Computação quântica
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Não vamos falar sobre as novas aplicações obtidas pela Teoria da Informação Quântica, tais como os algoritmos quânticos ultra-rápidos, a correcção quântica de erros, a criptografia, o teletransporte quântico ou a codificação super-densa, inerentes aos últimos desenvolvimentos da computação quântica. Pelo contrário iremos reflectir sobre os estados quânticos que fundamentalmente representam probabilidades e poderão passar a ser os veículos de informação, que pode ser armazenada (memórias tipo ressonância mórfica), processada e comunicada (fenómenos de superposição e emaranhamento universais). A teoria de informação quântica é uma área de pesquisa relativamente recente e está profundamente entrelaçada com o conhecimento dos fundamentos da mecânica quântica.
O maior problema actual da Física é considerar que a realidade como a conhecemos não existe porque só existe quando observada e interferida pela observação. Com Niels Bohr nada existe até ser medido, dado que quando medimos algo estamos a introduzir um factor experimental forçando assim, a existência de uma indeterminação, dada por Δp Δx ˃ h. E assim, nós não estamos a medir o mundo mas a criá-lo, uma vez que as propriedades físicas surgem aos pares complementares: conhecendo a posição não conhecemos o momento e vice-versa. Se conhecemos metade do evento de forma precisa, não conhecemos a outra metade: é este o princípio da incerteza em mecânica quântica.
Durante o acto de medição/observação, a onda psi (Ψ), pelo seu colapso no campo de probabilidades que constitui a sua evolução temporal no espaço, transforma-se em partícula, e aqui surge a segunda regra mais importante da Mecânica Quântica que descreve os fenómenos quânticos numa estrutura alternativa de probabilidades definida como estado de Superposição – o célebre paradoxo do Gato de Schrodinger.
O terceiro princípio da Mecânica Quântica está ligado ao fenómeno anterior e designa-se por “acção à distância” ou emanharamento com a sua regra experimental dos contrários: duas partículas tendo interagido previamente e deslocadas posteriormente a milhões de anos-luz uma da outra, se medirmos a mesma propriedade numa, essa propriedade apresenta o valor contrário na outra.
A onda Psi (Ψ) estende-se por um campo de incerteza e de probabilidades, definidos pelos três princípios da Mecânica Quântica atrás descritos, tomando valores infinitos nos cálculos matemáticos tendo levado por exemplo à concepção mais realista dos Diagramas de Feynman. A actividade espontânea dos campos quânticos envolve quantidades de energia avaliadas como infinitas. Somente as alterações de energia são observáveis e finitas devido a eventos externos como aqueles registados, por exemplo, pelo Efeito Casimir.
Chegámos á conclusão que o espaço vazio não é de modo nenhum vazio face á sua densidade não nula e á presença constante das flutuações quânticas. O espaço por mais vazio que seja, é de estrutura granular, tipo “espuma de spins” (de acordo com Rovelli), e poderá ser, na nossa opinião, o candidato á designada Matéria Escura que preenche, em conjunto com a Energia Escura, pelas contas actuais, 96% do Universo. Só conhecemos 4%!
“Porém quanto ao vazio, que muitas pessoas consideram de grande importância, sustento que isso do vazio não existe, nem pode ter existido no passado, nem nunca existirá. Pois todas as diversas partes do Cosmos estão completamente cheias de corpos de diversas qualidades e formas, tendo cada uma o seu próprio contorno e magnitude; e portanto, o Cosmos como um todo, está cheio e completo.” Cfr Asclépio III, Hermes Trismegisto.
A difícil concepção da realidade dos fenómenos quânticos quanto á dualidade onda/partícula e á separatividade entre o objecto e observador ou o fenómeno e a consciência, ou ainda aquele da acção á distância, poderá desaparecer se considerarmos a equivalência entre Energia-Massa-Informação definida pelo Princípio de Landauer.
Equivalência
Energia-Massa-Informação
Se assumirmos que a informação poderá constituir uma espécie de campo quântico que detêm as “variáveis” que “dão forma” aos fenómenos de superposição e emanharamento que definem as circunstâncias da dualidade onda/partícula ou a interacção entre objecto/observador, poderemos pensar neste campo, também de natureza quântica, como se tratasse de uma memória viva onde se inscrevem os acontecimentos passados, presentes e futuros.
Este campo conferiria, ao nível do Universo, também pela aplicação da Segunda Lei da Termodinâmica, a entropia e “orientação - a seta do tempo”, necessárias à sua evolução Manvantárica durante éons de tempo, actualmente conceptualizados de forma muito similar á filosofia védica por Roger Penrose na sua teoria CCC – Cosmogénese Cíclica Conforme.
Também temos de considerar que a entropia de um objecto é sempre dependente do observador, ou seja, na medição da entropia, deve-se ter em mente que um objecto não tem uma certa quantidade de entropia por si só. Em termos práticos este novo campo estabeleceria a ligação informação-entropia e a “razão” da sua evolução no sentido passado-presente-futuro.
De acordo com a filosofia Vedantina, os Ah-ih ou Brahman ou a Mente Cósmica segundo Blavatsky, constituem, na nossa opinião, os antecedentes filosóficos correspondentes a esta concepção.
“ A Mente Cósmica é algo bastante diferente da Ideação Cósmica. A manifestação da Mente faz-se só durante o Período Manvantárico de actividade. Porém, a Ideação Cósmica não conhece nenhuma mudança. Foi, e sempre foi, é e será. Nunca deixou de existir, e só não existia para a nossa percepção por não haver mentes para a aperceber. A Mente Universal não existia porque não havia ninguém para a aperceber. Uma é latente e a outra é activa. Um é uma potencialidade.” - (H.P.Blavatsky, cfr. in “Os Manuscritos Perdidos da Loja Blavatsky”).
Blavatsky num comentário expresso em “A Doutrina Secreta” e respondendo a uma indagação do senhor Kingsland, afirma também: “A mente é uma manifestação. A Mente Universal não é o mesmo. Chamemo-la uma ideação. A Ideação Cósmica foi, tão logo apareceram os Ah-ih, e continua durante o Manvantara. Porém, esta é uma Ideação Absoluta Universal que sempre é e não pode sair fora do Universo, enquanto que a Ideação Cósmica não existia …”
Também afirma que os Ah-ih pertencem aos Planos Cósmicos que correspondem no Homem a Atma, Budhi e Manas.
Os Ah-hi são os sete raios primordiais ou Logoi (leia-se plural de Logos, que poderemos definir como campos quânticos vibratórios que permeiam todo o Universo), emanados do Primeiro Logos (o Verbo ou Paramatman) considerado triplo (porque dele emanam o Segundo Logos (Buddhi) e, depois deste, o Terceiro Logos (Manas no ser humano ou Mahat no plano cósmico), ambos apresentando sempre um aspecto dualístico – activo/passivo ou acção/reacção ou causa/efeito). Contudo o Primeiro Logos é considerado uno na sua essência. A Trindade Cristã tem a sua origem neste Logoi.
Um pouco confuso, mas compreensível para a dificuldade em conceptualizar e expor estas ideias considerando a época (fins do século XIX) e os significados ocultistas atribuídos. Contudo depreende-se a defesa da existência de uma “Mente Cósmica” ou “Ideação Cósmica” que permeia toda a evolução do Universo e que corresponderá aquilo que definimos como Campo Quântico da Informação/Consciência (que utiliza a Fohat, a energia inteligente ou a “Substância Cósmica” similar ao campo quântico defendido pela actual Teoria Antrópica Holo-Morfogenética) e o Espaço granular da Teoria Quântica da Gravidade de Rovelli e Smolin. Esta tríade de campos quânticos vem já definida nos Vedas e em todas as filosofias que lá foram beber os seus princípios, e que representamos na figura 1 pela figura geométrica do triângulo, segundo a nossa concepção do assunto.
Esta ideia é reforçada novamente nesta afirmação de H.P.B. - “Cada átomo do Universo traz em si a potencialidade da própria consciência...é um Universo em si mesmo e por si mesmo.” Cfr. Blavatsky, in “Doutrina Secreta”. Aqui átomo tem um significado diferente do conhecido pela ciência, querendo designar apenas a constituição mais ínfima da matéria. Aqui parece que o Panpsiquismo foi beber a sua inspiração.
Outra forma expressa pela Teosofia: “O Infinito Imutável, o Ilimitado Absoluto, não pode querer, pensar ou actuar. Para fazê-lo, deve converter-se em finito; e o faz por intermédio de seu Raio (leia-se Ah-ih), que penetra o Ovo do Mundo ou Espaço Infinito e dele sai como Deus Finito (leia-se matéria).” Cfr. Blavatsky, in “Doutrina Secreta”. Ou ainda em Hermes Trismegisto em “Corpus Hermeticum”, Libelo XI:
“O Éon (leia-se Espaço, Ah-hi) está em Deus
o Cosmos está no Éon
o Tempo está no Cosmos
e o Futuro está no Tempo”
Figura 1
A figura 1 representa a nossa concepção, seguindo a tradição da constituição septenária teosófica, da hierarquia e interacção dos diferentes campos de natureza quântica no surgimento do Universo (ou dos múltiplos universos?).
Esta ideia, do Verbo
que encarna ou o “sacrifício” de Paramatman,
está representada no triângulo septenário (não fazemos aqui referência ao
quadrado) que se identifica como o processo de “criação” do Universo, e é
retomada e está presente na lógica profunda da Teoria dos Campos Morfogenéticos do biólogo inglês Rupert Sheldrake.
“Os campos morfogenéticos ou campos mórficos são campos que levam informações, não energia, e são utilizáveis através do espaço e do tempo sem perda alguma de intensidade depois de ter sido criado. Eles são campos não físicos que exercem influência sobre sistemas que apresentam algum tipo de organização inerente.” – Rupert Sheldrake (1981).
Estes campos são acompanhados por aquilo que Sheldrake designa de “Ressonâncias Mórficas” em que as informações se propagam no interior do campo mórfico, alimentando uma espécie de memória de natureza quântica e constituem o que deverão ser os futuros desenvolvimentos na área mais recente da investigação científica em biologia molecular - a Biologia Quântica.
De encontro á ideia dos campos mórficos e fazendo corpo dos
ensinamentos Teosóficos, os designados pela New Wave de registos akáshicos (“akasha” ou “akasa” do sânscrito), constituem uma
espécie de Base de Dados de imagens de todos os acontecimentos passados,
presentes e futuros, em que o tempo contínuo como o conhecemos não existe, fazendo
parte integrante de todos os seres e coisas e abrangendo todas as dimensões e
intimamente ligados à concepção védica de “karma”. A Teosofia faz-lhes
referência como os “registos na Luz Astral” ou as “imagens gravadas nas
invisíveis tábuas Astrais”.
Helena Blavatsky faz-lhes demorada referência em
“Doutrina Secreta” sob a designação de “Luz Astral” e define-a deste modo:
“Akasha pode ser definida em poucas palavras: é a alma universal, a Matriz do
Universo, a “Mysterium Magnum” a partir da qual tudo o que existe nasce por
separação ou diferenciação. É a causa da existência; preenche todo o Espaço
infinito; é o próprio Espaço, no sentido conjunto dos sextos e sétimos princípios.”.
cfr “Os Manuscritos Perdidos da Loja Blavatsky”.
Mais uma vez em Blavatsky, Akasha é descrito como sendo o
Infinito. “Não pode existir dois Infinitos nem dois Absolutos num universo
supostamente sem fronteiras”. Cfr “A Doutrina Secreta”, (Cosmogénese) - Volume I.
No primeiro volume da “Doutrina Secreta – Diálogos”, Helena Blavatsky afirma de forma peremptória: “Os três planos e o quarto formam um único Cosmos assim como os sete princípios estão em vós; …“.
Constituição
Septenária de acordo com a Cabala Caldeia e a tradição védica
segundo H. P.
Blavatsky em “Doutrina Secreta – Cosmogénese”, Volume I
Em nossa opinião este gráfico (sobretudo no que diz respeito á tradição ocultista caldaica) está consentâneo com a nossa explanação em “Cosmogonia 2”, de modo que de forma sucinta teremos no Quaternário:
4º Plano – Matéria fermiónica (Quarks e Leptões)
3º Plano – Campo Electromagnético – dois globos: Fotões e Neutrinos de Majorana(?), os elementos mais abundantes no Universo
2º Plano – Campo Quântico da Força Fraca – dois globos: bosões W e Z
(O 2º e o 3º planos partilham atributos pois formam o campo unificado da Força Electrofraca)
1º Plano – Campo Quântico da Força Forte – 2 globos: Gluões com dois estados de polarização.
O grande círculo encerra todos os Bosões.
No Ternário:
3º Plano – Campo Quântico Holo-Morfogenético, Akasha
2º Plano – Campo Quântico Granular do Espaço
1º Plano – Campo Quântico Informação/Consciência
Interessante verificar que neste gráfico não é referida a ligação entre o Ternário e o Quaternário (Antahkarana) que corresponderia ao Campo Quântico do bosão de Higgs.
Constituição
Septenária à luz da Teoria dos Campos Quânticos
Encontramos assim, sem grande dificuldade, pontes de ligação e de aproximação entre as Cosmogonias das tradições esotéricas e cabalistas com mais de 5000 anos e as actuais concepções da física das partículas, da Teoria dos Campos Quânticos e da Cosmologia.
Coloca-se a questão: como foi possível conceber pelos antigos filósofos vedantas tão complexos sistemas agora só possíveis de confirmar por máquinas altamente tecnológicas com quilómetros de extensão como o Grande Colisionador de Hadrões, o LIGO ou os telescópios espaciais?
Messier 1, por J. Porto
Conclusão
Em nossa opinião e em termos estruturais da cosmogénese,
Akasha, (Ah-ih, Fohat, Mahat, Logoi) seria a ressonância mórfica dos campos
quânticos mórficos nascidos em primeira instância no campo quântico do espaço
granular, por sua vez “emanado” pelo campo quântico da informação/consciência.
Esta é a trilogia presente nos Vedas no acto da criação do “Kosmos” e mais
tarde reflectida em todas as cosmogonias religiosas dos povos, com a mais
diversa terminologia simbólica e gerando tremenda confusão entre os estudiosos
destes assuntos.
Surgem destas hipóteses pelo menos duas pistas possíveis que fazem parte das linhas actuais de investigação, mas que sugerem a sua confirmação, nomeadamente:
1. 1. O “encaixe” perfeito no actual e incompleto
Modelo Padrão das “Partículas” Elementares dos possíveis três novos grupos de
bosões (tipo escalar?): o Bosão Granular do Espaço, o Bosão do campo Holo-Morfogenético
e o Bosão do campo da Informação/Consciência, como mostra o respectivo gráfico;
2. A questão da massa/energia dos gluões e dos fotões (ambos são considerados matematicamente terem masssa nula). A descoberta respectiva dos “glueballs” (“partículas” feitas de apenas força nuclear) e das implicações da Teoria Quântica da Gravidade na curvatura do espaço-tempo e no limite imposto pela velocidade da luz. Ou seja existem fortes razões teóricas para considerar os fotões como tendo massa nula mas, até agora não existem provas experimentais que o suportem (1).
Do exposto ressalta o longo caminho
que a ciência da física das partículas terá que percorrer para unificar as
forças quânticas que estão na base do surgimento do universo conhecido e
daquele que ainda não nos foi dado conhecer, mas do qual se desbravam já
hipóteses e caminhos experimentais de investigação, de onde se evidenciam o
recente ramo da Biologia Quântica, a Teoria Granular do Espaço, a Teoria
Holo-Morfogenética, a Computação Quântica, bem como a nova Cosmologia Cíclica
Conformal. Pelo caminho ficam as inúmeras e confusas hipóteses nunca
confirmadas da Teoria das Cordas, a Teoria do Estado Estacionário de Fred Hoyle
ou o Big Bang de Lemaître, entre muitas outras, mas que fizeram evoluir de
forma imparável o nosso conhecimento sobre nós próprios e o mundo que nos
rodeia.
O “encaixe” dos novos campos no Modelo Padrão
A viagem encetada através
das tradições vedantas e herméticas, procura mostrar que as indagações humanas
sobre a origem do “Kosmos”, fez sempre parte da busca da verdade, seja sob a
forma revelada seja retomada pelo experimentalismo de Galileu e agora herdada
pela Ciência nos seus mais diversos ramos do Conhecimento. Aqui pretendemos
apenas sugerir e estabelecer pontes no Conhecimento da Humanidade.
Notas:
(1) Para uma visão limitada mas fiável sobre o assunto consultar estes sites: https://www.desy.de/user/projects/Physics/ParticleAndNuclear/photon_mass.html
https://pdg.lbl.gov/2020/listings/rpp2020-list-photon.pdf
Bibliografia
BLAVATSKY, Helena Petrovna. A Doutrina Secreta: síntese da ciência, da religião e da filosofia. (Cosmogênese). Volume I. São Paulo: Pensamento, 1999.
TRISMEGISTO, Hermes. Corpus Hermeticum y otros textos apócrifos, Editorial EDAF, S.L.U. 9º edición 2019.
BLAVATSKY, Helena Petrovna. Os Manuscritos Perdidos da Loja Blavatsky, edição digital por João Adrião, 2020.
SHELDRAKE, Rupert. The Science Delusion, edições Coronet 2013.
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