A Cromo Dinâmica Quântica (QCD), constitui hoje
um dos pilares da descrição física do Universo através da teoria quântica dos campos. Além
da interacção electromagnética, tanto a interacção fraca quanto a interacção
forte são descritas por teorias quânticas de campos, que reunidas formam o que
conhecemos por Modelo Padrão que considera, tanto as partículas que compõem a
matéria fermiónica (quarks e leptões) quanto as partículas mediadoras de forças
(bosões de gauge), atribuídas como excitações de campos fundamentais.
A teoria quântica dos campos transforma a
matéria, constituída por hadrões e leptões, bem como os condutores da força que
os mantém unidos, os bosões mensageiros, como excitações de um campo
fundamental de energia mínima não-nula que define o vácuo.
Os campos quânticos gerados pelas forças
nucleares forte e fraca presentes nas interacções entre os protões e neutrões,
mantendo a coesão dos núcleos atómicos, não podem desaparecer depois que os
núcleos, os protões e neutrões ou os próprios quarks deixam de fazer parte do
organismo vivo: a informação contida nestes campos quânticos, somatório das
energias individuais das partículas até ali partilhadas entre si no ser vivo, em
que claramente o todo é maior que a soma das partes, não colapsa e continuará a
existir no espaço, no vácuo encarado agora como estado de baixa energia, ele
próprio aliado ao tempo, e considerado campo quântico fundamental que se contem
a si próprio, por certo de outra natureza que não a vectorial ou a escalar inerentes
ao espaço de Hilbert. No conjunto formam como um “emaranhado” de forças co-variantes
sobrepostas tal qual extra dimensões flutuantes ocupando o mesmo ambiente
tetradimensional, à escala de Planck.
A compreensão da natureza das forças nucleares forte e fraca tem
constituído, por mais de 80 décadas, um dos maiores problemas da física moderna, o chamado “problema intrínseco”. Para
tanto foi criada uma efectiva teoria de campo (EFT) que propõe entender as
forças nucleares como interacções residuais, tais como as forças de van der
Walls entre átomos, neste caso aplicadas entre quarks mediadas por gluões e
cujo objectivo é manter os nucleões como estrutura estável da matéria.
Em termos gerais na mecânica quântica
o Universo é descrito por três entidades matemáticas:
a) Por um objecto Н designado
Hamiltoniano que descreve a energia total do sistema;
b) Por uma matriz de densidade que
estabelece a relação entre todos os estados quânticos do sistema;
c) Pela equação de Schrodinger que
descreve a influência do tempo.
No entanto este modelo de análise conduz
a um número infinito de soluções matemáticas.
Isto leva-nos a pensar que a percepção
clássica tridimensional que temos do Universo é apenas uma das mil e uma formas
pela qual o nosso cérebro interpreta o colapso da função de onda, por certo a
forma que garantia a sobrevivência, a forma desenvolvida e aperfeiçoada durante
éons de tempo. No entanto outras formas existem não perceptíveis nesta
realidade dimensional e que representam outras probabilidades consideradas
exóticas pela matemática. É aqui que se fundamenta a concepção hinduísta de
“Maya”.
É assim que depois que os organismos biológicos terminam as suas
funções vitais, colapsa e é
dada por finda toda a rede de actividade electromagnética que corporiza o
“Prana” que assumia a forma de uma autêntica cápsula magneticamente polarizada
revestindo exteriormente e abrangendo alguma distância em torno do ser vivo. Nesta
circunstância também as forças
nucleares persistem temporariamente organizadas em matriz, proveniente do
“entanglement” ou emaranhamento quântico anteriormente estabelecido. Esta
persistência prolonga-se por algum tempo (crê-se que normalmente 2 a 3 dias)
enquanto as ligações moleculares dos componentes biológicos se vão degradando
aos poucos.
É
sabido que no exercício das funções vitais, as bio-moléculas tomam
configurações funcionais de acordo com o electromagnetismo imanente das suas
estruturas que as configuram geometricamente como “fechadura/chave” nos
mecanismos actuantes dos processos Receptores/Efectores que constituem as bases
do metabolismo celular. Assim, as polaridades electromagnéticas das
bio-moléculas, que estão na base da sua configuração activa, surgem devido à
deslocalização e rearranjo das orbitais atómicas criando fenómenos de natureza
quântica essenciais à vida, tais como os fenómenos conhecidos como efeito
túnel, “entanglement” e superposição. Assim se conclui que são as leis da
física quântica, ainda que na actualidade mal compreendidas, que regulam as
funções vitais, o ARN e o ADN e as sínteses proteicas, a função das proteínas,
as hormonas, a regulação dos genes, a divisão e diferenciação celulares e a
morfogénese na formação dos tecidos e órgãos.
Todos
os organismos emitem radiação lumínica de baixa intensidade e na altura da
morte essa radiação é cerca de 1000 vezes mais potente do que aquela emitida
durante condições normais em vida. Este “deathflash”, como é conhecido, é
independente da causa da morte e reflecte em intensidade e duração o
desenvolvimento do fenómeno da morte em si mesma (1).
Entretanto as duas “forças” nucleares, encaradas como campos
quânticos de informação organizada, formam respectivamente o “Astral” ou
“Lingasarira” e o “Manas Inferior” ou “Kamarupa” que no seu conjunto formam o
“fantasma Kamarúpico”, pois ao conterem a informação do ser que foi vivente,
são transportadoras de propriedades ou atributos, “Skandhas” em número de cinco
no sistema esotérico Budista do Norte, que caracterizavam, quando vivo, os
instintos animais e hábitos, sob a forma de paixões e desejos: os contributos
exteriores para modelar e accionar a transmissão fenoménica ligada às
características Epigenéticas. A própria informação da forma tri-dimensional do
organismo (“Rupa” ou corpo) poderá continuar a existir, tal a potência da
informação das forças nucleares forte e fraca que apesar de agirem a nano
distâncias, 10--14 e
10-18 metros respectivamente, no interior dos
núcleos atómicos, antevêem possuírem contudo um âmbito de actuação muito mais
alargado. Ou seja, sendo 10 milhões de vezes mais fortes que as ligações
químicas que mantêm unidos os átomos nas moléculas e não produzindo no entanto
efeitos visíveis nos fenómenos do nosso dia-a-dia, formam contudo por distorção
ou ruptura do espaço-tempo uma outra dimensão de natureza quântica, o designado
sânscrito “Kamalokas” ou o “Limbus”, o submundo “Amenti” dos Egípcios ou o
Hades da antiga mitologia grega onde iam desaguar todos os rios, também em
número de cinco – o Estige, o Aqueronte (rio da dor), o Letes (rio do
esquecimento), o Phlegethon (rio do fogo) e o Cocyto (rio das lamentações).
Esta dimensão de natureza quântica será assim
povoada pelos “Eidolas Astrais”, tanto “Elementares” quando relativos fundamentalmente
a seres vivos inferiores ou “Cascas Kamalokicas” quando referidos a seres
antropóides mais evoluídos e humanos.
Os rios aqui encarados como idealização de
fluxo continuamente evolutivo e transitório na sua constituição, sede emergente
de fenómenos locais em “entanglement” permanente, tal como um meio ondulatório
de probabilidades. Nos rios, os espaços (as margens) ditam às massas (águas)
como se comportarem e as massas (águas) ditam aos espaços (margens) como se
apresentarem. O mesmo acontece no Espaço e no Tempo einsteiniano onde ambos têm
uma natureza relativa e não absoluta newtonianas, e por fim fazem a ligação
entre o micro e o macrocosmo, entre o mundo quântico e o cosmos.
Ora, é este Espaço-Tempo, veículo que se
contem a si próprio, encarado agora como uma dimensão quântica pela actual teoria
da gravitação em laços e designada “Buddhi” no sânscrito, que vai albergar a
informação Holo-morfogenética ou o “Manas Superior”, fazendo a transição entre
o “Kama Manas”, “Manas Inferior” ou “Kamarupa” sede da manifestação das forças
nucleares fracas que se manifestam materialmente nos fenómenos ligados ao mundo
da matéria, no decaimento radioactivo e no funcionamento de todas as estrelas, de
que depende toda a vida no planeta. Esta transição é conferida pelo Bosão de
Higgs ao conferir massa à matéria – considerada pela metafísica como a descida
do espírito na matéria, o “Antakarana”.
Esta estrutura Holo-morfogenética ou “Manas
Superior” é residência da informação utilizada pelo “Karma” sob a forma de
qubits ou “Lipikas” sânscritos, impressos nela e resultantes no ser humano dos
processos mentais da consciência, acumulados durante a vida e nos seres inferiores
pelos processos automáticos mais comuns ligados à sobrevivência instintiva e que
eticamente se poderiam traduzir em méritos e desméritos ou simplesmente nas
causas, fonte de simetrias, necessárias ao desenrolar da entropia (causa vs
efeito) como processo geral e universal do “Dharma”, estendendo-se por ciclos
de vida de “Brahma”. Estes possuem dimensões de tempo titânicas à nossa escala,
compostos por um ciclo “manvantárico”, 311 040 000 000 000
anos terrestres, e outro ciclo denominado “pralaya” de igual duração,
perfazendo uma vida de “Brahma” ou um período de actividade do Universo.
O “Manas superior” como estrutura fractal
holomórfica dependente da estrutura quântica em “laços” do espaço-tempo ou ”Budhi”
onde realiza a sua existência, e que reproduz de forma fractal, representa no
seu conjunto o mundo dos “Arquétipos” platónicos ou o “Akasha” sânscrito, a que
por vezes temos acesso e que classificamos comummente como intuição. Esta
estrutura quântica, agora designada por “espuma de spins”, possui a
particularidade de ser influenciada pelo “Manas Inferior” ao poder adquirir e
armazenar através dele, influências de natureza informativa – energia sob a
forma de momentum, que irá moldar
aspectos kármicos posteriores durante a evolução através dos processos reencarnatórios.
No entanto enquanto esta última colapsa com o tempo após a morte, as outras
permanecem e são veículos de manifestação do “Atma”.
O “Atma”, “Eu Superior” ou “Espírito” poderá
traduzir-se por um campo quântico de informação perene, a verdadeira
consciência, em “entanglement” permanente e sincronizado com o “Absoluto”
infinito, o “Apeiron”, parcela da Consciência global de que faz parte.
O seu conjunto formal – “Atma”, “Budhi” e “Manas”, integram a tríade que tudo envolve e ordena, e da qual ciclicamente renascemos para as quatro dimensões, fenómeno incontornável de entropia, a grande ilusão: “Maya”.
Será importante referir, ainda que de modo
muito sucinto, que muitos pensadores e investigadores, situados na área da
Ciência, têm sido atraídos pelo conceito que liga informação como consciência e
as propriedades quânticas da matéria. Em 2015 o cosmólogo sueco Max Tegmark
lançou a ideia da informação como consciência, unindo conceitos distribuídos
pela cosmologia e filosofia, ao apontar que a consciência seria um “estado de
matéria” a que denominou de “perceptronium” onde a informação estaria
organizada de modo a revelar a subjectividade e a consciência (2).
Outros, como o físico teórico Erik Verlinde,
da Universidade de Amesterdão, que em 2011 recebeu o prémio Espinosa, defendem
que o espaço-tempo é uma rede de bits quânticos, lançando a hipótese de que a
gravidade não é uma força fundamental da natureza mas que emerge das
interacções de um campo quântico de informação que permeia todo o Universo e
constituinte possível da matéria escura (3). Koenraad Schalm, físico teórico da
Universidade de Leiden, que estuda a teoria das cordas e as suas ligações aos
modelos da física das partículas e da cosmologia em particular, defende a mesma
opinião.
Hassan H Mohammed, outro físico teórico da
Universidade de Basrah, afirma num dos seus trabalhos (4): “A evidência
científica conduz à conclusão de que a mecânica quântica prediz a existência de
uma alma ou de uma consciência. Esta conclusão baseia-se no processo material
objectivo, tal como os processos neurais cerebrais e concomitantemente a
experiência subjectiva consciente. A reversão do tempo na informação quântica
de que a metafísica da alma e as fracas medições na mecânica quântica levam à
conclusão de que a metafísica da dualidade corpo-alma, pode ser descrita a
partir das leis da natureza e da física e que a metafísica pode ser concebida
como aspectos da realidade externa do nosso universo e da realidade interna da
nossa mente.”
Ainda como afirma o físico teórico Carlo Rovelli (5): “ Os campos quânticos covariantes representam a melhor descrição que temos hoje do apeiron, a substância primordial que forma o todo, colocada em hipótese pelo primeiro cientista e primeiro filósofo, Anaximandro.”
Esta aproximação à metafísica, eivada de
concepções cartesianas e de pensamento objectivo próprio do tradicional método
científico, representa conquistas no próprio campo metodológico assertivo da
Ciência, constituindo deste modo um passo importante na compreensão de alguma
fenomenologia característica desta área do conhecimento, que agora abre caminho
a custo por entre a crise actual instalada na física, na biologia, na
cosmologia e na astrofísica, paradigma inelutável da Síntese que se aproxima.
“O que é esta vida que corre
Em nossos corpos como fogo?
O que é?
A vida é como ferro quente,
Prestes a ser derramado.
Escolha o molde,
E a vida o abrasará.”
Mahabharata
Notas e bibliografia
(1) Slawinski, J., Electromagnetic radiation and the afterlife.
J Near-Death Stud 6, 79–94 (1987). https://doi.org/10.1007/BF01073390.
(2) M. Tegmark, Consciousness as a state of matter, Chaos. Soliton & Fractals,
76, pp. 238-270, 2015. http://dx.doi.org/10.1016/j.chaos.2015.03.014.
(3) Verlinde, E., On the origin of gravity and the laws of
Newton. Journal of High Energy Physics, 2011, 29(2011). doi.org/10.1007/JHEP04(2011)029.
(4) Mohammed, Hassan, Does Quantum Mechanics Predict the Existence
of Soul? Basrah University, December 2019. doi:10.24018/ejphysics.2019.1.1.3.
(5) Rovelli, Carlo, A
Realidade não é o que parece – a natureza alucinante do universo,
Contraponto, 1ª Edição, Outubro 2019.
Blavatsky, H. P., A Doutrina Secreta, Volume IV, Editora Pensamento, 2019.
Blavatsky, Helena Petrovna, A Chave para a Teosofia, Fundamentos da
Religião - Sabedoria, volume 1, Edições Agnimile, Nova Acrópole, 2019.
Buck, William, O Mahabharata, Segunda edição, S. Paulo: Cultrix, 2014.
João G. F. Porto, Ponta Delgada, 24 de Junho
de 2022.
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