informações, não energia, e são utilizáveis através do espaço e do tempo sem perda alguma de intensidade depois de ter sido criado. Eles são campos não físicos que exercem influência sobre sistemas que apresentam algum tipo de organização inerente.” – Rupert Sheldrake (1981).

Estes campos são acompanhados por aquilo que Sheldrake designa de “Ressonâncias Mórficas” em que as informações se propagam no interior do campo mórfico, alimentando uma espécie de memória de natureza quântica e constituem o que deverão ser os futuros desenvolvimentos na área mais recente da investigação científica em biologia molecular - a Biologia Quântica.

De encontro á ideia dos campos mórficos e fazendo corpo dos ensinamentos Teosóficos, os designados pela New Wave de registos akáshicos (“akasha” ou “akasa” do sânscrito), constituem uma espécie de Base de Dados de imagens de todos os acontecimentos passados, presentes e futuros, em que o tempo contínuo como o conhecemos não existe, fazendo parte integrante de todos os seres e coisas e abrangendo todas as dimensões e intimamente ligados à concepção védica de “karma”. A Teosofia faz-lhes referência como os “registos na Luz Astral” ou as “imagens gravadas nas invisíveis tábuas Astrais”.

Helena Blavatsky faz-lhes demorada referência em “Doutrina Secreta” sob a designação de “Luz Astral” e define-a deste modo: “Akasha pode ser definida em poucas palavras: é a alma universal, a Matriz do Universo, a “Mysterium Magnum” a partir da qual tudo o que existe nasce por separação ou diferenciação. É a causa da existência; preenche todo o Espaço infinito; é o próprio Espaço, no sentido conjunto dos sextos e sétimos princípios.”. cfr “Os Manuscritos Perdidos da Loja Blavatsky”.

Mais uma vez em Blavatsky, Akasha é descrito como sendo o Infinito. “Não pode existir dois Infinitos nem dois Absolutos num universo supostamente sem fronteiras”. Cfr “A Doutrina Secreta”, (Cosmogénese) - Volume I.

No primeiro volume da “Doutrina Secreta – Diálogos”, Helena Blavatsky afirma de forma peremptória: “Os três planos e o quarto formam um único Cosmos assim como os sete princípios estão em vós; …“.


Constituição Septenária de acordo com a Cabala Caldeia e a tradição védica

segundo H. P. Blavatsky em “Doutrina Secreta – Cosmogénese”, Volume I


Em nossa opinião este gráfico (sobretudo no que diz respeito á tradição ocultista caldaica) está consentâneo com a nossa explanação em “Cosmogonia 2”, de modo que de forma sucinta teremos no Quaternário:

 

4º Plano – Matéria fermiónica (Quarks e Leptões)

3º Plano – Campo Electromagnético – dois globos: Fotões e Neutrinos de Majorana(?), os elementos mais abundantes no Universo

2º Plano – Campo Quântico da Força Fraca – dois globos: bosões W e Z

(O 2º e o 3º planos partilham atributos pois formam o campo unificado da Força Electrofraca)

1º Plano – Campo Quântico da Força Forte – 2 globos: Gluões com dois estados de polarização.

 

O grande círculo encerra todos os Bosões.

 

No Ternário:

 

3º Plano – Campo Quântico Holo-Morfogenético, Akasha

2º Plano – Campo Quântico Granular do Espaço

1º Plano – Campo Quântico Informação/Consciência


Interessante verificar que neste gráfico não é referida a ligação entre o Ternário e o Quaternário (Antahkarana) que corresponderia ao Campo Quântico do bosão de Higgs.


Constituição Septenária à luz da Teoria dos Campos Quânticos


Encontramos assim, sem grande dificuldade, pontes de ligação e de aproximação entre as Cosmogonias das tradições esotéricas e cabalistas com mais de 5000 anos e as actuais concepções da física das partículas, da Teoria dos Campos Quânticos e da Cosmologia.

Coloca-se a questão: como foi possível conceber pelos antigos filósofos vedantas tão complexos sistemas agora só possíveis de confirmar por máquinas altamente tecnológicas com quilómetros de extensão como o Grande Colisionador de Hadrões, o LIGO ou os telescópios espaciais?

Messier 1, por J. Porto


Conclusão

Em nossa opinião e em termos estruturais da cosmogénese, Akasha, (Ah-ih, Fohat, Mahat, Logoi) seria a ressonância mórfica dos campos quânticos mórficos nascidos em primeira instância no campo quântico do espaço granular, por sua vez “emanado” pelo campo quântico da informação/consciência. Esta é a trilogia presente nos Vedas no acto da criação do “Kosmos” e mais tarde reflectida em todas as cosmogonias religiosas dos povos, com a mais diversa terminologia simbólica e gerando tremenda confusão entre os estudiosos destes assuntos.

Surgem destas hipóteses pelo menos duas pistas possíveis que fazem parte das linhas actuais de investigação, mas que sugerem a sua confirmação, nomeadamente:

1.  1. O “encaixe” perfeito no actual e incompleto Modelo Padrão das “Partículas” Elementares dos possíveis três novos grupos de bosões (tipo escalar?): o Bosão Granular do Espaço, o Bosão do campo Holo-Morfogenético e o Bosão do campo da Informação/Consciência, como mostra o respectivo gráfico;

2. A questão da massa/energia dos gluões e dos fotões (ambos são considerados matematicamente terem masssa nula). A descoberta respectiva dos “glueballs” (“partículas” feitas de apenas força nuclear) e das implicações da Teoria Quântica da Gravidade na curvatura do espaço-tempo e no limite imposto pela velocidade da luz. Ou seja existem fortes razões teóricas para considerar os fotões como tendo massa nula mas, até agora não existem provas experimentais que o suportem (1).

 

Do exposto ressalta o longo caminho que a ciência da física das partículas terá que percorrer para unificar as forças quânticas que estão na base do surgimento do universo conhecido e daquele que ainda não nos foi dado conhecer, mas do qual se desbravam já hipóteses e caminhos experimentais de investigação, de onde se evidenciam o recente ramo da Biologia Quântica, a Teoria Granular do Espaço, a Teoria Holo-Morfogenética, a Computação Quântica, bem como a nova Cosmologia Cíclica Conformal. Pelo caminho ficam as inúmeras e confusas hipóteses nunca confirmadas da Teoria das Cordas, a Teoria do Estado Estacionário de Fred Hoyle ou o Big Bang de Lemaître, entre muitas outras, mas que fizeram evoluir de forma imparável o nosso conhecimento sobre nós próprios e o mundo que nos rodeia.


O “encaixe” dos novos campos no Modelo Padrão


A viagem encetada através das tradições vedantas e herméticas, procura mostrar que as indagações humanas sobre a origem do “Kosmos”, fez sempre parte da busca da verdade, seja sob a forma revelada seja retomada pelo experimentalismo de Galileu e agora herdada pela Ciência nos seus mais diversos ramos do Conhecimento. Aqui pretendemos apenas sugerir e estabelecer pontes no Conhecimento da Humanidade.

 

 

Notas:

 

(1) Para uma visão limitada mas fiável sobre o assunto consultar estes sites: https://www.desy.de/user/projects/Physics/ParticleAndNuclear/photon_mass.html

https://pdg.lbl.gov/2020/listings/rpp2020-list-photon.pdf


Bibliografia

BLAVATSKY, Helena Petrovna. A Doutrina Secreta: síntese da ciência, da religião e da filosofia. (Cosmogênese). Volume I. São Paulo: Pensamento, 1999.

TRISMEGISTO, Hermes. Corpus Hermeticum y otros textos apócrifos, Editorial EDAF, S.L.U. 9º edición 2019.

BLAVATSKY, Helena Petrovna. Os Manuscritos Perdidos da Loja Blavatsky, edição digital por João Adrião, 2020.

SHELDRAKE, Rupert. The Science Delusion, edições Coronet 2013.


sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

COSMOGÉNESE 4 - Sobre o Tempo

 

Falar sobre o Tempo é difícil, pois como diria Irwin Schrodinger (1), a “ linguagem vulgar é prejudicial porque está por completo imbuída da noção de tempo – não podemos empregar um verbo (verbum, “a palavra”; em alemão: Zeitwort) sem o usarmos num ou noutro tempo verbal”.


(CC) Creative Commons licence

https://www.behance.net/search/projects/?search=BeltrameAutor: Eduardo de Sousa Beltrame



Aqui reside o cerne do problema: fazemos parte do Tempo e torna-se difícil avaliá-lo de fora!

De acordo com a Teoria Geral da Relatividade Espacial de Einstein, sendo nós matéria a quem foi atribuída Massa, ou vivendo num corpo planetário com determinada Massa, o Espaço-Tempo torna-se curvo.

 Como provam os acertos constantes do tempo pelo GPS, um relógio numa nave espacial o tempo passa mais depressa do que em outro no solo terrestre ou dois gémeos, um colocado a bordo da Estação Espacial Internacional e o outro em Terra: o que fica no planeta envelhece mais depressa. Outro exemplo: num ambiente tipo Star Wars, duas naves espaciais atiram mísseis ao mesmo tempo uma contra a outra mas uma delas está perto de um planeta gigante onde a sua massa retardaria o tempo (do ponto de vista desta), esta não escaparia ao ataque porque a outra teria disparado mais cedo.

A Mecânica Quântica oferece-nos mais um contributo à relativização do Tempo. Segundo a mesma, ao contrário da concepção newtoniana, o tempo não flui de forma contínua.

Para a Mecânica Quântica entram em jogo os campos probabilísticos e a estatística ao afirmar que qualquer objecto está sempre num estado de superposição até a sua onda Ψ (psi) colapsar. Esta realidade é o que a experiência nos demonstra ao nível das partículas sub-atómicas e que na actualidade faz furor com a sua aplicação prática na computação quântica, com os seus Qubits. Ao invés da computação digital onde um bit pode assumir dois estados traduzidos em 0 e 1 (desligado-ligado), na computação quântica um Qubit assume 3 estados, 0, 1 e 01 (ou superposição de ambos).

Ou seja, aplicando este princípio ao desenrolar de todos os acontecimentos, não existiriam um primeiro e um segundo acontecimento mas uma superposição dos dois, tipo Gato de Schrodinger. Esta ordem temporal do tempo quântico assume características impensáveis de imaginar permitindo até as imaginárias viagens no tempo.

Segundo Carlos Rovelii, a sua teoria da gravidade quântica em loop, conduz a novos conceitos sobre a natureza do nosso universo e do espaço-tempo que deixa de existir como o concebemos, unificando as disparidades existentes entre a Teoria Geral da Relatividade de Einstein e a Mecânica Quântica de Schrodinger.

Neste contexto ao conceber o Espaço como um campo quântico granular, forçosamente sendo os quanta do espaço como os quanta da luz, os fotões, sendo ambos pacotes de energia mínima, implica que enquanto os fotões vivem no espaço, os pacotes de espaço são eles próprios o espaço. Aqui os espaço deixa de ser contínuo conferindo outras propriedades ao tempo.

Interessante verificar que já em Xenócrates (406 a.C. — 314 a.C.), é feita a defesa de uma teoria pré-atomista, baseada num corpuscularismo geométrico semelhante ao do Platão em Timeu, (2) que recusa a infinita divisibilidade e postula as grandezas mínimas, que são as “linhas indivisíveis”.

 De acordo com Carlos Rovelli “O espaço como amorfo contentor das coisas desaparece da física com a gravidade quântica. As coisas (os quanta) não habitam o espaço, habitam uma na vizinhança da outra e o espaço é o tecido de suas relações de vizinhança.” (3)

Assim, a Gravidade e o Tempo não existem. Isso não quer dizer que não sintamos os seus efeitos locais. São ambos efeitos da curvatura do espaço granular que se traduz num campo de natureza quântico que se contem a si próprio (os designados campos covariantes), e que contem os restantes campos: em primeiro lugar o de Higgs, que confere massa às partículas da matéria; o electromagnético e os da força nuclear forte e da força fraca.

Difícil de imaginar, mas a ideia base é conceber o conjunto como um “recipiente” único fora do qual campeia a Energia Escura definida pela Constante Cosmológica ꓥ de Einstein.

A detecção das ondas gravíticas pelos grandes instrumentos com quilómetros de comprimento (tal como o Advanced Laser Interferometer Gravitational Wave Observatory - LIGO), comprovam as dobras do chamado espaço-tempo como se o campo granular do espaço vibrasse como a onda sonora faz ao ser transportada pela vibração do suporte molecular do ar.

“A substância de que é feito o mundo simplificou drasticamente nos últimos anos. O mundo, as partículas, a energia, o espaço e o tempo, tudo isto não passa da manifestação de um só tipo de entidade: os campos quânticos covariantes.” (4)

O Bhagavad Gita em O Espírito Supremo/XV.12 já afirmava: “Reconhece que a luz radiante, do sol que ilumina o universo inteiro, a luz da lua e a do fogo são a minha própria luz”.(5)

Toda esta relativização, levou segundo Schrodinger, à “destronização do tempo como um tirano que nos é imposto de fora, uma libertação da inabalável regra do “antes e depois”.” (6).


A visão da evolução unificadora da Física de acordo com Rovelli (ilustração adaptada do autor)

Entretanto a Segunda Lei da Termodinâmica que define a entropia como a evolução natural do nosso universo, faz uso da Seta do Tempo (passado-presente-futuro), afirmando que conforme o tempo passa, a quantidade de desordem no universo aumenta. Todas as leis da física, menos esta, são reversíveis – o que significa que os mesmos efeitos ocorrem independentemente de o tempo andar para a frente ou para trás. A Gravitação de Newton, a Eletrodinâmica de Maxwell, a Relatividade Especial e Geral de Einstein, a Mecânica Quântica – nenhuma das equações a elas inerentes dependem do tempo.

Isso significa que o universo deverá ter começado mais ordenado do que é agora! Alguém concebe o fenómeno “explosão” inflacionária género Big-Bang um sistema mais ordenado do que o universo presente? Uma contradição latente que é ultrapassada pela actual teoria Cosmológica Cíclica Conforme (CCC) de Sir Roger Penrose, onde o universo na sua expansão para a densidade nula, em que a radiação arrefece até a zero graus como resultado do “esticar” do Big-Bang inicial, reescalando a junção dos dois universos face à existência de uma Constante Cosmológica ꓥ positiva no espaço de tempo de 10100 ou mais (correspondendo a um éon). Aqui o Tempo também não faria qualquer sentido, pensando que as partículas sem massa (bosões dos campos do espaço granular e fotões por exemplo) “não parecem preocupar-se muito com a natureza métrica do espaço-tempo, respeitando apenas a sua estrutura conforme” (7). É o chamado “Problema do Tempo”.

Deste modo uma singularidade advogada numa inflação exponencial tipo Big-Bang não é compatível com uma baixa entropia. A mesma opinião é expressa por Roger Penrose: “Do meu ponto de vista, esta ideia por detrás da inflação – que a uniformidade do universo que agora observamos deve ser o resultado de processos físicos (inflacionários) que actuam na sua evolução inicial – está basicamente mal concebida.” (8)

Carlos Rovelli, em consonância com esta filosofia, garante que “O nosso Universo poderia ser o resultado do colapso de outro Universo, passando através desta fase quântica onde espaço e tempo se dissolveram em probabilidades”. (9)

Ao considerarmos um período de transição hiper-inflacionária, em que as primeiras partículas (quarks, gluões, protões) não seguem a seta do tempo em direcção a um estado em que a influência da gravidade sobre os primeiros agregados moleculares (hidrogénio, deutério, trítio e lítio), em que as leis de direcção no tempo passam a operar (fase designada por decoerência, de acordo com a equação de Wheeler-DeWitt), verificou-se que a gravidade não é a força necessária e suficiente para o fazer.

Assim, segundo Robert Lanza e Dmitry Podolsky, “A nossa pesquisa revela que o tempo não existe, sendo uma propriedade emergente que depende apenas da capacidade do observador de preservar informações sobre acontecimentos vividos” (10). Ou seja, o tempo não constitui um fenómeno distinto.


Diagrama CCC de Penrose (ilustração adaptada do autor)


Ou seja, o tempo é uma “variável” subjectiva cuja influência se remete ao nosso espaço local macroscópico por efeito da curvatura do espaço. Assim é, que o tempo não existiria num buraco negro, localmente vivido perto do seu horizonte de eventos. Imaginariamente, um suposto astronauta que se aproximasse do horizonte de eventos, constataria que teria passado alguns milhões de anos, em relação ao seu planeta de origem.

 

Assim como em Plotino (11), a essência do Tempo, não é cósmica, o tempo para ele é interiorizado na alma. A definição de tempo como identificando-se com a “esfera do cosmos” já é conhecida de Aristóteles (cfr. Physics. IV, 218 31b 1).

Não nos coibiremos de transmitir e comentar a filosofia mais antiga do planeta.

Diz a tradição filosófica ocultista que a pequena obra conhecida como as Estâncias de Dzyan é a obra original da qual foram compilados o Shu-King (a bíblia primitiva da China), o Siphrah Dzenioutha (o mais velho documento hebreu relativo à sabedoria oculta), o Sepber Yetzirah (obra atribuída a Abraão), as escrituras sagradas do egípcio Thoth-Hermes Trismegisto, os Puranas da Índia, o Livro dos Números Caldeu e o Pentateuco. Vem isto a propósito da necessidade de realçar a concepção transversal, inerente a todas as filosofias antigas (a grega e as ocidentais mais modernas também aí foram beber), de determinados princípios, como aqueles muito belos, revelados na Estância I, da Evolução Cósmica, do livro de Dzyan e que passamos a transcrever, e quando possível a entrosar com os conhecimentos actuais proporcionados pela Cosmologia actual ou pela recém nascida Biologia Quântica:

“1. O Eterno Pai (o Espaço), envolto em suas Sempre Invisíveis Vestes (sem dimensões visíveis, porque campo granular, “espuma de spins” em C. Rovelli), havia adormecido uma vez mais durante sete eternidades (sete períodos de um Manvatara, de acordo com a filosofia védica e equivalente a 311.040.000.000.000 anos comuns terrestres e que poderia corresponder aos éons do CCC de Roger Penrose).

2. O Tempo não existia, porque dormia no Seio Infinito da Duração (já o demonstrámos antes. Na filosofia esotérica também o passado-presente-futuro só existem no plano da ilusão fenomenal conhecida como Maya).

3. A Mente Universal não existia (a Informação de acordo com o Princípio de Landauer da equivalência Energia-Massa-Informação, poderá dar substância à criação do Cosmos como acto do Pensamento ou da Consciência), porque não havia Ah-hi para contê-la (a matéria primordial – protões e electrões ou os Trigunas - quarks e gluões, ainda não existia, apenas campos quânticos).

4. Os Sete Caminhos da Felicidade não existiam. As Grandes Causas da Desgraça não existiam, porque não havia ninguém que as produzisse e fosse por elas aprisionado (as leis da Causalidade, do Karma, da Causa e Efeito e aquilo que implicam, ainda não podiam ser aplicadas).

5. Só as Trevas enchiam o Todo Sem Limites, porque Pai, Mãe (os pólos opostos – Yang,Yin, matéria e anti-matéria) e Filho (Luz – campos quânticos) eram novamente Um, e o Filho ainda não havia despertado para a Nova Roda (novo Manvatara onde vão ser criadas novas Rodas - Galáxias) e a Peregrinação por ela. (acreditamos que Bariogénese alicerça e esclarece estas afirmações escritas de forma tão simbólica).

6. Os Sete Senhores Sublimes (são segundo os Vedas e os Upanishades, seres que assumem a sua existência provavelmente, dizemos nós, sob a forma quântica/informação, e que orientam cada Manvatara) e as Sete Verdades haviam cessado de ser, e o universo, filho da Necessidade, estava mergulhado em Paranishpanna (a entropia absoluta após cada ciclo Manvatárico), para ser expirado por aquele que é e todavia não é. Nada existia. (os ciclos de aparecimento e desaparecimento do Universo estão descritos aqui como actos de inspiração e expiração).

7. As Causas da Existência haviam sido eliminadas, o Visível que foi, e o Invisível, que é, repousavam no Eterno Não-Ser – o Único Ser. (as causas da existência – material e espiritual, referem-se a uma espécie de lei mandatória que obriga à Existência nas sua multiplicidade de formas e dimensões, como se houvesse uma necessidade de tal. O Eterno Não-Ser – de onde nasce o Universo, é aqui equiparado afinal à verdadeira realidade).

8. A Forma Una da Existência, sem limites, infinita, sem causa, permanecia sozinha, em um Sono sem Sonhos, e a Vida pulsava inconsciente no Espaço Universal, em toda a extensão daquela Omnipresença que o Olho Aberto (olho espiritual) de Dangma (alma na sua mais alta vibração) percebe. (A verdadeira existência, seja a do universo – matéria bariónica e escura, com os seus ciclos “big-bounce”, seja a do Não-Ser – Energia Escura (?), constituem um Todo que se interpenetram).

9. Onde, porém, estava Dangma (alma na sua mais alta vibração) quando o Alaya do Universo (alma do mundo, Gaia, Panpsiquismo ou a estrutura Holo-Morfogénica de Rupert Sheldrake) se encontrava em Paramârtha (o Ser Absoluto ou o Não-Ser), e a Grande Roda (o Universo) era Anupâdaka? (sem pais ou progenitores)”.

Este belíssimo texto (12) tem a particularidade de resumir de forma eloquentemente poética e sobretudo simbólica como é próprio das mitologias, tudo aquilo que tentámos expor de forma relativamente mais simples. No entanto a densidade de informação exposta deverá obrigar a uma consulta dos temas aqui focados inequivocamente de maneira ligeira.

Como disse E. Schrodinger falando sobre a Vida, “Isto é uma descrição fantástica, talvez mais própria de um poeta que de um cientista. Contudo, não é necessária imaginação poética, mas somente sóbria e lúcida reflexão científica, para se reconhecer que estamos em presença de processos cujo regular e ordenado desenrolamento é orientado por um “mecanismo” em tudo diferente do “mecanismo probabilístico” da física.” (13).

Estes são os maiores desafios da Ciência e do Espírito Humano.

 

Notas e bibliografia

(1)    “Espírito e Matéria, Parte II, Vida, Espírito e Matéria”, Erwin Schrodinger, Publicações Europa América, pág. 200.

(2)    Timeu, Platão, IV,4 [28], 15, 1 e ss.

(3)    “A Realidade não é o que parece”, Carlos Rovelli, Editores Contraponto, pagina 153.

(4)    “A Realidade não é o que parece”, Carlos Rovelli, Editores Contraponto, pagina 167.

(5)    Bahgavad Gita, Editorial Trotta, Edicion de Consuelo Martín,El Espíritu Supremo/XV.11, pag. 253.

(6)    “Espírito e Matéria, Parte II, Vida, Espírito e Matéria”, Erwin Schrodinger, Publicações Europa América, pág. 201.

(7)    “Ciclos de Tempo”, Roger Penrose, Edições Gradiva, pagina 182.

(8)    “Ciclos de Tempo”, Roger Penrose, Edições Gradiva, pagina 155.

(9)    “A Realidade não é o que parece”, Carlos Rovelli, Editores Contraponto, pagina 181.

(10)  Cornell University, arXiv.org > gr-qc > arXiv:1508.05377, On decoherence in quantum gravity, Dmitriy Podolskiy, Robert Lanza.

(11)  Enéades, Plotino.

(12)  A Doutrina Secreta, Vol. III – Antropogénese, Parte I: A Evolução Cósmica, Sete Estâncias do Livro Secreto de Dzyan, de H. P. Blavastsky

(13)  A Vida, Espírito e Matéria, Erwin Schrodinger, Publicações Europa América,


 Publicado na Revista Fénix da Nova Acrópole Portugal





sábado, 12 de dezembro de 2020

COSMOGÉNESE 3 - Os Gunas e a Bariogénese

 

De acordo com a tradição védica a Natureza é enformada por três princípios ou gunas denominados Tamas, Rajas e Sttava e que permeiam todos os seres, objectos e o próprio Universo.

No Bhagavad Gita, 14.5, Krishna em diálogo com Arjuna explica que “Harmonia, paixão e inércia (sattva, rajas e tamas), os aspectos ou qualidades nascidas da natureza, unem o imutável ser encarnado ao corpo,…”, revelando e caracterizando de seguida as suas qualidades e aspectos.


Os Trigunas – processo de Sattva, Rajas e Tamas,

https://amayur.pt/2020/04/03/os-trigunas-processo-de-sattva-rajas-e-tamas/.


Estes princípios gunas, tem as suas origens no próprio acto da Criação, centrada no “umbigo de Vishnu”. Do seu umbigo, o centro do corpo, nasce uma flor de Lótus da qual emerge Brama, o deus criador do Universo, ou geometricamente falando, do ponto que define o centro de uma esfera, sendo que este ponto mais não é do que a suposta e tão propalada singularidade que dá inicio ao BigBang (Teoria Inflacionária) ou no caso da teoria CCC – Cosmologia Cíclica Conformal de Sir Roger Penrose, no acontecimento cíclico eterno de expansão e regressão do Universo, de criação por Brahman e regressão por Shiva.

Segundo aquilo que a actual cosmologia define, nos primeiros nano segundos do surgimento do universo, este mais não era do que um oceano de plasma ou campo quântico de quarks e gluões formados por estados quânticos distintos: Up, Down, Charm, Strange, Top e Bottom. Deste 6 estados apenas sobrevivem o Up e o Down que vão constituir, sempre em número de 3, os protões (2 ups e 1 down) e os neutrões (2 downs e 1 up) bem como as suas correspondentes anti-particulas. Por uma reacção desconhecida designada bariogénese, uma violação do número bariónico, conduz a que a matéria se sobreponha à anti-matéria, subsistindo apenas os protões e neutrões.


Neutrão constituído por 1 Qark UP e 2 Quark Down, unidos pelos Gluões e uma representação das Trigunas

Quark structure neutron.svg. https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Quark_structure_neutron.svg

GIOVANNI. Mastering The Gunas: The Bhagavad Gita’s Guide To Self-Transformation. Live and Dare. 2015. https://liveanddare.com/gunas/


Nesta fase de bariogénese é muito provável que tenham surgido outros tipos de associações de Quarks agrupando não só o Up e Downs mas também o Strange e o Charm bem como os restantes formando Tetraquarks, Pentaquarks e mesmo Hexaquarks, como aliás têm sido produzidos pelo CERN no Grande Colisionador de Hadrões.

Em 2020 foi dada notícia da detecção de um Hexaquark, o d*(2380), composto por 6 quarks e dando origem a um condensado Bose-Einstein ou a um 5º estado da matéria, tendo um comportamento de um bosão.

Todos estes agrupamentos de quarks tem sido candidatos à constituição da Matéria Escura. Contudo o problema é a sua duração de vida da ordem dos 10-23 segundos enquanto a Matéria Escura terá que apresentar uma estabilidade de centenas de biliões de anos.

Por outro lado, a temperatura e a radiação existentes nos primeiros minutos do nascimento do Universo são incompatíveis com estes estados de condensados bosónicos, as denominadas partícula d*. Só a partir dos 3 minutos é que se formam os primeiros átomos estáveis de deutério, o trítio e o Lítio, seguindo-se o processo de nucleosíntesea partir dos 380.000 anos de idade do Universo.

Em conclusão, os protões com uma vida estável (1035anos), conferem estabilidade aos neutrões, quando a eles ligados. Os neutrões quando sozinhos em 15 minutos são instáveis. Mesmo as Estrelas de Neutrões, só são estáveis porque as ligações dos seus componentes são garantidas pelas extremas forças em presença: gravitacionais (provenientes da curvatura do espaço de Minkowsky ou de anti-DeSitter), magnéticas e nucleares.

Logo, o que é fundamental no Universo são os protões com as suas 3 partículas bosónicas – 2 Ups (Sattva) e 1 Down (Tamas), ligadas pelas forças nucleares fortes dos Gluões (Rajas ou as previsíveis Glueballs que ainda não foram verificadas). Será que a instabilidade dos Neutrões poderá dever-se precisamente à existência de dois Downs (Tamas) e apenas um Up (Sattva)?

Na física de partículas, a carga de cor é uma propriedade dos Quarks e dos Gluões, estando relacionada com a Força Nuclear Forte que os mantém ligados, no contexto definido pela Teoria da Cromodinâmica Quântica (QCD). Por analogia, e só por essa razão, convenciona-se que as três cores existentes são o vermelho, o azul e o verde, com a representação matemática da carga de cor através de um Grupo matemático não-abeliano, denominado SU(3). Para cada cor existe também uma anti-cor; anti-vermelho, anti-azul e anti-verde (ou respectivamente, ciano, amarelo e magenta), encontradas nos anti-Quarks. As partículas com carga de cor (ou anti-cor) não existem livres na natureza, apenas combinadas de modo que suas cargas se anulam, formando uma partícula "branca" ou "sem cor".


As cores primárias RGB

The_three_primary_colors_of_RGB_Color_Model_%28Red,_Green,_Blue%29.png

https://commons.wikimedia.org/wiki/File:


Os Trigunas, ou “modos”, de acordo com o Bhagavad Gita (14.6 – 13), são as três energias fundamentais da natureza, que tudo regem desde a psicologia humana até á formação dos astros.

O guna da paixão (Rajas), caracterizado por criação, movimento, energia e cor verde, é obra de Brahma, o criador. O guna da bondade (Sattva), caracterizado por estabilidade, constância, paz e cor azul, fica sob a acção de Vishnu, aquele que mantém, e o guna da ignorância (Tamas), fica sob a alçada de Shiva, cor vermelha, o destruidor. Assim, pela actuação destas três divindades, o Universo é criado, mantido e destruído num ciclo perpétuo também em acordo com a Teoria CCC de Roger Penrose.

Gráfico 1: Trigunas, onde o Círculo representa o Universo e o ponto central, a singularidade, o Uno, Purusha.

Similitude com o conceito Taoista Yang-Yin


Em conclusão, e ainda de acordo com a Filosofia Védica, pensamos que a criação do universo, resulta da complementaridade de Purusha, o campo quântico da consciência/informação (de acordo com o Princípio de Landauer) do qual emana a “Luz” (shakti) com o Campo Granular do Espaço (ver Teoria da Gravidade Quântica em Loop), interferindo com Prakriti (matéria inercial ou o Campo de Higgs), gerando o movimento (Gravidade?) e a forma (mahat ou o Campo quântico Antrópico Holo-Mórfico) que mantém a harmonia e a ordem no Universo, diferenciando-se logo após nos três estados ou modos, as Trigunas: Sattva, Rajas e Tamas (Fermiões e Bosões da Força Nuclear Forte).


O Campo Unificado e a Constituição Septenária


Notar que do centro (ponto zero) nasce o círculo bidimensional. Da esfera (tridimensional) ou como aproximação à esfera, nascem os cinco sólidos platónicos e mais tarde os poliedros de Kepler-Poinsot (existem nove poliedros regulares, a saber, os cinco sólidos platónicos e os quatro poliedros regulares não convexos), sendo que o dodecaedro platónico, aquele que se aproxima mais da esfera, representa o Universo e onde se encontra o número de ouro ou a constante Φ=1,618 também conhecida por “proporção áurea”.

Em Plotino, Enéada V, 8 [31], é dito no capítulo 9: “Tenhas então na alma uma luminosa imagem de uma esfera que tem todas as coisas nela mesma, seja aquelas que se movem, seja aquelas em repouso ou ainda, algumas que se movem, outras que estão paradas.

Conservando esta imagem, acolhe uma outra em ti mesmo eliminando a massa. Elimina também os lugares e a imagem da matéria que está em ti, e não busque conceber uma outra esfera diferente da primeira porque é menor na massa; mas invocando o Deus, que criou aquela da qual tu tens a imagem, roga a ele que venha.

E ele chegaria trazendo o seu universo com todos os deuses que estão nele, sendo um e todos e sendo cada um todos, enquanto estão juntos em um e são distintos nas potências, mas são todos um por aquela única potência múltipla.”

Se, agora imaginarmos uma esfera a partir da qual se geram do exterior para o interior em direcção ao centro, novas esferas de diâmetro sucessivamente menor, eprojectarmos esse diâmetro como sendo a medida do lado de um quadrado, teremos construído em 3D, um cubo cujas faces são delimitadas pelas esferas sucessivamente menores e que surgem das quatro fases dos três gunas onde o eixo dos X é zero. O ponto (tido como infinito ou singularidade) gera um sólido cúbico (matéria) representando o acto da criação.

Gráfico 2


O círculo, em Blavatsky “É uma evolução perpétua, que, volteando em círculo no seu constante progresso, retorna, evos depois, ao seu estado de origem – a UNIDADE ABSOLUTA”.

O cubo tem também um significado oculto em H. Blavatsky: um cubo aberto tem duas representações possíveis:



O laço egípcio de Ankhque na tradição védica é representado por Pâsha, uma corda que Shiva ostenta no braço direito posterior (Shiva é representado possuindo 4 braços), de tal modo que o primeiro dedo e a mão, junto ao polegar, formam uma cruz, ou o laço, agregando num único símbolo as duas geometrias: o círculo e o cubo (a cruz).


Reparar no pormenor do braço posterior direito de Shiva 

Madhu-Kaitabha. Autor: LACMA - The Los Angeles County Museum of Art . Crédito: photo © Museum Associates/LACMhttps://en.wikipedia.org/wiki/Madhu-Kaitabha


Por outro lado a Sequência de Fibonacci tem a sua origem na sequência da figura geométrica do quadrado, ou seja de acordo com uma das regras dos números de Fibonacci, a soma dos quadrados de dois números consecutivos de Fibonacci tem como resultado um outro número da sequência de Fibonacci cuja posição é ímpar.

a+b/a = a/b= Φ = 6,1803 

Fibonacci Goldene Spirale. https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Fibonacci_Goldene_Spirale.png


 

Verificamos também que se tivermos em atenção os 7 princípios universais de Hermes Trismegisto, podemos constatar que se aplicam integralmente à concepção dos gunas e da bariogénese no acto da criação do Universo.


 1 - "O todo é Mente; o universo é mental". Se traduzirmos o Princípio de Landauer teremos a equivalência entre Energia-Massa-Informação, sendo que a Informação ou Consciência em termos genéricos possuem o mesmo significado. A realidade é o resultado do colapso de onda ψ (Psi), originada na interferência permanente dos campos quânticos.

Uno, afirma Plotino, “não é como um ser privado de consciência… A sua reflexão sobre si mesmo, que se identifica com ele próprio, consiste numa espécie de eterno repouso e num pensamento diferente do pensamento próprio da Inteligência”.


 2 - "O que está em cima é como o que está embaixo. O que está dentro é como o que está fora". Aqui é revelado o princípio da organização fractal da natureza também assente no número de ouro ou Sequência de Fibonacci ou no Espaço anti-DeSitter.


Geometria Hiperbólica de Escher, “CircleLimit III”, representa o Espaço Anti-deSitter Na realidade, nós habitamos um “De Sitter (dS) espaço” de curvatura positiva, que se assemelha à superfície de uma esfera que está se expandindo sem limites. 

Escher, Maurits (1898-1972) - 1959 Circle Limit III (Woodcut, 5 Blocks) https://www.flickr.com/photos/32357038@N08/4239242298/


3 - "Nada está parado, tudo se move, tudo vibra". Os campos quânticos estão aí para confirmar: as forças nucleares forte e fraca, o campo electromagnético, o campo de Higgs e os campos teorizados pela Ressonância Morfogenética de RupertSheldrake e pela estrutura granular do Espaço da Teoria da Gravidade Quântica en Loop de Lee Smolin e de Carlos Rovelli.


 4 - "Tudo é duplo, tudo tem dois pólos, tudo tem o seu oposto". Matéria e anti-matéria, carga positiva e carga negativa, atracão e repulsão magnética, atestam este princípio. Na tradição Taoista teríamos o Yang-Yin.


 5 - "Tudo tem fluxo e refluxo, tudo tem suas marés, tudo sobe e desce, o ritmo é a compensação". Os ciclos da natureza, desde os eclipses, aos fenómenos económicos até àqueles da fisiologia. Os ciclos contínuos de Tamas-Rajas-Svattareflectidostambém nos Ciclos Yugas.


 6 - "Toda causa tem seu efeito, todo o efeito tem sua causa, existem muitos planos de causalidade, mas nada escapa à Lei". Indissociada da ideia de ciência através de Galileu (Lei do Movimento dos Corpos) e Newton (Lei da Causalidade Newtoniana), mas com antecedências em Aristóteles (distinguia na sua Metafísica quatro causas: formal, material, eficiente e final), deram forma matemática a este princípio que desde então é confirmado no dia-a-dia, seja no tiro de canhão seja no lançamento das naves espaciais. Os Trigunas são um exemplo da aplicação da causalidade.


 7 - "O Género está em tudo: tudo tem seus princípios Masculino e Feminino, o género manifesta-se em todos os planos da criação", ou seja, a criação sempre nascerá da combinação e do equilíbrio de energias masculinas e femininas, dos opostos da polaridade da 4ª lei como mostram os eixos YY dos gráficos 1 e 2 dos gunas.


Simulação em computador do “network” cósmico 

Map of the Cosmic Web Generated from Slime Mould Algorithm.jpg

https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Map_of_the_Cosmic_Web_Generated_from_Slime_Mould_Algorithm.jpg



As actuais simulações em computador da estrutura robusta do universo conhecido, mostram que só é possível pela existência de um “network” quântico do Campo Granular do Espaço, do Campo Quântico Antrópico Holo-Mórfico e do Campo de Higgs – um Ternário resultado de um “acto” voluntário do Campo da Informação/Consciência e, a partir do qual vai surgir o Quaternário, expresso em movimento e forma em torno de um centro.

“O auto conhecimento revela à alma que o seu movimento natural não é, se ininterrupto, em linha recta, mas circular, como em torno de algo interior, em torno de um centro, o ponto a que ela deve a sua origem.” – Plotino.


Bibliografia

“The Science Delusion”, Rupert Sheldrake, Coronet 2013.

“Introdução a Plotino”, Margherita Isnardi Parente, Edições 70, 2005.

“O Jazz da Física”,StephonAlexander, Edições Gradiva, 2016.

“A realidade não é o que parece”, Carlo Rovelli, Contraponto, 2019.

“Ciclos de Tempo”, Roger Penrose, Gradiva, 2013.

“O Caibalion, os três iniciados”, Publicações Maitreya, 2018.

“A Doutrina Secreta”, H. P. Blavatsky, Volume IV, Editora Pensamento, 2019.

“Bhagavad Gita”, Edicion de Consuelo Martín, Editorial Trotta SA, 2018.

“Ísis Sem Véu”, Volume I, Helena P. Blavatsky.

“O Cosmo da Mente”, EdoardoBoncinelli e AntonioEriditato, Editorial Presença, 2019.

“Como surgiu o Universo”, Peter Atkins, Gradiva, 2018.

“Brief Answers to the big questions”, Stephen Hawking, John Murray, 2018.

“O jackpot cósmico”, Paul Davies, Gradiva, 2009.

“O número de ouro”, MarioLivio, Gradiva, 2012.

“Génesis”, Guido Tonelli, Objectiva, 2020.

“Os Upanishads, sopro vital do eterno”, Editora Pensamento, versão digital.

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Edição na Revista Fénix da Nova Acrópole Portugal

https://www.revistafenix.pt/os-gunas-e-a-bariogenese/






O Demónio de Maxwell

  James Clerk Maxwell (1831 – 1879) foi um dos maiores físicos possuidor de uma criatividade inigualável que até hoje a humanidade conheceu....