quinta-feira, 1 de maio de 2025

OUROBOROS – O SIGNIFICADO PROFUNDO DA EXISTÊNCIA

 

Túmulo de Tutankhamon; 14º século ac. Fonte Wikipedia Commons.



Preâmbulo

O texto seguinte surge na sequência de outros anteriores, de que destacamos aqueles sob os títulos deTEMPUS MACHINA – A REALIDADE NÃO É O QUE PENSAMOS SER”, “UMA TENTATIVA DE SÍNTESE” e “UM MODELO TOPOLÓGICO E O TEMPO HUSSERLIANO DA CONSCIÊNCIA”, reflectindo os conceitos ali expostos e elencando outros que dali derivam. Em nossa opinião a sua leitura torna-se incontornável para perceber os conteúdos agora explanados que tentam explorar o significado profundo da existência.

Uma estrutura topológica para o Universo

"A Roda da Eternidade gira incessantemente, e dentro dela, desde o princípio do tempo, vibram os mundos, surgindo e desaparecendo como bolhas num oceano sem margens.", Helena P. Blavatsky, A Doutrina Secreta, Volume I.

Este conceito da "Roda" representa o movimento cíclico, dinâmico e rotacional do Universo, reafirmando conceitos de um cosmos em perpétua actividade e transformação, muito em sintonia com os conceitos que vamos desenvolver sobre a rotação do próprio Universo e a consequente direccionalidade cósmica preferencial apresentada pelas galáxias. Ambos os assuntos, tem merecido a atenção de muitos trabalhos na área da Astrofísica e da Cosmologia, ultimamente sujeitos a confirmações positivas pelas observações levadas a cabo pelos observatórios espaciais como o Euclid, o Spitzer, o James Webb ou o SPHEREx, entre outros.

A estrutura topológica proposta pelo nosso modelo de Teia Informacional Fundamental (TIF), da qual já expusemos os conceitos principais em textos anteriores, tem por base os nodos quânticos interligados (unidades informacionais/Consciência). Cada nó quântico carrega um estado de spin ou um vector de informação, como num modelo topológico de Campos quânticos. Os vínculos entre os nós quânticos formam triângulos e tetraedros, quando vistos em 3D, e o espaço-tempo não sendo uma entidade absoluta, surge como propriedade emergente da dinâmica interna desta rede informacional 4D, auto-organizada de forma fractal e holográfica.

Blavatsky parece confirmá-lo neste pequeno excerto: "O Universo é movido pelas rodas dentro de rodas, e cada uma gira em harmonia com as demais, obedecendo à grande Lei da Harmonia Cósmica.", Doutrina Secreta, Vol. I.

No âmago da Doutrina Secreta, Helena Blavatsky revela que o Universo é movido por uma dança eterna de "rodas dentro de rodas", uma rede viva de movimentos circulares que gera tanto a matéria quanto os corpos mais subtis. O movimento primordial é o “Grande Alento”, a respiração cósmica, que faz girar os mundos, e é inseparável da manifestação do tempo, da vida e da Consciência.

"O movimento é o eterno gerador da vida. Nada repousa; tudo gira, tudo circula, tudo vibra. A vida é o resultado da acção contínua da Grande Respiração.", Doutrina Secreta, Vol. I, Cosmogénese. Ou ainda de forma mais específica: "O Grande Alento torna-se um turbilhão de fogo e luz; e dessa dança cósmica surgem as sementes dos mundos.", Doutrina Secreta, Vol. I.

Também confirma que o tempo é um fenómeno emergente estando indissoluvelmente ligado ao próprio espaço e à Consciência como campo informacional quântico (agora passamos de 4D para 5D): "O tempo é apenas uma ilusão produzida pela rotação dos corpos no espaço e pelo movimento da consciência.", Doutrina Secreta, Vol. II.

Este conjunto de citações de Helena Blavatsky, encontram um eco moderno no nosso modelo de “tripletos de spins” à escala de Planck, onde cada unidade fundamental do espaço-tempo tem um comportamento similar a um “nanomotor trifásico”, girando em ressonância com os seus congéneres vizinhos presentes na teia. Cada rotação quântica de uma unidade tríplice contribui para a construção da própria textura do Universo, como fios que, entrelaçados, pelos fenómenos do emaranhamento e superposição quânticos, suportam o tecido holográfico da realidade onde cada pedaço contém o todo da informação.

Tripleto de Spins. Fonte: do autor

Assim, a direccionalidade do tempo — o seu aparente "fluir" — emerge do sentido predominante de rotação desses infinitesimais “motores” cósmicos. Deste modo a orientação rotacional comum das galáxias e a flecha do tempo que experimentamos são a consequência macroscópica dessa dança rotacional primeva fundamental.

O Universo, portanto, não é apenas um espaço-tempo em expansão diferencial modelada pelas massas que contém, mas uma gigantesca tapeçaria viva, vibrante de giros e fluxos, onde cada átomo, cada estrela e cada Consciência é uma nota na sinfonia eterna do Holomovimento, como também sugeriu David Bohm. Daqui se infere que a expansão do Universo não deverá ser uniformemente contínua e apresentar anisotropias.

“Tudo gira, tudo vibra, tudo vive." — Ecoa a voz ancestral da sabedoria secreta transmitida por Helena Blavatsky. Contudo as suas fontes de conhecimento assentam em fundações muito mais antigas, como o demonstram os excertos dos Upanishads védicos.

"O Uno, não-dual, governa por seu próprio poder, movendo-se em múltiplas direcções como a roda giratória da carruagem. Sem princípio nem fim, Ele impulsiona o mundo.", Śvetāśvatara Upanishad 1.4.

Aqui, o "Uno" (Ekam) é descrito como movendo-se giratoriamente, impulsionando o Cosmos em todas as direcções — exactamente a imagem de um Campo de rotação primordial, sem começo nem fim, sustentando tudo.

"Ele é o girador da roda do tempo, que gira eternamente e sustenta todo o mundo manifestado.", Śvetāśvatara Upanishad 2.6.

Esta “roda do tempo” (kāla-cakra) pode ser interpretada como sendo a sugestão de um movimento cíclico e giratório fundamental no tecido do Universo — em ressonância com a ideia de uma rotação primordial associada à estrutura do espaço-tempo!

Estas passagens transmitem a visão do nosso “tripleto de spins” funcionalmente gerador da direcção do tempo e da estrutura global do Universo! Estes trechos também mostram onde Blavatsky bebeu aqueles conceitos visionários do movimento universal, não apenas físico, mas profundamente espiritual, uma vibração que permeava tudo, ideia muito compatível com o modelo de rotação cósmica e coerência quântica que iremos explorar de seguida. De uma forma gráfica muito genérica poderíamos expressá-lo assim:

Diagrama reflecte o caminho lógico do tripleto de spins para a estrutura macroscópica do Universo.. Fonte: do autor

Se o Universo tiver, na sua estrutura fundamental, uma orientação rotacional primária, como aquela proposta com os tríplices “motores” de Planck ou unidades de spin “trifásicas”, poderia gerar uma assimetria global. Por outras palavras, o espaço-tempo já nasceria com uma tendência de rotação embutida nas suas unidades fundamentais. Essa rotação primordial poderia ter organizado ou deixado impressões nos futuros fenómenos cósmicos de grande escala, como a rotação das galáxias em direcções predominantes, bem como, numa escala maior, a orientação dos momentos angulares dos aglomerados de galáxias e ainda, noutra escala cósmica, a constatada anisotropia da Radiação Cósmica de Fundo onde se registam pequenos desvios da homogeneidade que poderiam ser os sinais dessa assinatura.

Actualmente, embora a cosmologia padrão (o modelo ΛCDM onde Λ é a Constante Cosmológica) trate o Universo como isotrópico, isto é sem direcção privilegiada, algumas anomalias observadas, como o chamado "eixo do mal" presente na Radiação Cósmica de Fundo (1), sugerem possíveis assimetrias, que poderiam, hipoteticamente, ser explicadas por uma rotação primordial!

Axis of Evil” no CMB. Fonte: Wikimedia Commons

Resumindo:

Numa visão reducionista e mecanicista, se o espaço-tempo é feito de minúsculos “motores” de natureza quântica acoplados, os “tripletos de spins”, então o Universo pode ser encarado como um gigantesco redemoinho, e a direccionalidade preferencial da rotação das galáxias seria um efeito óbvio daquela rotação fundamental.

Nesta visão o Universo deriva da existência das unidades elementares (estruturas quânticas triangulares ou tripletos), que agrupadas em tetraedros à escala de Planck, gerariam campos rotacionais coerentes pelo seu entrelaçamento ou emaranhamento quântico, análogo, a um super fluido quântico com vorticidade distribuída, ou a um modelo de Universo com rotação de Gödel (solução de Einstein) (2).

Neste cenário, o Universo como um todo poderia possuir uma orientação angular global, ainda que extremamente fraca para ser actualmente registada, e portanto não necessariamente mensurável, nos moldes clássicos actuais da Física.

O tempo, neste contexto, emerge também com uma orientação preferencial da evolução desses Campos quânticos de spins, tal como uma seta gerada pela quebra de simetria rotacional local, associada à acoplagem entre tríades (passado–presente–futuro).

Isto também explicaria a seta do tempo térmica, por via do crescimento da entropia, mas também o desdobramento do Holomovimento de Bohm, como uma dinâmica de fase emergente; e ainda o surgimento do tempo nos modelos de Carlo Rovelli e Alain Connes (3), onde o tempo se manifesta como um parâmetro estatístico ou de correlação.

Se o acoplamento das unidades à escala de Planck privilegia uma orientação rotacional específica (como ilustrado por um motor trifásico), então sim, o tempo teria uma direcção predominante induzida por essa rotação quântica fundamental — não apenas estatística, mas estrutural.

Essa “preferência” implica que o Universo gire como um pião (4), porque a geometria quântica subjacente já carrega em si um sentido de direcção, expressa na curvatura gravítica, na topologia, ou vista na coerência angular que emerge da rede de spins que é o próprio tecido do espaço-tempo.

Seria possível estabelecer relação com alguns modelos existentes, nomeadamente com a Loop Quantum Gravity ou Gravidade Quântica em Laços onde as áreas e os volumes quantizados surgem de entrelaçamentos de spins. Também poderíamos citar a Teoria dos Twistors de Penrose, em que as estruturas de spin carregam orientação fundamental. A Teoria dos Twistors de Penrose nasce da ideia de que espaço e tempo podem não ser as entidades mais fundamentais da realidade. Em vez disso, Penrose propôs que o que é fundamental são as estruturas de spin — ou seja, a orientação intrínseca associada às partículas (o spin quântico). Ou seja, cada partícula (como um electrão) tem um spin, que pode ser imaginado como uma pequena seta que aponta numa direcção específica. Em vez de se dizer que essa partícula está num determinado lugar fixo do espaço-tempo, Roger Penrose sugere que ela é definida pela orientação do movimento daquela seta (o spin).

Então um twistor é visto como um objecto matemático que codifica a posição e o momento angular de uma partícula não directamente no espaço-tempo, mas num espaço twistorial, onde a orientação e o movimento são as características primordiais. Só depois — através de relações entre muitos twistors — é que o espaço-tempo comum emerge. Em termos muito simples, não temos primeiro o espaço, depois objectos com spin. Temos primeiro a dança dos spins (twistors), sendo o espaço-tempo uma consequência dessa dança.

Numa visão mais profunda, o Universo é feito de orientações e das relações globais entre essas orientações. O que chamamos de uma localidade ou "ponto no espaço-tempo" seria apenas uma manifestação secundária, emergente da teia de spins twistoriais. Por isso, o tempo e o espaço são como sombras projectadas de uma realidade mais fundamental baseada em direcções e giros.

 

Uma simbologia reveladora dos arquétipos

Matematicamente poderíamos estabelecer um modelo simplificado do Universo com unidades de spin funcionando em modo “trifásico”.

Começamos com uma rede de unidades rotacionais onde cada nó 𝑖 tem um vector de spin que designaremos por. A interacção entre vizinhos é dada por acoplamento do tipo Heisenberg, e o tempo emerge de uma fase rotacional global.

A equação geral seria dada por:

Onde:

 é o vector de spin da unidade 𝑖 (representando a fase/estado de um "tempo local");

é a constante de acoplamento entre os spins locais (poderiam variar com a topologia);

 é a frequência angular global que representa a "rotação cósmica" do universo;

o vector unitário na direcção da rotação dominante do Universo (a seta do tempo);

 é o produto vectorial que induz precessão, como em dinâmica de spins;

 é a dinâmica quântica da orientação da unidade de Planck.

Assim, a primeira soma modelaria a interacção local entre unidades de Planck próximas definindo a topologia quântica; o termo global representado por Ω daria origem à direcção do tempo e a uma coerência rotacional do Universo. A equação é não linear, sugerindo a emergência de padrões e oscilações coerentes (a ideia de subjectividade do tempo).

Também podemos construir uma equação simplificada para descrever a ideia de um Universo rotacional, onde a estrutura fundamental baseada nos “trípletos” de spins (os “motores trifásicos”) de Planck induzem uma rotação global e a uma direccionalidade do tempo.

Uma forma de expressar isso é por meio de uma equação que combine a densidade de momento angular 𝐿⃗ do universo, com um campo de rotação fundamental Ω associado aos “motores” de Planck, e com a direcção do tempo como uma corrente induzida por essa rotação.

A proposta de equação simplificada seria:

Onde:

𝐿⃗  = Momento angular total do Universo (ou de uma região dele),

Ω  = Campo de rotação fundamental (na escala de Planck),

O produto vectorial, indica que a rotação afecta a orientação de 𝐿⃗,

𝜏⃗Planck  = Torque (força rotacional) induzido pelos “motores” quânticos de Planck.

Revelaria que a mudança do momento angular do Universo ao longo do tempo é determinada pela interacção com o campo rotacional fundamental com um torque quântico básico. Este modelo sugere que a direccionalidade do tempo emerge naturalmente como coerência macroscópica dessa rotação fundamental.

Agora podemos avançar para um modelo mais unificado, onde o tempo é visto não apenas como um parâmetro externo, mas como algo gerado internamente pela rotação dos “tripletos” de spins quânticos à escala de Planck.

Uma proposta mais avançada seria:

Onde:

τ = Tempo interno da estrutura de spins (não o tempo clássico),

Ψ = Função de estado do Campo quântico do espaço-tempo,

Ω  = Campo de rotação fundamental (associado aos “tripletos” de Planck),

𝑆⃗  = Operador de spin total dos “motores” locais,

𝐻^local  = Hamiltoniano local (interacções internas da teia de spins),

i = Factor quântico normal.

Assim teremos:

A rotação Ω  "acopla" com o spin 𝑆⃗, gerando não só o movimento no espaço mas também a direcção do fluxo interno de tempo.

O termo 𝐻^local garante que haja dinâmicas locais (como flutuações quânticas, oscilações de spin, etc).

τ não é o tempo clássico, mas sim um "tempo interno" emergente da estrutura rotacional quântica do Universo. Deste modo o fluxo clássico de tempo t pode ser entendido como uma média emergente dos tempos internos τ.


Porquê a opção por uma estrutura geométrica triangular e tetraédrica?


No contexto do espaço-tempo emergente, as redes de qubits ou spins interligados onde o entrelaçamento quântico funciona como o elo fenoménico de não-localidade ligando todas as regiões, distantes ou não, são candidatos indicados para formar a “malha” subjacente do Universo. Para tal procuram-se estruturas com alta conectividade, coerência global e propriedades não-locais que maximizem tal entrelaçamento em escala cósmica Aqui incluem-se modelos topológicos tais como os complexos simpliciais regulares sob a forma de triângulos e tetraedros.

Complexos simpliciais são redes formadas por vértices, arestas, triângulos, tetraedros etc., que são por exemplo amplamente usados em modelos discretos de gravidade quântica, do ponto de vista matemático. Um complexo simplicial é uma maneira de construir formas e espaços complexos a partir de blocos geométricos muito simples, como se fossemos montar figuras usando peças de LEGO básicas chamadas símplices.

Um complexo simplicial surge da conjugação destes símplices colados uns aos outros de forma ordenada. Os triângulos colados por lados originam superfícies maiores, enquanto os tetraedros colados por faces constroem volumes que estão na origem da formação de estruturas maiores, tais como esferas, buracos, redes, etc. Contudo os símplices obedecem a regras não se sobrepondo de forma aleatória. Cada face de um símplice tem que estar também no complexo e só se tocam em faces comuns (por exemplo, dois triângulos só se tocam por um lado ou um ponto).

Têm sido utilizados na matemática e na topologia no estudo de formas e buracos em espaços e na física e na cosmologia, são usados para modelar o espaço-tempo quântico como nas teorias da gravidade quântica em laços. Mais recentemente, na ciência de gestão de dados e inteligência artificial, são a ferramenta que permite analisar a forma estrutural dos dados com a "topologia algébrica".

Cada símplice (ou simplex) tem interpretação geométrica nativa. É exemplo, em 3D podem ser os tetraedros quando compartilham faces triangulares e definem volumes elementares. As malhas poligonais geradas garantem conectividade local muito alta. Por exemplo, na tesselação tetraedro-octaédrica espacial presente na estrutura alternada dos favos de mel alternado onde cada vértice de cuboctaedro está ligado na sua vizinhança a outras 12 estruturas.

Em geral, as redes tetraédricas podem ser encaradas como discretizações do espaço (como na gravidade de Regge), sustentando as teorias onde as áreas e os volumes são quantizados. A gravidade de Regge, ou também conhecido como Cálculo de Regge, foi uma importante abordagem desenvolvida em 1961 pelo físico italiano Tullio Regge para estudar a gravidade de forma discreta, aproximando o conceito de espaço-tempo contínuo da Relatividade Geral usando uma estrutura composta de blocos geométricos simples, os chamados símplices. Nesta abordagem as equações de Einstein, que descrevem como a matéria e a energia influenciam a curvatura do espaço-tempo, são reformuladas em termos de somas sobre os ângulos e comprimentos das arestas dos símplices. O Cálculo de Regge serve como fundamento para abordagens que tentam quantizar a gravidade, como os modelos da espuma de spin e a gravidade quântica em laços. Imagine construir uma esfera usando pequenos triângulos planos, como em uma bola de futebol. Cada triângulo é plano, mas ao juntá-los de maneira adequada, a estrutura global adquire curvatura. Da mesma forma, no Cálculo de Regge, o espaço-tempo é aproximado por símplices planos que, quando conectados, reproduzem a curvatura do Universo.

Complexo Simplicial

Além disso, complexos simpliciais geram naturalmente coesão de longo alcance através de entrelaçamento em várias escalas. Modelos de evolução de tais malhas (ex.: Network Geometry with Flavor) mostram que uma métrica hiperbólica pode emergir espontaneamente de regras puramente combinatoriais​, ou seja, por outras palavras, sem assumir nenhuma geometria prévia, redes crescentes de triângulos/tetraedros exibem propriedades small-world e scale-free, típicas de geometrias hiperbólicas ocultas​, significando distâncias médias pequenas e hubs fortemente ligados, características desejáveis para maximizar o fenómeno não-local do entrelaçamento.

Em conclusão, os complexos simpliciais oferecem malhas hiperligadas e coesão global, satisfazendo idealmente as exigências de maximizar o entrelaçamento quântico em redes triádicas de spins. Assim, os complexos simpliciais (rede de triângulos e tetraedros) oferecem coesão local máxima e interpretação geométrica directa, tornando-se nos modelos geométricos que melhor suportam um “espaço-tempo entrelaçado” combinando alta conectividade nodal e conectividade global não-local.

Outras topologias, estas agora de natureza simbólica e mais ancestrais, orientaram também as nossas opções. O "sólido do éter" de Platão refere-se ao dodecaedro, um dos cinco sólidos platónicos, que Platão associou ao cosmos ou ao Universo como um todo. Essa associação é apresentada no Timeu, onde Platão descreve a criação do Universo por um artesão divino que utiliza formas geométricas perfeitas para moldar os elementos da natureza.​ Os cinco sólidos platónicos correspondem ao Tetraedro representado simbolicamente pelo Fogo, o Cubo (Hexaedro) sendo a Terra, o Octaedro o Ar, o Icosaedro a Água e o Dodecaedro, representando o Universo (Éter ou quintessência)​.

Dodecaedro, Árvore e Flor da Vida

Enquanto os quatro primeiros sólidos estão associados aos elementos tangíveis da natureza, o dodecaedro representa o quinto elemento, conhecido como éter ou quintessência, simbolizando o todo cósmico e a esfera celestial. O dodecaedro, com suas doze faces pentagonais, é ali frequentemente associado à perfeição, harmonia e totalidade. A sua complexidade geométrica e simetria fazem dele um símbolo do Universo ordenado e da interconexão de todas as coisas. Na tradição filosófica representa o éter, o elemento que permeia e interliga todos os outros, sendo a substância que compõe os corpos celestes e o espaço entre eles.

Por outro lado, as formas topológicas dos padrões em que que se baseia a geometria sagrada como a Flor da Vida, o Cubo de Metatron, a Árvore da Vida, os sólidos de Kepler-Poinsot e o Homem Vitruviano de Da Vinci, representam caminhos de informação coerente onde as formas funcionam como códigos de ressonância informacional entre células inseridas numa rede expandida, no caso vertente um mosaico quântico não-euclidiano.


A Dança de Shiva no CERN – Centro Europeu de Pesquisa Nuclear

Fonte: Wikimedia Commons


Conclusão: a Dança de Shiva

Imagine que cada “tripleto” gira numa orientação preferencial, criando um micro vórtice no espaço-tempo. Depois a combinação coerente de biliões destes micro vórtices originariam consequentemente um fluxo macroscópico de tempo (o tempo linear) e um momento angular global no Universo. Resultado: a seta do tempo nossa conhecida, a entropia, a rotação cósmica e a das galáxias seriam consequências de um mesmo e único processo fundamental. Esta é uma previsão que a cosmologia e a astrofísica poderão confirmar.

Neste modelo, e voltando a lembrar o Śvetāśvatara Upanishad 1.4, o “Uno” védico e também teosófico, “não-dual”, representa a Consciência Fundamental ou um Campo Quântico Primordial, que se manifesta através de um movimento tríplice fundamental, o “tripleto” de spins, agindo como “nanomotores” de Planck, impulsionando o Universo como uma grande “Roda” em rotação. Cada ponto da realidade nasce da dança entrelaçada desses vectores primordiais, tecendo o espaço, o tempo e níveis de Consciência num só Campo quântico dinâmico. A dança dos vectores, tal como a Dança de Shiva, descreve a coerência emergente dos campos de spin que formam a estrutura do espaço-tempo e a evolução da Consciência. A “Roda” em rotação, simboliza o Universo giratório, com uma direcção predominante do tempo e da entropia, a Samsara pessoal em cada um de nós, e a colectiva.

"E aconteceu que, ao descer, ela olhou para baixo e viu a luz do poder abaixo. E ela não compreendeu que era o reflexo da sua própria luz... e desejou ir até ela. E por causa dessa paixão, ela foi precipitada nas regiões inferiores.", Pistis Sophia, Livro I.

Se a Consciência (como Pistis Sophia) está originalmente em ressonância com um Campo atemporal coerente de não-localidade, então a sua “queda” implica um colapso da simetria temporal, a emergência de uma flecha do tempo, guiada por desequilíbrios informacionais, levando à prisão do “espírito” num ciclo causal, mais próximo do tempo linear entrópico, aquilo que os gnósticos chamam as "esferas dos arcontes”. Estas funcionam como camadas de tempo, de causalidade (karma) e ilusão, de leis determinísticas, que distorcem ou fragmentam a Luz (a Consciência original).

O retorno de Pistis Sophia às “alturas” será pela restauração da coerência quântica, uma ressonância novamente alinhada com o Campo informacional original (o Pléroma), e finalmente uma libertação do tempo linear, voltando ao tempo interno da Consciência, que permite perceber o fluxo do tempo como um todo (a simetria temporal), o passado (a retenção), o presente (o agora) e a antecipação do futuro (a protensão), como descrito por Edmund Husserl. O tempo é uma perspectiva parcial sobre o Universo, ele só emerge porque somos ignorantes. O tempo aparece forçosamente associado à entropia (2ª lei da termodinâmica) porque só emerge quando há perda ou limitação de informação. A razão porque faremos todos o percurso de Pistis Sophia (Fé no Conhecimento)!

 

Notas

(1) O "eixo do mal" (Axis of Evil, em inglês), um nome que empresta uma sonoridade fantasiosa, mas que aponta para algo intrigante e real observado na Radiação Cósmica de Fundo (CMB, Cosmic Microwave Background). A Radiação Cósmica de Fundo é o eco térmico daquilo que se pensa ser o Big Bang, uma luz muito antiga e uniforme que preenche todo o Universo. Quando os observatórios espaciais como o WMAP (2001) e depois o Planck (2013) mapearam esta radiação em todo o céu, descobriram pequenas flutuações de temperatura — variações mínimas, essenciais para a formação das galáxias. Aquelas flutuações vistas numa grande escala não estavam distribuídas de maneira completamente aleatória. Pareciam alinhadas ao longo de um determinado eixo no espaço, como se houvesse uma direcção preferida no Universo e que foi apelidada de "eixo do mal", porque contradizia o princípio cosmológico que diz que o Universo, em larga escala, deveria ser homogéneo e isotrópico, isto é, ter a mesma aparência em todas as direcções. Até hoje esta questão não foi completamente resolvida, mas a possibilidade de que a estrutura mais profunda do Universo tenha uma orientação global tornou-se fascinante para a Cosmologia.

(2) O modelo de Gödel é uma solução exótica das equações da relatividade geral de Einstein. O que Gödel imaginou foi um Universo cheio de matéria que gira como um grande redemoinho cósmico, onde o próprio tecido do espaço-tempo ao girar torce-se tanto que o tempo enrola-se sobre si mesmo, criando uma situação estranha, onde seria possível dar uma volta pelo espaço e voltar ao próprio passado como existissem curvas fechadas do tempo. Em termos simples, no Universo de Gödel, o tempo e o espaço estão tão ligados e distorcidos pela rotação que o "futuro" e o "passado" podem encontrar-se.

(3) O que Carlo Rovelli e Alain Connes propõem sobre o tempo é que ele não é uma entidade fundamental que existe por si só, como um "rio" que corre independente das margens. Em vez disso, o tempo surge de como as coisas mudam e interagem, especialmente quando olhamos para elas de forma térmica de acordo com as leis da termodinâmica, ou seja, considerando o calor, a energia e o equilíbrio dos sistemas. Um sistema físico, como um conjunto de partículas, se está em perfeito equilíbrio, nada muda e então não haveria um tempo visível ali. Mas quando o sistema não está em equilíbrio, ou seja, há diferenças de energia, temperatura etc, há um fluxo, uma transformação, que cria a sensação de passagem do tempo. Em termos mais técnicos, o tempo surge do estado estatístico do sistema, da distribuição e interacção das unidades que o formam. Em conclusão, se tudo fosse perfeitamente estático e equilibrado não perceberíamos o tempo. Quando há diferenças, relações, movimentos e colapsos de equilíbrios o tempo aparece como tendo origem na organização natural da mudança. Ora, se existe mudança e movimento será precisamente nos nossos “tripletos” quânticos.

(4) Evidencias observacionais de Alinhamentos em larga escala tem sido estudados e documentados em dados observacionais. É o exemplo de Zhang et al. (2015), que analisaram uma amostra de galáxias espirais do SDSS e do Galaxy Zoo 2, encontrando evidências de que os eixos de rotação das galáxias estão correlacionados com o campo de maré em larga escala, sugerindo um alinhamento com a estrutura cósmica.

Por outro lado, Welker et al. (2019), utilizando dados do SAMI Galaxy Survey, detectaram uma transição na orientação dos spins das galáxias em relação aos filamentos cósmicos, dependendo da massa estelar das galáxias. Demonstraram que galáxias de baixa massa alinham os seus spins com os filamentos, enquanto galáxias mais massivas apresentam uma orientação perpendicular. ​

Também Shamir (2022), analisou a distribuição das direcções de rotação de galáxias espirais em diferentes regiões do céu, utilizando dados de múltiplos levantamentos, incluindo SDSS, Pan-STARRS e Hubble Space Telescope e os resultados evidenciaram a existência de uma assimetria na distribuição das direcções de rotação, com possíveis implicações para o estabelecimento de uma possível anisotropia do Universo. ​


Ponta Delgada e João Porto, 01/05/2025

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