quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

Cosmogénese 12 – Acerca do Micro e do Macrocosmos





















Samsâra ou a Roda da Vida


“Pois nós vemos que estes termos aparentemente opostos de Uno e Múltiplo, Forma e Sem Forma, Finito e Infinito, não são tanto opostos como complementares entre si, não valores alternantes (…) mas sim valores duplos e concorrentes que se explicam mutuamente, não alternativas irremediavelmente incompatíveis, mas duas faces de uma mesma Realidade.”

 

Sri Aurobindo

 

Assumimos aqui a tarefa de estabelecer a relação entre duas plataformas da existência fenoménica: por um lado o Hiper Campo Quântico do Espaço Infinito – o Absoluto, indescortinável e velado por múltiplos véus de ignorância ou de silogismos enganadores (Koshas ou planos de consciência da tradução sânscrita), e por outro lado, aquilo que foi o resultado da seta do tempo após as “Bolhas de Adi” ou Vogels das PSU`s – Planck Sperical Units, terem dado origem ao espaço granular finito através da bidimensionalidade holográfica do Horizonte de Eventos de um Buraco Negro Primordial – o “Sol Oculto”.

Resultado de uma flutuação da densidade do campo quântico infinito por um acto de Vontade da Consciência Una e Absoluta em repor um aspecto fundamental da lei universal de simetria, o Campo Finito do Espaço Quântico granular (o Tempo só surgiu mais tarde quando a gravidade iniciou os colapsos de onda permanentes) trouxe consigo outros dois campos quânticos sobrepostos representando a simetria geral do Absoluto, como um espelho que reflectisse a natureza do Infinito no Finito. Foram eles o Campo Holo-Mórfico e o Campo da Informação/Consciência que definiriam no seu conjunto indissociável o Ternário da Constituição Septenária.

Esta estrutura ternária – o Logos, haveria de evoluir, dado trazer no seu seio a informação sob a forma de Qubits (os Lipitakas védicos) que dariam origem aos conhecidos fenómenos de emparelhamento, não-localidade e superposição dos campos quânticos, abastecidos agora de massa pelo bosão de Higgs – o campo quântico que na doutrina védica é designado por Antakarana, o elo de ligação entre o Ternário e o Quaternário.

Assim se estabeleceu, por Necessidade de Simetria, a ligação entre o Macro e o Microcosmos. Esta é a origem da Consciência no Homem e da sua individualidade logoica. Até na mais ínfima partícula onde reina a estrutura quaternária (uma espécie de personalidade traduzida em carga, massa e cor pelas electro e cromo dinâmicas quânticas) que mantém a matéria coesa através dos seus campos quânticos das forças forte, fraca e electromagnética, ela, a Consciência Una é revelada quando se dá o fenómeno do colapso da sua onda Psi (Ψ) como campo de probabilidades, mais não sendo que a estrutura ternária.

Esta realidade, esta sintonia, estende-se em todos os campos da natureza, como é lógico supor-se. No Homem é o Ternário (os Logos I, II e III) designado por Atma, Budhi e Mente Superior ou Manas que constitui a sua individualidade, o espírito indestrutível, a Monada neo-platónica de Giordano Bruno e de Leibniz, enquanto o quaternário é formado pelo Corpo Físico, Corpo Astral, Corpo Etéreo e Corpo Mental Inferior, de acordo com a doutrina Teosófica.

No animal e no Homem o cérebro/mente é apenas um veículo da concepção ternária, apurado em parte pela evolução darwinista e pela holo-morfogenética, onde se estabelece uma malha intrínseca de colapsos de onda num campo de probabilidades quânticas criadas no interior das estruturas microtubulares de acordo com o modelo Hameroff-Penrose, designado por Orch OR ou “gravitational collapse orchestrated objective reduction”, criando estados quânticos de superposição no cérebro que explicam muitos fenómenos ligados á mediunidade, telepatia e estados psíquicos derivados da meditação.

De acordo com a filosofia vedanta expressa nos Upanishads, a separatividade entre o macrocosmos e microcosmos constitui uma ilusão – Maya, em que sentimos, pensamos e agimos como se realmente fossemos separados do Todo (Akhyati em sânscrito). Este processo de desconhecimento da essência mais profunda da Consciência Una, sendo o suporte de toda a existência manifestada, designa o vedanta por “avidya” ou véu da ignorância. Assim, a evolução seria, de uma forma muito sucinta, um processo pelo qual seriam desvendados ou subtraídos paulatinamente estes véus da ignorância e do sentimento de separatividade, de modo a produzir-se a união consciente entre o Ego/eu pessoal e o Logos, abandonando progressivamente a identificação com os planos de consciência mental da personalidade: o concreto, o emocional e o físico.

Esta separatividade entre os dois mundos fenomenológicos leva a que o Ego/eu pessoal considere cada uma das coisas, seja mineral, vegetal ou animal, como sendo entidades separadas, não partilhando a mesma Consciência Una e Absoluta que existe em tudo – esta é a ideia base do moderno conceito Gaia.

Figura 1 – AUM

https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Aum_calligraphy.svg


Este conceito secundariza aparentemente a matéria, tornando-a apenas um veículo temporário, resultante da aplicação universal do princípio de simetria, transformando a Consciência a base de todo o ser e a realidade imutável. Deste modo a evolução, transversal a todas as dimensões da constituição septenária da natureza concreta e subtil, ganha um aspecto vectorial Dhármico. Agostinho de Hipona afirmava “A minha Alma vem de Ti, e não repousa enquanto não voltar a Ti”. Muito antes Platão na sua Alegoria da Caverna confirma que o mundo manifestado é apenas uma sombra, ou seja, uma projecção dos colapsos de onda quânticos ou talvez os “Númenos” de Kant (ao afirmar que desconhecemos “as coisas em si”).

A evolução da Consciência, vista como entidade própria e individualizada, campo de probabilidades quânticas extensíveis a todas as dimensões, necessitaria então de um instrumento que lhe permitisse experienciar os múltiplos e quase infinitos estados da natureza mais ou menos concreta ou mais ou menos subtil. Surge assim um modelo de continuidade de elos materiais, biológicos e etéreos, tipo modelo darwinista, que ultrapassa fenómenos aparentemente contínuos como o Tempo, seja físico ou psicológico, na sua linha de desenvolvimento passado-presente-futuro.

Este instrumento não conhece a seta do Tempo que deve a sua existência ao efeito da curvatura do espaço granular por acção das massas criando perturbações gravitacionais. É verdade que o Tempo corre mais depressa ao nível da minha cabeça do que ao nível dos meus pés: são frações de zilions de nano segundo… mas ocorrem! Também é verdade que o Tempo pára no Horizonte de Eventos de um Buraco Negro!

O Tempo, passado-presente-futuro existe em simultâneo, seja no Hiper Campo do Espaço Infinito, seja quando o Buraco Negro Primordial (o Sol Oculto) cria o Horizonte de Eventos, ou seja, não existe.

Este instrumento utilizado pela Consciência Una, onde o Espaço-Tempo não existe, faz uso da Teoria da Reencarnação assente em três axiomas:

1. O Universo manifestado está contido na Consciência Una não-manifestada;

2. O Princípio dos Ciclos Cosmológicos ou ciclos de Manvantara/Pralaya;

3. A vida manifestada é uma consequência da incorporação ciclíca da Monada.

Esta teoria das escolas Jainista, Vaisnava e Vedanta, defende que o Ternário ou Logos manifesto, constituído como vimos, pela superposição de três campos quânticos, evolui ciclicamente encarnando de modo a assimilar experiências que ficam registadas, quânticamente sob Qubits, os designados registos Akáshicos, essenciais à progressão dos veículos da consciência da personalidade (mental, emocional e física).

Esta Teoria funciona globalmente a todos os níveis da existência, se bem que nas formas materiais (cristais) e de vida inferior (vegetais e animais sobretudo dos ramos evolutivos inferiores) tenha aspectos muito particulares. Nestes, as Monadas são campos quânticos elementares que constituem aglomerados e que interagem como tal, evitando as concepções de transmigração pitagóricas.

A Reencarnação tem sido alvo de estudos que têm acumulado subsequentes provas e constituído bases de dados com dezenas de milhares de casos atestando a sua existência. Citamos a base de dados criada por Ian Stevenson com mais de 3000 registos ou o caso de utilização das terapias de regressão de Stanislav Grof com estados alterados de consciência (EAC).

A Reencarnação associa-se a questões fundamentais da física do vácuo onde a Consciência deverá ser encarada como ocupação quântica dinâmica do espaço-tempo físico emergente de perturbações ou flutuações de campos de energia do ponto-zero ligado à estrutura da Informação e à natureza granular do próprio espaço, semelhantes na sua natureza aos fenómenos que geraram os Buracos Negros Primordiais, mas vistos numa escala cosmológica sem precedentes, como também no fenómeno de decoerência quântica Orch OR nos microtubulos das células do cérebro.

Considera-se ser o Universo 99,9% espaço vazio ou vácuo, no entanto, como vimos anteriormente, permeado por campos quânticos de energia do ponto-zero e por partículas virtuais que nele pululam aniquilando-se instantaneamente. Sobre este vácuo façamos um cálculo para percebermos da sua dimensão: somos 7,4 mil milhões de seres humanos pesando cerca de 518 mil milhões de quilogramas (assumindo um peso médio de 70 kg). Um protão tem uma massa de 1,7x10 - 27 kg. A massa total da humanidade será cerca de 3 x 1038 protões. Por sua vez um protão possui um volume aproximado de 10 - 44 metros cúbicos, o que perfaz um número total de protões da humanidade equivalente a 3x10 - 6 m3 ou um cubo de 3 cm3.

Qual a razão da existência de tanto espaço vazio? Desperdício incomensurável, no entanto plenamente justificável se acreditarmos que, tanto no Macrocosmos como no Microcosmos, respectivamente a Consciência Una e Absoluta e o Logos como referencial local do mesmo, possuem um papel central unificador.

Também assim se compreenderá que as estrelas com mais de 1,4 massas solares (limite de Chandrasekhar) poderão conduzir in extremis ao confinamento da matéria fermiónica regressando ao contacto com o Espaço Infinito através de um Buraco Negro de onde poderão surgir novas galáxias com Núcleos Galácticos Activos, a designada relação M-Sigma em astrofísica. Por curiosidade a Terra só poderia ser um buraco negro se sua massa fosse contida numa esfera com um raio de 8,8 milímetros.


Figura 2 – Messier 27. 

Nebulosa planetária, fase em que uma estrela ejecta o seu envelope externo ao mesmo tempo que se contrai originando uma anã branca. 

O Sol passará por este estágio daqui a 5 mil milhões de anos.  

Imagem do autor.


 Assim em tom de conclusão, compreender-se-á que o Hiper Campo Quântico do Espaço Infinito (HCQEI), por razões de Simetria universal, cria conscientemente uma profunda perturbação na densidade do seu campo quântico, com isso gerando buracos negros primordiais (Sóis Ocultos) que nos seus Eventos de Horizontes bidimensionais (Purusha/Prakriti), onde a Informação (Adi/Akasha/Arquétipos) do HCQEI criará as condições para o nascimento de Universos dos quais só temos a visão do Fundo de Radiação Cósmica de microondas como um véu (Mulaprakriti).

Estes por sua vez, entrarão em ciclos de evolução de éon em éon (Manvantara/Pralaya) em consonância com o modelo Cosmológico Cíclico Conforme (CCC) de R. Penrose, onde o vector direccional Dharmico, próprio de um ser vivo onde a Consciência ocupa 99,9% da sua estrutura, fará uso do instrumento karmico (pelo registo dos Lipitakas ou dos Qubits/PSU`s - Unidades Esféricas de Planck) no intuito de os fazer regressar às origens (Parabrahman védico ou o Ain Soph cabalístico), tal como a luz branca é o resultado das múltiplas frequências do seu espectro. A garantia de que as Leis da Conservação são perenes e invariantes.


Bibliografia

Amit Goswami, Consciência Quântica, Alma dos Livros, 2020.

Amit Goswami, O Universo Autoconsciente – como a consciência cria o mundo material, Editora Rosa dos Tempos, 1998.

Dinesh D`Souza, Life After Dead, The Evidence, Regnery Publishing, Inc. 2009.

James G. Matlock, Estudos de Casos de Memórias de Vidas Passadas.

João E. Steiner, Buracos Negros – Sementes ou cemitérios de galáxias, Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas - IAG  Universidade de São Paulo, 2010.

Lawrence M. Krauss, O Universo vindo do Nada, Gradiva, 2017.

Neil deGrasse Tyson, Morte por Buraco Negro, Gradiva, 2010.

Roger Penrose, Ciclos de Tempo, Gradiva, 2013.

Roger Penrose, O Grande, o Pequeno e a Mente Humana, Gradiva, 2003.

Santo Agostinho, Confissões, Empresa Nacional Casa da Moeda, 2004.

Sri Aurobindo, The Life Divine, Ashram, 1970.

Stuart Hameroff e Roger Penrose, Orchestrated reduction of quantum coherence in brain microtubules – a model of consciousness em Toward a Science of Consciousness, 1994, Tucson Conference Cambridge MT Press.

W. Y. Evans-Wentz, The Tibetan Book of the Dead, Oxford University Press, 2000.

 

domingo, 21 de fevereiro de 2021

Cosmogénese 11 – Princípios da Natureza, os Arquétipos e o Hiper Campo Único do Espaço Infinito

 


É senso comum considerar que o Universo conhecido é regido por Leis que se baseiam em Princípios, Postulados e Axiomas. As bases sólidas da Ciência assentam em Princípios assegurando a noção clara e precisa dos seus conhecimentos objectivos estruturados globalmente num corpo de teoremas e demonstrações invariantes, independentes do observador ou dos processos em que intervêm. Esta malha de conhecimentos, a Teoria, de características sólidas apoia-se no método indutivo construtor de uma estrutura verificável e reprodutível. É assim que a Ciência funciona!

Segundo André Lalander, em “Dicionário Técnico e Crítico de Filosofia”, ao contrário das preposições demonstradas designadas por Teoremas, o Princípio é uma “proposição posta no início de uma dedução, não sendo deduzida de nenhuma outra no sistema considerado”. Portanto um Princípio é uma proposição não demonstrada dentro de um particular sistema teórico.

Poderíamos resumir apenas alguns princípios fundamentais transversais a todo o Conhecimento humano, a saber:

1. Princípio da Simetria;

2. Princípio da Causalidade;

3.Princípio da Conservação (da massa/energia, dos momentos lineares e angulares, da carga eléctrica e da cor – EDQ e CDQ, do spin isotópico, da “estranheza”, dos bariões e dos leptões, etc).

4. Princípio da Entropia ou 2ª Lei da Termodinâmica.

Ao considerarmos a universalidade dos Princípios, muitas vezes deduzidos pela observação empírica, outras vezes pela lógica intrínseca dos comportamentos da natureza, somos levados a sugerir um pressuposto inicial base que envolveria a existência de um mundo de arquétipos referenciais. Todos estes arquétipos teriam a sua expressão máxima nas designadas Constantes Fundamentais da natureza, como a velocidade da luz (c), a constante de Planck (h), a constante universal (ꓥ) ou a constante gravitacional (G) que fazem parte de linguagens matemáticas cujo beleza e elegância dão corpo à Teoria de tal forma que os Princípios parecem sair naturalmente explicados e interpretados. Ou seja, os Princípios parecem pressupor a pré-existência de uma Mente de um qualquer arquitecto, todo poderoso, cuja virtude e propósito final tem uma razão antrópica: o Homem como Tetraghrammaton, e afinal a própria Vida inscrita no seu conjunto multifacetado, como caminho feito do “conhece-te a ti mesmo”.

Estes Princípios ao estabelecerem restrições à fenomenologia do Universo conhecido, isolam aqueles pressupostos considerados viáveis dos outros multiuniversos, imaginariamente possíveis, como se existisse na natureza um critério imposto de fora, de economicidade e sustentabilidade que nos tem feito erradamente acreditar na história de “os três ursos e a menina dos cachinhos de ouro”.

Figura 1 – Ranúnculo Cachinhos de Ouro

https://pixabay.com/pt/photos/ranúnculo-cachinhos-de-ouro-vermelhos-1256083/

Poderíamos deduzir que o Princípio Antrópico seria outro fundamental, se verificássemos que o Universo funcionasse como uma estrutura com vectores próprios de desenvolvimento que manifestassem intenções voluntárias ou conscientes. Isto seria a prova final, a cereja no topo do bolo, que comprovaria definitivamente que o Universo age de forma consciente assente numa rede neuronal cuja estrutura residiria na Lanikeia sendo produto de uma intenção ou “Necessidade” de manifestação do “Aquele” teosófico, ou talvez apenas no fundo resultado natural de uma Lei Global de Simetria.

A Cosmologia actual tem acumulado provas observacionais que o atestam.

Neste sentido o livre-arbítrio, a liberdade de acção, como acto simples do princípio geral da entropia, seria uma ilusão e deixaria de fazer sentido. Ficaríamos sujeitos aos resultados da reflexão tomasiana do ato moral no ser humano, transferida agora para uma escala sem precedentes, à dimensão do universo ou dos multiuniversos. Em Tomás de Aquino, assim como há uma ordem das coisas ou do mundo (ordorerum/ordouniversi), existe também uma ordem racional das acções do Homem, reconhecendo afinal que a inteligência é um princípio activo e ordenador do real, cuja caminhada no nosso entendimento seria em ascese, do vírus cristalográfico ao avatar, com um sentido único. Seria esta afinal a razão determinística da existência do Universo?

Em termos gerais, o determinismo, como força impulsionadora universal, possuiria no entanto, a Vontade e a Inteligência no Homem para dosear a sua potência inerente, o chamado livre-arbítrio, que em todos os níveis de evolução da matéria/vida e dos restantes estados subtis gerariam os conhecidos ciclos de ascensão e regressão (Dharman-Karma) das “Cadeias” e das “Rondas” onde os 3 Gunas seriam o princípio orientador.

Os arquétipos seriam então o reflexo das capacidades cognoscitivas da Vontade e da Inteligência, a reserva Akashica engendrada na estrutura quântica dos três Logos – o Logoi.

Figura 2 – Os três Logos


O Universo manifesto não pode ser considerado infinito e absoluto. Produto da manifestação Logoica, surge da interacção ou da perturbação de três campos quânticos que se contêm a si próprios, o campo do Espaço granular (Inteligência Activa/Força-Matéria), o campo Holomórfico (Amor-Sabedoria/Vida-Forma) e o campo da Informação/Consciência (Vontade). Desta perturbação destes campos sobrepostos (só o Modelo Padrão das Partículas implica a sobreposição de 37 estados quânticos), oscilações vibracionais, ou colapso de onda permanente, resultam na prática os arquétipos como impressões ou registos, género Qubits (os Lipikas e Lipitakas), que informam todo o universo e estão na base dos fenómenos conhecidos como entrelaçamento quântico, não-localidade e superposição.

Fazendo a ligação com a matéria fermiónica e bosónica,as forças que a sustém, conferindo-lhes massa, surge o campo de Higgs – o Antahkarana. Esta será a estrutura finita do Universo conhecido e manifesto pelo Absoluto – a expiração de Parabrahman.

Assim, o Absoluto será considerado como o espaço infinito, incondicionado e imutável que permeia no seu seio os multiuniversos. Considerado como o Supremo Princípio a sua natureza não tem sido definida, sujeita a concepções mais ou menos metafísicas tornando-o mesmo “impensável e impronunciável”. Em todo o caso, a Cosmologia moderna tem-lhe reservado algumas características em torno daquilo que seria a Constante Universal introduzida por Alberto Einstein (ꓥ) na Teoria Geral da Relatividade, agora como fonte de uma energia negativa que justifica a verificada expansão acelerada do Universo.

Para Helena Blavatsky “A Divindade é um círculo cujo núcleo [ponto zero ou ponto Laya], está em toda a parte e a circunferência, em lugar nenhum”, o que é muito similar à actual concepção do Universo Holográfico. Sabendo que a presença do infinito é matematicamente um ponto, concebido como singularidade, o círculo (o Universo) surge da manifestação expandida desse ponto.

Sabemos também que 99,9% de um átomo é “preenchido” entre o núcleo e a nuvem electrónica, por espaço que é “granular”, quantificável em dimensões de Planck, resolvendo o quebra-cabeças matemáticos das infinitudes e singularidades, sendo o reflexo imanente da finitude do tri-Logos. Assim, infinito será mesmo o Espaço Absoluto inferido da Constante Cosmológica onde se desdobram ciclicamente os Universos em éons de Manvataras ou Kalpas e Pralayas., como parece também advogar o laureado nobel de 2020, Sir Roger Penrose.

No entanto o principal problema dos dois modelos, o Teosófico e o de Einstein, é a sua instabilidade. O espaço concebido esférico com raio de curvatura, no hiperespaço de 4 dimensões é definido pela densidade de matéria presente no universo. Acontece que esta situação representa um equilíbrio instável; qualquer pequena perturbação leva o sistema — o universo — para o colapso ou para a expansão desintegrativa em direcção ao infinito. Daí a introdução da Constante Cosmológica. Em 2002, o cosmólogo americano Michael Turner adoptou o termo Energia Escura para denominar a energia associada à Constante Cosmológica, responsável pela expansão acelerada do universo verificada pela análise das Supernovas cosmológicas do tipo Ia.

O Evangelho de São João, diz-nos que “No princípio era o Verbo. E o Verbo era Deus.”. Também para o hinduísmo o Universo brota da sílaba AUM. Ou seja, existe em ambos os casos a ideia de onda vibracional projectada pela Energia Escura do Espaço Infinito, através do que o homogéneo se converte no heterogéneo, dando origem à estrutura Septenária. Esta onda vibracional poderá inserir-se numa perturbação quântica exótica deste Campo Único do Espaço Infinito cuja natureza deverá obedecer a 3 preposições:

1. Não emite luz ou outro tipo de radiação conhecida, até porque toda a radiação do Universo pode ser explicada naturalmente pela matéria bariónica presente nas estrelas, galáxias e aglomerados de galáxias. Assunção em perfeita consonância com a Teosofia e os Vedas.

2. Tem uma pressão negativa importante, dada por ρX + 3pX /c 2< 0, que justifica a sua utilização como factor de aceleração do Universo,o que está de acordo também com a concepção védica dos Manvataras/Pralayas.

3. Deve ser absolutamente homogéneo, pois caso contrário a sua presença já teria sido detectada pelo menos como uma perturbação marcante nas massas dos aglomerados de galáxias. Também de acordo com os pressupostos védicos e teosóficos anteriormente explanados.

Na realidade muito recentemente, têm-se constatado a criação de novos mundos estelares no seio deste Universo através dos Buracos Negros supermassivos, onde o espaço e o tempo deixam de fazer sentido e onde no seu horizonte de eventos se condensam de forma holográfica bidimensional (Purusha e Prakriti) toda a informação resultante da destruição da matéria. Daqui a Cosmologia inferir da hipótese de os Buracos Negros Iniciais hipermassivos poderem estar na origem dos Universos como na teoria da Cosmologia Cíclica Conforme de R. Penrose em que genericamente os estados iniciais e finais dos sucessivos universos se assemelhariam naquilo que é semelhante na doutrina teosófica ao estado de energia do ponto zero ou ponto Laya.

Ora, segundo as recentes concepções cosmológicas, o paradoxo relativo à perda da informação nos Buracos Negros não existe. Ela é retida no seu Horizonte de Eventos de forma holográfica. Assim os Buracos Negros Primordiais, designados na Teosofia por “Soís Ocultos”, possuiriam toda a informação do universo anterior necessária ao acto da criação de outro universo.

Segundo a Teosofia da Doutrina Secreta de Blavatsky, seriam “Seteiras abertas na sombria Fortaleza do Infinito”.

Figura 3 - A serpente que morde a própria cauda,

simbolo do infinito e da manifestação primordial da matéria


Destes Mega Buracos Negros Primordiais sairia o ternário da Constituição Septenária, constituído pelo campo quântico da Informação/Consciência, pelo campo quântico Holo-Mórfico e pelo próprio Espaço granular quântico. Seria este conjunto de 3 campos quânticos, conhecidos na doutrina teosófica por “Mônadas”, que nas fases posteriores da evolução do universo (os Planos Cósmicos), dariam origem às “Mônadas” individuais, então já hierarquicamente estabelecidas, de modo tal que a consciência desde o início dos tempos fizesse parte integrante da matéria como função de onda (Ψ). Nesta primeira fase de expansão do Universo, os observatórios espaciais Planck e o Wilkinson Microwave Anisotropy Probe (WMAP) permitiram-nos acesso, já com bastante resolução, à Radiação Cósmica de Fundo em micro-ondas, concebido como um “véu” e designado no sânscrito por Mulaprakriti e que encobriria o acto criativo do Buraco Negro Primordial.

Assim, o primeiro “Plano Cósmico” saído de um colapso de onda do Hiper Campo Único do Espaço Infinito, do Ponto Laya, cria o primeiro mini-buraco negro formado pela aglomeração de partículas virtuais e da designada “espuma de spins” de Carlos Rovelli, formando o próprio espaço finito (as 49 “bolhas Adi” da Teosofia) e dando origem ao “2º Plano Cósmico ”Anupadaka. Seguir-se-iam cinco “Planos Cósmicos” de flutuações quânticas em crescendo, cada um derivado do anterior e, sempre resultado da aglomeração de “bolhas Adi”, em múltiplos de 7x7, segundo a Doutrina Secreta.

 

Plano

Nº de Bolhas

Nº total

Adi

1

7

Anupadaka

7x7

49

Atma

492

2401

Budhi

493

117649

Mental

494

5764801

Astral

495

282475249

Físico

496

13 841 287201

Figura 4 – Os Planos Cósmicos de acordo com a Teosofia

Há uma semelhança espantosa entre as denominadas “Bolhas de Adi” e os “voxels”do modelo holográfico de N. Haramein. Este descreve uma geometria esférica como um volume básico de entropia ou de unidades PSU – Planck Shperical Units ou Unidades Esféricas de Planck, onde se aloja o bit de informação holográfica.

Estes PSU`s também designados por “voxels” de Planck (neologismo de volumes + pixels), estender-se-iam no horizonte da superfície esférica produzindo uma relação holográfica com a densidade de informação dada pela massa/energia no interior da esfera, e onde a área do disco equatorial, A=πr2, corresponderia a uma unidade bidimensional de informação/entropia de Planck que na doutrina Teosófica aparece sob a designação sânscrita de Purusha e Prakriti.

Figura 5–Representação geométrica alternativa para o Ternário.

1º LOGOS - O Ponto Laya– Ponto de Energia Zero – o Buraco Negro Primordial

2º LOGOS - Purusha e Prakritiou os 3 Gunas – Caos – Abismo Primordial - a bidimensionalidade no Horizonte de Eventos

3º LOGOS – Mahat– Ah-Hi – a tridimensionalidade da matéria – o plasma de Quarks e Gluões

  

Assim, o 7º Plano Cósmico correspondente ao aparecimento da matéria (plasma de Quarks e Gluões) resultaria de uma densidade da Energia Escura do vácuo, neste caso do Espaço Infinito, da ordem das 496 bolhas Adi ou Voxels de Planck.

Figura 6 - Esfera de “voxels” de Planck

Haramein, N. andValBaker, A. (2019) ResolvingtheVacuumCatastrophe: A GeneralizedHolographicApproach. JournalofHighEnergyPhysics, GravitationandCosmology, 5, 412-424. https://doi.org/10.4236/jhepgc.2019.52023 

 

Segundo o que a actual cosmologia define, nos primeiros nanosegundos do surgimento do universo, este mais não era do que um oceano de plasma ou campo quântico de quarks e gluões formados por estados quânticos distintos: Up, Down, Charm, Strange, Top e Bottom. Destes 6 estados apenas sobrevivem o Up e o Down que vão constituir, sempre em número de 3, os protões (2 ups e 1 down) e os neutrões (2 downs e 1 up) bem como as suas correspondentes anti-particulas.

Por uma reacção ainda desconhecida designada Bariogénese, uma violação do número bariónico, conduz a que a matéria se sobreponha à anti-matéria, subsistindo apenas os protões e neutrões. Só a partir dos 3 minutos é que se formam os primeiros átomos estáveis de deutério, trítio e lítio, seguindo-se o processo de nucleosíntese a partir dos 380.000 anos de idade do Universo.

Em conclusão, poderíamos arriscar dizendo que a “Vontade”, como acto da Consciência em Tomás de Aquino, manifestando a Necessidade inerente a um Princípio de Simetria do Hiper Campo Quântico Único do Espaço Infinito, cria flutuações de densidade na Energia Escura deste campo, que fariam nascer os “Sóis Ocultos” ou Buracos Negros Primordiais que num processo de aglomeração das “Bolhas Adi” ou Voxels de Planck – o espaço granular, com a Informação e o Campo Holo-Mórfico residentes no Horizonte de Eventos, iriam originar posteriormente os plasmas de Quarks e Gluões, dando assim início ao Quaternário da Constituição Septenária e ao Tetraghrammaton.




segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

Cosmogénese 10 – Svabhâvat (1), o “Gérmen na Raiz” ou o maior desafio actual da Física e da Filosofia

 “És a unidade das unidades, o Número dos números, a Unidade e o Número, o Intelecto, e o Inteligível e o anterior ao Inteligível, o Uno e o todo, o Uno através do todo, o Uno anterior ao todo, a semente do todo, a raiz e caule que cresce, natureza dos Arquétipos, feminino e masculino…”(2).












As observações astronómicas das últimas décadas sobre a luminosidade das supernovas do tipo Ia têm levado a crer que o nosso Universo está em expansão de forma acelerada. Esta aceleração é atribuída a uma espécie de pressão negativa de algo muito subtil exótico denominado Energia Escura. Diversas hipóteses têm sido sugeridas para explicar a Energia Escura e todas elas confrontadas com as observações. São elas a Constante Cosmológica (ꓥ) derivada das equações de Albert Einstein, a Quintessência, o Modelo Phantom, os Modelos das Branas e o chamado Gás de Chaplygin.

Faremos uma rápida incursão por estas teorias ou modelos aquilatando, quanto possível, também da sua sustentabilidade.

A Teoria da Quintessência sugere a existência de um éter que permeia todo o espaço e que configura um campo escalar cuja densidade energética pode variar no espaço-tempo ao contrário da Constante Cosmológica (Λ) que labora com a energia do vácuo, a qual preenche o Universo de maneira homogénea e que apresenta como principal característica da Energia Escura o ter uma forte pressão negativa.

A concepção em torno do modelo conhecido como Quartessência de Chaplygin, foi desenvolvido por Sergey Chaplygin, de quem tomou a designação, onde o suposto gás tem a propriedade anormal de exercer uma pressão negativa variando com o inverso da densidade o que explicaria tanto a existência da Matéria Escura como a da Energia Escura, unificando assim os dois conceitos sob a forma de uma energia conhecida como Generalized Chaplygin Gas (GCG) e, mais recentemente, com outros desenvolvimentos sob a designação de Modified Cosmic Chaplygin Gas – MCCG (3).

Em qualquer dos casos, as suas bases assentam em desenvolvimentos matemáticos centrados em torno da física dos fluidos e da dinâmica das viscosidades, onde são considerados campos escalares, amplamente usados para explicar as diferentes fases de expansão do Universo, até á hipotética existência de partículas denominadas Taquiões, que teoricamente ultrapassam a velocidade da luz e que também aparecem conceptualizados (nos anos 60) na Teoria das Cordas Bosónicas.

Porém, até agora nenhuma evidência experimental tanto pelos grandes instrumentos da Física, como o Grande Colisionador de Hadrões do CERN, ou observacionais na área da astrofísica das Supernovas ou ainda dos Enxames Galácticos com grandes redshifts (Z ou desvios para o vermelho), surgiram para confirmar estes modelos.

Em alternativa, os Modelos das Branas derivam da Teoria das Cordas, conceptualizadas em finais dos anos 80, e que implicam a noção de uma partícula pontual para dimensões mais elevadas com a existência de 7 dimensões espaciais para além das já conhecidas (as designadas p-branas). A palavra "brana" vem da palavra "membrana", que se refere a uma membrana bidimensional. Assim uma brana com p=1 é uma corda, uma brana com p=2 é uma membrana, uma brana com p=3 possui três dimensões estendidas, etc. Valores maiores que p só são possíveis em um espaço-tempo concebido matematicamente com 11 dimensões.

As p-branas, hipoteticamente sendo dotadas de massa e carga, poderiam propagar-se no espaço-tempo respeitando as regras da Mecânica Quântica. Assim, por exemplo os campos electromagnéticos poderiam evoluir dentro de um volume de uma p-brana.

Assim o nosso universo seria de facto uma membrana dimensional (3 + 1) com as três dimensões de espaço e uma de tempo, mas estaríamos confinados dentro de um espaço dimensionalmente maior (10 + 1), sem darmos conta destas dimensões extras que estariam enroladas sobre si próprias, compactadas em escalas volumétricas pequeníssimas. Outras hipóteses sugerem que o nosso Universo possa ter sido originado na colisão de duas D-branas, outra classe de branas ligadas aos extremos de cordas abertas.

Esta constitui a base da Teoria-M ou da Teoria do Tudo (TOE) ou uma tentativa de explicar como todas as forças conhecidas dentro de nosso universo interagem, unificando com um postulado único as cinco diferentes Teorias das cordas, mais a Supersimetria e a Supergravidade.

Se as dimensões extras fossem compactadas, geometricamente surgiriam sob a forma de um colector de Calabi-Yau, como foi descoberto em 1985 pelos matemáticos Eugenio Calabi e Shing-Tung, e posteriormente utilizadas para a compactação das dimensões extras. Infelizmente as variedades de colectores Calabi-Yau são aos milhares (no mínimo 10500 soluções) e nunca se descobriu que um deles fosse o correcto.

Figura 1 – Espaço Calabi-Yau com as dimensões extra enroladas ou compactadas

https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Espace_de_Calabi-Yau.PNG

A teoria das cordas ao afirmar que as partículas subatómicas – os Fermiões, e as forças fracas, fortes, electromagnéticas e a própria gravidade – na classe do Bosões, são minúsculas cordas vibratórias oscilatórias de energia, permitiu um passo gigantesco na elaboração e compreensão da Teoria da Gravidade Quântica e na formulação da gravidade como campo quântico “granular”. Actualmente a ideia de que o espaço é um campo quântico “granular” à dimensão de Planck, faz acento entre a comunidade científica abrindo novas perspectivas para unir a Relatividade Geral de Albert Einstein com a Mecânica Quântica de Planck, Bohr, Dirac, Feynman, Schrödinger, Heisenberg, Neumann e tantos outros.

Contudo a Teoria das Cordas ao apresentar no mínimo 10 500 soluções de colectores Calabi-Yau, está a propor-nos uma infinidade de universos diferentes com respectivas Energias Escuras possíveis, ou seja, um cenário de Multiverso, onde todos os universos seriam diferentes e onde por acaso um teria a afinação necessária para o aparecimento da Vida – o nosso. Isto faz-nos lembrar a história da menina dos caracóis dourados e os três ursos.

Outra teoria, a Phantom, considera uma forma de energia escura chamada de phantom, teoricamente responsável por um estado de superaceleração da expansão cósmica, influenciando a função de onda do Universo e, portanto, fazendo-o tender par a sua desagregação final – é a hipótese da Grande Ruptura ou da Big Rip (Rest in Peace).

A desagregação de toda a matéria dever-se-ia à pressão da Energia Escura que faria com que os enxames de galáxias se afastassem pela diminuição da gravidade, levando a que os sistemas solares perdessem a sua coesão, dissipando-se as estrelas e os planetas e finalmente as partículas subatómicas seriam destruídas ou se dispersariam permanecendo assim para sempre, bem como o tempo que deixaria de existir nesta situação.

Interessante verificar que a Teoria de Roger Penrose, a Cosmologia Cíclica Conforme (CCC), trabalha este mesmo princípio assumindo que o fim dos tempos se assemelha ao início das condições verificadas no Big Bang, repetindo-se indefinidamente de forma cíclica de éon em éon. Calcula esta teoria, que o fim do Universo ocorreria em cerca de 35 mil milhões de anos depois do Big Bang. Ora, como o nosso universo possui pouco menos de 14 mil milhões de anos, restar-nos-iam aproximadamente 21 mil milhões de anos para depois integrarmos o Todo, como advogam os Ciclos de Manvatara/Pralaya na doutrina védica ou os dias e noites de Brahma, cuja duração se estende a milhares de milhares de milhões de anos terrestres.

Este [Brahma] encontra-se desperto ou adormecido. (...) Ao iniciar-se um período de actividade dá-se uma expansão daquela Essência Divina (...) do mesmo modo, quando sobrevem a condição passiva, efectua-se a contracção da Essência Divina, e a obra anterior da criação se desfaz gradual e progressivamente, o universo visível se desintegra, os seus materiais se dispersam, e somente as "trevas" solitárias se estendem, uma vez mais, sobre a face do "abismo". (...) uma expiração da "essência desconhecida produz o mundo [o universo], e uma inspiração o faz desaparecer.” – cfr. BLAVATSKY –Doutrina Secreta, vol. I.

O surgimento do Universo implicou aquilo que parece ter sido uma quebra espontânea de simetria do estado inicial. Esta quebra de simetria seria reposta forçosamente se concebermos este estado inicial como um campo de força prévio constituído por uma Força Única e Energia, de onde surgiria em primeira instância em 10-46 segundos o Espaço-Tempo granular com a Força Gravítica, extremamente fraca quando comparada coma a Força Nuclear Forte (10-36) mas com um raio de acção infinito, dado que em nossa opinião esta “força” se deve apenas à curvatura do espaço-tempo quântico (a “espuma de spins”). Depois em 10-36 segundos surgiria a Força Nuclear Forte (que designaremos aqui como FNF) com os seus bosões de gauge, os Gluões, cujo campo de actuação se cinge ao núcleo e limitada a uma distância de 10-15 metros.

Seguir-se-ia um curtíssimo período de inflação aos 10-32 segundos a partir do qual se desenrolariam a Força Electromagnética, que comparada com a FNF equivale a 1/137 da sua força, mas com um campo de influência infinito mediado por um bosão de gauge conhecido por Fotão, e finalmente, a Força Nuclear Fraca aos 10-12 segundos, que comparada com a FNF equivale apenas a 10-6 daquela força, com um campo de actividade relativo a 10-18 metros, confinado por isso ao núcleo atómico e mediada pelos bosões de gauge W+, W- e Z0. São estes últimos bosões que fazem funcionar todas as estrelas e, portanto, o nosso Sol: sem eles não existiríamos.

As primeiras partículas Quarks só aparecem aos 10-6 segundos, agrupadas sempre em conjuntos de 3, e só entre 3 a 20 minutos depois formam-se os primeiros nucleões, a saber os protões e os neutrões que darão origem ao hidrogénio, ao deutério e ao hélio. Os átomos apenas surgem 380.000 anos depois. Até àquela data os electrões encontravam-se completamente livres.

Este campo de simetria gauge denominado estado inicial, ou aquilo a que chamaremos de Força Única e também muitas vezes tido como o vácuo quântico, implica uma energia pontual calculada na ordem dos 1015GeV (gigaelectrões volts), muito longe daquilo que o Grande Colisionador de Hadrões consegue fazer quando na sua máxima potência e que ronda os 104 GeV.

Esta ordem de energia só será possível através da criação de um Buraco Negro titanicamente supermassivo equivalente a muitos milhões de massas solares, produto talvez da aglomeração de inúmeros mini Buracos Negros originados no Big Rip pela desagregação final da matéria, em que o estado final corresponderia às condições necessárias e suficientes para desencadear a um novo estado inicial que levaria ao surgimento de outro Universo.

Os Buracos Negros iniciais seriam então os “Criadores” que formaram o Universo e aqueles que a Doutrina Secreta Teosófica chama dhyanoschoanos; os indianos, prajapatis; os cabalistas, sephirotes; os budistas, devasj; os madeístas, anshaspendas e a cosmologia actual de NGA`s ou Núcleos Galácticos Activos. Assim, estes armazenariam toda a informação ao destruturarem a matéria, informação, que em vez de ser destruída no interior do Buraco Negro, seria acumulada ou armazenada numa superfície bidimensional de forma semelhante àquilo que um holograma faria ao projectar uma imagem de si mesmo em três dimensões. Como se cada galáxia, através do seu Buraco Negro central, criasse uma memória akáshica das suas origens e do seu fim, necessária á reposição, no fim dum éon Manvatárico, a um novo ciclo. Isto é confirmado observacionalmente pela designada relação M-sigma, que sugere uma forte ligação entre a formação do buraco negro e a própria galáxia.

No Livro de Dzyan, Estância 3, aforismo 11, é declarado:

“A Tela se distende quando o Alento do Fogo a envolve; e se contrai quando tocada pelo Alento da Mãe. Então os Filhos se separam, dispersando-se, para voltar ao Seio de sua Mãe no fim do Grande Dia, tornando-se de novo uno com ela. Seus Filhos se dilatam e se retraem dentro de Si mesmos e em seus Corações; Eles abrangem o Infinito.”

A “Tela” é o Universo que se expande sob o “Alento do Fogo”, a Força Única derivada do campo de simetria gauge do vácuo infinito, e se contrai pelo “Alento da Mãe” ou a destruturação da matéria. Então os “Filhos” ou as galáxias, os sistemas solares e por fim os elementos químicos constantes da Tabela Periódica se separam e dispersam numa fase crescente de entropia, para regressarem ao seio da Força Única que abrange o infinito.

E na mesma Estância 3, aforismo 12:

“Então Svabhâvat(4) envia Fohat para endurecer os Átomos. Cada qual é uma parte da Tela. Reflectindo o “Senhor Existente por Si Mesmo” como um espelho, cada um vem a ser, por sua vez, um Mundo.”

Este aforismo vem confirmar o que dissemos anteriormente, onde “Fohat” (concebida no esoterismo oriental como a Luz primordial dos 3 Logos) é a energia que dispersa os átomos, que fazem parte da “Tela” (Universo), reflectindo o campo de simetria escalar gauge da Força Única, como se o Universo fosse visto a um espelho e cada um desses átomos ou centros de energia pontual, uma suposta “singularidade”, gerasse no fim do éon um mini Buraco Negro inicial, de onde seria reconstruído um novo Mundo (galáxia).

O aforismo 3 da mesma Estância 3 do Livro de Dzyan parece descrever a “criação” de uma galáxia por um Buraco Negro inicial, senão vejamos:

“As Trevas irradiam a Luz, e a Luz emite um Raio solitário sobre as Águas e dentro das Entranhas da Mãe. O Raio atravessa o Ovo Virgem; faz o Ovo Eterno estremecer, e desprende o Germe não-Eterno, que se condensa no Ovo do Mundo.”

De uma forma construtiva poeticamente bela, revela-nos que do Espaço-Tempo no estado de Pralaya (as Trevas) surge uma singularidade que emite um jacto de radiação gama e de raios-X sobre o meio envolvente de hidrogénio (Ovo Virgem) provocando ondas de perturbação gravíticas no espaço-tempo granular (Ovo Eterno) e com isso durante milhões de anos (Germe não-Eterno), formando uma galáxia (Ovo do Mundo).

No ocultismo oriental as Trevas são Espírito puro, e a Luz constitui matéria fazendo parte da ilusão ou Maya.

E finalmente no aforismo 4 da mesma estância descreve-se o nascimento de uma galáxia, que poderia ser o caso da nossa Via Láctea:

“Os Três caem no Quatro. A Essência Radiante passa a ser Sete interiormente e Sete exteriormente. O Ovo Luminoso, que é o Três em si mesmo, coagula-se e espalha os seus Coágulos brancos como o leite por toda a extensão das Profundezas da Mãe: a Raiz que cresce nos Abismos do Oceano da Vida.”

Os “Três” que caem no “Quatro” referem-se ao aparecimento das forças nucleares forte, fraca e electromagnética com as respectivas partículas, no quadro da constituição septenária da matéria e dos seus campos quânticos de gauge, alguns escalares outros vectoriais, outros ainda tensoriais. O Cosmo manifesto (Ovo Luminoso), que são os 3 estados de Brahma ou Vishnu na filosofia védica (os Três em si mesmo), condensa-se através das nebulosas formando as estrelas (Coágulos brancos) que se estendem por todo o Universo (Profundezas da Mãe). O Conhecimento, a Informação (Raiz) que se estrutura e complexifica até ao aparecimento da Vida.

As Estância de Dzyan, pergaminhos esotéricos antiquíssimos de origem tibetana, consideram-se ser os escritos mais antigos do mundo, recuando à Cabala Caldeia e à Judaica ou ao próprio Taoísmo.

Em conclusão, poderíamos atribuir aos Buracos Negros a capacidade de aumentar a entropia armazenando a informação no horizonte de eventos, que neste contexto cosmológico, tem o significado de incluir todos os detalhes de todas as partículas e de todas as forças associadas a um qualquer objecto (planeta, estrela, asteróide, poeira intergaláctica, etc). Ao invés daquilo que o Teorema de Bekenstein previa com a perda de informação num colapso gravitacional, a mecânica quântica contrapõe. Ou seja, enquanto que para a Teoria da Relatividade Geral, a informação que entra num Buraco Negro é destruída, para a teoria da Mecânica Quântica ela não pode ser destruída devido ao Princípio de Heisenberg, ao transformas-se num holograma bidimensional, como anteriormente referimos, num processo baptizado por Stephen Hawking, conhecido por Supertradução, com emissão de partículas (matéria e/ou anti-matéria) ou o designado “cabelo macio de Supertradução” de comprimento de Planck.

Por outro lado, se um buraco Negro estiver em rotação, então no seu centro não se desenvolve uma singularidade, no sentido de um ponto infinitamente denso, o que está em acordo com a concepção de “espaço granular”, mas uma “singularidade” em forma de anel de natureza quântica. Esta última asserção levanta a hipótese da existência de algo mais para além desse anel: um oceano de Informação/Consciência pura onde todas as simetrias por mais exóticas que fossem, seriam repostas através da Energia Escura ou do campo de gauge da Força Única.

Então o Universo seria o resultado da Necessidade manifesta pela Simetria.

A garantia de que as Leis da Conservação são perenes e invariantes.



Bibliografia e notas

(1) De acordo com H. P. Blavatsky em Doutrina Secreta, Vol. I, Svabhâvat é a “essência plástica que preenche o Universo, a raiz de todas as coisas.”

(2) Excerto de um dos Hinos de Cinésio no romance histórico “Viagem iniciática de Hipátia” de José Carlos Fernández, páginas 230 e 231, Edições Nova Acrópole, 1ª edição – Janeiro 2010.

(3) The Chaplygin gas as a model for dark energy, V. Gorini,1,2  - A. Kamenshchik,1,3  - U. Moschella,1,2 - V. Pasquier 4. 1- Dipartimento di Scienze Matematiche, Fisiche e Chimiche, Universit`a dell’Insubria, Via Valleggio 11, 22100 Como, Italy. 2- INFN sez. di Milano, Italy. 3 - L.D. Landau Institute for Theoretical Physics of Russian Academy of Sciences,Kosygin str. 2, 119334 Moscow, Russia. 4 - Service de Physique Theórique, C.E. Saclay, 91191 Gif-sur-Yvette, France.

(4) Termo de origem sânscrita usado por H. P. Blavatsky significando “A Eterna e Incriada Substância existindo por Si Própria e que tudo produz”.

Buracos Negros, As palestras Reith da BBC de Stephen Hawking, Bertrand Editora, 2020.

Brief Answers to the Big Questions, Stephen Hawking, John Murray Publishers, 2018.






O Indescritível

  Indescritível é aquilo que não é passível de descrever ou de descrição, considerando que descrição é achada aqui como a falta de palavras ...