A Árvore da Vida
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Tentar definir a tríade Vida, Consciência e Inteligência é uma tarefa inglória! Que o diga a Ciência nas suas mais diversas componentes do conhecimento humano. Torna-se intolerável para qualquer ramo da Ciência não conseguir definir o seu objecto de estudo. Mas, é isso exactamente o que se passa com a Ciência, ao assumir uma atitude reducionista e operacionalista, em que os novos conceitos de Vida, Consciência e Inteligência surgem do impacto da evolução das investigações nas mais diversas áreas, conduzindo a conceitos cada vez mais extensos, generalistas e diáfanos. Neste aspecto a Filosofia, mais uma vez, antecipou-se desde há longas épocas.
Depois de 1981 o conceito de inteligência e consciência ganhou novos horizontes, ano que Roger Sperry recebeu o prémio Nobel da Fisiologia ou Medicina pela sua contribuição para a compreensão da estrutura cerebral e das suas funcionalidades operativas, ao revelar, nos seus estudos sobre a epilepsia, que a inteligência seria uma função partilhada pelos dois hemisférios cerebrais sendo o esquerdo responsável pela tomada de decisões “racionais” e o direito pelas escolhas “emocionais”.
Desde então pouco se evoluiu e as opções actuais da Ciência poderão resumir-se nestas três teses:
a) A puramente Materialista onde a consciência não é uma qualidade independente mas resulta de processos convencionais evolutivos fisícos e biológicos do cérebro. A consciência é um produto do cérebro encarado como um supercomputador funcionando com algoritmos computacionais e bits de informação percorrendo redes neuronais.
b) A Dualista que encara a Consciência como um processo independente não controlado pelas leis da física e da biologia e onde o Panpsiquismo actualmente representa o expoente máximo desta tese, contudo a nosso ver, assentando bases em filosofias muito mais antigas.
c) A Consciência como acontecimento não cognitivo, uma espécie de proto-consciência, é tão antiga quanto o Universo e no processo evolutivo biológico passou a utilizar estruturas do foro celular, os microtúbulos, para se expressar nesta dimensão material conhecida como fenómeno orquestrado de decoerência no complexo neuronal. A consciência e a inteligência tornam-se aqui em atributos da evolução do Universo.
Presentemente a Física Quântica conquista novo terreno nas áreas da Biologia e da Fisiologia com os estudos e propostas conceptuais, entre muitas outras, de Stuart Hameroff e Roger Penrose com a sua teoria “Orchestrated Objectiv Reduction – Orch OR”.
Resumidamente, esta coloca a consciência como um complexo Campo Quântico de probabilidades como se “vivessem” lado a lado um conjunto de eventos numénicos (ver Teoria do Conhecimento de Kant e o Nous em Plotino) subsistindo apenas um evento fenoménico em resultado do colapso de onda quando da Redução Objectiva Orquestrada, cuja existência se revela na utilização de nano estruturas biológicas – os microtúbulos, existentes em todas as células e em especial nos neurónios com os seus axónios, dendrites e sinapses.
Neste contexto parece-nos que a aproximação aos conceitos arquetípicos kantianos é muito semelhante: enquanto em Orch-OR o espaço-tempo fenomenológico só se realiza pelo colapso da função de onda, por uma relação contínua e estreita entre sujeito e objecto, em Kant o espaço e o tempo, também como faculdade inerente do sujeito, seriam as formas puras (arquétipos) nas quais todas as nossas percepções se justapõem. Deste modo em Kant o espaço e o tempo são apenas condições subjectivas de processos ligados à intuição (Budhi), não tendo qualquer realidade fora do sujeito (ideia vedantina de Maya ou ilusão) e constituindo o conceito kantiano da realidade empírica das formas puras do espaço e do tempo em relação aos fenómenos.
Figura 1 - Estrutura (B) e organização dos Microtubulos nas sinapses (A)
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Para Hamroff-Penrose toda a teoria que envolve aquele campo quântico que utiliza os microtúbulos para se expressar fenoménicamente, que ousaríamos comparar às ondas hertzianas que utilizam os transístores num aparelho de rádio, estaria alicerçada num conjunto de situações verificadas experimentalmente, nomeadamente (a) a acção dos anestésicos (ou por exemplo do Prozac) sobre o network dos microtúbulos, (b) a inter-comunicação estabelecida entre os mesmos através das oscilações quânticas coerentes da ordem dos Gigahertz, Megahertz e Hertz constatadas à temperatura ambiente, (c) a identificação dessas frequências na origem dos fenómenos EEG - Electro Encefalo Gramas e (d) a ligação entre a sincronicidade cerebral, manifesta na natureza da sua plasticidade, e a geometria espaço-temporal à escala de Planck nos eventos de superposição e não-localidade.
De uma assentada resolve-se o velho paradoxo do Gato de Schrödinger, o emaranhamento quântico e a compreensão dos fenómenos de não-localidade. Deixa de existir a Redução Subjectiva (Subjectiv Reduction - SR) – o observador provoca o colapso de onda, para ser a Redução Objectica (Objectiv Reduction - OR) – o colapso de onda provoca a consciência.
Esta proposta sugere que a experiência da consciência está intrinsecamente ligada à diminuta escala de Planck (10-35 metros) com a mesma estrutura de geometria espaço-temporal relacionada profundamente com as leis gerais operativas no Universo. Uma geometria que se acredita ser de natureza fractal e que confirma um axioma do Caibalion.
Neste âmbito o comportamento cognitivo ao nível das estruturas mais simples da Vida, presenciado nos microorganismos como os protozoários, onde a procura de recursos reprodutivos, energéticos e sensoriais, na ausência de ligações sinápticas, mas onde estão presentes um vasto network de microtúbulos, representa na roda da Vida um manifesto grau de inteligência/consciência, reforçando deste modo as teses Panpsiquistas mais recentes, nomeadamente da existência dos Campos Quânticos Holo-Morfogenéticos.
O conceito de Vida é tão antigo quanto a Humanidade. Tão antigo quanto a ideia de Jiva, no sânscrito conhecido como Princípio de Vida, cuja palavra é derivada do verbo sânscrito Jiv, que significa viver. Possui contudo um significado mais profundo que o relaciona com a Vida Una ou Força (muitas vezes designada como Prana), sendo por vezes usado também como sinónimo de Absoluto ou Ser Divino Incognoscível uma vez que na doutrina vedanta está ligado aos éons dos períodos de actividade manvantárica, como Princípio de Vida do Universo, da vida no próprio planeta e dos seres que o habitam, mas que no entanto retorna à sua origem ou à sua fonte, que é Jiva no fim de cada período Manvantara/Pralaya, expiração/inspiração de Parabhraman.
O conceito fundamental de Vida é também aquele subjacente à Doutrina das Hierarquias assim como do conceito Gaia, em que não há qualquer parte do Universo que seja distinta e separada das demais e em que tudo vive e se move no interior da Vida de um Ser ainda maior. Estão intimamente ligados e expressos nos diagramas da Escada da Vida, da Árvore da Vida, no Tetraktis Pitagórico, no sistema descrito pelos Gregos, Platónicos e neo-platónicos. A Escada da Vida está retratada em forma de um triângulo com dez degraus e encimado por uma coroa. Cada degrau representa um patamar de ascese na evolução do Universo, caracterizado por um grupo de Monadas fazendo parte de uma hierarquia estruturante da Natureza.
Na filosofia vedanta, a Árvore da Vida, compreendendo esses dez patamares ou classes de vibração quântica, desenvolve-se em todos os sentidos sob a forma de tríades de “potências e forças espirituais” conhecidas como Trigunas – Rajas, Tamas e Sattva ou na filosofia chinesa Taoista como Yin-Yang. Esses dois princípios ou Sephiroth, intitulados o Pai e a Mãe na doutrina Teosofista, são também atribuídos às quatro letras YHWH do chamado Tetragrammaton da cabala hebraica.
Figura 2 - A Árvore da Vida
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A existência desta Força, referenciada por nós como Campo Quântico Holo-Mórfico, é enunciado em Blavatsky como Luz Astral (não confundir com o Corpo Astral), definida por ela como um fluído de energia subtil omnipresente que tudo envolve, constituído por componentes eléctrico-magnéticos de espectro superior, tal como a vibração luminosa difundida por todo o espaço, funcionando basicamente como um mediador plástico universal (tal como a esfera de Yesod na cabala hebraica) e que parece surgir como o agente da magia prática de Éliphas Lévi.
“A lei fundamental da Ciência Oculta, é a unidade radical da essência última de cada parte constitutiva dos elementos compostos da Natureza, desde a estrela até o átomo mineral, do mais alto Dhyãn Chohan ao mais humilde dos infusórios, na completa acepção da palavra, quer se aplique ao mundo espiritual, quer ao intelectual ou físico. ‘A Divindade é um ilimitado e infinito expandir’, diz um axioma Oculto...” – in Doutrina Secreta, H. P. Blavatsky, Vol. I.
Ao abordarmos os ciclos de Manvatara/Pralaya somos conduzidos forçosamente a revelar a ligação entre a mitologia grega e a doutrina vedanta, entre Fohat nos estágios anteriores à manifestação de um Universo (Pralaya) e Fohat na manifestação (Manvantara) com Eros e Cupido. O Cupido incarnando o deus alado do Amor na Roma antiga e na Grécia sob o nome de Eros, acompanhado por Vénus ou a deusa Afrodite do Amor, sempre representado como carregando um arco e uma aljava de flechas, cujos dardos associados ao desejo, levaram a que fosse posteriormente associado ao prazer e ao desejo. No entanto, na cosmogonia grega antiga, Eros era o terceiro membro de uma tríade de que faziam parte Caos e Gaia (Tamas e Rajas) e onde as flechas de Eros conferiam vida a todas os seres ao atingirem-nos (deuses ou Homens). Aqui Eros representa Fohat ou Sattva quando referenciado ao microcosmos.
Esta trindade, Caos, Gaia e Eros serão equivalentes numa outra escala cosmológica a Parabrahman, Mulaprakriti e Fohat, representando os estádios de pré-manifestação dos Universos, o Logoi, os Horizontes de Eventos dos Buracos Negros Primordiais.
“Fohat é, portanto, a personificação do poder eléctrico vital, a unidade transcendente que enlaça todas as energias cósmicas, assim nos planos invisíveis como nos manifestados; sua acção se parece – numa imensa escala – à de uma Força viva criada pela Vontade, naqueles fenómenos em que o aparentemente subjectivo actua sobre o aparentemente objectivo e o põe em movimento. Fohat não é só o símbolo vivo e o Receptáculo daquela Força, mas também os ocultistas o consideram como uma Entidade, que opera sobre as forças cósmicas, humanas e terrestres, e exerce sua influência em todos esses planos. No plano terrestre, a influência se faz sentir na força magnética e activa produzida pela vontade enérgica do magnetizador. No plano cósmico, está presente no poder construtor que, na formação das coisas – do sistema planetário ao pirilampo e à singela margarida -, executa o plano que se acha na mente da Natureza ou no Pensamento Divino, com referência à evolução e crescimento de tudo o que existe. Metafisicamente, é o pensamento objectivado dos Deuses, o ‘Verbo feito carne’ numa escala menor, e o mensageiro da Ideação cósmica e humana; a força activa na Vida Universal. Em seu aspecto secundário, Fohat é a Energia Solar, o fluido eléctrico vital e o Quarto Princípio, o Princípio de conservação, a Alma Animal da natureza, por assim dizer, ou a Electricidade.” – in Doutrina Secreta, Helena P. Blavatsky, Vol. I.
Esta é a origem indissociável da Vida e da Consciência numa ligação permanente microcosmos/macrocosmos. É o Sutratman da filosofia vedanta, o fio luminoso prateado da Monada imortal e impessoal no qual as nossas Vidas estão ligadas como as contas de um colar.
Para nós surge uma dificuldade às vezes quase inultrapassável que se nos depara durante o estudo comparado das doutrinas filosóficas e teológicas antigas. Essa dificuldade deriva da utilização de diferentes expressões para identificar os mesmos fenómenos, muitas vezes contraditórias entre si. Por um lado a tradução da fonte mais antiga sânscrita sofreu interpretações das mais diversas por inexistência de correspondências linguísticas no ocidente; por outro lado as filosofias gregas platónicas e neo-platónicas e posteriormente o império romano e o cristianismo primitivo e pós-concíliar, encarregaram-se de adulterar as antigas mitologias ao absorvê-las culturalmente.
A isto acrescente-se a linguagem também obscura e indecifrável da Física Quântica traduzida na simbologia própria da matemática, que ao apontar caminhos de confluência e identidade comuns entre as doutrinas filosóficas mais antigas e os resultados da investigação mais recente nas áreas da Astrofísica, Cosmologia, da Biologia, da Física e da Computação Quântica, conduzem-nos a um novo paradigma: à necessidade de uma Nova Física e de uma Nova Linguagem que dê corpo aos novos horizontes do Conhecimento que a Humanidade irá transpor a breve prazo.
Impõe-se assim um desafio para o futuro breve: partilhar com Nova Linguagem o conhecimento e a investigação de ponta feita por um grupo restrito de cientistas e filósofos com a massa de utilizadores identificados inconscientemente com as novas tecnologias, que ninguém percebe como funcionam, evitando mais um corte epistemológico e a proliferação de doutrinas fundamentalistas, populistas e de modas obscurantistas. Dar primazia à Vida e fazer da Inteligência o modo operativo da Consciência e dos seus Arquétipos.
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