quinta-feira, 29 de abril de 2021

A génesis da vida no Sistema Solar na concepção teosofista e na ciência

 

BENNU'S JOURNEY - Early Earth – Flickr – Creative Commons Licence
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É consensual que a vida só é possível com a presença de um solvente universal conhecido como água. A água, quimicamente conhecida pela fórmula molecular H2O, tem uma estrutura constituída por dois átomos de hidrogénio e um de oxigénio partilhando entre si os seus electrões e formando uma ligação geometricamente assimétrica de 104,50. A partilha faz-se entre o electrão do hidrogénio com um electrão do oxigénio, criando as denominadas ligações covalentes. No entanto os campos orbitais dos electrões dos átomos de hidrogénio encontram-se sempre deslocados pela forte atracão do núcleo positivo do átomo de oxigénio o que cria uma polaridade molecular apesar de globalmente a água ser uma molécula neutra. Este aspecto dipolar faz com que as moléculas de água se alinhem entre si formando as pontes de hidrogénio cuja presença permite à água funcionar como agregador de moléculas orgânicas mais complexas, como aquelas pertencentes á classe das proteínas, enzimas, nucleotídeos, açucares e mesmo o próprio DNA, sendo que todas elas apresentam também polaridade (moléculas hidrófilas). São também estas pontes de hidrogénio que autorizam a água no seu estado sólido, quando congela, a assumir uma estrutura semi cristalina hexagonal formada por 4 pontes de hidrogénio.

A água como solvente universal, pelas suas propriedades de coesão e adesão, conferida pelas tais pontes de hidrogénio, apresenta-se como a solução natural e sustentável encontrada pelo Universo onde abundam o hidrogénio em primeiro lugar (92%), seguido pelo hélio (7,1%) e em terceiro lugar o oxigénio (0,1%), apesar de raramente se encontrar na sua forma molécula O2, devido precisamente ao facto de espontaneamente se ligar ao hidrogénio formando água. Por essa razão a água é tão abundante em todo o Universo sob a forma de gelo intersticial nos agregados de poeiras interestelares.

O Oxigénio que tem a sua origem no final do processo de combustão do hélio que domina no interior das estrelas massivas através do ciclo CNO-I (Carbono-Azoto-Oxigénio) nas reacções de fusão, torna-se assim o elemento preferencial para síntese da água.

Curiosamente o HeH + (hidreto de hélio), carregado positivamente, é a primeira molécula conhecida a ser formada no universo, cerca de 380.000 anos após aquilo que se considera ser o Big Bang, num período conhecido como época de recombinação e que vai posteriormente dar origem às primeiras estrelas.

Na Terra, no éon Arqueano, um período geológico compreendido aproximadamente entre 3,85 e 2,5 mil milhões de anos o nosso planeta era totalmente coberto por oceanos. Um estudo das rochas australianas datadas desse período geológico, revelaram ainda que os oceanos arcaicos tinham uma presença do isótopo pesado O18 muito superior aos actuais oceanos. Na África do Sul em Barberton Greenstone Belt, onde existem algumas das mais antigas rochas na Terra, os geólogos Maarten De Wit e Harald Furnes estudaram uma espécie de sílica chamada “chert” (uma variedade de quartzo) cuja formação é atribuída a grandes profundidades sob água onde predominariam fontes hidrotermais, concluindo que há cerca de 3,5 mil milhões de anos, os oceanos da Terra foram relativamente frios, e não inospitamente quentes como se pensava anteriormente (1). Surgem assim evidências geoquímicas e paleomagnéticas de que ao longo dos últimos 3,5 mil milhões de anos, a Terra tem permanecido dentro de uma faixa de temperatura favorável a vida.

Pela mesma altura, Marte tinha 36% da sua superfície coberta por oceanos e possuía um ciclo hidrológico de acordo com estudos recentes da Universidade do Colorado nos EUA e das missões da NASA naquele planeta nomeadamente a Mars Reconnaissance Orbiter (MRO).

Figura 1 - Carbonatos marginais destacados em vermelho. (NASA/MRO/Horganet al. 2019).



A recente descoberta de carbonatos na beira de extintos lagos (caso da área geológica da cratera Jezero) (2), e de depósitos de sílica hidratada no fundo do delta durante o período Noachiano, o primeiro período geológico de Marte e que teve o seu término há cerca de 3,5 mil milhões de anos, parece confirmar as suspeitas de vida arcaica no planeta. Naquela época Marte tinha um clima relativamente húmido e uma atmosfera rica em dióxido de carbono (CO2). Os carbonatos só se formam quando rochas e água reagem com o CO2. Entretanto, como é do domínio público, a investigação no terreno prossegue já que encontrar água líquida em Marte foi um dos principais objectivos do programa da NASA, e tal hipótese foi já confirmada. A hipótese inicial era de que a água ocorresse sob a forma de água salgada com sais de perclorato (compostos de cloro e oxigénio) que reduzem o ponto de congelamento da água fazendo com que permaneça líquida apesar das temperaturas congelantes de Marte atingirem em média -63°C.

Vénus tinha oceanos e atmosferas onde preponderavam a água, o azoto e o oxigénio. A recente detecção de gás fosfina (PH3), caracterizada por ser a bio assinatura da vida por excelência, poderá ser um indício da existência de vida antiga que adquiriu formas biológicas adaptadas às condições das camadas externas da atmosfera venusiana onde persistem temperaturas propícias à vida microbiológica actual (180 C). É verdade que a fosfina foi detectada na década de 70 do século passado em Júpiter e Saturno, onde se formou nas camadas mais internas das suas atmosferas. Mas, só a presença de calor e da pressão do hidrogénio muito grandes, favoreceram a produção abiótica de fosfina, condições extremas não verificáveis em Vénus. A síntese de fosfina fora de condições extremas implica fornecimento contínuo de muita energia o que só é possível pela via biológica como na Terra.

Carl Sagan e Harold Morowitz sugeriram em 1967 formas de vida num cenário envolvendo “balões ecológicos” flutuando entre as nuvens, metabolizando água e minerais.

De encontro a esta ideia, simulações feitas em computador sobre a história climática de Vénus, pelo Instituto Goddard de Ciência Espacial da NASA, mostraram que até há bem pouco tempo (cerca de 715 milhões de anos) as temperaturas podiam ter variado entre 20 e 50 °C, suficientemente frias para a existência de água líquida formando extensos oceanos por 2 a 3 mil milhões de anos, sugerindo que a vida poderia ter evoluído naquele planeta.

No entanto a crosta terrestre de Vénus é espessa e sem sinal de tectonicidade e o planeta não tem basicamente campo magnético o que deverá ter contribuído de forma irredutível para a sua situação actual.

A presença de água em Vénus, Terra e Marte está também de acordo com a teoria geral da formação do sistema solar e em particular dos planetas telúricos a partir do gás nebular original. Enquanto os planetas exteriores e gigantes como Júpiter, Saturno, Úrano e Neptuno, arredados da influência radiactiva do Sol tinham condições para acumular a água presente na nebulosa primordial, os três planetas telúricos não tinham essa hipótese. A composição isotópica da Terra indica que os principais blocos de construção dos planetas rochosos são materiais semelhantes a enstatita condrite dos asteróides e cometas cuja concentração em água e as razões de deutério para hidrogénio (D/H) correspondem às da Terra (3).

Assim, a probabilidade do surgimento da vida deve ter sido transversal aos planetas telúricos. Contudo a Terra poderá ter sido o local preferido dado que um acontecimento inesperado poderia ter acelerado ou mesmo justificado o aparecimento de vida. Um corpo planetesimal gelado que se encontrava na mesma órbita do que a Terra, num ponto de Lagrange L4, viria fazer pender o prato da balança no que respeita à presença da água.

Theia colidiu com a Terra há 4,5 mil milhões de anos e trouxe mais água. Para além de outros factores estabilizadores. Dessa colisão iria resultar a Lua, como massa arrancada ao nosso próprio planeta e em quantidade suficiente para formar um futuro corpo esferóide. A assimilação pela Terra de uma parte de Theia foi extremamente importante para que o material metálico dos dois fosse unido e se estabilizasse no centro do nosso planeta, caso contrário a Terra seria apenas uma estrutura rochosa estérea muito semelhante a Vénus, sem um campo magnético e sem placas tectónicas. Por outro lado, a presença do efeito gravitacional da Lua induziu a uma oscilação muito pequena do eixo da Terra à medida que evolui em torno do Sol, diferente do que parece ter acontecido com Marte que é orbitado por apenas dois asteróides capturados, para além de ter perdido o seu campo magnético e deste modo a protecção aos raios cósmicos e aos ventos solares que assim lhe arrancaram a atmosfera, precisamente numa época em que o Sol, mais jovem, era mais activo.

A vida na Terra surgiu entre 3,5 e 4,5 mil milhões de anos, corolário provável de um conjunto de “homeostasias” como a nova força exercida pela gravidade de uma lua, a sua protecção em parte ao bombardeamento meteorítico tardio e a estabilidade magnética da Terra e do seu eixo em que o clima passa a ser regulado por estações. Na Terra, alguns dos fósseis mais antigos são estromatólitos datando para cima de 3,5 mil milhões de anos. Os estromatólitos são estruturas estratificadas formadas por camadas de cianobactérias.

A descoberta de que os sistemas naturais podem conduzir a reacções electroquímicas entre os minerais e o líquido circundante tem implicações importantes para o campo da astrobiologia, indicando que em qualquer lugar a presença de salmouras (água e sais) e de rochas ígneas poderão conduzir às condições necessárias ao aparecimento da vida. Tais eram as condições presentes nas fontes hidrotermais nas profundidades oceânicas como à superfície terrestre nas lagoas quentes pela actividade vulcânica na Terra Arqueana pré-biótica, onde os componentes essenciais dos nucleotídeos, plasmados primeiramente nos polímeros de RNA, fornecidos por meteoritos carbonáceos, aumentavam de concentração através de fenómenos de precipitação, evaporação e infiltração em ciclos contínuos de fases húmidas e secas. Estas condições seriam o catalisador que levaria à ligação dos blocos de construção molecular básicos e que dariam nascimento ao primeiro código genético que garantiria a replicação das primeiras proto-células (3).

Podemos concluir, com alguma segurança, que o aparecimento da vida foi transversal e simultâneo nos três planetas entre 3 e 4,5 mil milhões de anos porque existiriam as condições necessárias e suficientes para tal. O seu surgimento foi relativamente rápido, pois pensa-se que teria levado cerca de 550 milhões de anos a surgir no nosso planeta, ou seja o período de tempo que medeia entre a formação da Terra (4,5 mil milhões de anos) e o primeiro registo biogénico conhecido - LUCA (Last Universal Common Ancestor). Iremos assumir que o mesmo se tenha passado tanto em Vénus como em Marte.

I Diagrama

Um cladograma juntando todos os grupos principais de seres vivos ao Último Ancestral Comum (o tronco preto na parte de baixo). Este gráfico foi feito a partir de sequências de RNA ribosomal. – Fonte Wikipédia



Chegámos agora a um ponto do nosso conhecimento que nos possibilita explorara e estabelecer eventualmente linhas de aproximação com doutrinas muito antigas, sobre a evolução da vida planetária, nomeadamente daquelas defendidas pela Teosofia e por Helena Blavatsky na sua Doutrina Secreta (4) nos respectivos volumes da Cosmogénese e da Antropogénese.

Começaremos por expor de forma sucinta e simples a estrutura do corpo desta doutrina quanto a este assunto.

O conceito ligado à Constituição Septenária vai estender-se agora à evolução planetária quando atribui a cada corpo do sistema solar, sob a designação de Globo, a existência simultânea de sete dimensões ou Globos, dos quais apenas um é materialmente visível. No seu conjunto formam uma Cadeia que agrupadas em ciclos de 7 definem uma Ronda em que foram percorridos 49 Globos. A doutrina postula que cada planeta evolui durante sete Rondas estando o nosso planeta a atravessar o período correspondente à 4ª Ronda. Os Puranas hinduístas designam os Globos por Dvipas sendo a Terra conhecida por Jambudvipa.


II Diagrama

Diagrama interpretativo de Globos terrestres baseado em Geoffrey Farthing (5)

Upadhi significa veículo. A,B e C são veículos de G, F e E.



Esta estrutura toma por base que cada planeta é um organismo vivo (próximo do conceito Gaia) que durante éons de tempo evolui desde uma forma densa (D) até a uma subtil (A e G). Ou seja, este diagrama e os conceitos nele expresso nada tem haver com a evolução biogénica que até agora expusemos. Poderemos dizer que a evolução do planeta obedece a 4 planos de manifestação, onde o Plano Físico da Terra (a matéria fermiónica) ocorre sobretudo no presente éon, não deixando, no entanto, de evoluir nos outros planos dos Globos existentes noutras dimensões. Como se o espaço fosse ocupado simultaneamente por 4 campos de natureza quântica.

Assim as outras 4 dimensões referidas no II Diagrama, ou “Planos da Manifestação”, poderiam ser consideradas como sendo de natureza idêntica aos campos quânticos, a saber o campo electromagnético (no diagrama C e E) que está ligado presentemente aos efeitos dos campos eléctricos e magnéticos terrestres, o campo das forças fracas, (B e F) ligado aos fenómenos de degradação radioactiva geradora do calor interno do planeta, controlando o “humor” do planeta através da sua actividade vulcânica e tectonicidade, e finalmente o campo das forças nucleares fortes que mantêm o planeta coeso como um corpo único (A e G) e ligado ao denominado “Plano dos Arquétipos”, que sempre constituiu fonte de reflexão para a Filosofia, desde Platão a Kant.

III Diagrama


Em todas as mitologias de carácter religioso, o espírito para evoluir tem necessidade de descer à matéria e na sua evolução voltar a deixar a matéria. Estes dois ciclos estão impressos no dualismo do diagrama da evolução dos Globos Planetários da Teosofia, nos conceitos hinduístas do ciclo Rajas-Sattva-Tamas ou na filosofia Taoista no Yin-Yang.

O IV diagrama representa a evolução histórica e futura dos Globos durante éons passando pelos diferentes planos da Constituição Septenária e que globalmente abrange 4 Globos Átmicos, 8 Globos Bhúdicos, 12 Mentais Superiores (Manas superior), 12 Mentais Inferiores (Manas inferiores), 8 Globos Astrais e 5 Globos Físicos. Significa que os corpos celestes nomeadamente os planetas só aparecem materialmente constituídos nas 3ª, 4ª e 5ª cadeias.

Tendo em conta o mesmo diagrama, o Homem tem um plano Atma veículo do plano Kama-manas (A+G), um plano Budhi veículo do Linga sharira (B+F), um plano Manas veículo do energético ou Prana sharira (C+E), e finalmente um plano físico ou Stulasharira veículo de todos os outros (D), perfazendo assim a Constituição Septenária no Homem, representando a ligação do Ternário com o Quaternário (3+4).

IV Diagrama (5)


Neste corpo doutrinário a Humanidade evolui de acordo com as Rondas sendo atribuída a noção de Raça, que nada têm a ver com o conceito racial, mas aos estádios evolutivos da espécie em que as características espirituais seriam cada vez mais apuradas, despertando as nossas capacidades internas e ocultas. Assim nós estaríamos actualmente, e maioritariamente, a atingir a 5º Raça, a Ariana. A 3ª Raça teria sido a do continente Lemuriano (o “Hobbit” da ilha das Flores, Indonésia ou o Homo luzonensis nas Filipinas seriam os seus descendentes) e a 4ª, aquela relativa aos gigantes do continente da Atlântida descrito por Platão e construtores do megalitismo presente em todas as antigas civilizações da Terra e nas suas mitologias.

Fundamentalmente esta concepção da Vida e da sua natureza não atribui propriamente uma origem ou começo, muito menos um acto de criação, mas um ciclo contínuo de transformação onde a existência de um vector na evolução define os impulsos internos da própria natureza, os tais arquétipos. Deste modo, a Terra e os restantes planetas pré-existiam sob a forma de Globos fisicamente invisíveis, em dimensões quânticas como arquétipos antes mesmo da formação material do Sistema Solar. Pressupõe-se então, que a actual existência física dos planetas foi antecedida por formas não materiais (no sentido fermiónico do termo) onde deveriam prevalecer campos quânticos que definiriam o futuro da sua natureza. Não deixa de ser uma teoria absolutamente inovadora e que se enquadraria sem dificuldade nas actuais hipóteses da cosmologia e da astrofísica quando advogam razões fractais e holográficas e sistemas hierárquicos na formação do Universo.

Ponto de possível encontro entre a ciência e estes conceitos teosóficos é o postulado compartilhado do aparecimento simultâneo da vida em diversos corpos planetários no sistema solar. Vejamos então o estádio das Rondas e dos Globos nestes éons temporais para os planetas telúricos.

Segundo este esquema, que foi basear-se nas milenares Estâncias de Dzyan, na Cabala Hebraica e no Budismo do Norte, primeiramente tem formação o planeta não-material (fases A e B) pelo surgimento de extensos campos toroidais eléctricos criados pelos vórtices de plasma das ejecções de material coronal da estrela em formação (o Sol). A agregação de material nebular em consonância com estes campos toroidais, conduzem à formação de um corpo esferóide, e só depois de existir massa crítica necessária se inicia o processo de criação do campo toroidal magnético interno (fase C) - seja pelo crescimento acelerado de um núcleo metálico de ferro e níquel, seja pela criação de bolsas magmáticas e circulação de fluidos magmáticos e mais tarde pelo surgimento de um sistema de placas tectónicas. Inicia-se a actividade vulcânica nesta fase que é a expressão maior deste Globo onde se criam as condições bióticas para o aparecimento da vida (fase D). Todas estas fases duram éons de tempo – manvantaras e pralayas planetários, sobre as quais iremos reflectir mais à frente.

Ora é sabido que Vénus possuiu oceanos e um campo magnético forte tendo havido condições para ter surgido vida, que logo desapareceu pelo atroz efeito de estufa. É o planeta mais antigo a manifestar vida e encontra-se na 5ª Ronda, segundo a Teosofia. O futuro longínquo da Terra, que se encontra na 4ª Ronda será então algo semelhante ao actual ambiente venusiano?

Marte teria 1/3 da sua superfície ocupada por oceanos, uma ténue atmosfera, mais densa que a actual, mas um campo magnético extremamente fraco que não protegeu as primeiras formas de vida. No entanto presentemente situa-se na 4ª Ronda.

A Terra, ao ter sido impactada por Theia, adquire um núcleo interno, um acréscimo de água, placas tectónicas, ganha uma lua que cria sinergias com o planeta e tem assim condições para que a vida vingue e evolua estando na 4ª Cadeia assim como Marte. Seria, portanto, possível voltar a acelerar o aparecimento de vida em Marte, talvez pelo processo de terraformação de acordo com alguns projectos ficcionistas de engenharia planetária.

Segundo a Teosofia a Lua é definida como um resíduo de Globo muito maior, que foi o planeta físico da 3ª Cadeia mantendo a mesma posição na 3ª Cadeia que aquela mantida pela Terra na 4ª Cadeia e que irá desaparecer no futuro (na 7ª Ronda). Nisto a coincidência parece ser total.

Interessante verificar que tanto Júpiter como Saturno, se encontram na 3ª Cadeia levando a crer que os processos bióticos ainda não estão em curso, mas que poderão ter-se iniciado nas suas luas Titan, Europa, Encélado, e que poderão corresponder aos 3 “Esquemas Sem Nome” que existem no diagrama da estrutura do Sistema Solar e que a Teosofia nem Blavatsky conseguiram definir, referindo apenas que eram planetas que ainda não existiam.

Na actual 4ª Ronda a Teosofia acrescenta que a Terra, Mercúrio e Marte possuem as mesmas características físicas, ou seja, possuem núcleos densos de ferro e níquel, água sobretudo nas condições de “permafrost” ou em glaciares nas zonas polares, o que coincide também com o actual conhecimento sobre a estrutura interna destes planetas. Marte inclusive apresenta sismicidade detectada muito recentemente pela sonda InSight da NASA que registou até agora mais de 500 sismos ou martemotos atestando que o planeta é geologicamente activo, apesar de não ter sido confirmada a existência de um sistema de placas tectónicas como na Terra.

Verifica-se então alguma semelhança, em termos gerais, daquilo que a Ciência tem vindo a descobrir e a levantar de hipóteses com os axiomas revelados pela doutrina teosofista e por Helena Blavatsky na sua obra Doutrina Secreta.

V Diagrama

O diagrama representa o Sistema Solar com os seus 10 esquemas de evolução, cada um formado por 7 Cadeias de 7 Globos e as 7 Rondas de cada Cadeia (5)

A concepção dos Globos insere-se numa hierarquia evolutiva em que numa Cadeia um Globo dura um período Manvantárico e a passagem de um Globo para outro medeia éons de tempo designados no sânscrito por Pralayas Planetários. O mesmo se aplica aos ciclos entre Cadeias (Pralaya intercatenário). Sete Cadeias constituem um “Esquema Evolutivo” sendo considerado que o nosso Sistema Solar é constituído por 10 “Esquemas Evolutivos” (V Diagrama).

Cada “Esquema Evolutivo” representa patamares sempre mais evoluídos dos Globos onde a dualidade – construção/dissolução, é o mecanismo de aprimoramento.

As cadeias desenvolvem-se de acordo com a proximidade dos planetas ao Sol e tomam o seu nome. Aqui surge uma possível incongruência com uma cadeia denominada de Vulcano que pressupõe a existência de um corpo mais próximo do Sol para além de Mercúrio. Tal nunca foi verificado o que não invalida a hipótese de tal existência no início da formação do Sistema Solar.

Assim, em conclusão o sistema hierárquico da evolução do Universo, de cima para baixo, desenvolve-se sempre em torno de 7 cadeias que constituem um Esquema de Evolução que é formado nesta lógica por 49 Rondas ou 343 Globos ou Períodos Globais. Isto implica tempo! Éons de tempo até ao infinito.

 

Manvantara ou idade de Brahma ou Manu (Manu no hinduísmo e na teosofia é o criador de universos, mas também um período astronómico) deriva de "Manuantara", "manu-antara" ou "manvantara" e significa, literalmente, a duração de Manu, ou a duração da sua vida.

Assim, um dia e uma noite de Brahma corresponde a um ciclo manvantárico/pralaya, ou seja, de construção e dissolução que corresponde a 8 640 000 000 anos terrestres, o que se aproxima dos valores calculados para a idade do Sistema Solar que é entre 4 571 000 000 e 5 000 000 000 de anos.

Multiplicar este valor por 365, que é o número de dias num ano, equivale a um ano de Brahma equivalente a 3 110 400 000 000 anos, enquanto um Maha Kalpa que é uma época ou Ciclo de Brahma é aquele valor multiplicado por 100 (ou 311 040 000 000 000 anos) e que segundo Blavatsky corresponde aos períodos de actividade crescente (Mahamanvantara) e decrescente (Mahapralaya) do Universo – a vida de Brahma.

A idade atribuída à nossa galáxia que é tão antiga quanto o Universo é cerca de 14 mil milhões de anos. Logo aqueles valores da doutrina teosófica superam em muito as nossas estimativas actuais, mas são valores a considerar numa teoria como aquela defendida por Roger Penrose e conhecida como CCC – Cosmologia Cíclica Conforme, em que os Universos surgem de outros antecedentes, em ciclos contínuos de construção e dissolução.

 

Conclusão: é estonteante a imensa e complexa estrutura de sistemas elaborados pelas antigas doutrinas védicas, expressa nas Estâncias de Dzyan, nos Puranas, no Bhagavad Gita, nas quais se basearam posteriormente as diversas escolas Teosóficas, para explicar o surgimento do Universo, a sua natureza e a sua evolução. Contudo, de forma genérica, como verificámos existem pontos comuns entre os conhecimentos científicos actuais e aquelas elaboradas teorias axiomáticas. Como tal é possível? O acaso é tão forte que modela o pensamento e a busca do conhecimento, agora como no passado longínquo? Uma das hipóteses é considerar que os arquétipos existem e se revelaram aos pensadores desses tempos arcaicos da humanidade, tal como hoje é reconhecido nos “insights”, as epifanias, as intuições de cientistas e filósofos.

Na verdade, o que hoje se constata é que o Modelo Padrão não está completo, que mais de 90% dos constituintes do Universo, referidos como Matéria Escura e Energia Escura, não são conhecidos e que a cada passo dado na investigação surgem mais perguntas que soluções.

 

O nosso propósito foi deixar pistas de futura reflexão, sabendo que a verdade de hoje é a ignorância do futuro, parafraseando Helena P. Blavatsky.

 

Notas e Bibliografia

(1) L. Pianiet al., Science 369, 1110 (2020).

(2) Briony H.N. Horgan, Ryan B. Anderson, Gilles Dromart, Elena S. Amador, Melissa S. Rice,
The mineral diversity of Jezero crater: Evidence for possible lacustrine carbonates on Mars,
Icarus, Volume 339, 2020. 

(3) Chyba C, Sagan C (1992) Endogenous production, exogenous delivery and impactshock synthesis of organic molecules: An inventory for the origins of life. Nature 355:125–132.

 (4) Helena P. Blavatsky, Doutrina Secreta, Volume II, Editora Pensamento, São Paulo.

 (5) Deity, Cosmos and Man by Geoffrey Farthing, Published in the late 1900's, Edição Digital.

 




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