segunda-feira, 24 de maio de 2021

O Modelo Padrão e os 36 Tattvas

Creative Commons Licence. De Pete Linforth do Pixabay.

 

O cientista não estuda a Natureza como um objectivo utilitário.

Estuda-a porque disso retira prazer; e retira prazer porque a Natureza é bela.

Se a Natureza não fosse bela, não valeria a pena estudá-la, e não valeria a pena viver a vida.

Henri  Poincaré (1)


 

A Física explica todos os acontecimentos objectivos e fenoménicos criando um quadro global onde se insere todas as partículas que constituem a matéria e as forças que a regem. Este quadro é denominado Modelo Padrão e contempla 61 partículas agrupadas em duas categorias principais – os fermiões e os bosões. Constituem os primeiros os electrões, os neutrinos (denominados leptões) e os quarks que formam os protões e os neutrões dos núcleos atómicos – os nucleões, onde predominam 3 gerações de partículas com 3 versões de electrões (para além do electrão existe o tao e o muão) e 3 versões de neutrinos que se transformam uns nos outros. Os segundos, os bosões, são as forças que fazem interagir entre si os fermiões, a saber os fotões (do campo electromagnético), os gluões (do campo nuclear forte) e as partículas W e Z (campo nuclear fraco) e ainda o Bosão de Higgs (que confere massa a todos).

Mas qual a razão da existência de 61 partículas? Poderemos dizer que quase todas derivaram de resultados experimentais (por exemplo o caso dos electrões e dos nucleões) mas muitas outras foram deduzidas conceptualmente em edifícios teóricos, de grande complexidade matemática, tais como foram os hipotéticos bosões W+, W- e Z0, o bosão de Higgs ou as anti-partículas.

Por detrás desta complexidade matemática existiam princípios envolvendo três ordens de critérios: o princípio de Simetria – a U(1) para o electromagnetismo, a S(2) que descreve a força nuclear fraca, e a S(3) que descreve a Cromo Dinâmica Quântica (QCD) dos quarks ou a Força Nuclear Forte. A U(1) e a S(2) juntaram-se posteriormente formado um corpo teórico denominado Electro Dinâmica Quântica (EDQ).

Os quarks (u,c,d,s,t e b ou up, charm, down, strange, top e bottom ou estranhamente os designados “6 sabores”) associam-se em grupos de três “cores”: vermelho, verde e azul, podendo transformar-se uns nos outros (3x6) mais as suas anti-partículas os antiquarks, que são indicados por uma linha sobre o símbolo para o quark correspondente (18x2). No total são 36 partículas (3x6x2).

Na arquitectura da Simetria surgem outras duas componentes: a carga e o momento magnético ou spin que vão explicar quase tudo e compor o Modelo Padrão. O spin resulta de uma carga quando associada a uma rotação para a esquerda ou para a direita gerando um momento magnético designado ora por spin-up ora por spin-down – esta é a origem da Simetria S(2) inerente à força electromagnética.

Os leptões em número de 12, compostos pela família dos electrões e neutrinos - cada uma nas suas 3 versões sempre mais pesadas, - e acompanhadas pelas suas anti-partículas, tem os electrões para constituir a nuvem de energia em torno dos nucleões dando corpo ao átomo (ou do anti-átomo), pelo Princípio de Exclusão de Pauli que afirma que dois electrões com o mesmo spin não podem ocupar numa orbital a mesma posição. Este princípio evita que ao sentarmo-nos não interpenetremos na cadeira ou passemos através das paredes.

Figura 1 – Modelo Padrão Completo. Notar que o mediador gluão (g) corresponde a 8 variedades independentes, perfazendo o conjunto de matéria, antimatéria, mediadores e bosão de Higgs, um total de 61 partículas.


Electrões e neutrinos têm os mesmos spins mas contudo diferem na carga (neste caso não existe simetria para a força electromagnética) e utilizam os bosões da força fraca para se transformarem uns nos outros. Ou seja a força fraca não distingue electrões e neutrinos, sendo simétricos neste âmbito, processo essencial ao funcionamento de todas as estrelas. Esta é a base da Electro Dinâmica Quântica (QED) que une as duas forças num único campo quântico - a Força Electrofraca.

Ou seja, existe simetria no spin mas não na carga (o neutrino é neutro), o que permite no Big Bang, a natureza estruturar-se logo de início com a constituição de um núcleo atómico simples, criando os primeiros átomos de hidrogénio e hélio, e ao mesmo tempo, com isto, permite também o futuro nascimento e funcionamento das estrelas. Esta dualidade, spin - momento magnético/carga tem uma importância fundamental na construção do Universo. Nos primeiros 3 minutos após aquilo que se considera ser o Big Bang formaram-se os átomos de hidrogénio e hélio que são na verdade basicamente protões e neutrões – é a Simetria S(3) a funcionar. O universo no início não tinha a capacidade para fabricar elementos mais pesados e complexos porque a sua expansão acelerada diluía a concentração de partículas elementares. Foi preciso surgirem as estrelas massivas para que se iniciasse a formação de núcleos atómicos mais pesados para além do hidrogénio e do hélio. O processo da Nucleosíntese iniciada nas estrelas massivas e nas supernovas depende então da Simetria S(2) gerada pelas forças da Electro Dinâmica Quântica onde se aliam a Força Electromagnética e a Força Nuclear Fraca.

Parece existir assim um processo gradual e preciso como se fosse orientado por uma antevisão na conformação das forças necessárias para que o Universo resultasse. Esta antevisão, que alguns acreditam serem os Arquétipos, tem a sua lógica dado o Espaço-Tempo estar em formação. Não existiríamos se tal não fosse, corroborando mais uma vez o princípio antrópico forte.

Esta antevisão vai no entanto continuar a acompanhar e a manifestar-se no futuro do Universo consubstanciada por dois fenómenos. O primeiro pelo Pêndulo de Foucault ao revelar um Grande Atractor formado pelas massas dos Super Aglomerados de Galáxias situadas a milhares de milhões de anos-luz, atestando que o Universo se comporta como um Todo. O segundo, pela experiência EPR (Einstein-Podolsky-Rosen) que demonstra que dois fotões com a mesma origem comum continuam interligados por mais distantes que se encontrem um do outro, em extremos opostos do Universo, fazendo sempre parte da mesma realidade e eliminando a ideia de localidade.

Portanto, aquele conceito de antevisão primordial envolvendo o desdobramento das forças nucleares forte e fraca e a electromagnética, compactua, na nossa opinião, com o Ternário da filosofia védica (Atma, Budhi, Manas) em que do seu seio, um daqueles seus três vectores, o Espaço-Tempo granular, como “espuma de spins” inicia a gestação do Quaternário constituído pelas três referidas forças e pelos Fermiões ou matéria. Daí também a precisão das Constantes Físicas que não variam no espaço e no tempo, não possuem o sentido de localidade adaptando-se e transformando-se. São em número de uma quinzena, desde a carga eléctrica elementar, as massas do electrão e do protão, a constante de gravitação, a velocidade da luz no vácuo, até á constante de Planck. Calcula-se que a precisão é da ordem de 10-60. Ou seja se alterarmos um algarismo à sexagésima casa decimal, o Universo torna-se estéril e deixa de existir. Leva-nos a crer que esta regulação precisa aliada ao Universo pulsando como um Todo, são as condições necessárias e suficientes para gerar um organismo onde as redes do tipo neuronal dos Super Aglomerados, as estruturas de larga escala e a circulação de informação por “entanglement” são a manifestação física da Vida e da Consciência de que fazemos parte, como reflexo ou e estrutura fractal, através da nossa Constituição Septenária.

Valendo-nos apenas das estruturas conceptuais da Física e da Astrofísica, somo levados à descoberta da ligação indubitável do micro e macro cosmos, do infinitamente pequeno representado pela Mecânica Quântica com o infinitamente grande da Cosmologia. Contudo esta união já havia sido expressa alguns milhares de anos antes nos textos dos Upanishads, no Bhagavad Gita ou nas Estâncias de Dzyan assim como em muitos outros textos filosóficos.

Por agora importa reter que na base da constituição da matéria existem 36 partículas – os quarks (3x12) que interagem entre si (a tal Cromo Dinâmica Quântica) através de 8 gluões que definem a Força Nuclear Forte (a QCD implica a existência de oito tipos independentes de gluões).

Nos Vedas existe um corpo de doutrina em torno daquilo que é dado conhecer por Tattvas.

O seu significado nas doutrinas ocultistas, bem como nas reflexões de Helena Blavatsky, Tattva ou Tatwa em sânscrito refere-se ao "Aquele" eternamente existente e também aos diferentes princípios ou forças da Natureza ou a substância de que está formado o universo e que o sustem onde prevalece o conceito de unicidade do mesmo.

Tattva tem outras derivações no sânscrito, a saber Tattvatâ que significa verdade ou realidade; Tattvatas ou segundo a verdade ou realidade ou ainda segundo a verdadeira natureza das coisas; Tattvâvabodha ou percepção da verdade; Tattvavid como conhecedor da verdade, da essência ou da verdadeira natureza das coisas.

Tattvas são sete princípios na filosofia esotérica definidos na obra de filosofia da escola Sânkhya, a Tattva Samâsa de Maharshi Kapila, onde ali são definidas as forças subtis da Natureza. Diz o autor que os Tattvas são as cinco variantes ou estados vibratórios do “Grande Alento” ao originar a natureza material (Prakriti). Assim o primeiro estado vibratório funcional saído da evolução de Parabrahman é o Akâsa Tattva ou o Tattva do Éter, seguindo-se por ordem de sucessão o Vâyu Tattva ou Tattva do Ar, o do Fogo ou Tejas Tattva, o da Água ou Apas Tattva e por fim o da Terra ou Prithivî Tattva. Indiscutivelmente uma ligação profunda à concepção filosófica dos estados e da constituição do universo da antiga Grécia, do Egipto Helenístico, de Aristóteles e da Idade Média, perpassando épocas e civilizações até aos nossos dias com os cinco estados físicos da matéria: sólido, liquido, gasoso, plasma e condensado de Bose-Einstein.

Contudo a ideia em torno de Tattvas correspondente ao número e qualidade dos seus componentes não apresenta convergência de opiniões nas múltiplas escolas de filosofia hinduísta, da filosofia do Hata-ioga ou da Tântrica com ligações ao conceito de chacras. No entanto vamos ater-nos, pela sua complexidade e completude, às filosofias Samkhya com 25 Tattvas e Shaivism com os seus 36 Tattvas ou ainda a escola Shaktya e diversos Rishis, como Agastya, Durvasa e Parashurama.

Os Tattvas, como blocos estruturantes do Universo, possuem uma hierarquia própria. Desenvolvem-se em três grandes fases: a corrente Para-Shiva ou dos 5 Tattvas Puros, a corrente Para-sakti ou dos 7 Tattvas Puros-Impuros e a corrente Asuddha dos 24 Tattvas Impuros.

Os 5 Tattvas “puros”, representam a criação não-dualista saída directamente do Parabrahman, o “Grande Alento” ou do Uno. São nomeadamente, formando a corrente Para-shiva ou Suddha, o Shiva-tattva ou Consciência e o Shakti-tattva ou Conhecimento, da união dos quais vão surgir posteriormente o Sadasiva-tattva ou Entendimento, representando o princípio Tamas, Isvara-tattva ou Desejo, representando Rajas e o Suddha vidya-tattva ou o Entendimento-Desejo em equilíbrio Sattva, de acordo com o princípio dos Gunas, ciclo de equilíbrio e de renovação dos Trigunas.

Figura 2 – Tattvas Puros: a partilha de Shiva-Sakti e o ciclo Triguna.


Do Sakti-tattva surgem outros 7 Tattvas geradores da corrente Para-sakti ou Suddha-Asuddha, “puros-impuros” ou elementos de transição, nomeadamente Maya, Kãla, Niyati, Raja, Vidya, Kalã que significam respectivamente os limites impostos definidos como a Ilusão que surge da limitação temporal, a limitação espacial, o “desejo” como limitação, o “saber” limitado e o “poder” limitado.

Figura 3 – Tattvas do processo de transição.

 Nesta cascata de desdobramento de princípios dos mais elementares e subtis em direcção á matéria ainda existem outros 24 Tattvas, os “impuros”, geradores da corrente Asuddha, estes já ligados de forma directa ao mundo material, na esfera animal e humana: Purusa-tattva (a alma individual) que ainda faz parte dos 7 Tattvas da corrente anterior mas inserida em Prakrti-tattva (a energia da alma), Buddhi-tattva (a inteligência ou intuição), Ahamkara-tattva (o falso ego) e Manas-tattva (a mente) onde os últimos 3 evoluem ciclicamente entre si de forma equilibrada e renovada, onde Budhi é Sattva, Purusa é Tamas e Manas é Rajas de acordo com o princípio basilar dos Trigunas.

Figura 4 – Gráfico dos Trigunas da corrente Asuddha.

Suportam as famílias de electrões e neutrinos com as suas 3 variantes de massa crescente.



Figura 5 - Trigunas, onde o Círculo representa o Universo e o ponto central, a singularidade, o Uno.

Similitude com o conceito Taoista Yang-Yin.


Outros Tattvas existem para além destes já enunciados, mas já conectados aos aspectos físicos (do 17 ao 26), aos aspectos psico-somáticos e da sensibilidade animal (do 27 ao 31) e aos aspectos do próprio estado da matéria (do 32 ao 36, onde estão incluídos o “éter” ou espaço designado por Akasa, o “fogo” ou plasma, o “ar” ou gás, a “água” ou o liquido e “terra” ou o sólido).

Outras ligações têm sido encontradas revelando a importância do número 36. Uma delas acontece em particular com o actual signo da Balança ou Libra designado no sânscrito por Tulâ, que quando representado pelo valor numérico das letras equivale a 36, exactamente o número declarado de Tattvas. O que nos leva a supor a existência de outros significados ocultos para os signos e que nada tem a ver com as constelações.

Também 36 é três vezes 12, ou 12 Tríades ou ainda 9 Tetraktis, considerado um número sagrado entre a tradição da cabala e a escola pitagórica.

Resumidamente, eis os 36 Tattvas apresentados pela filosofia védica, e por diversas escolas hinduístas, e interpretados por nós de acordo com os conceitos actuais da Física Quântica, nomeadamente da Cromo Dinâmica Quântica.

 Primeira Fase (não-dualista):

1. Siva ou Shiva;  2. Shakti;  3. Sadashiva;  4. Isvara;  5. Sadvidya. Estes 3 últimos são uma estrutura cíclica Triguna.

Lembrar que Os Trigunas, ou “modos”, de acordo com o Bhagavad Gita (14.6 – 13), são as três energias fundamentais da natureza, que tudo regem desde a psicologia humana até á formação dos astros. Neste caso Sadashiva, Isvara e Sadvidya formam uma estrutura de três quarks (onde se aplicam literalmente o principio dos Trigunas), que será o protão primordial. É sabido que os protões com uma vida estável de 1033anos, conferem estabilidade aos neutrões, quando a eles ligados. Os neutrões quando sozinhos em 15 minutos tornam-se instáveis.

Segunda Fase (dualista):

6. Purusha ou Alma;

7. Māya – o véu da Ilusão e da Separatividade; 8. Kāla - o véu do Tempo; 9. Niyati – o véu da Causalidade; 10. Kalā – o véu do Ser; 11. Vidya – o véu do Discernimento; 12. Rāga – o véu do Desejo

Terceira Fase:

13. Prakrti Tattva ou Natureza Material;

14. Buddhi ou Inteligência, Intuição, Sattva; 15. Ahamkara ou Falso Ego, Rajas; 16. Manas ou Mente sensorial, Tamas (estes 3 últimos são também uma estrutura cíclica Triguna);

Estes últimos 4 (do 13 ao 16) vão ligar-se ao Antakarana.

Poderemos considerar que as duas primeiras fases representam a criação do universo aos 10-6 segundos, a fase do Condensado Bose-Einstein dos Inflatões e depois do plasma quark-gluão (QGP). Resulta da complementaridade do par Shiva-Shakti, o campo quântico da consciência/informação (de acordo com o Princípio de Landauer) do qual emana a “Luz” (Shakti) ou o Campo Granular do Espaço-Tempo (ver Teoria da Gravidade Quântica em Loop), interferindo com Prakriti através do Antakarana (matéria inercial ou o Campo de Higgs), gerando o movimento (Gravidade?) e a forma (mahat ou o Campo quântico Antrópico Holo-Mórfico) que mantém a harmonia e a ordem no Universo através dos Trigunas Sattva, Rajas e Tamas, que estão na origem dos quarks e bosões da força nuclear forte.

Os 36 Tattvas, na sua descrição aprimorada, lançam um véu que encobre outros significados ocultos, nomeadamente a existência das 36 partículas primordiais, os 36 quarks cujas designações se aproximam espantosamente da nomenclatura dos Tattvas mas também dos princípios axiomáticos surgidos com a evolução posterior com a bariogénese e a nucleosíntese. Refiro-me aos véus da segunda fase onde é criado o Espaço-Tempo e com ele a separatividade com o espaço vazio, a causa e efeito, a relatividade do tempo e do espaço e a natureza sequencial dos fenómenos desdobrados em passado-presente-futuro.

A terceira fase volta a falar-nos da Constituição Septenária nas suas duas componentes: o ternário e o quaternário, unidos pelo Antakarana ou Campo Quântico de Higgs.

Desdobra os princípios base em 4 modelos (do 17 ao 36), os “Rhizômata”, onde vai revelar aspectos sensoriais e psico-somáticos, e ainda o modelo relativo aos estados da matéria, na tentativa de os integrar na vida do dia-a-dia da humanidade, seja através da filosofia Yogue ou Tântrica sob a forma de rituais e preceitos que se vão estender até à medicina Ayurvédica com os seus três tratados fundamentais, Caraka Samhita, Susruta Samhita e Astanga Hridayam. São nomeadamente:

Primeiro modelo (17 a 21): 17. A Sabda ou Audição; 18. Sparsa ou Tacto; 19. Rupa ou Visão; 20. Rasa ou Paladar; 21. Ghanda ou Olfato, formam os cinco sentidos;

Segundo modelo (22 a 26): 22. Vak ou Linguagem; 23. Pani ou Manipulação; 24. Pada ou Deambulação; 25. Payu ou Evacuação; 26. Upastha ou Procriação, constituem os actos motores-sensoriais;

Terceiro modelo (27 a 31): 27. Srotra ou Som; 28. Caksu ou Cor; 29. Tvak ou Forma; 30. Rasana ou Sabor; 31. Ghrana ou Odor, formam os cinco elementos das vibrações sensoriais;

Quarto modelo (32 a 36): 32. Akasa ou Éter ou espaço; 33. Vayu ou Ar ou estado gasoso; 34. Tejas ou Fogo ou plasma; 35. Jala ou Água ou estado líquido; 36. Prithvi ou Terra ou estado sólido, formam os cinco estados da matéria.

Concluindo: A palavra sânscrita Tattva ou Tattwa transmite-nos conceitos de grande profundidade científica (Conhecimento, Shakti) e valor ético (Consciência, Shiva). Composta por duas outras, Tat, que significa Aquilo (o Uno, Deus ou o Hiper-espaço Infinito) e Twam que significa o Tu, o Indivíduo ou o Universo, tem um significado profundo confirmando o axioma de Hermes Trismegisto na Tábua de Esmeralda relacionando definitivamente o Macro e o Microcosmo:

Verdadeiro, sem falsidade, certo e muito verdadeiro:

o que está em baixo é como o que está em cima,

e o que está em cima é como o que está em baixo,

para realizar o milagre da Coisa Única.

 

A constituição Septenária é a base do entendimento de que a matéria, o Universo é pura ilusão. O Universo saído das flutuações quânticas do vácuo (do Caos como Hesíodo revela na sua Teogonia), de um sistema dinâmico que respeita o Princípio da Incerteza (ΔE Δt ≥ ꚕ/2) vai permanecer globalmente até aos dias de hoje com um balanço total de energia, carga e momento magnético oscilando em torno do zero.

Figura 6 – Flutuações Quânticas do Vazio. Wikimedia Commons, the free media repository.

Assim se compreende que a matéria, limitada temporalmente (Kãla) e espacialmente (Niyati), de acordo com a Relatividade Geral, curva o espaço-tempo e o espaço-tempo dita o seu evoluir, e que o “desejo”, o “saber” e o “poder” (Raga, Vidya e Kalã ou a energia, a carga e o momento magnético) se encontram assim também limitados. Estas são as limitações definidas pelos Tattvas de transição Puros-Impuros. Estas limitações que vão caracterizar a matéria ou o Universo são introduzidas na quebra de simetria inicial do Campo Unificado quando surge o Campo escalar do Bosão de Higgs, o Antakarana, que vai conferir massa às 36 subpartículas quarkianas (36 Tattvas), fazendo-as ressaltar do recente criado espaço-tempo granular onde vai evoluir o Condensado Bose-Einstein dos Inflatões e o futuro plasma quark-gluão e onde passa a prevalecer o Campo Quântico da Força Nuclear Forte. Tudo isto na fracção de tempo equivalente entre 10-35 e 10-6 segundos.

A partir daqui surgem os protões e neutrões bem como os electrões e neutrinos, os imortais respectivamente com durações de vida de 1033para os protões e 1024 anos para os electrões com as suas três variantes de massa, como prevêem em geral os Trigunas (figura 3). Formam os primeiros átomos de hidrogénio e hélio. Em 380.000 anos o Universo torna-se transparente, os fotões escapam da prisão da matéria e inicia-se a diferenciação revelada pela Radiação Cósmica de Fundo em Microondas, com as áreas anisotrópicas que vão definir as estruturas de larga escala do futuro. Aos 150 milhões de anos as primeiras estrelas massivas de curta duração começam a nascer pela estabilização das imensas nuvens de hidrogénio e hélio. Agora actua definitivamente o Campo das Forças Electrofracas, espontaneamente e mais uma vez pela quebra de simetria que se especializa com os Campos da Força Electromagnética e Nuclear Fraca.

Assim nasce um Universo sem consumo de energia a partir da espantosa metamorfose do vácuo. Blavatsky afirma: “Na Doutrina Secreta, a Unidade oculta (quer ela represente Parabrahman ou o “Grande Extremo” de Confúcio, ou a Divindade oculta por Phath, a Luz Eterna, ou ainda o Ain Soph judeu) é sempre simbolizada por um círculo ou um “zero” (o Nada absoluto, porque é o Infinito e o Todo), …”(2).

Assim se compreende que a rotura da unidade primordial é indispensável para a manifestação do próprio Universo como confirma a hierarquia dos Tattvas. Fragmentar a unidade é, pois, a chave para perceber o Universo pelo Homem, encontrando-se a si próprio como “Saptaparna”.

 

João Porto e Ponta Delgada, 24/05/2021

 

Notas

(1) Science et Méthode, Flammarion, 1908.

(2) A Doutrina Secreta, Vol. IV, pag. 124, Editora Pensamento, 1980.


 

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