Vincent Van Gogh - The Starry Night [1888]
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Em termos cosmológicos o espaço “vazio” é a realidade suprema e as estrelas serão as partículas que revelam a potência nele pré-existente. Chegam-nos das profundezas do Universo, ondas de Tempo reveladas pelas estrelas e trazidas pelo espaço. Todas as vezes quando levantamos o nosso olhar para o fundo estelar do céu nocturno, aquilo que se vê não é aquilo que é, mas aquilo que foi. A luz do Sol leva cerca de 8 minutos para chegar até a Terra e as galáxias do aglomerado da Virgem mostram-se como eram há 65 milhões de anos. Portanto, ao olharmos para o céu à noite, vemos naquele momento presente, fluxos muito distintos do passado da história do Universo. Contudo este tempo é de uma relatividade a toda a prova, dado que sabemos que estas galáxias deste aglomerado deslocam-se a 1 600 km/segundo. Também sabemos hoje que o nosso planeta, gira a 1 600 km/hora em torno do seu próprio eixo e que este gira em torno do Sol a cerca de 108 000 km/hora, que por sua vez gira em torno do centro da galáxia a 830 000 km/hora. Tudo é movimento e por isso relativo. Aqui a Revolução Coperniciana continua a dar cartas na sua contínua expansão universalista.
Como é facilmente perceptível o Universo possui uma natureza hierárquica. A analogia com os objectos fractais poderá ajudar esta visão cosmológica. Fractal é um objecto que pode ser dividido em partes, cada uma das quais semelhante ao objecto original e que no seu conjunto reproduzem o todo. Teilhard de Chardin estava profundamente convencido de que o universo é um todo (Totum):
“Quanto mais longe e profundamente penetramos na Matéria, graças a meios cada vez mais poderosos, mais nos confunde a interligação das suas partes. Cada elemento do Cosmo é positivamente tecido de todos os outros: por baixo de si próprio, pelo misterioso fenómeno da «composição», que o faz subsistir pela extremidade de um conjunto organizado; e, em cima, pela influência recebida das unidades de ordem superior que o englobam e o dominam para os seus próprios fins. Impossível cortar nesta rede e isolar um retalho sem que este se desfie e se desfaça por todos os lados. A perder de vista, em volta de nós, o Universo aguenta-se pelo seu conjunto. E há apenas uma única maneira realmente possível de o considerar: tomá-lo como um bloco, todo inteiro.” – Teilhard de Chardin, O Fenómeno Humano, 3ª Edição 1970, pág. 21, Livraria Tavares Martins, Porto.
Esta ligação de tipo fractal por sua vez reflecte-se ao nível do microcosmo subatómico na existência também predominante do espaço “vazio”. Mesmo nos materiais mais sólidos, como o ferro ou na estrutura cristalina, existe um grande espaço entre as moléculas que os constituem. Um átomo é essencialmente espaço vazio: se o seu núcleo fosse ampliado até o tamanho de uma bola de futebol, a nuvem de electrões circularia nos limites do estádio de futebol. Se o núcleo do átomo fosse ampliado um pouco menos, digamos até o tamanho de um berlinde, o núcleo do átomo mais próximo estaria aproximadamente a cerca de mil metros! Segundo algumas estimativas da astrofísica dos Buracos Negros, se toda a matéria do nosso planeta fosse confinada, eliminando os espaços vazios, ocuparia apenas a dimensão de uma bola de ténis. A densidade no espaço intergaláctico é apenas de 7 a 8 átomos por metro cúbico. Ou seja, o mundo sólido e o espaço entre as galáxias é basicamente espaço vazio!
Esta relação que se estende desde o micro ao macrocosmo é uma relação de organização fractal onde a informação subjacente aos subsistemas que o compõem tem a tendência de replicar estruturas em escalas diferentes, como se houvesse uma acção à distância.
Ora, aqui entra a Teoria dos Campos que surgiu na física precisamente para explicar a acção à distância que Einstein designou como “acção fantasmagórica à distância”. Bem conhecidos são os efeitos dos campos electromagnéticos definidos por Maxwell e dos campos gravitacionais de Newton, Kepler e Galileu. As interacções entre partículas subatómicas são também descritas em termos de campos, combinando ideias da teoria clássica de campo com a teoria granular dos quanta, transformando as partículas em fenómenos transitórios como concentrações de energia que emergem do campo e nele tornam a desaparecer no “vazio”, mas contendo a potencialidade para todos os tipos de partículas que constituem o actual Modelo Padrão.
No entanto o espaço possui um número muito maior de dimensões, pois que para além de se conter a si próprio como campo quântico e a todos os outros campos, é o gerador de toda a manifestação fenoménica. Do micro ao macrocosmo uma coisa em comum existe: o espaço finito granular quantizável a que Carlo Rovelli designa por “espuma de spins” e que os Upanishads chamam de “espuma da água”. Será também aquela realidade numénica kantiana de onde tudo se origina e na qual tudo se retrairá agora confrontada com a teoria CCC – Cosmologia Cíclica Conforme de Roger Penrose!
Qual o papel destes campos e a constituição da Consciência encarada como matriz de informação organizada? Enquanto para uns a Mente seria olhada como mera segregação do cérebro e a Consciência um subproduto da evolução física de unidades quase isoladas, independentes, sem qualquer ou com fraca ligação entre si; para outros que defendem a teoria IIT – Integrated Information of Consciousness de Giulio Tononi, a evolução física dos subsistemas é concebida nos termos de um processo integrado quantificável matematicamente por uma variável designada Φ (Phi). Assim, sistemas tais como o cérebro humano seriam o culminar de um Φ muito alto enquanto a inexistência de consciência (uma rocha) significaria um Φ nulo.
A integração da informação inerente aos subsistemas (as partes) no Todo, fariam com que o Todo fosse maior que o conjunto das partes.
Então vamos
partir do axioma de que as estrelas, de que não escapa o caso particular do
nosso Sol, têm uma estrutura complexa que permite aceder a um nível relativamente
alto de Φ.
Senão vejamos:
O plasma (o
4º estado da matéria) é o material de que são feitas as estrelas onde os
electrões são arrancados dos núcleos de hidrogénio, formando um gás
electricamente carregado gerando campos magnéticos extraordinariamente elevados
que provocam correntes de convecção dinamizadas pela rotação da estrela, que na
nossa estrela tem a duração média de 28 dias: roda mais depressa no equador do
que nas zonas polares, criando o Efeito de Torniquete na distribuição das massas de plasma no espaço e o Efeito Borboleta na distribuição das manchas solares na superfície solar - a fotosfera.
Esta rotação diferencial, que em estrelas milhões de vezes maiores que o Sol gera fluxos internos de plasma incomensuravelmente colossais, na sua ascensão até à fotosfera criam vórtices de vibrações acústicas rítmicas, de frequências ressonantes, que podem ser analisadas pela nova ciência da heliosismologia (no caso do Sol) ou da asterossismologia (para o caso das outras estrelas) permitindo ver o que ocorre por detrás da estrela e literalmente ouvir as suas frequências e amplitudes harmónicas.
Estas oscilações de portentosas massas, criadas por ondas de pressão (modo p) e por ondas gravíticas (modo g), originam pulsações de luminosidade causadas pela propagação do som no interior das estrelas, gerando autêntica música estelar que pode ser detectada e ouvida e que caracterizam a individualidade de cada estrela. As baleias e as estrelas têm esta particularidade em comum.
Toda esta movimentação de massas pode ser estudada e seguida pela aplicação dos princípios da magneto hidrodinâmica que na fotosfera criam um reticulado que a pavimenta em triliões de células, criando a denominada granulação e supergranulação como se fosse a epiderme da estrela. Aqui surgem erupções gigantescas – as espículas e as célebres manchas solares (conhecidas e desenhadas por Galileu) que se desenvolvem ciclicamente – na nossa estrela por períodos de 22 anos, 11 anos de actividade crescente e 11 anos de actividade decrescente e que se caracterizam pela sua marcada polaridade. Esta polaridade bloqueia a ascensão convectiva de plasma e arrefece a fotosfera que está a cerca de 6 000º Celsius, dando o aspecto negro à mancha solar.
Figura 1
– CD sobre o 23º Ciclo Solar.
Reportório
resultante das observações do autor, com mais de 2500 imagens da fotosfera e
cromosfera solar na luz visível e na primeira linha de emissão do hidrogénio
(H-alfa). Edição 2001 sob o patrocínio da Presidência do Governo Regional dos
Açores – Direcção Regional da Ciência e Tecnologia
Ao acompanhar o 23º Ciclo Solar (nós estamos presentemente a iniciar o 25º), tivemos a oportunidade de assistir a um dos mais criativos ciclos de actividade solar onde as manchas solares puderam ser classificadas morfologicamente de acordo com o sistema de Macintosh, seguindo quase sempre padrões previsíveis de evolução magnética, algumas vezes originando Fulgurações e Ejecções de Massa Coronal (EMC), como se o sol atirasse para o espaço em redor quantidades astronómicas da sua própria massa (plasma), com efeitos a curto prazo (48 a 72 horas) sobre o nosso planeta.
Figura 2 – Ejecção de Massa Coronal (EMC) em 8/12/2003 entre as 12:00 e as 12:52 horas UT. Gif elaborado pelo autor.
Estas EMC`s lançam no espaço biliões de
partículas electricamente carregadas e como tal são orientadas pelos potentes
campos electromagnéticos que se estendem por todo o sistema solar com
influência marcante na designada meteorologia espacial, nomeadamente no campo
magnético terrestre (o fenómeno mais comum são as Auroras Boreais e Austrais).
Marte perdeu a sua atmosfera devido ao seu fraco campo magnético que não
protegeu o planeta destas erupções titânicas quando o sol ainda era mais jovem.
Para além disso,
as estrelas, e o Sol, possuem uma actividade magnética polarizada cíclica.
Durante o ciclo de actividade máxima surge a inversão da polaridade em que o
pólo norte magnético passa a pólo sul magnético, recompondo-se a configuração
inicial no fim do ciclo. Não me abstenho de comparar estes ciclos com os Gunas védicos –
Rajas, Sattva e Tamas.
Figura 3 – Proeminências (2001 e 2006 em H-alfa) e manchas solares (2003 no espectro da luz visível) durante o 23º Ciclo Solar. Imagens do autor.
Esta descrição, de forma muito resumida, revela no
entanto a complexidade da estrutura estelar, dos seus subsistemas, dos seus networks hierárquicos e a integração dos
seus componentes que funcionam tal como um organismo vivo funcionaria, criando inclusive
padrões de actividade previsível e influenciando o espaço para além da
heliosfera no caso do Sol, talvez mesmo até em outros sistemas estelares (certamente no caso de
sistemas binários e triplos). Poderíamos então inferir da existência de um Φ
relativamente alto.
No entanto calcular matematicamente o Φ de uma estrela ou no caso particular do Sol, tornar-se-ia inviável, mesmo utilizando a computação quântica. Acredita-se que o cálculo de Φ para a minhoca C. Elegans que possui menos de um milímetro de tamanho e com apenas 8 000 ligações neuronais, levaria alguns milhares de milhões de anos. A teoria IIT assume que a consciência deriva da integração da informação reforçando a ideia do Panpsiquismo acerca da sua origem e confirmando que a base funcional assenta nos networks electromagnéticos. Contudo não entra em linha de conta com outros campos quânticos como o da ressonância holomórfica de Rupert Sheldrake ou o possível campo quântico da Informação que utiliza os microtúbulos das células cerebrais para se expressar nos seres vivos biológicos, como advogam Stuart Hameroff e Roger Penrose.
As estrelas não poderiam deixar de encerrar em si a estrutura
septenária onde no ápice ternário Logoi reside a capacidade de conversão massa-energia-informação, expressa
pelas fórmulas E=mc2 ou m=E/c2 , Kb T Ln(2)=mc2 e m=Kb T Ln(2)/c2 pelo princípio
de Landauer, criando os campos quânticos de ressonância holomórfica e o de
Informação/consciência na IIT designada como Phi (Φ). Como em todos os corpos a
força gravítica inerente é o fenómeno resultante da curvatura do espaço granular
– a “espuma de spins”, exercida pela massa da própria estrela.
As forças nucleares forte e fraca, para além da electromagnética,
mantêm a sua estrutura física e material fermiónica (neste caso o 4º estado da
matéria). É a força forte que gera as potentes reacções nucleares e a força
fraca que está na base da degradação radioactiva e da própria vida no nosso
planeta, e que no seu conjunto formam a estrutura base quaternária desta
constituição septenária.
Figura 4 – Um modelo de Constituição Septenária que Unifica os Campos
Neste modelo a massa advém do campo quântico do Bosão de Higgs,
que tudo permeia e faz a ligação entre a estrutura quaternária e ternária, tal
como o Antahkarana sânscrito.
Para Blavatsky, o nosso sistema solar seria composto de sete planos distintos (modernamente considerados como os campos quânticos e a matéria propriamente dita), coexistindo no mesmo espaço e assumindo uma hierarquia do mais “denso” para o mais “subtil” assim reflectida tanto no ser humano como na partícula subatómica mais ínfima (por ex. um quark):
1 - o plano físico ou os fermiões (protões, quarks, electrões, muões, mesões, neutrinos);
2 - o plano emocional (astral) ou a força electromagnética (fotão);
3 - o plano mental (concreto/abstracto) ou Força Nuclear Fraca (W, Z);
4 - o plano búdico (intuitivo) ou Força nuclear Forte (gluões);
5 - o plano átmico (espiritual) ou Campo Granular do Espaço;
6 - o plano anupadaka (monádico) ou Campo Informação Holomórfica;
7 - o plano adi (divino) ou Campo da Informação/Consciência;
e acrescentaríamos o plano de ligação Antahkarana (Bosão de Higgs).
Por aqui se apercebe que o actual Modelo Padrão está incompleto e que mais uma vez as estrelas e o ser humano são da mesma substância, desde a mais subtil à mais densa. Bases para uma futura Astrosofia!
Tenho dó das estrelas
Luzindo há tanto tempo,
Há tanto tempo...
Tenho dó delas.
Não haverá um cansaço
Das coisas.
De todas as coisas,
Como das pernas ou de um braço?
Um cansaço de existir,
De ser,
Só de ser,
O ser triste brilhar ou sorrir...
Não haverá, enfim,
Para as coisas que são,
Não a morte, mas sim
Uma outra espécie de fim,
Ou uma grande razão —
Qualquer coisa assim
Como um perdão?
Poesias - Fernando
Pessoa
João Porto
Ponta Delgada, 10 de Abril de 2021
Publicado na Revista Fénix da Nova Acrópole Portugal
https://www.revistafenix.pt/o-que-me-disseram-as-estrelas/
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