“Até que a gravitação seja entendida
simplesmente como atracção e repulsão magnética, e o papel desempenhado pelo
próprio magnetismo nas infinitas correlações de forças no éter do espaço…”
H. P. Blavatsky, Escritos Compilados,
Volume I (1874-1878), edição 2024
Como já se aperceberam, ao iniciar
este texto com uma citação truncada de H.P.B., mas no entanto plena de conteúdo
suficiente para esta análise, poderão deduzir que foi da leitura desta obra
publicada agora em 2024 em língua portuguesa pelo Centro Lusitano de Unificação
Cultural e Editora Teosófica, que me surgiram as ideias que de seguida
expresso, inevitavelmente formuladas com algum pendor “técnico” do qual
tentarei suavizar sem no entanto desvirtuar o significado do conteúdo.
Em 1971 Roger Penrose, professor
emérito da Cátedra Rouse Beall de Matemática da Universidade de Oxford, laureado
com o Prémio Nobel de Física em 2020, descreveu pela primeira vez aquilo que
hoje é conhecido por redes de spin, descrito pela Física Quântica como técnicas
diagramáticas que podem ser utilizados para representar estados e interacções
entre partículas e campos quânticos.
Deste modo podiam-se representar matematicamente
funções mais complicadas (tais como funções lineares em todas as suas
variáveis), definindo espaços vectoriais topológicos contínuos ou outros
não-lineares, de aspectos geométricos convexos, como o espaço de Minkowski,
também conhecido como a métrica de Minkowski e tido como reflectir
correctamente a nossa existência material.
Esta outra geometria resumia-se à formulação
matemática de como é normalmente concebida a Teoria da Relatividade Especial ou
Restrita de Einstein, publicada pela primeira vez em 1905. Ao invés do
tradicional espaço euclidiano tridimensional, onde reina o sistema de
coordenadas cartesianas, Minkowski (1864-1909), professor de Einstein no
Instituto Politécnico de Zurique, logo em 21 de Setembro de 1908 na sua famosa
palestra “Espaço e Tempo”, na 80a Assembleia Alemã de Cientistas e Médicos, comunicou
que a recém-descoberta teoria da relatividade restrita podia ser apreciada como
uma nova geometria num novo espaço-tempo a quatro dimensões que envolvia
conceitos matemáticos pouco usuais ao tempo, tais como tensores e geometria
não-euclidiana.
Nos dias de hoje, esta é a nossa
concepção comummente aceite do espaço e do tempo, curvados e modulados pelas
massas de corpos estelares e planetários, como se vivêssemos no interior de um
corpo gigantesco de uma lesma ou de uma água-viva. Agora o éter Newtoniano, onde
o espaço e o tempo, cada um por si, infinitos e absolutos, eram substituídos
definitivamente por uma entidade relativistica, o continuum espaço-tempo, esta sim uma entidade absoluta onde o tempo
representava a quarta dimensão.
Com Maxwell (1831-1879) julgava-se
que a luz era formada por ondas de uma substância designada por éter tendo sido
concebidas algumas experiências para provar a sua existência, nomeadamente
através da célebre experiência de 1887 de Michelson-Morley para detectar o movimento
da Terra pelo éter. Contudo nada se conseguiu provar, levando a crer que a
velocidade da luz relativamente à Terra não era afectada pelo movimento desta
em torno do Sol. Já Poincaré em 1902 no seu livro La Science et l’hypothèse (1), colocava em dúvida a existência do
éter e a possibilidade prática de provar a sua realidade.
Como Max Born havia declarado em
1956, na preparação da conferência comemorativa dos 50 anos da Teoria da Relatividade:
“Teoria da Relatividade restrita não foi, afinal, uma descoberta de um só
homem. A contribuição de Einstein foi a pedra angular de um arco que Lorentz,
Poincaré e outros construíram e que viria a suportar a estrutura erigida por
Minkowski.”(2). Acho que se fez justiça!
Entretanto impõe-se esclarecer o que
é spin (designação de “giro” em inglês) e campo quântico. E aqui vem a parte
mais dolorosa da explicação “técnica”.
A hipotética existência do spin foi
introduzida em 1925 por Samuel Abraham Goudsmit e George Eugene Uhlenbeck para
explicar um conjunto de fenómenos como aquele do Efeito Zeemann, do qual não é
nosso propósito adiantar explicações, e só mais tarde em 1927 foi definitiva e
formalmente aceite matematicamente através do método matricial por Wolfgang
Pauli.
Todas as “partículas”, ou aquilo que
hoje se considera ser uma excitação localizada num campo quântico, possuem
spin, inteiro ou semi-inteiro, quantizado e restringido a múltiplos de h/2p,
onde h é a constante de Planck (6,626x10-34 joules por segundo).
Todas possuem spin que é o responsável
final pelas propriedades magnéticas da matéria. Sejam fermiões que constituem a
estrutura do átomo (electrões, protões, neutrões), sejam os bosões que são as
forças que medeiam as interacções entre as partículas e que mantêm a estrutura
agregada dos átomos (fotões, gluões da força nuclear forte ou os bosões W e Z
da força nuclear fraca), todas em conjunto com o bosão de Higgs, responsável
por atribuir massa às partículas e com spin nulo e sem carga eléctrica, formam
o quadro do Modelo Padrão das Partículas Elementares. O caso Higgs é um caso
especial, pois é um campo quântico que contem, por assim dizer, todos os
outros.
É a ligação entre o spin e o designado momento
angular intrínseco que faz surgir o magnetismo e que irá ter implicações no
próximo futuro no tratamento da informação na computação quântica com o
desenvolvimento de algoritmos que irão explorar as propriedades quânticas do
spin – a nova ciência spintrónica.
O conceito de spin associado à ideia
de momento magnético das partículas subatómicas com carga e em rotação, surge
em primeiro lugar derivada da ideia de que o electrão rodava sobre si próprio e
pela experiência de que o deslocamento de uma carga eléctrica (ou uma corrente
eléctrica num fio metálico) produz sempre um campo magnético. Esta ideia
contudo não poderia ser aplicada aos neutrões que não possuem carga. Contudo possuem
momento angular intrínseco (outra designação para o spin). Isto ainda acontece a
certos núcleos atómicos como o Urânio 235. Nestes casos estes momentos
magnéticos, denominados de intrínsecos, relacionam-se com o momento angular das
partículas, e é encarado como mais uma variável, um número quântico, para além
da carga e da massa, que condicionam no seu conjunto os graus de liberdade do
sistema. Isto é evidenciado na prática por fenómenos como a conhecida
ressonância magnética nuclear de que muitos de nós já experimentámos na prática
da medicina.
E no caso do fotão, que não tem carga
ou massa? Este apresenta porém um eixo central de deslocação (MAS – momento
angular de spin, à velocidade de quase 300.000 km/s, a tal velocidade da luz) à
volta do qual rodam continuamente os seus campos eléctricos e magnéticos. É
esta rotação que ao exercer o seu sentido para a esquerda ou para a direita relativamente
ao observador, define a polarização da luz ou da onda electromagnética. Este
fenómeno também é nosso conhecido na aplicação de ópticas, mais concretamente
de lentes polarizadas dos óculos de Sol que bloqueiam a intensidade da luz
solar, protegendo os nossos olhos.
Polarização de uma onda
electromagnética ou da luz e os seus momentos magnéticos respectivos +h ou –h
(h=constante de Planck) e onde as expressões matemáticas dão as 3 componentes
do campo eléctrico. Fonte Wikipédia.
Verifica-se assim que todas as
partículas que giram, rodam ou orbitam outro corpo, possuem movimento angular e
com ele também momento angular. Assim todas as partículas que apresentam
momento angular intrínseco contínuo e deste modo infinito, comportam-se como se
rodassem. Mas se assim fosse, teríamos mais um paradoxo violando a lei da
conservação da energia ou então decairiam sobre si próprias e não existiriam
materialmente. Logo o spin é ilusório e as partículas não rodam! Apenas
comportam-se como se rodassem: “À mulher de César não basta ser honesta, deve
parecer honesta". Júlio César assim o referiu no caso do seu divórcio com
Pompeia.
Aqui o caso revela contornos diferentes:
o que parece, afinal não é mesmo!
Contudo, não parece ser assunto
devidamente assente o caso do actual divórcio comummente assumido entre a
Mecânica Quântica e a Relatividade Restrita ou Especial, porque considera-se
que a existência do momento angular intrínseco (referido como número quântico
de spin e representado pela letra s), deriva afinal de efeitos especiais
relativísticos.
Afinal a grande questão persiste
apenas entre a Relatividade Geral e a Física Quântica! E é neste âmbito que
presentemente as redes de spin são aplicadas à teoria da gravidade quântica por
uma pleíade de grandes investigadores teóricos, tais como Carlo Rovelli, Lee
Smolin, Jorge Pullin, Rodolfo Gambini e ainda muitos outros.
Rede de spin de Penrose. Fonte
Wikipédia.
A rede de spin pode assim ser
caracterizada: cada segmento de linha é um número de spin n onde cada unidade
designada por n-unidade tem um momento
angular nħ/2, onde ħ é a constante de Planck reduzida. Para os bosões (fotões e
gluões), n é um número par. Para os fermiões (electrões e quarks), n é ímpar. Três
segmentos de linha unem-se e formam um vértice (vertex), interpretado como um
evento no qual uma única unidade se divide em duas ou duas unidades colidem e
se unem numa única unidade. Os diagramas cujos segmentos de linha estão todos
unidos em vértices são então designados por redes de spin.
A rede de spin, também conhecida por Gravitação
Quântica em Laços, sendo uma teoria de geometria quântica do espaço-tempo cujo
objectivo é ultrapassar as dissensões teóricas entre a Mecânica Quântica e a
Teoria da Relatividade Geral, constrói o espaço com linhas e nós (vertex) que
reflectem os estados quânticos permitidos. Formam uma rede que transposta para
o espaço-tempo numa perspectiva canónica (do ponto de vista matemático) corresponde a formas diagramáticas
conhecidas também como espuma de spin. Ou seja, representa a quantização do
espaço-tempo à escala diminuta de Planck, a fracção última a que se pode
reduzir a existência material, e constituem uma alternativa à complexa teoria
das cordas para a gravidade, a explicação da entropia para os buracos
negros/brancos e ultrapassada a singularidade introduzida pelo Big Bang acrescida
pela previsão de um universo colapsante anterior (ver teoria CCC – Cosmologia
Cíclica Conformal de Roger Penrose) . Isto não conflitua com a Relatividade
Geral dado que esta não determina a distância entre dois pontos no espaço-tempo
estabelecendo apenas as mútuas relações que existem, entre os campos
gravitacionais e os campos materiais. Aqui dominaria tão só a densidade de 5.1
× 1096 kg/m3, 1023 massas solares contidas num espaço equivalente
a um único núcleo atómico – a denominada densidade de Planck.
Seria lógico que, o espaço-tempo
concebido como uma vasta teia de spins, nos pudesse presentear uma estrutura de
tipologia de campo quântico onde prevalecem momentos magnéticos intrínsecos
inerentes à construção de holonomias, consequência geométrica de curvaturas de
ligação e de fluxos de campos de força produtores de uma espécie de uma cartografia
própria de simetria fractal. Holonomias seriam assim as unidades estruturais.
Holonomia. Fonte Wikipédia.
Esta seria a ideia base por detrás da
estrutura espaço-temporal: um organismo “vivo”, pleno de informação, um campo
quântico covariante contendo os restantes campos quânticos e os fermiões,
potencial gerador e portador do fenómeno de não-localidade designado por
emparelhamento – o milenar conceito de Akasha dos Vedas
Seria formalmente, e de acordo com o
Akasha, o registo de todos os acontecimentos, por ter as características de
meio magnético permeado por Qubits de informação: um computador quântico
universal onde as partículas surgem como uma propriedade emergente do
espaço-tempo quântico.
Poderíamos alicerçar aquele nosso
entendimento com o que H.P.B. nos diz na Doutrina Secreta (3): “Foi o que levou
Demócrito a dizer, segundo o seu perceptor Leucipo, que os princípios ou
elementos primordiais de tudo eram átomos e um vacuum, no sentido de espaço; não, porém, um espaço vazio, pois “a
Natureza tem horror ao vácuo”, conforme os princípios peripatéticos e dos
filósofos antigos em geral.”
Revela-nos por sua vez o Glossário
Teosófico que o Akasha é “a essência supersensorial e espiritual subtil que
permeia todo o espaço; a substância primordial erradamente identificada com o
Éter.” (4)
Conclusão: Algumas veredas serão possíveis na investigação científica, cada vez mais exacerbada pela sua crescente capacidade criativa. Poderão confirmar esta hipótese do espaço-tempo como teia, ténue véu de “espuma de spins”, campo quântico covariante que contem todos os outros e do qual sobressaem constantemente a matéria fermiónica e os colapsos de onda. Destacamos seis:
a) apresentar-se independente das massas que contem e causar efeitos dinâmicos na topologia cosmológica, detectáveis de acordo com aquela sua natureza, ultrapassando a descrição da Relatividade Geral einsteiniana (5).
O spin seria mais uma propriedade das partículas, tal como a carga e a massa, emergente da própria natureza do espaço: um pouco como uma transferência de estado aquando da perturbação do campo quântico de onde surge a "partícula". Tal como o campo Higgs confere massa e como tal tem spin 0.
b) utilizar o campo Higgs como interface entre aquela sua natureza covariante e a emergente da matéria e das respectivas forças que a suportam e estruturam, nomeadamente os campos electromagnéticos e as duas forças nucleares forte e fraca.
c) ser a residência e o âmago de uma “memória”, perene de todos os acontecimentos, traduzida em baixíssimas frequências, constituindo o registo e o meio de informação indestrutível e partilhado que poderá ser acessível e constatado cientificamente, pelo menos matematicamente (6);
d) Justificar e ser o suporte do fenómeno supra-lumínico de não-localidade e não temporalidade do emaranhamento quântico pelo qual tudo no Universo se encontra ligado, num acto de partilha titânico, assunto revelado na nossa dimensão espaço-temporal pelas sincronicidades Jungianas e dos fenómenos de acausalidade da rectrocausalidade situados para além dos cones de luz da geometria de Minkowski;
e) revelar uma estrutura fractal dinâmica tal qual a geometria topológica dos mosaicos não-periódicos de Penrose ou inclinações de Penrose, afinal a derradeira Matriz, a base de todas as leis da natureza uma vez que nelas assentam a previsibilidade dos acontecimentos.
f) perceber num outro âmbito, o microcosmos, o reflexo e as implicações deste espaço-tempo no comportamento das estruturas biológicas, na estrutura da célula e do papel do genoma como ferramenta recorrente pelas mesmas ao interpretarem “forças” geradas por informação topológica e geometria conformal aliada a “sinais” electromagnéticos e de fenomenologia quântica (efeito túnel e sobreposição) na construção embriónica. De acordo com Alfonso Arias (7) “Observando este processo é difícil recusar a impressão de que as células sabem sempre o que fazer e para onde se moverem relativamente umas às outras, para encontrarem as suas posições no espaço de modo que as células de órgãos, como o coração e pulmões, trabalham em conjunto no ajuste das suas ligações.” Como referiu Lewis Wolpert, parece existir uma Informação Posicional, um morfogene gerador da forma nas vastas distâncias do organismo. Em suma, perceber como o espaço-tempo controla o desenvolvimento biológico.
Finalmente, esta seria a grande revolução em direcção à verdadeira e Grande Unificação e o caminho seguro para a elevação espiritual da Humanidade: finalmente o Todo reunido no Um.
Bibliografia e Notas
(1) H. Poincaré: La Science et l’hypothèse. Flammarion, 1968.
(2) M. Born: Physics and Relativity. In A. Mercer and M. Kervaire (eds.): Jubilee of Relativity Theory, pp. 244–260. Birkhäuser, 1956.
(3) H. P. Blavatsky, A Doutrina Secreta, Volume I – Cosmogénese, Editora Pensamento-Cultrix Ltda, 2020, pp. 123.
(4) Helena Blavatsky, Glossário Teosófico, a versão original e póstuma de 1892, editada por George Mead, Centro Lusitano de Unificação Cultural, Colecção Omnia.
(5) Richard Lieu, The binding of cosmological structures by massless topological defects, Monthly Notices of the Royal Astronomical Society, Volume 531, Issue 1, Junho 2024, Páginas 1630–1636, https://doi.org/10.1093/mnras/stae1258
(6) https://youtu.be/97Fe3voDxnM?si=kKAo-6kOm9-WqySe
(7) Alfonso Martinez Arias, The Master Builder, How de new science of the cell is rewriting the story of life, John Murray Press, Basic Books London, 2023
H. P. Blavatsky, Escritos Compilados, Volume I (1874-1878), Centro Lusitano de Unificação Cultural e Editora Teosófica, Edição 2024.
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