quarta-feira, 9 de abril de 2025

UM MODELO TOPOLÓGICO E O TEMPO HUSSERLIANO DA CONSCIÊNCIA


A estrutura topológica proposta pela Teia Informacional Fundamental (TIF), da qual já expusemos os conceitos principais, pode ter similaridades interessantes com o modelo de Edmund Husserl (1) sobre a temporalidade. No pensamento husserliano, o tempo é estruturado em três camadas ou modos interdependentes: Retenção (passado), Impressão Primordial (presente) e Protensão (futuro). Essas camadas não são separadas, mas interpenetram-se de forma dinâmica, dando forma a uma geometria triangular.

Fig.1 – Modelo Topológico de Husserl


O ápice do triângulo representa a Protensão, ou seja, a antecipação do futuro, a base do triângulo interliga a Retenção (memória do passado) com a Impressão Primordial (o agora). Na sua essência esta estrutura reflecte a unidade dinâmica do tempo na Consciência como acto cognoscível humano, onde o presente é sempre influenciado por “resíduos” do passado e expectativas do futuro.

Deste modo, o diagrama do tempo de Husserl refere-se à representação fenomenológica da Consciência do tempo, particularmente ao modo como experienciamos a passagem do tempo na nossa Consciência. Husserl desenvolveu esta abordagem dentro da sua Fenomenologia da Temporalidade, procurando descrever pormenorizadamente como os eventos são percebidos e retidos na experiência subjectiva.

O que propomos explorar será a adopção daqueles critérios husserlianos na estruturação da Consciência cósmica que emerge da Teia Informacional Fundamental – TIF, partindo do princípio que, se aquele modelo no âmbito fenomenológico do microcosmo funciona, será porque é o reflexo de uma mesma “estrutura” ou modelo no âmbito expandido do macrocosmo.

A geometria do tempo com Husserl desdobra-se em duas componentes: uma linha horizontal do “fluxo do tempo” (A, C) e uma outra vertical do “tempo presente” (C, A´). Do “colapso” entre as duas por ligação entre ambas (decaimento A, A´ e B, B´) surgem superfícies triangulares que representam o passado (a memória), que se desenvolvem continuamente resultante da confluência dinâmica entre aquelas duas linhas. O vértice (C) representa o presente como um momento cuja existência é momentânea e realizada em nanossegundos, diríamos nós, talvez em tempos de Planck (10-44 segundos).

Do lado oposto podemos considerar o desenvolvimento da Protensão (o futuro), cuja geometria triangular se desenvolve em “oposição” à primeira. Isto é, a sua base continua a ser a linha do “fluxo do tempo” (C, E), mas na continuidade da linha do presente agora desenrola-se outra linha (C, E´) sua oposta que ao “colapsar” com a primeira cria outras superfícies triangulares representando o futuro (as pro-memórias). O presente desenvolve-se, de forma pontual, na confluência daqueles dois vértices (C).

Fig.2 – Diagrama husserliano

Estas múltiplas superfícies triangulares correspondem a secções temporais dos “cones de luz” (2)slices, que se desenvolvem no passado (por Retenção) e no futuro (por Protensão), e do ápice dos quais surge o presente (a Impressão Primordial). As memórias (e as pro-memórias) resultam neste modelo do “decaimento” entre duas linhas temporais: a do “fluxo do tempo” e a do “tempo presente”, gerando infinitas topologias triangulares que são coerentes apenas se mantiverem os seus nodos de ligação.

 

Fig. 3 – Cones de Luz


Considera-se que o Cone de Luz no espaço-tempo relativístico define os limites causais de um evento em que o futuro e o passado possíveis de um ponto são determinados por esse cone, uma vez que a superfície do cone representa trajectórias à velocidade da luz. Agora imagine-se uma secção triangular feita dentro de um Cone de Luz cujo vértice nascerá sempre no vértice do cone (o presente) e cuja base intercepta a base do cone, como mostra a figura 3. Façamos o mesmo para o cone do futuro. As secções resultantes formam dois triângulos causais internos, delimitando um domínio de coerência temporal da Consciência que pode ser visto como o "domínio fenomenológico" de um observador, dentro das possibilidades causais do Cone de Luz.

Aquelas secções triangulares insertas no Cone de Luz representam slices ou "fatias" de tempo consciente, que ao mesmo tempo permitem modelar a interioridade da experiência temporal dentro da estrutura espaço-temporal objectiva, oferecendo assim uma ponte entre a fenomenologia (tempo vivido) e a relatividade (tempo geométrico), constituindo um “armazém” de informação, fonte das memórias (com semelhanças ao Akasha védico).


Triângulo de spins e a estrutura temporal de Husserl


Na teoria quântica, especialmente em sistemas de spin frustrado, temos configurações triangulares onde três spins interagem de forma que nenhum deles pode minimizar completamente a sua energia. Esse fenómeno leva a superposições e correlações não-locais, características da coerência quântica. Este o significado de spin frustrado.

Agora, se aplicarmos este fenómeno de spins frustrados ao conceito da TIF e à fenomenologia do tempo de Husserl, como a descrevemos antes, teremos que a Protensão (futuro) torna-se semelhante ao estado de um spin que antecipa uma possível orientação futura, a Impressão Primordial (presente) transforma-se num estado "colapsado", ou ao momento imediato da experiência, e a Retenção (passado) ao "resíduo" informacional das configurações anteriores do sistema.

O tempo na fenomenologia husserliana não é fixo, e também neste modelo do triângulo de spins, os estados estão interconectados e indefinidos (a probabilística quântica a funcionar), adquirindo o aspecto de uma teia dinâmica de relações entre passado, presente e futuro. Logo, se pensarmos na TIF como uma rede tridimensional de tetraedros interconectados, onde cada triângulo representa uma face de um tetraedro e os vértices representam estados de spin, podemos estabelecer uma analogia com a estrutura fenomenológica de Husserl, dado que surgem 3 considerações unificadoras:

1.     Vértices como estados de spin - Cada vértice do tetraedro poderia representar um estado temporal fundamental (Retenção, Impressão Primordial, Protensão), mas num espaço quântico onde a informação é distribuída e está correlacionada de maneira não-local.

2.     Triângulos como transições temporais – Os triângulos ao interligarem estados de spin, criam fluxos de coerência entre diferentes momentos (gerando memórias ao darem coerência à informação), lembrando que a Consciência temporal não experimenta momentos isolados, mas sim um fluxo contínuo de conexões entre passado, presente e futuro.

3.     Malha topológica e evolução temporal – A rede de tetraedros, evolui dinamicamente, assim como a experiência do tempo em Husserl, que é continuamente reconstruída pela Consciência. Neste modelo este vector evolutivo implicaria mudanças nos estados de spin locais, reflectindo variações no enfoque e na organização do tempo.

No nosso modelo com spins da teia informacional, cada triângulo entre estados 𝑆1, 𝑆2, 𝑆3, deverá ser interpretado como uma secção “activa”, uma espécie de corte epistemológico ou salto quântico, dentro de um Cone de Luz, e a malha total de tetraedros a estrutura através da qual a Consciência propaga coerência fenomenológica no tempo físico.

Deste modo, o modelo de Husserl pode ser visto como análogo fenomenológico da estrutura quântica agora descrita. Se expandirmos essa rede para incluir efeitos de não-localidade e entrelaçamento, poderíamos até explorar implicações para uma compreensão mais profunda da relação entre Consciência e tempo na física quântica com a Teoria da Redução Objectiva Orquestrada (Orch-OR) de Roger Penrose e Stuart Hameroff.

Para tal, bastaria ampliar esta abordagem associando-a a uma estrutura fractal, onde cada instante do tempo se desdobra em múltiplas camadas interconectadas, algo similar às características enunciadas da Teia Informacional Fundamental, onde residem propriedades de não-localidade temporal e de emaranhamento quântico.

Se expandirmos o modelo para incluir a Consciência como um campo quântico interagindo com a estrutura temporal, deverá surgir um operador matemático adicional, representando essa influência, e que deverá modular os acoplamentos entre os respectivos estados.

A equação que traduz esse modelo pode ser escrita como:

H = J12S1S2+ J23S2S3 + J31S3S1

Onde, 𝑆𝑖 são operadores de spin associados aos estados temporais (passado, presente, futuro) e os coeficientes 𝐽𝑖𝑗 representam os acoplamentos entre esses estados.

A influência da Consciência como um campo quântico pode ser expressa pela adição de um operador exponencial do Hamiltoniano: Ψ=𝑒𝛼𝐻 onde α é um parâmetro necessário para regular a interacção da Consciência com a estrutura temporal. Este operador irá agir sobre os estados do sistema, modulando as probabilidades das transições entre diferentes momentos.

 

A Consciência propaga coerência nas Ordens Implícita e Explícita de Bohm


Esta formulação sugere que a Consciência (a Ordem Implícita de Bohm) pode ser interpretada como um Campo que influencia a dinâmica do tempo de forma global, emergindo como uma coerência quântica distribuída na rede (sede de memórias) e da qual emerge por partilha, a Consciência fenomenológica (a Ordem Explícita), graças à existência de uma estrutura física cerebral que sintoniza a Implícita – a estrutura fractal dos microtúbulos da Teoria Orch-OR, (Stuart Hameroff, Roger Penrose, Consciousness in the universe: A review of the ‘Orch OR’ theory, Physics of Life Reviews, Volume 11, Issue 1, 2014, Pags. 39-78).

Neste processo a Entropia terá um papel fundamental no “desdobramento”ou “colapso” inferido pelo Holomovimento bohmiano. Aqui, é a Consciência que provoca o “colapso” e não o contrário. O tempo seria uma função do estado de informação do sistema. O que consideramos ser o "fluxo do tempo" seria uma espécie de “efeito térmico” do entrelaçamento e da desorganização informacional entrópica, passível de ser sujeita a correcções permanentes (o mesmo efeito idêntico àqueles dos cristais quânticos temporais).

A consciência do tempo não seria apenas um “relógio biológico”, mas uma emergência da coerência entre múltiplos ciclos neurais — análoga à coerência angular entre os tripletos de spins. Isso permitiria experiências cognitivas como a distorção temporal (meditação, fenómenos psicadélicos), o déjà vu (ressonância entre Retenção e Protensão) e os insights criativos e da intuição (“colapso” da distinção linear entre os três tempos).

A nível fundamental, poderia haver uma camada quântica de processamento, um "campo da consciência" que se acopla aos circuitos clássicos, regido por uma estrutura tipo spin, que actua como uma engrenagem trifásica temporal. Na neurociência, a ideia do “nanomotor trifásico de spins”, de que trataremos mais adiante, pode ser interpretada como uma analogia fisicalista mas profunda para compreender os ritmos internos da Consciência e a emergência do tempo subjectivo, especialmente quando a Consciência é pensada como uma interface quântica com a Realidade.


Fig.3 – Microtúbulos, polímeros cilíndricos com diâmetro de 25 nm, constituídos por monómeros de tubulina que tem uma estrutura fractal de acordo com a sequência de Fibonacci (3, 5, 8, 13).

 

"O tempo não é um dado absoluto, mas emerge da síntese de retenção e protensão, onde cada momento contém o rastro do passado e a antecipação do futuro.", Edmund Husserl, Zur Phänomenologie des inneren Zeitbewusstseins (Sobre a Fenomenologia da Consciência Interna do Tempo).

Foi desta citação que retirámos a inspiração para a “construção do tempo” como propriedade emergente de um modelo de uma rede quântica informacional onde os estados locais carregam influências passadas e projecções futuras, semelhante ao entrelaçamento temporal. Husserl via o tempo como um fluxo de Consciência estruturado pela percepção e memória, o que pode ser também interpretado como uma forma emergente ou explícita da Teia Informacional.


O tempo como fenómeno emergente da Teia Informacional Fundamental (TIF) em 4 princípios

 

Vamos então considerar estes 4 princípios como âncoras do modelo TIF:

1º - Um princípio fundador afirmando que o tempo não é uma entidade absoluta, mas uma propriedade emergente da dinâmica interna de uma rede informacional auto-organizada — uma teia quântica que incorpora estados de Consciência.

2º - A estrutura da TIF tem por base os nodos quânticos (unidades de informação/Consciência) interligados. Cada nó quântico carrega um estado de spin ou um vector de informação, como num modelo topológico de Campos quânticos. Os vínculos entre os nós quânticos formam triângulos e tetraedros, baseando-se na geometria mínima definida como ligação trina (3).

3º - A emergência do tempo surge como síntese local fenomenológica, que de acordo com a interpretação de Husserl, cada nodo ou nó da teia vive o presente com uma Retenção (passado) e uma Protensão (futuro). O presente torna-se consequência do estado informacional e das relações entre os nodos e será dado pela equação:

Onde:

Ψ(t): representa o estado global da teia informacional (o Campo de Consciência).

H local: é o acoplamento de spins locais (o tempo interno).

H não-local​: são as ligações não-locais (a coerência global, a retrocausalidade).

D[Ψ]: é o termo de dissipação que gera a flecha do tempo (a Entropia emergente).

γ: é o factor de decoerência (interacção com o meio) e i o número complexo.

4º - O tempo surge como fenómeno Auto-referente em que a Consciência actua no papel de “observador” e deste modo co-gerador do tempo, porque cada experiência do presente é um cruzamento informacional entre retenção e protensão (de acordo com a fenomenologia de Husserl). Assim, o tempo é participativo e co-criado.

Não esqueçamos que para Husserl, a Consciência não está no tempo, pelo contrário é a fonte do tempo. Em vez de ser um observador passivo da passagem do tempo, a Consciência constitui o tempo através de três momentos fundamentais que estão sempre presentes na realidade.

Fig.4 – Quatro Princípios da TIF que informam o tempo.

O tempo, neste modelo, não é um fundo de palco onde os eventos ocorrem, mas é tecido junto com os próprios eventos, como uma dança informacional consciente. É um efeito da complexa interacção entre estados quânticos locais, coerência global e Consciência auto-reflexiva, numa topologia fundamentalmente viva e dinâmica.

Vamos esboçar duas abordagens distintas, mas que no entanto podem dialogar entre si: uma equação que represente a evolução temporal quântica e outra que modele a estrutura intencional e temporal da Consciência fenomenológica de Husserl.

O modelo quântico será assumido pela célebre Equação de Schrödinger com a adição de um acoplamento Consciente que vai descrever como o estado quântico de um sistema evolui no tempo:

que, por consequência, vai ser adaptada para reflectir um acoplamento com um Campo de Consciência:

Onde:

H é o Hamiltoniano do sistema físico

C é o operador que representa a influência da Consciência como Campo informacional (pode incluir a coerência global ou a informação contextual).

Ψ(𝑡) o estado do sistema,

i representa a unidade imaginária na matemática

O outro modelo será designado por Fenomenológico Husserliano, que vai reflectir uma Estrutura Tripla da Consciência temporal, inspira-se nos diagramas temporais de Husserl (retenção, percepção e protensão), e será um sistema dinâmico triádico:

Onde:

R(t) é a retenção (passado vivido)

P(t) a percepção (presente imediato)

F(t) a protensão (expectativa do futuro)

α,β,γ são os parâmetros que regulam o fluxo da experiência.

Essa matriz define uma dinâmica intencional do tempo, onde o presente surge da retenção e influencia a expectativa futura, assim definido por Husserl.

Então, estaremos agora em condições de integrar os dois modelos num Modelo Híbrido:

Onde f(R,P,F) representa um operador que modula o Hamiltoniano com base nos estados fenomenológicos internos da Consciência.

 Ou seja, resumindo a operação num diagrama de 3 passos:

Os modelos temporais modernos, especialmente no contexto da física quântica e da filosofia da Consciência, têm vindo a aproximar-se surpreendentemente de certas intuições fenomenológicas, como as de Husserl, expressando a forma como eles dialogam com a ideia de um tempo emergente e relacional como numa Teia Informacional Fundamental.

O quadro relacional que apresentamos, coloca em evidência algumas propostas trabalhadas por nós e faz a comparação dos conceitos do modelo de Husserl com alguns actuais da Física e da Matemática.

 

Conceitos de Husserl

 

Paralelo na Física/Matemática

Impressão, Retenção, Protensão

Spins acoplados ou estados de superposição temporal

Fluxo da consciência

Dinâmica não-local de Campos quânticos

Horizonte de intencionalidade

Amplitude de probabilidade

Estrutura tríplice

Tripletos quânticos

Tempo emergente

Tempo como variável interna de sistemas coerentes


Quadro Relacional

Entre muito outros modelos, referiremos os principais. Podemos destacar o Modelo de Tempo Emergente da Gravidade Quântica proposto na teoria da “loop quantum gravity”, onde prevalece a visão do tempo como entidade não fundamental, já que o Universo é descrito por relações entre eventos (tal como aquele implícito na estrutura nodal numa teia), emergindo a partir de mudanças nos estados quânticos. Sem um tempo externo absoluto, o fluxo é construído pela inter-relação dos momentos, tal como Husserl propõe que o presente é sempre entrelaçado com o passado e o futuro.

A Teoria do Bloco Crescente (Growing Block Universe) propõe que o passado e o presente existem, mas o futuro ainda não existe ontologicamente, pois o tempo é visto como um "bloco" que cresce à medida que o presente se move, espelhando por exemplo a protensão husserliana, que vive da abertura do instante presente ao que ainda não foi.

Outro modelo proposto pelo conceito de Retrocausalidade e do Tempo Quântico Bidirecional como a Two-State Vector Formalism (Aharonov, Vaidman), estabelece que os estados quânticos são definidos por condições tanto no passado quanto no futuro, ou seja o tempo não é linear, mas tecido por vectores de influência em ambas direcções, que mais uma vez se assemelham às condições de Husserl relativas à retenção e protensão.

Ainda temos a teoria do Tempo Relacional proposto por Carlo Rovelli onde o tempo também é relacional e não absoluto. Os eventos existem relativamente uns aos outros, e o "agora" é uma convenção emergente, algo que se costura numa teia de correlações assemelhando-se ao conceito de tempo interno da Consciência como uma síntese subjectiva, tal como Husserl descreve. Para Husserl, em vez de ser um observador passivo da passagem do tempo, a Consciência constitui o tempo através de três momentos fundamentais que estão sempre presentes na realidade.

Também o tempo, proposto pela dupla Alain Connes e Carlo Rovelli, surge como Informação Térmica (Thermal Time Hypothesis) sendo uma função do estado de informação do sistema. Aqui reconhece-se que o "fluxo do tempo" seria um efeito térmico do entrelaçamento e da desorganização informacional, ou seja a percepção da passagem do tempo está ligada à assimetria da informação e ao crescimento da entropia (ou desordem).

Em resumo, Edmund Husserl oferece uma cartografia fenomenológica do tempo, que pode hoje ser reinterpretada matematicamente, em modelos quânticos e topológicos. Antecipou a noção de que a estrutura do tempo está codificada na própria Consciência, tal como um Campo quântico informacional fundamental com uma geometria própria.

 

Tripletos de Spins como “nanomotores trifásicos” à escala de Planck

 

Numa abordagem final e mais fisicalista, que nos permita uma visão materializada destes conceitos, poderíamos comparar os tripletos de spins a nanomotores à escala de Planck (ou aproximadamente a essa escala).

Se tomarmos o triplo acoplamento de spins (passado-presente-futuro, ou S₁, S₂, S₃), e o concebermos como um circuito mínimo gerador de uma dinâmica interna, poderia ser comparado a um nanomotor trifásico com características muito específicas, funcionando à escala de Planck.

Feita esta analogia, vamos correr o risco de propor uma base comum para os seguintes elementos:

 Elemento do Modelo

 Equivalente ao Motor Trifásico

 Spins S₁, S₂, S₃

 Bobinas ou fases do motor

 Acoplamentos J₁₂, J₂₃, J₃₁

 Interacções de fase que criam rotação

 Energia quântica local

 Potencial de entrada (uma tensão mínima de Planck?)

 Evolução do estado

 Movimento ou rotação interna

 Holomovimento

 Campo gerador da rotação ou um "Campo do rotor quântico"

 Tempo

 Efeito que emerge da "rotação" coerente entre os estados


Cada tripleto de spins comportar-se-ia como uma célula dinâmica de tempo, girando numa frequência fundamental, o pulsar ou quantum de duração.

Essa rotação seria trifásica, ou seja não linear, e por consequência geraria um vector de direcção temporal, isto é, um tempo orientado dentro da malha do espaço-tempo.

Em grande escala, a coerência entre milhares de milhões desses "nanomotores" formaria a estrutura do tempo contínuo que nos é dado perceber.

 À escala do microcosmo de Planck, cada unidade tríplice giraria com uma frequência associada à energia de Planck (~10⁴³ Hz), originando o ritmo fundamental da Realidade.

Esta visão vai de encontro aos conceitos modernos de que o espaço-tempo não é contínuo, mas emerge de unidades discretas de informação e interacção, em que cada tripleto de spins poderia ser a menor unidade dinâmica, semelhante a um rotor temporal fundamental que vibra na malha quântica da realidade.

Fig.5 - Representação do nanomotor trifásico à escala de Planck, comparável ao tripleto de spins gerador do espaço-tempo.

Neste modelo os três vectores de spin 𝑆1, 𝑆2, 𝑆3​ formam um triângulo equilátero, e as interacções de acoplamento 𝐽12, 𝐽23, 𝐽31 são os vínculos dinâmicos entre os nós quânticos.

O movimento interno em sentido anti-horário representa o Holomovimento de David Bohm, e a seta vermelha simboliza a emergência da direcção do tempo (aquele percebido passado-presente-futuro).

Esta proposta de modelo fisicalista, fazendo a síntese de alguns conceitos da física quântica com estruturas fenomenológicas como aquela temporal de Husserl, sugere que o tempo possa emergir de uma rotação cíclica de informação à menor escala de Planck, tal como um “motor” elementar, constituinte celular da matriz cósmica da Consciência.

Expandindo o modelo do “nanomotor trifásico” de spins à dimensão de Planck para o contexto cosmológico, o passo seguinte seria propor uma visão onde o Universo, na sua génese e evolução, emerge como uma rede coerente de interacções de spins fundamentais, funcionando como geradores locais do espaço-tempo.

Assim, cada tripleto de spins (passado, presente e futuro) forma uma célula topológica mínima de tempo, como vimos um triângulo dinâmico em rotação. Estes triângulos, conectando-se em tetraedros, formariam uma malha de quantização do tempo e do espaço, servindo como se fossem “átomos do tempo”. Seriam os quantas do tempo!

Fig. 6 - Átomos do Tempo

A rede cósmica tridimensional surgiria da multiplicação dessas células numa rede tridimensional formando um espaço dinâmico que evolui conforme a reorganização permanente dos estados quânticos locais. O Universo seria, então, uma “teia giratória” de ressonâncias que se auto-organiza a partir de condições iniciais quânticas. Mais uma vez, faz-nos lembrar cosmogonias ancestrais.

A fase inflacionária inicial do Universo poderia ser interpretada como uma aceleração de ressonância ou uma transição de fase da rede de tripletos, onde os acoplamentos de spins mudam abruptamente, gerando expansão geométrica por coerência angular não local – a explicação para as flutuações quânticas do vácuo, que segundo alguns cosmologistas, estariam na origem do Universo.

Por sua vez a gravidade mais não seria que um defeito topológico. As ondulações ou imperfeições na rede de tripletos gerariam curvaturas, interpretadas como gravidade, explicando abordagens como as de Verlinde ou da gravidade quântica em laços, assim como as ideias subjacentes da gravidade como emaranhamento holográfico ou defeito topológico de spins.

O tempo, encarado do ponto de vista cósmico, apresentar-se-ia como uma frequência de ressonância global. Emergiria da frequência dominante da rede, gerada pela média dos “giros” dos tripletos. As flutuações locais naqueles “giros” causariam dilatação ou contracção temporal, correspondendo às variações registadas do tempo relativístico.

Não sei se este modelo será verdadeiro ou se representa de forma aproximada a realidade. Contudo, sei que representa a minha busca pela verdade e encontrei nele alguma beleza que me cativou a expô-lo. Fico pela assumpção de que a divagação filosófico-científica constitui uma abordagem importante.

 

Post scriptum

 

Estávamos a dar por terminado este assunto, quando nos chegou de novo à mente a lembrança da obra de Júlio Verne, “Paris no século XX”. Nesta obra ficcionista, escrita em 1863, mas só publicada em 1994, 131 anos mais tarde, porque o seu editor, Pierre-Jules Hetzel, não a considerou credível e perspectivou vendas muito fracas.

Descreve uma Paris de 1960 e uma civilização tecnologicamente avançadas, com automóveis (onde antevê o motor de combustão com um pormenor incrível), redes eléctricas, telecomunicações, correio electrónico, TGV, décadas antes de sua materialização real, e que surpreende pela sua informação científica consistente e sobretudo pela sua actualidade como antecipação sociológica (2025).


A visão de Júlio Verne parece confirmar algo que hoje associamos à "visão remota" (remote viewing), ou seja, uma forma de percepção não-local ou de Consciência expandida no tempo e no espaço, querendo confirmar as nossas propostas.

O fenómeno designado por "remote viewing", explorado por programas militares como o Stargate Project nos EUA, baseia-se na ideia de que a mente pode aceder a informações além das restrições do espaço-tempo clássico, vindo ao encontro das teorias actuais dos modelos quânticos não-locais e de entrelaçamento, agora explorados pela computação quântica, interacções quânticas além da causalidade linear e pela nossa proposta do modelo relativo à Teia Informacional Fundamental.

Este modelo ao acoplar múltiplos tripletos numa rede coerente, cria uma estrutura topológica dinâmica, que permite codificar padrões de memória (retrospectiva), simular projecções temporais (prospectiva) e manter coerência entre regiões distantes da rede (presente expandido) de acordo com o modelo husserliano.

A Consciência (como Campo quântico) unifica a ideia de Holomovimento de David Bohm e à temporalidade subjectiva de Husserl, podendo aceder a regiões do espaço-tempo por um efeito de ressonância topológica.

O que Júlio Verne descreveu naquela obra deverá ter sido uma “captura” visionária arquetípica, originada numa excitação coerente na TIF.

O modelo de tripletos de spins oferece uma linguagem formal para descrever fenómenos subjectivos como antecipação criativa (intuição, insights) e visão remota, propondo que estados futuros podem ser alcançados através de uma topologia quântica coerente da Consciência.

Júlio Verne, neste contexto, pode ter sido um sintonizador sensível a padrões futuros da malha informacional, acedendo-os por estados alterados da Consciência expandida.

 

Notas 

(1) Edmund Husserl (1859 – 1938), foi um filósofo e matemático austro-alemão, considerado o pai da Fenomenologia, uma abordagem filosófica que procura descrever a estrutura da experiência consciente a partir da perspectiva da própria Consciência.

Formado em matemática, desenvolveu uma nova forma de pensar a relação entre sujeito e objecto, rompendo com o empirismo e o psicologismo dominantes na época.

Um dos seus grandes legados foi a sua análise da experiência do tempo. Visto como não sendo um dado externo, mas algo que é constituído pela própria Consciência. Deste modo, propôs um modelo em que a Consciência do tempo envolve três momentos: a Retenção ou o eco do que acaba de passar, a Impressão, o momento presente vivido, e a Protensão vista como a antecipação do que está por vir. Este tripleto de fluxo, ao invés de se mostrar sucessivo ou sequencial, é simultâneo, pois cada momento da experiência temporal está entrelaçado com os outros.

Nesta nossa proposta a estrutura temporal (t) descrita por Husserl será encarada sob um aspecto geométrico, como um triângulo dinâmico, onde os vértices representam o passado – retentio (t−1), o presente – impressio (t) e o futuro – protensio (t+1), dando origem, na nossa opinião, a uma proposta de modelo de spins acoplados, que se influenciam não-localmente, ou mesmo à ideia de secções triangulares derivadas dos Cones de Luz do espaço-tempo relativístico.

Fig.7 - Edmund Husserl, c. 1930.

Fonte: Archiv für Kunst und Geschichte, Berlin.

É da sua autoria a frase “A consciência não é algo que se localiza no tempo, mas algo a partir do qual o tempo se constitui.”, (Vorlesungen zur Phänomenologie des inneren Zeitbewusstseins). Assumimos que o “agora” não é um ponto fixo, mas um ponto de condensação no sentido em que carrega "ecos" do passado e "sombras" do futuro, tal como um nó quântico informacional. Embora Husserl nunca tenha falado directamente em física ou estruturas quânticas (cujos fundamentos já existiam com Max Planck, em 1900, a ideia fundacional da quantização da energia, Einstein em 1905, Niels Bohr em 1913, com o modelo quântico do átomo de Hidrogénio, os contributos essenciais de Erwin Schrödinger (1926), Werner Heisenberg (1927) e de Paul Dirac), contudo o seu modelo de consciência como campo intencional e auto-organizado pode ser hoje reinterpretado como um sistema de informação coerente, antecipando ideias ligadas aos Campos de informação quântica, a outros modelos de consciência distribuída e a possíveis arquitecturas temporais não lineares, que exploramos.

(2) Imagine um flash de luz e pense num evento como, por exemplo, uma lâmpada acesa num instante específico e num ponto do espaço. A luz sai desse ponto em todas as direcções, como uma esfera que cresce com o tempo. Se olharmos isso no espaço-tempo (em vez de só no espaço), esta esfera crescente tranforma-se num cone.

Assim, o Cone do Futuro representará tudo o que a luz (e qualquer influência causal) pode atingir a partir daquele evento, tudo o que pode acontecer depois daquele ponto, enquanto o Cone do Passado representará então tudo o que poderia ter influenciado esse evento (vindo a uma velocidade menor ou igual à da luz), ou seja tudo o que poderia ter causado o evento.

Fora dos cones situam-se os eventos que estão para além do alcance causal, que não poderiam ter influenciado nem sido influenciados.

Normalmente estes conceitos são expressos de forma gráfica em que o eixo vertical e o eixo horizontal representam respectivamente o tempo e o espaço (este último para simplificar é visto apenas numa direcção).

O cone cresce para cima, sendo o futuro possível e para baixo como o passado possível. Genericamente, o gráfico mostra o que pode causar o quê e define os limites da comunicação e da interacção física. Tornou-se uma ferramenta essencial na Teoria da Relatividade de Einstein.

(3) A ligação trina baseada na geometria mínima refere-se à estrutura mais simples e estável de interligação entre três unidades fundamentais de informação quântica (ou "nós"/nodos). Na nossa proposta de teia quântica pode ser compreendida como a forma mínima de acoplamento entre três nodos quânticos, representando estados distintos (passado, presente, futuro).

Geometricamente, forma um triângulo, a superfície bidimensional mínima capaz de manter uma coerência topológica entre três vértices. Faz lembrar o conceito pitagórico.

Fig.8 – Ligação trina

Em modelos de spin, esta ligação é reflectida por termos de acoplamento simétrico como 𝐽12, 𝐽23, 𝐽31, que conectam os estados. Esta geometria trina, pode ser entendida como uma estrutura fundamental do tempo fenomenológico, semelhante ao diagrama de Husserl com Retenção, Presença Primordial e Protensão.

No plano quântico, representa unidades mínimas de coerência informacional, cuja geometria pode estender-se para formar tetraedros (3D) e depois malhas mais complexas (a rede quântica de spins).

Afinal, na nossa análise, constitui o conceito básico do Holomovimento (de acordo com David Bohm), onde a realidade desdobra-se em múltiplas direcções a partir da tríade fundamental da interacção. O Holomovimento é como a respiração cósmica do Universo — um fluxo constante entre o visível (a Ordem Explícita) e o invisível (a Ordem Implícita), onde tudo está conectado com tudo, onde cada parte do Universo carrega informações do todo — não localmente, mas de forma holográfica.


Adenda


Este gráfico tenta resumir os conceitos defendidos nos textos “Uma tentativa de síntese”, “Tempus Machina” e “Um Modelo Topológico e o Tempo Husserliano da Consciência”.


 João Porto e Ponta Delgada, 10/04/2025 


A Teia Informacional Fibrada, os Higher Qutrits-Spin-Triplets ou a Descodificação de Tradições Metafísicas Milenares

  Discussion & Perspectives The Triplet Informational Field (TIF) model advances a pre-spacetime framework based on entangled spin-½ t...