sábado, 13 de março de 2021

Uma reflexão sobre Mahat a Inteligência Manifestada e a IA

 









Se quisermos reflectir sobre a inteligência temos que recuar às origens dos Cosmos ou dos Universos múltiplos, socorrendo-nos da tradição mais antiga desta humanidade, os Vedas, em que cada qual tem uma relação de efeito com o que o precedeu, e de causa com o que lhe sucede (dignamente representada no mais recente modelo de Cosmologia Cíclica Conformal (CCC) de Roger Penrose), e cujas existências, por necessidade imperativa de uma simetria universal, resultaram de um “acto” da Inteligência/Consciência designado por nós como Hiper Campo Quântico do Espaço Infinito, ou o Lambda (ꓥ) da Constante Universal de Albert Einstein, o “AQUILO”. O Absoluto Ser e Não-Ser de Hegel ou o Arik-Anpin ou o Ain-Soph dos cabalistas, a vacuidade ou o Zunyata sânscrito.

“...Há uma Realidade Absoluta, anterior a tudo o que é manifestado ou condicionado. ...Parabrahman (a Realidade Una, o Absoluto) é o campo da Consciência Absoluta, vale dizer, daquela Essência que está fora de toda relação com a existência condicionada, e da qual a existência consciente é um símbolo condicionado.” – Blavatsky em Doutrina Secreta, Vol.I.

Assim, através da estrutura unificada Logoi, nomeadamente do Primeiro Logos, será impulsionada a Manifestação por onde crescerá Daiviprakriti, termo das Escolas Filosóficas Hindus e do Bhagavad-Gita, a brilhante energia-substância primordial na filosofia sânscrita, a Luz de frequência vibracional altíssima, única e homogénea do Logos.

“Enquanto que Parabrahman é a Causa Eterna, o Primeiro Logos é a Primeira Causa, o grande Logos Invisível que origina todos os outros Logoï e que, antes da manifestação cósmica, dorme no seio de AQUILO que nunca dorme nem está desperto, porque de Parabrahman, que não é um Ser mas Sat ou Be-ness (a Serdade), não pode ser dito que esteja dormindo ou desperto” - Salomon Lancri, Estudos Selectos em A Doutrina Secreta, Editora Teosófica, Brasília, 1992; pág. 13.

O Primeiro Logos pode ser visto como a primeira perturbação vibracional de um campo quântico que se contém a si próprio, o designado Akasha formado por Qubits de informação (pelo princípio de Landauer a informação – Mahat, é equivalente a energia - Fohat e massa - Prakriti). Esta perturbação dar-se-á no seio do “oceano das águas primordiais”, o Campo Quântico da Informação/Consciência, pura potência de probabilidades existente como interface para a Manifestação do Segundo Logos e como tal designado Logos Imanifestado.

O Segundo Logos ou o Logos semi-manifestado, corresponde à expansão do “Gérmen na Raiz”. De uma estrutura unitária, define-se agora a unipolaridade que contém a futura polaridade, Trigunas - Raja, Sattva e Tamas ou Yin e Yang da filosofia Taoista chinesa. A estrutura do Campo Quântico Holo-Mórfico, protótipo futuro dos conceitos Purusha e Prakriti, vida e matéria, entre os quais decorrerá todo o desenvolvimento posterior dos Cosmos. Esses pólos não estão ainda separados, estão potencialmente contidos em Sattva, são os dois, uma unidade, vistos na doutrina védica e teosófica como um ser hermafrodita: o Pai-Mãe dos Universos.

No Segundo Logos funcionarão os “Construtores do Universo”, os Ah-In, motores da actividade logóica em que os Universos existindo como desenhos de um Arquitecto, como arquétipos, veiculados pelo Primeiro Logos, iniciam a sua actividade na criação de Horizontes de Eventos colossais (Mulaprakriti) onde a informação, Fohat, as “Bolhas de Adi”, os bits da informação quântica (Lipitakas ou Qubits) ou Vogels no modelo das PSU`s – Planck Sperical Units se vão organizar fractalmente, formando condensados quânticos e originando a bidimensionalidade holográfica (o “véu” Mulaprakriti, a Raiz da Natureza ou da Substância) iniciadores dos futuros Buracos Negros Primordiais.

No Terceiro Logos, ou o Logos Manifestado, surge pela primeira vez a separatividade, o início da não partilha da mesma Consciência Una e Absoluta que existe em tudo, a dualidade Purusha/Prakriti, veiculada pela estruturação do Campo Quântico do Espaço Granular Finito e consequentemente do Tempo. Fohat é o interface entre os dois, é a força dinâmica que transmite os Princípios de Simetria, da Entropia e da Causalidade, o designado “pensamento divino” que os imprimirá posteriormente nas primeiras partículas de matéria (fermiões).

Assim, o Terceiro Logos veicula de forma unitária os 3 conceitos do budismo do norte:

1. Mahat – a Mente Cósmica ou Informação/Consciência, campo quântico organizador dos Cosmos representando o conjunto de todas as Inteligências Espirituais, como se o “AQUILO” estivesse fraccionado por Necessidade de Simetria.

 2. Fohat – a força do Campo Quântico Holo-Mórfico, transmissora da ideação contida em Mahat, a Luz do Logos.

3 – Prakriti, a Natureza, Substância ou Matéria, que se vai diferenciar pela orientação de Fohat em distintos planos, dando finalmente origem à Constituição Septenária, através de planos energéticos e vibracionais progressivamente mais densos, e onde reinarão as Forças Nucleares Fraca e Forte e a Força Electromagnética.

Como vemos, a Inteligência está presente sempre, e faz parte integrante fundamental de todas as fases desta Cosmogonia. Ela preenche como Consciência 99,9% da vacuidade do espaço confirmando o primeiro aforismo do Caibalion: o Universo é Mental.

Como diz H. Blavatsky na Doutrina Secreta, “Cada átomo do Universo traz em si a potencialidade da própria consciência...é um Universo em si mesmo e por si mesmo.”

No Homem é o Ternário (os Logos I, II e III) designado por Atma, Budhi e Mente Superior ou Manas que constitui a sua individualidade, o espírito indestrutível, a Monada neo-platónica de Giordano Bruno e de Leibniz.

Blavatsky em Doutrina Secreta, Volume I, refere que “A identidade fundamental de todas as Almas com a Alma Suprema Universal, sendo esta última um aspecto da Raiz Desconhecida; e a peregrinação obrigatória para todas as Almas, centelhas daquela Alma Suprema, através do Ciclo de Encarnação, ou de Necessidade, de acordo com a lei Cíclica e Kármica, durante todo esse período. Em outras palavras: nenhum Buddhi puramente espiritual (Alma Divina) pode ter uma existência consciente independente, antes que a centelha, emanada da Essência pura do Sexto Princípio Universal — ou seja, da ALMA SUPREMA – haja (a) passado por todas as formas elementais pertencentes ao mundo fenomenal do Manvantara, e (b) adquirido a individualidade, primeiro por impulso natural e depois à custa dos próprios esforços, conscientemente dirigidos e regulados pelo Karma, escalando assim todos os graus de inteligência, desde o Manas inferior até o Manas superior; desde o mineral e a planta ao Arcanjo mais sublime (Dhyâni-Buddha).”

Bhagavad-gita também transmite este conceito de uma forma eloquentemente simples: “Tal como um homem que, despojando-se de suas vestimentas velhas, toma outras novas, de igual modo o morador do corpo, despojando-se dos corpos gastos, entra em outros que são novos.”

Assim, a directriz da evolução, o Dharma, como seta imposta pelo Tempo à matéria nas suas mais diversas formas, desde os condensados de Bose-Einstein até às mais complexas estruturas moleculares, pressupõe dois princípios fundamentais:

1. Os Ciclos Yuga de Manvatara/Pralaya desenvolvendo-se durante éons de tempo, na nossa perspectiva quase infinitos;

2. A Causa e Efeito Kármicos que se revelam no microcosmo a partir dos fenómenos quânticos da superposição, emaranhamento e não-localidade, onde o tempo existe nas duas direcções antes do colapso de onda Ψ, mas que no entanto se traduz no nosso macrocosmo em livre-arbítrio.

Estes pressupostos são da maior importância para compreender a natureza e a acção da inteligência e evitar concepções transmigracionistas que ganham força nos tempos actuais com a ascensão da Inteligência Artificial (IA) e da Robótica.

Enquanto a IA assenta na aprendizagem mecanicista por algoritmos e no acesso a Base de Dados colossais (informação estruturada e disponibilizada por nós sob a forma escrita e imagética digital) sem compreensão de objectivos (estes e o seu porquê são introduzidos por nós), sem dimensão de natureza sentimental, emocional e de esperança (dimensões que são possíveis de encontrar já noutras formas de vida “inferiores”), o Ser Humano é capaz ter “insights” em todos os domínios do Conhecimento, de fazer e dedicar-se à Poesia, à Literatura, à Musica e à Matemática mais abstracta, onde imprime os seus “estados de alma”.

O “comportamento” da IA e da robótica é similar ao do Rei Midas da lenda grega quando este pediu para que tudo aquilo em que tocasse se transformasse em ouro, porém tendo ficado desiludido quando verificou que isso o impedia de comer e, quando inadvertidamente transformou a sua filha em ouro. Ou seja, por detrás de uma ordem existe sempre um objectivo humano ligado à própria experiência de ser humano. Como somos 7,8 mil milhões (estatística de Julho de 2020) com experiências estendendo-se segundo uma distribuição probabilística gaussiana continuamente influenciada para a esquerda ou para a direita, pelo ambiente e pela evolução das nossas acções … não será para amanhã a existência de uma super inteligência e, nessa altura, passados tantos éons, seremos deuses.

Mesmo que seja possível clonar o cérebro humano, ou reproduzir a sua estrutura neuronal, apenas estaremos a copiar um órgão. Ao introduzir software que tenha acesso a todas as bases de dados mundiais (um pouco como já faz a Google), estaremos a produzir uma máquina autista focada nos nossos objectivos mas fazendo contudo descobertas apreciáveis sobre o comportamento humano e do mundo que o rodeia, tendo mesmo assim a possibilidade de criar sub-objectivos, degrau a degrau, mas que num modelo piramidal evolutivo levaria a uma singularidade de carácter quase existencial … porque no entanto, no máximo, só faria poesia métrica! Essa singularidade seria a sua própria destruição porque finalmente as características da IA são projectadas/concebidas e não resultado da evolução seja darwiniana (de curto prazo) seja manvatárica (de longo prazo) onde se constroem e perduram ambições e altruísmos, beleza, bondade e verdade, tudo objectivos éticos.

Inteligência ao nível do Ser Humano é fazer Poesia, é exprimir sentimentos, emoções e esperanças, aquilo que é inexpressível organicamente mesmo através de um complexo sistema neuro-hormonal e respectivos padrões visuais, auditivos e de estados cognitivos.

Contudo, preventivamente, e da mesma forma que existe a Declaração Universal dos Direitos do Homem, adoptada pelas Nações unidas em 1948, após a II Guerra Mundial e como forma de salvaguardar lições desse tremendo conflito, poderemos sempre fazer uso das Leis da Robótica de Isaac Asimov, de modo a controlar e prevenir os futuros comportamentos robóticos superinteligentes. São elas:

1ª Lei – Um robot não pode causar mal à humanidade ou, por omissão, permitir que a humanidade sofra algum mal.

2ª Lei: Um robot não pode ferir um ser humano nem, por inacção, permitir que um ser humano seja prejudicado.

3ª Lei: Um robot deve obedecer às ordens dadas por seres humanos, a não ser que essas ordens contradigam a Segunda Lei.

4ª Lei: Um robot deve proteger a sua própria existência, desde que essa protecção não contradiga a Segunda e Terceira Leis.

Sendo nós a actual e presunçosa “superinteligência” sobre o planeta compete-nos alinhar os objectivos das máquinas com os nossos princípios éticos fazendo com que elas os adoptem e sejam extensíveis e consideradas a todas as formas de Vida onde a Inteligência experiencia, cria e modela o futuro. Com a ascensão da robótica teremos que ser menos antropocêntricos e mais humildes.

Hoje a Ciência encontra-se perante a hipótese de que a Inteligência se estende em todas as direcções fenoménicas do Universo. Desde o verme C. Elegans com os seus 300 neurónios, passando pela Teoria Orchestrated Objective Reduction (Orch OR) da consciência quântica de Hameroff-Penrose até à Laniakea com mais de 150.000 galáxias preenchendo um espaço de 520 milhões de anos-luz á volta de um Atractor. A todos os níveis existe algo comum: uma estrutura do tipo fractal, uma matriz de informação, uma network organizacional, um arquétipo que é transversal.


Network neurológico do C. Elegans que organiza a informação
From Wikimedia Commons, the free media repository


Laniakea ou “céu imensurável” em hawaianao – Wikipédia


Células cerebrais de um rato
From Wikimedia Commons, the free media repository


Esta network, na sua transversalidade universal, demonstra que o que é importante é a estrutura do processamento da informação e não a estrutura da matéria, reforçando a acção da ideação primordial – Mahat, ao longo de éons de evolução manvantárica/pralaya macrocósmica (Macroprosopus), expiração/inspiração de Parabrahman, simultaneamente resultado de uma gesta microcósmica (Microprosopus) contínua de causalidade e livre-arbítrio.

A Evolução é informação (Inteligência) organizada e partilhada em níveis sempre crescentes numa luta entre a Luz do Logos (Purusha) e a Matéria (Prakriti), até à integração no plano Adi, quando do retorno à unidade original. Neste termo seremos Dhyan-Chohan, Inteligência pura.

 

J.P., 13 de Março de 2021 e Ponta Delgada


REVISTA FÉNIX - NOVA ACRÓPOLE PORTUGAL

https://www.revistafenix.pt/uma-reflexao-sobre-mahat-a-inteligencia-manifestada-e-a-ia/


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