terça-feira, 23 de novembro de 2021

137 e a Constituição Septenária

(Dedicado à Isabel e à Alice nascidas respectivamente a 22 e a 23 de Novembro de 2021) 

por João Gabriel fonseca Porto

Muitos cientistas, desde o início do século passado, dedicaram praticamente toda a sua vida profissional a medir uma constante universal, considerada a mais importante de todas, com a maior precisão possível. O grande Richard Feynman (1918-1988), na sua obra QED: Strange Theory of Light and Matter (1), dizia em 1985, referindo-se à Constante da Estrutura Fina, conhecida pela primeira letra do alfabeto grego alfa (α) e definida pela fracção 1/137: “Tem sido desde sempre um mistério desde que foi descoberta há mais de 50 anos, e todos os melhores físicos teóricos deverão colocar este número nos escaparates dos seus gabinetes revelando a sua preocupação e ignorância com a sua existência. De imediato deverá gostar de saber a sua origem: estará ligada a pi (π) ou talvez à base dos logaritmos naturais? Ninguém sabe.” Ou ainda: “One of the greatest damn mysteries of physics: a magic number that comes to us with no understanding by man” (2).

Richard Feynmam

https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Richard_feynman_-_fermilab1.jpg

Esta constante α relaciona três domínios essenciais da Física: o Electromagnetismo sob o valor da carga do electrão (e), a Relatividade Geral expressa pela velocidade da luz (c) e a Mecânica Quântica expressa pela Constante de Planck (h). Este caso particular levou a que surgissem esperanças de encontrar definitivamente um modelo GUT - Grand Unified Theory com a integração desta constante.

Para calcular alfa é necessário elevar ao quadrado o valor da carga de um electrão, dividir pela velocidade da luz no vácuo multiplicada pela constante de Planck e multiplicar o resultado final por 2π. As unidades de referência deste cálculo são dadas em coulombs, metros por segundo e joules por segundo que se cancelam mutuamente deixando-nos uma fracção de unidades adimensionais seja qual for o sistema de unidades considerado (SI – Sistema Internacional ou CGS – Sistema Dimensional centímetro, grama, segundo) ou seja não depende do sistema de unidades de medida.

Como as unidades de medida c, e, e h se anulam mutuamente, o valor resultante é simplesmente 137.03599913. Por razões históricas é sempre usado o seu inverso 2πe2/hc ou seja 1/137.03599913, de que resulta mais precisamente o valor 7,297352568 x 10-23, designado por número puro que não utiliza nem precisa de unidades de medida. Na equação do Sistema Internacional (SI) ε0 é a permissividade do vácuo ou anteriormente designado éter igual 1/4πK sendo K a constante electrostática no vácuo expressa em unidades Coulombs.

Para alguns astrobiologistas seria o número perfeito a transmitir, na busca de civilizações alienígenas, pois seria do seu conhecimento desde que possuíssem conhecimentos equiparados ao nosso estado de desenvolvimento científico.

A designação de Constante de Estrutura Finaα, também conhecida pela Constante Mágica, advém da interacção dos electrões ou protões (partículas com carga) com os campos electromagnéticos ao determinar a velocidade com que um átomo ao ser excitado emite fotões ou partículas de luz em determinadas frequências do espectro luminoso a designada “estrutura fina”. Em 1955 a descoberta da estrutura fina do átomo de hidrogénio atribuiu o Nobel de Física a Willis Eugene Lamb. Torna-se assim evidente que 1/137 ao caracterizar a força electromagnética aparece em tudo o que se refere aos fenómenos materiais, desde átomos, moléculas, até às partículas com carga, afectando todos os sectores do desenvolvimento científico, desde a Física, á Química até á Biologia. As reacções químicas só são possíveis porque o valor 1/137 ou 7,297352568x10-23 é tão diminuto que permite que a força electromagnética deixe os electrões “saltarem” entre as orbitais dos elementos, controlando deste modo a força das ligações químicas, mas forte suficiente para que as estrelas possam sintetizar os elementos mais pesados da Tabela Periódica, como o carbono, que está na base da Vida.

Toda a realidade imagética, é transmitida de forma codificada, de acordo com as condições definidas por esta constante. A emissão ou absorção de luz em determinadas frequências devido ao “salto” dos electrões em diferentes níveis no átomo, criam as linhas espectrais onde as escuras são a absorção e as claras a emissão, como se fosse uma estrutura fina, tipo código de barras. As propriedades de toda a matéria e energia resultam de uma relação profunda entre nós e o que nos é transmitido. 

“Um objecto é cognoscível ou não pela mente, se ela assumir a “cor” do objecto”, ou em sanscrito “Taduparãgãpeksitvãccisya vastu jñãtãjñãtam” – Pãtañjali 4.17.

A realidade não é o que parece e por detrás desta constatação está a sequência numérica 1, 3, 7, geradora de um valor definitivamente “afinado” para o surgimento da Vida. A molécula da clorofila C55H72O5N4Mg é formada por 137 átomos e nela desenvolvem-se processos quânticos ligados a fenómenos de “entanglement” ou a denominada “acção á distância”, só agora descobertos, e que estão na base da existência de toda a biomassa e do oxigénio que respiramos. O astrónomo e matemático Fred Hoyle, afirmava que a clorofila era muito parecida com uma molécula interestelar, dado a suas propriedades na absorção da luz semelhantes com a poeira interestelar (3).

Figura 1 - Espectro electromagnético

https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Electromagnetic_spectrum-pt_br.svg

“If alpha [the fine-structure constant] were bigger than it really is, we should not be able to distinguish matter from ether [the vacuum, nothingness], and our task to disentangle the natural laws would be hopelessly difficult. The fact however that alpha has just its value 1/137 is certainly no chance but itself a law of nature. It is clear that the explanation of this number must be the central problem of natural philosophy.  Max Born (4). Partilhamos inteiramente da sua opinião sendo que os sublinhados são nossos.

Quando Richard Feynman aviltava intuitivamente uma hipotética relação entre π e alfa (α), não supunha que o valor dos sete primeiros elementos que constituem o valor de π = 3.141592, elevados ao quadrado, 3² + 1² + 4² + 1² + 5² + 9² + 2², resultariam em 137.

Alfa surge de outras relações com π, tais como:

α ≈ 1/cos(π/137)/137  e  α ≈ 4π³ + π² + π, respectivamente com 99.9999% e 99.999% de exactidão relativa ao seu valor.

Que usando π e 137 num triângulo pitagórico obteríamos 137,03601, ou seja um valor aproximado do valor real em cerca de 99,9999%. Sendo um número primo, o 33º, também é um primo pitagórico.

Um primo pitagórico é um número primo da forma 4n + 1 tais como 5, 13, 17, 29, 37, 41, 53, 61, 73, 89, 97, etc. Os primos pitagóricos são exactamente os números primos ímpares que são a soma de dois quadrados ou seja o conjunto dos números primos que podem constituir o comprimento da hipotenusa de um triângulo rectângulo de lados inteiros, por exemplo 29 = 25 + 4. De facto, sendo a única excepção o número 2 (2=12+12), eles são os únicos primos que podem ser representados como a soma de dois quadrados.

Figura 2 – Triângulo Pitagórico e o número 137

Outras relações são estabelecidas pela Gematria ou "numerologia judaica", onde a cada letra do alfabeto hebraico é atribuído um valor numérico, transformando uma palavra no somatório dos valores das letras que a compõem. Kabbalah – em hebraico קַבָּלָה, equivale a 137, cujos números somados 1+3+7 = 11, um número com significado muito poderoso no Zohar, os cinco livros de Moisés sobre a Torah acerca da revelação de Deus, incluindo a Cosmogonia hebraica, que teria sido dada ao rabbi Shimeon Bar Yohai.

Aqui surge Sephiroth (em hebraico: סְפִירוֹת), a “Árvore da Vida”, onde se inscrevem as potências ou agentes construtores, na filosofia Védica referidos no sânscrito como Dhyan-chohans, ou a concepção neoplatónica de Deus, do Uno em Plotino ou ainda da “Alma do Mundo” – Anima mundi, pelos quais Ein Sof (Deus) manifestou a Sua vontade na construção do Universo.

A Árvore da Vida, representada por 11 estádios evolutivos, os 10 Sephiroth mais Ein Sof, a Deidade, tanto pode ser usada para explicar a criação do Universo, a Cosmogénese (visão macrocósmica), como para hierarquizar o processo evolutivo do homem, na sua ascensão a planos superiores de consciência (visão microcósmica). De cima para baixo (o macrocosmo) é composta, de acordo com a mística hebraica, por Kether – Coroa, Chokmah – Sabedoria, Binah – Entendimento, Chesed – Misericórdia, Geburah – Julgamento, Tipareth – Beleza, Netzach – Vitória, Hod – Esplendor, Yesod – Fundamento, Mal'hut – Reino e Daath – Conhecimento.

Figura 3 – Esquema dos 4 planos da Árvore da Vida


Figura 4 - A estrutura das 10 dimensões dos Sephiroth, a sua relação com a dimensão infinita e o número 137.

A Árvore da Vida é dividida em quatro diferentes planos de dimensões energéticas ou de campos quânticos progressivamente mais densos:

1. Atziluth, dimensão das Emanações ou do Pensamento através das quais a Deidade age directamente pelas sephiroth Kether, Chokmah e Binah;

2. Beriah, ou Briah, dimensão das Criações ou da Alma, uma dimensão mais densa onde a acção é transmitida pelos sephiroth Chesed, Geburah e Tiphareth;

3. Yetzirah, dimensão das Formações ou da Corporeidade, onde actuam os sephiroth Netzach, Hod e Yesod, e

4. Asiyah, ou Assiah, dimensão material das Acções onde persiste apenas a sephirah Malkuth.

 

Na filosofia dos Vedas e na Teosofia, de acordo com Helena Blavatsky, a Constituição Septenária vai reflectir esta estrutura com o desdobramento do número 137, onde:

1. O número 1 representa a Deidade referida como o Infinito, o Uno, Brahman, a Mente Cósmica em H. P. Blavatsky;

2. O número 3 como ternário formado por Atma, Budhi e Manas;

3. O número 7 como o somatório das duas estruturas, ternária e quaternária, esta última formada por Kama Rupa, Prana, Linga Sharira e Sthula Sharira.

A tríade superior liga-se ao quaternário inferior pelo Anthakarana.

Figura 5 - Constituição Septenária de acordo com a Cabala Caldaica e a tradição védica

segundo H. P. Blavatsky em “Doutrina Secreta – Cosmogénese”, Volume I


Figura 6 – A Constituição Septenária na óptica dos campos quânticos.

Em nossa opinião o gráfico da Figura 5, sobretudo no que diz respeito á tradição ocultista caldaica, representada do lado direito, está consentâneo com a nossa explanação que, de forma muito sucinta, pode ser sintetizada em duas estruturas principais, graficamente representadas na Figura 6, da seguinte forma:

O Quaternário, onde teremos da esquerda para a direita e de baixo para cima:

4º Plano – Matéria fermiónica (Quarks e Leptões)

3º Plano – Campo Electromagnético – dois globos: Fotões e Neutrinos (de Majorana ou os supostos neutrinos estéreis), os elementos mais abundantes no Universo

2º Plano – Campo Quântico da Força Fraca – dois globos: bosões W e Z

(O 2º e o 3º planos partilham atributos pois formam o campo unificado da Força Electrofraca)

1º Plano – Campo Quântico da Força Forte – 2 globos: Gluões com dois estados de polarização. 

O grande círculo encerra todos os Bosões.

O Ternário:

3º Plano – Campo Quântico covariante Holo-Morfogenético, Akasha

2º Plano – Campo Quântico covariante Granular do Espaço

1º Plano – Campo Quântico covariante da Informação/Consciência

A ligação entre as duas estruturas, o Ternário e o Quaternário, representada nos Vedas pelo Anthakarana é referida como o Campo Quântico do Bosão de Higgs. 

Será esta a resposta que os três grandes físicos, Max Born (1882 – 1970), Richard Feynmam (1918-1988) e Wolfgang Pauli (1900 – 1958) procuravam obsessivamente durante todas as suas carreiras, quando este último disse numa das suas conferências: “When I die my first question to the Devil will be: What is the meaning of the fine structure constant?”.

A ligação misteriosa estabelecida pelo número 137 entre a Ciência e a tradição ocultista oriental com milhares de anos transmitida nos Vedas e depois em todas as principais cosmogonias, a confirmar-se, faz uma série de previsões que poderão futuramente ser testadas, a saber:

1. A existência dos neutrinos estéreis e de Majorana;

2. A existência de outros campos quânticos covariantes atribuídos pela natureza de uma gravitação quântica ao espaço-tempo como “espuma de spins”, o espaço-tempo granular, quantizável;

3. A existência de uma dimensão de natureza quântica que define o actualmente designado campo antrópico holo-mórfico ou morfogenético, transversal a toda a natureza, tipologicamente arquétipo platónico com propriedades de ressonância e transferência de informação, uma espécie de Akasha védico.

4. A informação como campo quântico que permeia todo o Universo como consciência. Diz Rovelli (5) “São muitos os cientistas que suspeitam que o conceito de “informação” poderá ser fundamental para realizar novos passos em frente na física.” Como diria John Wheller, o pai da gravidade quântica: “it from bit” ou “tudo é informação”.

Na realidade estes 4 pontos constituem actualmente fontes de pesquisa, desde o experimento MiniBooNE do Fermilab nos EUA, à computação quântica e experiências de “entanglement”, como aquela realizada pelo satélite chinês Micius, até à detecção dos “Pontos de Hawking” que confirmam a existência de universos passados, indo de encontro à teoria cíclica cosmológica de Roger Penrose e, mais uma vez corresponder à filosofia védica dos ciclos Manvatáricos, ou ainda à teoria granular do espaço-tempo e da Gravidade Quântica em Loop (GQL) de Ashtekar, Smolin e Carlo Rovelli, em que o espaço-tempo obedece às dimensões mínimas relativas à escala de Planck (10-35 metros ou 10-43 segundos) resolvendo de uma vez por todas as questões ligadas às incongruências da existência de singularidades e da abusiva renormalização matemática e unindo finalmente os fundamentos da Relatividade e da Física Quântica.

137, o número que expressa o fenómeno de absorção e emissão de fotões pelas partículas com carga, já imanente naquela dimensão subatómica e da geração dos campos quânticos electromagnético, nuclear forte e nuclear fraco, mas que a um nível de organização de triliões de átomos, onde o todo é superior à soma das partes, como é a matéria viva, produto da evolução de éons de tempo, vai consubstanciar a existência de uma matriz de “luz” indestrutível e permanente, criando numa escala microcósmica a informação sob a forma conhecida de consciência, obra de princípios construtores, memórias organizadas em arquétipos do macrocosmo, cuja Cosmogénese se alicerça em sete axiomas herméticos, na base dos quais reside o conceito de “Construtor” e a sua capacidade de replicação ou cópia, recriando processos contínuos de milhares de milhões de transformações sobre substratos e introduzindo com esse processo novos atributos que constroem e ampliam a Informação tida como Consciência.

De um relance, são eles:

1. O que está em baixo é como o que está em cima – o princípio da organização fractal da natureza também assente no número de ouro Φ = 6,1803 ou Sequência de Fibonacci ou ainda no Espaço anti-DeSitter ou no Espaço Conformal de Roger Penrose;

2. O todo é mental – a equivalência energia-massa-informação no Princípio de Landauer. A realidade é o resultado do colapso de onda ψ (Psi), originada na interferência permanente dos campos quânticos covariantes “de que é feito mundo” (6);

3. Tudo é vibração - Os campos quânticos das forças nucleares forte e fraca, o electromagnético, o de Higgs e aqueles teorizados pela Ressonância Morfogenética de Rupert Sheldrake e pela estrutura granular do Espaço da Teoria da Gravidade Quântica en Loop de Lee Smolin e de Carlo Rovelii.

“ Os campos quânticos covariantes representam a melhor descrição que temos hoje do apeiron, a substância primordial que forma o todo, colocada em hipótese pelo primeiro cientista e primeiro filósofo, Anaximandro.” – Carlo Rovelli (7).

4. Tudo tem o seu oposto - matéria e anti-matéria, carga positiva e carga negativa, atracão e repulsão magnética;

5. Tudo é ritmo - tudo se desenvolve em torno da concepção hinduísta de Rajas, Sattva e Tamas, os ciclos da natureza, desde os eclipses, aos fenómenos económicos até à fisiologia.

6. Toda a causa tem seu efeito - associada à ideia de ciência através de Galileu (Lei do Movimento dos Corpos) e Newton (Lei da Causalidade Newtoniana), mas com antecedências em Aristóteles (distinguia na sua Metafísica quatro causas: formal, material, eficiente e final), deram forma matemática a este princípio;

7. O Género está em tudo - os princípios Masculino e Feminino, a combinação e o equilíbrio dos opostos, da polaridade.

 

Inspirando-nos na filosofia ancestral dos Vedas, dos Upanishads, do Bhagavad Gita, a “criação” do Universo, resulta da complementaridade de Purusha, o campo quântico da consciência/informação (de acordo com o Princípio de Landauer) do qual emana a “Luz” (shakti) com o Campo Granular do Espaço (ver Teoria da Gravidade Quântica em Loop), interferindo com Prakriti (matéria inercial ou o Campo de Higgs), gerando Fohat, o movimento (Magnetismo? Gravidade?) e a forma (Mahat ou o Campo quântico Antrópico Holo-Mórfico) que mantém a harmonia e a ordem no Universo, diferenciando-se logo após nos três estados ou modos, os Trigunas: Sattva, Rajas e Tamas (Fermiões e Bosões da Força Nuclear Forte), a seta entrópica do espaço-tempo, onde a luz cai na matéria.

Vivemos numa época espantosa de viragem radical do conhecimento e da construção de novos paradigmas onde se perde cada vez mais a velha distinção entre ciência e filosofia do século XIX.

 

Notas e bibliografia

(1) R. P. Feynman, QED: The Strange Theory of Light and Matter, página 129, Princeton, Newjersey, Princeton University Press.

(2) Idem

(3) Hoyle, F., Wickramasinghe, C. On the nature of interstellar grains. Astrophys Space Sci 66, 77–90 (1979). https://doi.org/10.1007/BF00648361.

https://link.springer.com/article/10.1007/BF00648361.

(4) THE MYSTERIOUS NUMBER 137. Lecture delivered to the South Indian Science Association, Bangalore, the 9th of November 1935, by Max BORN. Received November 12, 1935. (Communicated by Sir C. V. Raman, Kt., F.R.S., N.I.).

(5) Carlo Rovelli, A Realidade não é o que parece – a natureza alucinante do universo, Contraponto, 1ª Edição Outubro 2019.

(6) Idem.

(7) Idem.

Helena P. Blavatsky, A Doutrina Secreta, Volume IV, Editora Pensamento, 2019.

Richard P.  Feynman, QED, A estranha teoria da luz e da matéria, Edição Gradiva, 6ª Edição Outubro 2021.

Pãtañjali, Yoga Sutra (Aforismos de Yoga), Coleção omnia, Edição CLUC 2020.


Texto publicado em

 https://www.matematicaparafilosofos.pt/137-e-a-constituicao-septenaria/



segunda-feira, 1 de novembro de 2021

O Universo magnético e Fohat


por João Gabriel Fonseca Porto

Na última década deste século, a Astronomia e a Astrofísica tem utilizado recursos observacionais gigantescos, quando comparados com as décadas anteriores, e que envolvem a pesquisa nos mais diversos comprimentos de onda, de objectos do céu profundo tais como aglomerados de galáxias, conduzindo a descobertas cosmológicas espantosas, redefinindo teorias ou ajustando concepções, sempre alargando o nosso campo de visão a panoramas conceptuais e estruturais até há pouco impensáveis e por vezes parecendo pertencer ao reino da fantasia pura dos contos de fadas.

É o caso da utilização do LOFAR – Low Frequency Array, arquitectado em 2012 e que cresceu sobre uma rede de mais de 70.000 pequenas antenas espalhadas por nove países europeus. Captura imagens na frequência rádio FM (110 a 190 megahertz) que, por serem mais longas, não são absorvidas ou bloqueadas pelas poeiras e gases disseminadas no espaço inter-galáctico. No fundamental o trabalho partilhado em rede por estas dezenas de milhar de antenas, cria na prática um telescópio virtual equivalente a uma lente de 120 quilómetros de diâmetro.

Vivemos numa Era de redes e de partilha de dados que permitem criar “pipelines” de distribuição de dados e de imagens digitalizadas com resoluções até há pouco tempo impossíveis de alcançar, disponíveis a todos os astrónomos ou a qualquer comunidade científica esteja em que parte do mundo for. A grandiosidade deste projecto é-nos dada quando sabemos que a obtenção de uma única imagem equivale á manifestação de 13 terabits de informação ou à memória física equivalente de 300 DVD`s, como também pela dimensão internacional do próprio projecto que reforça o facto de a Ciência não ter fronteiras.

A pesquisa em múltiplas frequências, desde micro-ondas, raios X, raios gama, ondas rádio e agora as ondas gravitacionais, permitem descortinar fenómenos distantes a muitos milhões de anos-luz, recuando à juventude do Universo, envolvendo a formação estelar, o âmago das galáxias, os seus núcleos galácticos activos, o bater do seu coração – os buracos negros hiper-massivos.

A análise de toda esta informação tem revelado a existência de um Universo magnético povoado por campos de forças que modelam redes de filamentos electromagnéticos que confinam os fluxos de matéria, onde circulam electrões a velocidade lumínicas, estruturando deste modo a designada “Web Cósmica” e perpassando todo o espaço por mais vazio que seja.

A grande questão que se coloca é relativa à sua origem: estes campos de força colossais não podem ter sido originados pelas explosões de Supernovas ou apenas pelos Núcleos Galácticos Activos (NGA`s). Pela sua dimensão e natureza universal deverão estar relacionados com a origem do próprio Universo e, muito provavelmente, com a sua expansão acelerada de 67.4 quilómetros por segundo por megaparsec, verificada em 1998 pelo Supernova Cosmology Project e pelo High-Z Supernova Search Team (agraciados por um Prémio Nobel da Física), através da informação obtida pelo observatório espacial Planck.

Figura 1 – Fundo Cosmológico de Micro ondas.

Crédito: European Space Agency, CC BY-SA 4.0 <https://creativecommons.org/licenses/by-sa/4.0>, via Wikimedia Commons

Esta expansão foi confirmada posteriormente através das medições das designadas “baryon acoustic oscillations”, que deram exactamente o mesmo valor H0 = 67.4, (H0 é a constante de Hubble). Contudo este valor já foi alterado para H0 = 73.3 pela análise do efeito lenticular gravitacional produzidos por 6 Quasares, trabalho conduzido pelo grupo de cosmologistas conhecido por H0LiCOW e depois para H0 = 74.0 pelo grupo SH0ES. Em qualquer caso a expansão é superior à obtida pelo satélite Planck que nos ofereceu a bonita imagem do Fundo Cosmológico de Micro-ondas onde o Universo surge apenas com 380.000 anos de idade, quando se tornou “transparente” a uma temperatura de 27000 Célsius.

Estes estudos representam afinal um dos métodos de medir a velocidade de expansão do Universo, fundamentados nas observações ditas “locais” como as realizadas pelos grupos H0LiCOW e SH0ES. Ultrapassadas estão as medições da década de 1930 do observatório do Monte Wilson feitas por Edwin Hubble e Vesto Slipher, correspondentes a 528 quilómetros por segundo por megaparsec, devido a erros sistemáticos subtis, entre os quais aqueles derivados do uso de estrelas Cefeidas situadas nas Nuvens de Magalhães (1).

Figura 2 – Nuvens de gás modeladas por “ventos” Electromagnéticos povoam o espaço galáctico. Constituídas essencialmente por hidrogéio e oxigénio, são o produto actual da explosão de Supernovas. A imagem mostra as NGC6960, NGC6974, NGC6979 e o Triangulo de Pickering que constituem parte da Nebulosa do Véu. Imagem do autor obtida em 23 e 25 de Outubro de 2021.

Alguns cosmologistas, como Karsten Jedamzik e Levon Pogosian, têm argumentado que um campo magnético fraco primordial, presente num universo muito jovem, de baixa entropia, poderia ter conduzido a este fenómeno constatado de rápida e acelerada expansão. Esta situação garantiria à partida uma flecha do tempo própria à nossa existência, reforçando a visão antropocêntrica que coloca o Homem como fim último ou pelo menos como etapa de uma ascese evolutiva, em que as propriedades e a natureza das coisas, nomeadamente da Constante de Hubble H0, derivam do estreito relacionamento Homem/Universo, da interacção Consciência/Matéria. A entropia não passaria então uma ilusão como defende Carlo Rovelli e os Vedas, distanciados por milhares de anos.

Figura 3 – Simulação do Universo pelo Projecto Milleninium Run que descreve as grandes estruturas cósmicas em 15/Mpc/h.

Crédito: Chang, Yi-Fang. (2021). Physical Science & Biophysics Journal Committed to Create Value for Researchers Information, Entropy Decrease and Simulations of Astrophysical Evolutions Information, Entropy Decrease and Simulations of Astrophysical Evolutions. Physical Science & Biophysics Journal. 2021. 000181.. 10.23880/psbj-16000181.

Centrados neste problema conhecido como “crise da cosmologia” ou “tensão cosmológica”, potenciada pela até agora indetectável matéria e energia escuras, e pela probabilidade de isto acontecer por mero acaso, ser agora inferior a 1/100.000, os cosmologistas demonstram agora admiração por nunca ter sido levado em linha de conta a natureza dos campos electromagnéticos ou o magnetismo nos estudos dos modelos tipológicos do Universo.

Se bem que o Fundo Cosmológico de Micro-ondas tenha confirmado a hipótese introduzida pela Relatividade Geral de Einstein de o Universo, visto em grande escala, ser homogéneo e isotrópico, ou seja que é possível observar as mesmas estruturas independentemente do lugar onde nos situemos, então como é possível, que a matéria, composta por hidrogénio e hélio, se tenha concentrado em filamentos e aglomerados para formar estrelas e galáxias 200 a 400 milhões de anos depois do Big Bang? Que forças estiveram presentes para que surgisse uma imensa teia de aranha representada por filamentos unindo galáxias e aglomerados de galáxias, também já confirmados por simulações digitais feitas em super computadores?

Acredita-se que uma plêiade de telescópios terrestres em construção (o Dark Energy Spetroscopic  Instrument e o Vera Rubin), assim como outros telescópios espaciais que serão em breve lançados (o James Webb e o Euclides), poderão serenar estas inquietações existenciais.

 

O magnetismo não é assunto tão recente quanto se possa pensar. Fenómeno nunca avaliado ou comentado no pensamento de Aristóteles, foi sempre encarado como uma propriedade oculta. Contudo em 1600 um médico inglês chamado William Gilbert (1544-1603), coperniciano convicto, realizou experiências sobre as então consideradas propriedades ocultas do magnetismo, dedicando grande parte da sua vida a investigá-las.

É do consenso geral que a bússola apareceu na Europa, o mais tardar, no século XII, vinda do oriente de um país tão distante como a China, pressupondo contudo já existir no Ocidente conhecimento das pedras magnéticas e dos seus efeitos, encarados como mágicos. Assim, Pedro, o Peregrino, julgava que as bússolas apontavam para o pólo celeste e que se alinhavam devido à presença de um íman celestial.

Foi William Gilbert que, como médico experimentalista e filósofo natural, encarou a experimentação laboratorial, desenvolvida até então pelos alquimistas, como fonte de dados que compilados e analisados levaram pela primeira vez à distinção entre magnetismo e electricidade estática. Para Gilbert, a Terra tinha uma alma, estava viva e possuía uma “mente astral magnética”. Citando James Hannam, para ele “todo o sistema solar era uma combinação de seres magnéticos que eram impelidos pelo espaço através da força do magnetismo.” (2). Esta é a primeira vez que no Ocidente, datando da Idade Média, encontramos uma relação entre o magnetismo e o cosmos, muito provavelmente inspirada por Giordano Bruno aquando da sua estadia em Oxford em 1583.

 

O magnetismo e o electromagnetismo só voltariam a ter honras de ciência no século XIX com três expoentes: Hans Christian Oersted (1771-1851), André-Marie Ampère (1775-1836) que construiu o primeiro electroíman na base do qual estão aparelhos como o telefone, o microfone, o alto-falante e o telégrafo, e ainda Michael Faraday (1791-1867), com a descoberta da indução electromagnética, na base dos motores mecânicos movidos a electricidade e dos transformadores. Finalmente James Clerk Maxwell (1831-1879), a quem se deve a descoberta da velocidade da luz e do campo electromagnético através de equações matemáticas, e que em 1863 unificou os fenómenos eléctricos e magnéticos.

Estes desenvolvimentos conduziram à formulação de um grupo de leis que informam o electromagnetismo e são expressas nas 4 equações de Maxwell, a saber a lei de Gauss para a Electricidade (que inclui a lei de Coulomb), lei de Gauss para o Magnetismo, lei de Ampère-Maxwell e a lei de Faraday-Lenz, todas complementadas pela lei de força de Lorentz.

Até o final do século XIX, acreditava-se que com estas equações não havia mais nada para ser descoberto na Física. Conta-se que quando jovem, Max Planck ao ter manifestado o ensejo de estudar Física foi aconselhado a não o fazer por esta ter supostamente atingido o seu fim. No entanto seria Max Planck que iniciaria o século XX como autor da Física Quântica e Albert Einstein com a Teoria da Relatividade Geral, abrindo novos caminhos ao conhecimento.

 

Poderá afirmar-se que até finais do século XX, o tempo foi de consolidar os aspectos que envolviam estas leis do magnetismo e do electromagnetismo, que nem mesmo a Mecânica Quântica e a Teoria da Relatividade Geral colocaram em causa, apenas ampliaram o seu campo de aplicação com a descoberta de novos estados da matéria (os condensados de Bose-Einstein, os plasmas de quarks e gluões, os estados superfluidos e os supercondutores, formas de transição entre os estados sólido e liquído e ainda a matéria degenerada encontrada nas estrelas de neutrões e anãs brancas).

Só muito recentemente com o surgimento de Projectos como o Millennium Simulation, motivados pelo paradoxo da Crise Cosmológica, estimularam outros estudos propiciados por tecnologia emergente, como o citado LOFAR, o Virgo Consortium na Itália, o GEO600 ou, o ainda mais recente, Laser Interferometer Gravitational-Wave Observatory – LIGO nos EUA (o sinal GW150914 só foi detectado pelo LIGO muito recentemente, em 14 de Setembro de 2015).

De facto, a lei do inverso do quadrado da distância em gravitação e electricidade, sugeria que, em analogia com as cargas eléctricas quando aceleradas produziam ondas electromagnéticas, também as massas aceleradas na Teoria da Relatividade num campo da gravidade podiam produzir ondas gravitacionais. As ondas gravitacionais propagando-se á velocidade da luz já haviam sido propostas, muito cedo em 1905, por Henri Poincaré.

Realmente se existem algumas forças que possam modelar o Universo em larga escala, essas forças serão a gravidade e a electromagnética. Ambas são portadoras das duas faces de Janus, o deus romano das transições e dos começos, representando o passado e o futuro, a polaridade positiva e negativa no electromagnetismo, a atracão das massas e a repulsão – vista como a expansão acelerada do Universo -, na gravidade.

Contrariamente á electricidade, que como fenómeno local é transitório e de curta duração pela anulação das suas polaridades, os campos magnéticos, apenas visíveis pelos efeitos produzidos sobre a matéria, criados na origem das cargas eléctricas, persistem e desenvolvem-se no espaço-tempo. Foi assim, que as observações do LOFAR, conduziram á descoberta em meados de Novembro de 2014, de emissões de rádio de baixa frequência nos enxames de galáxias Abell 0399 e Abell 0401, unidos por filamentos electromagnéticos, que conduziam fluxos de electrões a velocidades quase lumínicas com Efeito Sincrotrão (emissão de radiação).

Esta descoberta levou ao aparecimento de uma nova temática denominada teoria da magnetogénese (Harrison, E. R., 1973). Tenta explicar como nos primeiros segundos do Big Bang aconteceu a quebra de simetria com a fase de Bariogénese, entre 10 - 12 e 10 - 4 segundos após o Big Bang, onde acontece a separação das forças electromagnéticas das forças nucleares fracas (Vachaspati, 1991). Surgindo como magia do “vazio”, todo o manancial de energia traduzido na aniquilação de pares de partículas e anti-partículas (bariões são partículas subatómicas compostas por três quarks.) com a consequente turbulência electromagnética que se expandiria aceleradamente, criando uma estrutura filamentar e de vórtices que perpassa por todo o Universo manifestado.

O maior problema tem sido a detecção dos efeitos destes campos electromagnéticos. A investigação tem se centrado no mencionado Efeito Sincrotrão, quando as partículas de carga rodam em vórtices perto da velocidade da luz emitindo frequências de rádio, e no Efeito Faraday quando a intensidade do campo magnético faz rodar a polarização da luz que passa por ele. A esperança cresce agora com o Projecto SKAO – Square Kilometer Array Observatory Consortium, que entrará em funcionamento em 2027 e de que faz parte Portugal.

Até lá, no entretanto, poderemos recuar até às Estâncias de Dzyan, pergaminhos esotéricos antiquíssimos de origem tibetana, que se consideram ser os escritos mais antigos do mundo, recuando à Cabala Caldaica e à Judaica ou ao próprio Taoísmo.

Helena Petrovna Blavatsky (1831-1891) ao comentar estas estâncias na Doutrina Secreta, no tomo relativo à Cosmogénese, lembra que o conceito sânscrito de Fohat está ligado ao da “electricidade cósmica” no âmbito de uma bipolaridade inata à própria Natureza e representada pela potência activa (masculina) e por Sakti como a potência reprodutora (feminina). No seu conjunto poriam em acção as leis da evolução cósmica, também referida como aspecto dos Trigunas na filosofia Hinduísta – Rajas, Sattva e Tamas. Também aqui as partículas bariónicas (protões e neutrões) são compostas por 3 quarks. A semelhança é espantosa com o processo da Bariogénese aceite pela cosmologia actual e anteriormente descrito de forma muito sumária!

Figura 4 – O deus Janus.

Crédito: commons.wikimedia.org/wiki/File:Janus1.JPG

Diz H. P. Blavatsky em Cosmogénese, nos seus comentários às Estância V (3): “Fohat é, portanto, a personificação do poder eléctrico vital, unidade transcendente que enlaça todas as energias cósmicas, assim nos planos invisíveis como nos manifestados; sua acção se parece – numa imensa escala – à de uma Força viva criada pela Vontade, naqueles fenómenos em que o aparentemente subjectivo actua sobre o aparentemente objectivo e o põe em movimento.”

E mais adiante confirma: “No plano cósmico, está presente no poder construtor que, na formação das coisas – do sistema planetário ao pirilampo e à singela margarida -, executa o plano que se acha na mente da Natureza ou no Pensamento Divino, com referência à evolução e crescimento de tudo o que existe.” Segundo Blavatsky, Fohat é muitas vezes designado como o “Mensageiro” ou, diríamos nós, o campo quântico electromagnético que transmite a força que vai modelar o Cosmos.

Um Universo magnético, que poderá seguramente em certas circunstâncias concorrer/emparelhar com a gravidade, que mais não é do que o espaço-tempo curvado pela matéria/massa/energia, foi no entanto assumido pelos textos filosóficos mais antigos da humanidade, numa simbologia propositadamente oculta e envolta na mitologia que chegou até nós (exemplo da mitologia greco-romana com Eros e Cupido), transcorridos milénios, e que moldou as mais importantes mensagens religiosas, contudo já sem o impacto do seu verdadeiro significado na memória da humanidade.

 

Saído das oscilações do vazio quântico, também denominado na Teosofia como a “Substância Absoluta”, “Trevas Primordiais”, “Pensamento Divino”, também designado pelos hinduístas de Svabhâvat, e na Cabala hebraica conhecido como Ain-Soph, Fohat é considerada, em termos gerais, a força agregadora dos elementos constituintes da matéria, no sânscrito Prakriti emanada por Purusha, e estando também na origem do electromagnetismo cósmico tradicionalmente conhecido como Kundalini ou Prana, quando referido aos aspectos biológicos da vida.

 

Assume a tradição oculta que os campos quânticos do Fohat são em número de 49, desdobrando-se em 7 planos vibracionais principais (4) cada um composto por 7 subplanos, que irão corresponder a dimensões distintas que caracterizam os estados evolutivos da matéria, como se esta para além dos 5 estados actualmente conhecidos pela ciência (sólido, liquido, gasoso, plasma e condensados Bose-Einstein) pudesse assumir muitos outros campos de força de natureza quântica ainda desconhecidos.

 

Fohat, concebido nesta tradição, como um “Raio Único”, designado também como o “Solitário dos Céus” nas Estâncias de Dzyan, poderá ser traduzido como sendo uma ressonância emitida pela oscilação do vazio quântico característico do espaço vazio absoluto, logo no início do Big Bang ou na última/primeira fase se considerarmos o modelo Cosmológico Cíclico Conformal (CCC) de Roger Penrose, e que irá diferenciar-se em 49 vibrações harmónicas de campos quânticos, entre as quais os campos electromagnéticos primordiais que poderão assim ser mais fundamentais do que os fotões, encarados como funções de onda da partícula da luz.

 

De facto, os campos quânticos comportam-se como um “material” elástico, propagando-se no espaço-tempo, que tal como um corda de uma viola, podem vibrar com múltiplas frequências de ressonância. Ora, para haver ressonância é necessário aplicar uma força oscilante exterior na frequência natural do “material”, cuja vibração aumentará de imediato. Ou seja, com a aplicação de uma força externa é possível gerar uma multiplicidade de frequências. Este desiderato foi trabalhado por Pitágoras ao descobrir os tons consonantes e a escala musical.

Assim sendo, um campo quântico pode funcionar como uma força externa enquanto outro pode interagir de imediato e ressoar um quanta de vibração. Ou seja a oscilação do vazio poderá produzir uma multitude de frequências que vão gerar partículas, os primeiros bariões.

 

Deduzida da amplamente conhecida fórmula de Einstein

 

E = mc2 onde E = hf (Energia = constante de Planck vezes a frequência)

 

a frequência de um campo quântico sobre outro de massa m pode fazer ressoar um quanta de vibração se aquela frequência for

Assim, o quantum de campo da inflação poderá comportar-se como um grande conjunto de osciladores como o faz uma corda de viola ao vibrar. No entanto a inflação cósmica sincroniza todas essas fases, como se a cacofonia de notas de uma orquestra em ensaio fosse convergindo para a mesma nota musical. No fundo trabalho executado pelo efeito da entropia, a segunda lei da termodinâmica.

Seguindo o pensamento de Chiara Marletto, expresso na sua recente Teoria dos Construtores, poderemos afirmar que Fohat terá sido um “construtor”, um “substrato” entre outros, constituído por informação de natureza quântica – os Lipikas sânscritos, os “catalisadores” (5), a referida força exterior, que fez o ajuste fino para que o campo de inflação tivesse as propriedades correctas, para que o Universo, pudesse existir com as suas forças electromagnéticas e forças nucleares forte e fraca, possuidoras das grandezas adequadas, ajustadas como uma parte em um milhão de milhões. Para que um novo Manvatara tivesse início deixando para trás “Pontos de Hawking” emitida pelos Buracos Negros hipermassivos primordiais e visíveis ainda na radiação cósmica de fundo, como impressões digitais.

Tal como na música, a “oitava maior” da escala tem repercussão na “oitava menor”, assim o desdobramento de ressonâncias do campo de inflação evitou qualquer desvio deste número tão insignificante de   que conduziria a um Universo manifestado inabitável. 

Pitágoras chamou-lhe a “Musica das Esferas”, a Doutrina Secreta os 49 (7x7) Fogos de Fohat.

É espantoso como a actual Cosmologia, recorrendo à Física Quântica, e a doutrina secreta revelada nos Vedas, nos Puranas, no Bhagavad Gita ou em outros textos de filosofia milenar, se entrecruzam e caminham na mesma direcção.

 

Ponta Delgada, 1 de Novembro de 2021

Notas

(1) Diferentes métodos têm dado diferentes resultados. Enquanto o Fundo Cosmológico de Micro-ondas mediu 67,4 km/s/Mpc, as Cefeidas 73,2 km/s/Mpc, as Estrelas Gigantes Vermelhas 69,6 km/s/Mpc, as Supernovas do tipo 1A 72 km/s/Mpc, os Quasars 73,3 km/s/Mpc, por último as ondas gravitacionais mediram 69 km/s/Mpc (ainda em calibração de método). Por exemplo uma Constante de Hubble H0 igual a 73,3 km/s/Mpc significa que a cada segundo, um cubo de espaço com 1 Mpc de lado cresce 73,3 quilómetros.

(2) James Hannam, A Origem da Ciência, pag.302.

(3) Helena Blavatsky, Doutrina Secreta, Volume I, Cosmogénese, Estância V.

(4) O Hinduísmo e o Budismo possuem as sete “Lokas” ou “Mundos”.

(5) Em “The Science of can and can`t”, Chiara Marletto afirma: “… muitas das transformações que são possíveis no mundo físico devem ocorrer através de um catalisador que as promove. Também já notei que todos os catalisadores devem conter um catalisador abstracto, ele próprio feito de conhecimento (knowledge) …. Conhecimento é definido integralmente por contra factos: é informação que é capaz de permanecer identificada em sistemas físicos.”

Bibliografia

Chiara Marletto, The Science of can and can`t, Penguin Books, 2021.

F. Govoni, E. Orrù, A. Bonafede, M. Iacobelli, R. Paladino, F. Vazza, M. Murgia, V. Vacca, G. Giovannini, L. Feretti, F. Loi, G. Bernardi, C. Ferrari, R. F. Pizzo, C. Gheller, S. Manti, M. Brüggen, G. Brunetti, R. Cassano, F. de Gasperin, T. A. Enßlin, M. Hoeft, C. Horellou, H. Junklewitz, H. J. A. Röttgering, A. M. M. Scaife, T. W. Shimwell, R. J. van Weeren, M. Wise, Supplementary Materials for a radio ridge connecting two galaxy clusters in a filament of the cosmic web, Science 364, 981 (2019).

H. P. Blavatsky, A Doutrina Secreta, Volume I, Cosmogénese, Editora Pensamento, 2020.

Harrison, E. R., Magnetic fields in the early Universe, Monthly Notices of the Royal Astronomical Society, Vol. 165, p. 185 (1973), 1973.

James Hannam, A Origem da Ciência, Alma dos Livros, 2021.

Robert P. Kirshner, O Universo extravagante, Forum Ciência, Publicações Europa-América, 2005.

Tanmay Vachaspati, Magnetic fields from cosmological phase transitions, Physics Letters B, Volume 265, Issues 3–4, 1991, Pages 258-261, ISSN 0370-2693, https://doi.org/10.1016/0370-2693(91)90051-Q.








 


 

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