“Pois nós vemos que estes
termos aparentemente opostos de Uno e Múltiplo, Forma e Sem Forma, Finito e
Infinito, não são tanto opostos como complementares entre si, não valores
alternantes (…) mas sim valores duplos e concorrentes que se explicam
mutuamente, não alternativas irremediavelmente incompatíveis, mas duas faces de
uma mesma Realidade.”
Sri Aurobindo
Assumimos aqui a tarefa de estabelecer a relação entre duas plataformas da existência fenoménica: por um lado o Hiper Campo Quântico do Espaço Infinito – o Absoluto, indescortinável e velado por múltiplos véus de ignorância ou de silogismos enganadores (Koshas ou planos de consciência da tradução sânscrita), e por outro lado, aquilo que foi o resultado da seta do tempo após as “Bolhas de Adi” ou Vogels das PSU`s – Planck Sperical Units, terem dado origem ao espaço granular finito através da bidimensionalidade holográfica do Horizonte de Eventos de um Buraco Negro Primordial – o “Sol Oculto”.
Resultado de uma flutuação da densidade do campo quântico infinito por um acto de Vontade da Consciência Una e Absoluta em repor um aspecto fundamental da lei universal de simetria, o Campo Finito do Espaço Quântico granular (o Tempo só surgiu mais tarde quando a gravidade iniciou os colapsos de onda permanentes) trouxe consigo outros dois campos quânticos sobrepostos representando a simetria geral do Absoluto, como um espelho que reflectisse a natureza do Infinito no Finito. Foram eles o Campo Holo-Mórfico e o Campo da Informação/Consciência que definiriam no seu conjunto indissociável o Ternário da Constituição Septenária.
Esta estrutura ternária – o Logos, haveria de evoluir, dado trazer no seu seio a informação sob a forma de Qubits (os Lipitakas védicos) que dariam origem aos conhecidos fenómenos de emparelhamento, não-localidade e superposição dos campos quânticos, abastecidos agora de massa pelo bosão de Higgs – o campo quântico que na doutrina védica é designado por Antakarana, o elo de ligação entre o Ternário e o Quaternário.
Assim se estabeleceu, por Necessidade de Simetria, a ligação entre o Macro e o Microcosmos. Esta é a origem da Consciência no Homem e da sua individualidade logoica. Até na mais ínfima partícula onde reina a estrutura quaternária (uma espécie de personalidade traduzida em carga, massa e cor pelas electro e cromo dinâmicas quânticas) que mantém a matéria coesa através dos seus campos quânticos das forças forte, fraca e electromagnética, ela, a Consciência Una é revelada quando se dá o fenómeno do colapso da sua onda Psi (Ψ) como campo de probabilidades, mais não sendo que a estrutura ternária.
Esta realidade, esta sintonia, estende-se em todos os campos da natureza, como é lógico supor-se. No Homem é o Ternário (os Logos I, II e III) designado por Atma, Budhi e Mente Superior ou Manas que constitui a sua individualidade, o espírito indestrutível, a Monada neo-platónica de Giordano Bruno e de Leibniz, enquanto o quaternário é formado pelo Corpo Físico, Corpo Astral, Corpo Etéreo e Corpo Mental Inferior, de acordo com a doutrina Teosófica.
No animal e no Homem o cérebro/mente é apenas um veículo da concepção ternária, apurado em parte pela evolução darwinista e pela holo-morfogenética, onde se estabelece uma malha intrínseca de colapsos de onda num campo de probabilidades quânticas criadas no interior das estruturas microtubulares de acordo com o modelo Hameroff-Penrose, designado por Orch OR ou “gravitational collapse orchestrated objective reduction”, criando estados quânticos de superposição no cérebro que explicam muitos fenómenos ligados á mediunidade, telepatia e estados psíquicos derivados da meditação.
De acordo com a filosofia vedanta expressa nos Upanishads, a separatividade entre o macrocosmos e microcosmos constitui uma ilusão – Maya, em que sentimos, pensamos e agimos como se realmente fossemos separados do Todo (Akhyati em sânscrito). Este processo de desconhecimento da essência mais profunda da Consciência Una, sendo o suporte de toda a existência manifestada, designa o vedanta por “avidya” ou véu da ignorância. Assim, a evolução seria, de uma forma muito sucinta, um processo pelo qual seriam desvendados ou subtraídos paulatinamente estes véus da ignorância e do sentimento de separatividade, de modo a produzir-se a união consciente entre o Ego/eu pessoal e o Logos, abandonando progressivamente a identificação com os planos de consciência mental da personalidade: o concreto, o emocional e o físico.
Esta separatividade entre os dois mundos fenomenológicos leva a que o Ego/eu pessoal considere cada uma das coisas, seja mineral, vegetal ou animal, como sendo entidades separadas, não partilhando a mesma Consciência Una e Absoluta que existe em tudo – esta é a ideia base do moderno conceito Gaia.
Figura 1 – AUM
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Aum_calligraphy.svg
Este conceito secundariza aparentemente a matéria, tornando-a apenas um veículo temporário, resultante da aplicação universal do princípio de simetria, transformando a Consciência a base de todo o ser e a realidade imutável. Deste modo a evolução, transversal a todas as dimensões da constituição septenária da natureza concreta e subtil, ganha um aspecto vectorial Dhármico. Agostinho de Hipona afirmava “A minha Alma vem de Ti, e não repousa enquanto não voltar a Ti”. Muito antes Platão na sua Alegoria da Caverna confirma que o mundo manifestado é apenas uma sombra, ou seja, uma projecção dos colapsos de onda quânticos ou talvez os “Númenos” de Kant (ao afirmar que desconhecemos “as coisas em si”).
A evolução da Consciência, vista como entidade própria e individualizada, campo de probabilidades quânticas extensíveis a todas as dimensões, necessitaria então de um instrumento que lhe permitisse experienciar os múltiplos e quase infinitos estados da natureza mais ou menos concreta ou mais ou menos subtil. Surge assim um modelo de continuidade de elos materiais, biológicos e etéreos, tipo modelo darwinista, que ultrapassa fenómenos aparentemente contínuos como o Tempo, seja físico ou psicológico, na sua linha de desenvolvimento passado-presente-futuro.
Este instrumento não conhece a seta do Tempo que deve a sua existência ao efeito da curvatura do espaço granular por acção das massas criando perturbações gravitacionais. É verdade que o Tempo corre mais depressa ao nível da minha cabeça do que ao nível dos meus pés: são frações de zilions de nano segundo… mas ocorrem! Também é verdade que o Tempo pára no Horizonte de Eventos de um Buraco Negro!
O Tempo, passado-presente-futuro existe em simultâneo, seja no Hiper Campo do Espaço Infinito, seja quando o Buraco Negro Primordial (o Sol Oculto) cria o Horizonte de Eventos, ou seja, não existe.
Este instrumento utilizado pela Consciência Una, onde o Espaço-Tempo não existe, faz uso da Teoria da Reencarnação assente em três axiomas:
1. O Universo manifestado está contido na Consciência Una não-manifestada;
2. O Princípio dos Ciclos Cosmológicos ou ciclos de Manvantara/Pralaya;
3. A vida manifestada é uma consequência da incorporação ciclíca da Monada.
Esta teoria das escolas Jainista, Vaisnava e Vedanta, defende que o Ternário ou Logos manifesto, constituído como vimos, pela superposição de três campos quânticos, evolui ciclicamente encarnando de modo a assimilar experiências que ficam registadas, quânticamente sob Qubits, os designados registos Akáshicos, essenciais à progressão dos veículos da consciência da personalidade (mental, emocional e física).
Esta Teoria funciona globalmente a todos os níveis da existência, se bem que nas formas materiais (cristais) e de vida inferior (vegetais e animais sobretudo dos ramos evolutivos inferiores) tenha aspectos muito particulares. Nestes, as Monadas são campos quânticos elementares que constituem aglomerados e que interagem como tal, evitando as concepções de transmigração pitagóricas.
A Reencarnação tem sido alvo de estudos que têm acumulado subsequentes provas e constituído bases de dados com dezenas de milhares de casos atestando a sua existência. Citamos a base de dados criada por Ian Stevenson com mais de 3000 registos ou o caso de utilização das terapias de regressão de Stanislav Grof com estados alterados de consciência (EAC).
A Reencarnação associa-se a questões fundamentais da física do vácuo onde a Consciência deverá ser encarada como ocupação quântica dinâmica do espaço-tempo físico emergente de perturbações ou flutuações de campos de energia do ponto-zero ligado à estrutura da Informação e à natureza granular do próprio espaço, semelhantes na sua natureza aos fenómenos que geraram os Buracos Negros Primordiais, mas vistos numa escala cosmológica sem precedentes, como também no fenómeno de decoerência quântica Orch OR nos microtubulos das células do cérebro.
Considera-se ser o Universo 99,9% espaço vazio ou vácuo, no entanto, como vimos anteriormente, permeado por campos quânticos de energia do ponto-zero e por partículas virtuais que nele pululam aniquilando-se instantaneamente. Sobre este vácuo façamos um cálculo para percebermos da sua dimensão: somos 7,4 mil milhões de seres humanos pesando cerca de 518 mil milhões de quilogramas (assumindo um peso médio de 70 kg). Um protão tem uma massa de 1,7x10 - 27 kg. A massa total da humanidade será cerca de 3 x 1038 protões. Por sua vez um protão possui um volume aproximado de 10 - 44 metros cúbicos, o que perfaz um número total de protões da humanidade equivalente a 3x10 - 6 m3 ou um cubo de 3 cm3.
Qual a razão da existência de tanto espaço vazio? Desperdício incomensurável, no entanto plenamente justificável se acreditarmos que, tanto no Macrocosmos como no Microcosmos, respectivamente a Consciência Una e Absoluta e o Logos como referencial local do mesmo, possuem um papel central unificador.
Também assim se compreenderá que as estrelas com mais de 1,4 massas solares (limite de Chandrasekhar) poderão conduzir in extremis ao confinamento da matéria fermiónica regressando ao contacto com o Espaço Infinito através de um Buraco Negro de onde poderão surgir novas galáxias com Núcleos Galácticos Activos, a designada relação M-Sigma em astrofísica. Por curiosidade a Terra só poderia ser um buraco negro se sua massa fosse contida numa esfera com um raio de 8,8 milímetros.
Figura 2 – Messier 27.
Nebulosa planetária, fase em que uma estrela ejecta o seu envelope externo ao mesmo tempo que se contrai originando uma anã branca.
O Sol passará por este estágio daqui a 5 mil milhões de anos.
Imagem do autor.
Assim em tom de conclusão, compreender-se-á que o Hiper Campo Quântico do Espaço Infinito (HCQEI), por razões de Simetria universal, cria conscientemente uma profunda perturbação na densidade do seu campo quântico, com isso gerando buracos negros primordiais (Sóis Ocultos) que nos seus Eventos de Horizontes bidimensionais (Purusha/Prakriti), onde a Informação (Adi/Akasha/Arquétipos) do HCQEI criará as condições para o nascimento de Universos dos quais só temos a visão do Fundo de Radiação Cósmica de microondas como um véu (Mulaprakriti).
Estes por sua vez, entrarão em ciclos de evolução de éon em éon (Manvantara/Pralaya) em consonância com o modelo Cosmológico Cíclico Conforme (CCC) de R. Penrose, onde o vector direccional Dharmico, próprio de um ser vivo onde a Consciência ocupa 99,9% da sua estrutura, fará uso do instrumento karmico (pelo registo dos Lipitakas ou dos Qubits/PSU`s - Unidades Esféricas de Planck) no intuito de os fazer regressar às origens (Parabrahman védico ou o Ain Soph cabalístico), tal como a luz branca é o resultado das múltiplas frequências do seu espectro. A garantia de que as Leis da Conservação são perenes e invariantes.
Bibliografia
Amit Goswami, Consciência
Quântica, Alma dos Livros, 2020.
Amit Goswami, O Universo Autoconsciente
– como a consciência cria o mundo material, Editora Rosa dos Tempos, 1998.
Dinesh D`Souza, Life After Dead, The Evidence, Regnery Publishing, Inc.
2009.
James G. Matlock, Estudos de
Casos de Memórias de Vidas Passadas.
João E. Steiner, Buracos
Negros – Sementes ou cemitérios de galáxias, Instituto de Astronomia, Geofísica
e Ciências Atmosféricas - IAG Universidade
de São Paulo, 2010.
Lawrence M. Krauss, O Universo
vindo do Nada, Gradiva, 2017.
Neil deGrasse Tyson, Morte por
Buraco Negro, Gradiva, 2010.
Roger Penrose, Ciclos de
Tempo, Gradiva, 2013.
Roger Penrose, O Grande, o Pequeno
e a Mente Humana, Gradiva, 2003.
Santo Agostinho, Confissões,
Empresa Nacional Casa da Moeda, 2004.
Sri Aurobindo, The Life Divine, Ashram, 1970.
Stuart Hameroff e Roger Penrose, Orchestrated reduction of quantum
coherence in brain microtubules – a model of consciousness em Toward a Science
of Consciousness, 1994, Tucson Conference Cambridge MT Press.
W. Y. Evans-Wentz, The Tibetan Book of the Dead, Oxford University Press,
2000.