Preâmbulo
O texto seguinte surge na sequência de outros anteriores, de que destacamos aqueles sob os títulos de “TEMPUS MACHINA – A REALIDADE NÃO É O QUE PENSAMOS SER”, “UMA TENTATIVA DE SÍNTESE” e “UM MODELO TOPOLÓGICO E O TEMPO HUSSERLIANO DA CONSCIÊNCIA”, reflectindo os conceitos ali expostos e elencando outros que dali derivam. Em nossa opinião a sua leitura torna-se incontornável para perceber os conteúdos agora explanados que tentam explorar o significado profundo da existência.
Uma estrutura topológica para o Universo
"A Roda da Eternidade gira incessantemente, e dentro dela, desde o
princípio do tempo, vibram os mundos, surgindo e desaparecendo como bolhas num
oceano sem margens.", Helena P. Blavatsky, A Doutrina Secreta, Volume
I.
Este conceito da "Roda"
representa o movimento cíclico, dinâmico e rotacional do Universo, reafirmando
conceitos de um cosmos em perpétua actividade e transformação, muito em
sintonia com os conceitos que vamos desenvolver sobre a rotação do próprio Universo
e a consequente direccionalidade cósmica preferencial apresentada pelas
galáxias. Ambos os assuntos, tem merecido a atenção de muitos trabalhos na área
da Astrofísica e da Cosmologia, ultimamente sujeitos a confirmações positivas
pelas observações levadas a cabo pelos observatórios espaciais como o Euclid, o
Spitzer, o James Webb ou o SPHEREx, entre outros.
A estrutura topológica proposta pelo nosso
modelo de Teia Informacional Fundamental (TIF), da qual já expusemos os
conceitos principais em textos anteriores, tem por base os nodos quânticos interligados
(unidades informacionais/Consciência). Cada nó quântico carrega um estado de spin ou um vector de informação, como
num modelo topológico de Campos quânticos. Os vínculos entre os nós quânticos
formam triângulos e tetraedros, quando vistos em 3D, e o espaço-tempo não sendo
uma entidade absoluta, surge como propriedade emergente da dinâmica interna
desta rede informacional 4D, auto-organizada de forma fractal e holográfica.
Blavatsky parece confirmá-lo neste
pequeno excerto: "O Universo é
movido pelas rodas dentro de rodas, e cada uma gira em harmonia com as demais,
obedecendo à grande Lei da Harmonia Cósmica.", Doutrina Secreta, Vol.
I.
No âmago da Doutrina Secreta, Helena
Blavatsky revela que o Universo é movido por uma dança eterna de "rodas
dentro de rodas", uma rede viva de movimentos circulares que gera tanto a
matéria quanto os corpos mais subtis. O movimento primordial é o “Grande Alento”,
a respiração cósmica, que faz girar os mundos, e é inseparável da manifestação
do tempo, da vida e da Consciência.
"O movimento é o eterno gerador da vida. Nada repousa; tudo gira, tudo
circula, tudo vibra. A vida é o resultado da acção contínua da Grande
Respiração.", Doutrina Secreta, Vol. I, Cosmogénese. Ou ainda de forma
mais específica: "O Grande Alento
torna-se um turbilhão de fogo e luz; e dessa dança cósmica surgem as sementes
dos mundos.", Doutrina Secreta, Vol. I.
Também confirma que o tempo é um
fenómeno emergente estando indissoluvelmente ligado ao próprio espaço e à
Consciência como campo informacional quântico (agora passamos de 4D para 5D): "O tempo é apenas uma ilusão produzida pela
rotação dos corpos no espaço e pelo movimento da consciência.",
Doutrina Secreta, Vol. II.
Este conjunto de citações de Helena
Blavatsky, encontram um eco moderno no nosso modelo de “tripletos de spins” à
escala de Planck, onde cada unidade fundamental do espaço-tempo tem um comportamento
similar a um “nanomotor trifásico”, girando em ressonância com os seus congéneres
vizinhos presentes na teia. Cada rotação quântica de uma unidade tríplice contribui
para a construção da própria textura do Universo, como fios que, entrelaçados, pelos
fenómenos do emaranhamento e superposição quânticos, suportam o tecido
holográfico da realidade onde cada pedaço contém o todo da informação.
Assim, a direccionalidade do tempo —
o seu aparente "fluir" — emerge do sentido predominante de rotação
desses infinitesimais “motores” cósmicos. Deste modo a orientação rotacional comum
das galáxias e a flecha do tempo que experimentamos são a consequência
macroscópica dessa dança rotacional primeva fundamental.
O Universo, portanto, não é apenas um
espaço-tempo em expansão diferencial modelada pelas massas que contém, mas uma
gigantesca tapeçaria viva, vibrante de giros e fluxos, onde cada átomo, cada
estrela e cada Consciência é uma nota na sinfonia eterna do Holomovimento, como
também sugeriu David Bohm. Daqui se infere que a expansão do Universo não
deverá ser uniformemente contínua e apresentar anisotropias.
“Tudo gira, tudo vibra, tudo
vive." — Ecoa a voz ancestral da sabedoria secreta transmitida por Helena Blavatsky.
Contudo as suas fontes de conhecimento assentam em fundações muito mais
antigas, como o demonstram os excertos dos Upanishads védicos.
"O Uno, não-dual, governa por seu próprio poder, movendo-se em múltiplas
direcções como a roda giratória da carruagem. Sem princípio nem fim, Ele
impulsiona o mundo.", Śvetāśvatara Upanishad 1.4.
Aqui, o "Uno" (Ekam) é
descrito como movendo-se giratoriamente, impulsionando o Cosmos em todas as
direcções — exactamente a imagem de um Campo de rotação primordial, sem começo
nem fim, sustentando tudo.
"Ele é o girador da roda do tempo, que gira eternamente e sustenta todo
o mundo manifestado.", Śvetāśvatara Upanishad 2.6.
Esta “roda do tempo” (kāla-cakra)
pode ser interpretada como sendo a sugestão de um movimento cíclico e giratório
fundamental no tecido do Universo — em ressonância com a ideia de uma rotação
primordial associada à estrutura do espaço-tempo!
Estas passagens transmitem a visão do
nosso “tripleto de spins”
funcionalmente gerador da direcção do tempo e da estrutura global do Universo! Estes
trechos também mostram onde Blavatsky bebeu aqueles conceitos visionários do
movimento universal, não apenas físico, mas profundamente espiritual, uma
vibração que permeava tudo, ideia muito compatível com o modelo de rotação
cósmica e coerência quântica que iremos explorar de seguida. De uma forma
gráfica muito genérica poderíamos expressá-lo assim:
Diagrama reflecte o caminho lógico do tripleto de spins para a estrutura macroscópica do Universo.. Fonte: do autor
Se o Universo tiver, na sua estrutura
fundamental, uma orientação rotacional primária, como aquela proposta com os
tríplices “motores” de Planck ou unidades de spin “trifásicas”, poderia gerar uma assimetria global. Por outras
palavras, o espaço-tempo já nasceria com uma tendência de rotação embutida nas
suas unidades fundamentais. Essa rotação primordial poderia ter organizado ou deixado
impressões nos futuros fenómenos cósmicos de grande escala, como a rotação das
galáxias em direcções predominantes, bem como, numa escala maior, a orientação
dos momentos angulares dos aglomerados de galáxias e ainda, noutra escala
cósmica, a constatada anisotropia da Radiação Cósmica de Fundo onde se registam
pequenos desvios da homogeneidade que poderiam ser os sinais dessa assinatura.
Actualmente, embora a cosmologia
padrão (o modelo ΛCDM onde Λ é a Constante Cosmológica) trate o
Universo como isotrópico, isto é sem direcção privilegiada, algumas anomalias
observadas, como o chamado "eixo do mal" presente na Radiação Cósmica
de Fundo (1), sugerem possíveis
assimetrias, que poderiam, hipoteticamente, ser explicadas por uma rotação
primordial!
“Axis of Evil” no CMB. Fonte: Wikimedia Commons
Resumindo:
Numa visão reducionista e
mecanicista, se o espaço-tempo é feito de minúsculos “motores” de natureza
quântica acoplados, os “tripletos de spins”,
então o Universo pode ser encarado como um gigantesco redemoinho, e a direccionalidade
preferencial da rotação das galáxias seria um efeito óbvio daquela rotação
fundamental.
Nesta visão o Universo deriva da
existência das unidades elementares (estruturas quânticas triangulares ou
tripletos), que agrupadas em tetraedros à escala de Planck, gerariam campos
rotacionais coerentes pelo seu entrelaçamento ou emaranhamento quântico,
análogo, a um super fluido quântico com vorticidade distribuída, ou a um modelo
de Universo com rotação de Gödel (solução de Einstein) (2).
Neste cenário, o Universo como um
todo poderia possuir uma orientação angular global, ainda que extremamente
fraca para ser actualmente registada, e portanto não necessariamente mensurável,
nos moldes clássicos actuais da Física.
O tempo, neste contexto, emerge também
com uma orientação preferencial da evolução desses Campos quânticos de spins, tal como uma seta gerada pela
quebra de simetria rotacional local, associada à acoplagem entre tríades
(passado–presente–futuro).
Isto também explicaria a seta do
tempo térmica, por via do crescimento da entropia, mas também o desdobramento
do Holomovimento de Bohm, como uma dinâmica de fase emergente; e ainda o
surgimento do tempo nos modelos de Carlo Rovelli e Alain Connes (3), onde o tempo se manifesta como um
parâmetro estatístico ou de correlação.
Se o acoplamento das unidades à
escala de Planck privilegia uma orientação rotacional específica (como ilustrado
por um motor trifásico), então sim, o tempo teria uma direcção predominante
induzida por essa rotação quântica fundamental — não apenas estatística, mas
estrutural.
Essa “preferência” implica que o
Universo gire como um pião (4), porque a geometria quântica subjacente já carrega
em si um sentido de direcção, expressa na curvatura gravítica, na topologia, ou
vista na coerência angular que emerge da rede de spins que é o próprio tecido do espaço-tempo.
Seria possível estabelecer relação
com alguns modelos existentes, nomeadamente com a Loop Quantum Gravity ou Gravidade Quântica em Laços onde as áreas e
os volumes quantizados surgem de entrelaçamentos de spins. Também poderíamos citar a Teoria dos Twistors de Penrose, em que as estruturas de spin carregam orientação fundamental. A Teoria dos Twistors de Penrose nasce da ideia de
que espaço e tempo podem não ser as entidades mais fundamentais da realidade. Em
vez disso, Penrose propôs que o que é fundamental são as estruturas de spin — ou seja, a orientação intrínseca
associada às partículas (o spin
quântico). Ou seja, cada partícula (como um electrão) tem um spin, que pode ser imaginado como uma
pequena seta que aponta numa direcção específica. Em vez de se dizer que essa
partícula está num determinado lugar fixo do espaço-tempo, Roger Penrose sugere
que ela é definida pela orientação do movimento daquela seta (o spin).
Então um twistor é visto
como um objecto matemático que codifica a posição e o momento angular de uma
partícula não directamente no espaço-tempo, mas num espaço twistorial, onde a orientação
e o movimento são as características primordiais. Só depois — através de
relações entre muitos twistors — é
que o espaço-tempo comum emerge. Em termos muito simples, não temos primeiro o
espaço, depois objectos com spin. Temos
primeiro a dança dos spins (twistors), sendo o espaço-tempo uma
consequência dessa dança.
Numa visão mais profunda, o Universo
é feito de orientações e das relações globais entre essas orientações. O que
chamamos de uma localidade ou "ponto no espaço-tempo" seria apenas
uma manifestação secundária, emergente da teia de spins twistoriais. Por
isso, o tempo e o espaço são como sombras projectadas de uma realidade mais
fundamental baseada em direcções e giros.
Uma simbologia reveladora dos arquétipos
Matematicamente poderíamos
estabelecer um modelo simplificado do Universo com unidades de spin funcionando em modo “trifásico”.
Começamos com uma rede de unidades
rotacionais onde cada nó 𝑖 tem um vector de spin que designaremos por. A interacção entre vizinhos é dada por acoplamento do tipo
Heisenberg, e o tempo emerge de uma fase rotacional global.
A equação geral seria dada por:
Onde:
é o vector de spin da unidade 𝑖 (representando a fase/estado de um "tempo local");
é a constante de
acoplamento entre os spins locais
(poderiam variar com a topologia);
é a frequência
angular global que representa a "rotação cósmica" do universo;
o vector unitário na
direcção da rotação dominante do Universo (a seta do tempo);
é o produto vectorial
que induz precessão, como em dinâmica de spins;
é a dinâmica quântica da
orientação da unidade de Planck.
Assim, a primeira soma modelaria a
interacção local entre unidades de Planck próximas definindo a topologia
quântica; o termo global representado por Ω daria origem à direcção do tempo e
a uma coerência rotacional do Universo. A equação é não linear, sugerindo a emergência
de padrões e oscilações coerentes (a ideia de subjectividade do tempo).
Também podemos construir uma equação
simplificada para descrever a ideia de
um Universo rotacional, onde a estrutura fundamental baseada nos “trípletos” de
spins (os “motores trifásicos”) de
Planck induzem uma rotação global e a uma direccionalidade do tempo.
Uma forma de expressar isso é por
meio de uma equação que combine a densidade de momento angular 𝐿⃗ do universo, com um campo de rotação fundamental Ω⃗ associado aos “motores” de Planck, e com a direcção do tempo
como uma corrente induzida por essa rotação.
A proposta de equação simplificada
seria:
Onde:
𝐿⃗
= Momento angular total do Universo (ou de uma região dele),
Ω⃗
= Campo de rotação fundamental (na escala de Planck),
O produto vectorial, indica que a rotação afecta a orientação
de 𝐿⃗,
𝜏⃗Planck
= Torque (força rotacional) induzido pelos “motores” quânticos de
Planck.
Revelaria que a mudança do momento
angular do Universo ao longo do tempo é determinada pela interacção com o campo
rotacional fundamental com um torque quântico básico. Este modelo sugere que a direccionalidade do tempo emerge naturalmente
como coerência macroscópica dessa rotação fundamental.
Agora podemos avançar para um modelo
mais unificado, onde o tempo é visto não apenas como um parâmetro externo, mas
como algo gerado internamente pela rotação dos “tripletos” de spins quânticos à escala de Planck.
Uma proposta mais avançada seria:
Onde:
τ = Tempo interno da estrutura de spins (não o tempo clássico),
Ψ = Função de estado do Campo quântico do espaço-tempo,
Ω⃗
= Campo de rotação fundamental (associado aos “tripletos” de Planck),
𝑆⃗
= Operador de spin total dos
“motores” locais,
𝐻^local = Hamiltoniano local (interacções internas da
teia de spins),
iℏ = Factor quântico
normal.
Assim teremos:
A rotação Ω⃗ "acopla"
com o spin 𝑆⃗, gerando não só o movimento no espaço mas também a
direcção do fluxo interno de tempo.
O termo 𝐻^local garante que haja dinâmicas locais (como
flutuações quânticas, oscilações de spin,
etc).
τ não é o tempo clássico, mas sim um
"tempo interno" emergente da estrutura rotacional quântica do
Universo. Deste modo o fluxo clássico de
tempo t pode ser entendido como uma média emergente dos tempos internos τ.
Porquê a opção por uma estrutura geométrica triangular e tetraédrica?
No contexto do espaço-tempo
emergente, as redes de qubits ou spins
interligados onde o entrelaçamento quântico funciona como o elo fenoménico de não-localidade
ligando todas as regiões, distantes ou não, são candidatos indicados para formar
a “malha” subjacente do Universo. Para tal procuram-se estruturas com alta
conectividade, coerência global e propriedades não-locais que maximizem tal entrelaçamento
em escala cósmica Aqui incluem-se modelos topológicos tais como os complexos
simpliciais regulares sob a forma de triângulos e tetraedros.
Complexos simpliciais
são redes formadas por vértices, arestas, triângulos, tetraedros etc., que são por
exemplo amplamente usados em modelos discretos de gravidade quântica, do ponto
de vista matemático. Um complexo simplicial é uma maneira de construir formas e
espaços complexos a partir de blocos geométricos muito simples, como se fossemos
montar figuras usando peças de LEGO básicas chamadas símplices.
Um complexo simplicial
surge da conjugação destes símplices colados uns aos outros de forma ordenada.
Os triângulos colados por lados originam superfícies maiores, enquanto os
tetraedros colados por faces constroem volumes que estão na origem da formação
de estruturas maiores, tais como esferas, buracos, redes, etc. Contudo os
símplices obedecem a regras não se sobrepondo de forma aleatória. Cada face de
um símplice tem que estar também no complexo e só se tocam em faces comuns (por
exemplo, dois triângulos só se tocam por um lado ou um ponto).
Têm sido utilizados na
matemática e na topologia no estudo de formas e buracos em espaços e na física
e na cosmologia, são usados para modelar o espaço-tempo quântico como nas
teorias da gravidade quântica em laços. Mais recentemente, na ciência de gestão
de dados e inteligência artificial, são a ferramenta que permite analisar a
forma estrutural dos dados com a "topologia algébrica".
Cada símplice (ou simplex) tem interpretação geométrica
nativa. É exemplo, em 3D podem ser os tetraedros quando compartilham faces
triangulares e definem volumes elementares. As malhas poligonais geradas
garantem conectividade local muito alta. Por exemplo, na tesselação tetraedro-octaédrica
espacial presente na estrutura alternada dos favos de mel alternado onde cada
vértice de cuboctaedro está ligado na sua vizinhança a outras 12 estruturas.
Em geral, as redes
tetraédricas podem ser encaradas como discretizações do espaço (como na
gravidade de Regge), sustentando as teorias onde as áreas e os volumes são
quantizados. A gravidade de Regge, ou também conhecido como Cálculo de Regge, foi
uma importante abordagem desenvolvida em 1961 pelo físico italiano Tullio Regge
para estudar a gravidade de forma discreta, aproximando o conceito de
espaço-tempo contínuo da Relatividade Geral usando uma estrutura composta de
blocos geométricos simples, os chamados símplices. Nesta abordagem as equações
de Einstein, que descrevem como a matéria e a energia influenciam a curvatura
do espaço-tempo, são reformuladas em termos de somas sobre os ângulos e
comprimentos das arestas dos símplices. O Cálculo de Regge serve como fundamento para abordagens que
tentam quantizar a gravidade, como os modelos da espuma de spin e a gravidade
quântica em laços. Imagine construir uma esfera usando pequenos triângulos
planos, como em uma bola de futebol. Cada triângulo é plano, mas ao juntá-los
de maneira adequada, a estrutura global adquire curvatura. Da mesma forma, no Cálculo
de Regge, o espaço-tempo é aproximado por símplices planos que, quando conectados,
reproduzem a curvatura do Universo.
Além disso, complexos
simpliciais geram naturalmente coesão de longo alcance através de
entrelaçamento em várias escalas. Modelos de evolução de tais malhas (ex.: Network
Geometry with Flavor) mostram que uma métrica hiperbólica pode emergir espontaneamente de regras puramente
combinatoriais, ou seja, por outras palavras, sem assumir nenhuma geometria
prévia, redes crescentes de triângulos/tetraedros exibem propriedades small-world
e scale-free, típicas de geometrias hiperbólicas ocultas, significando
distâncias médias pequenas e hubs
fortemente ligados, características desejáveis para maximizar o fenómeno não-local
do entrelaçamento.
Em conclusão, os complexos simpliciais oferecem malhas hiperligadas e coesão global, satisfazendo
idealmente as exigências de maximizar o entrelaçamento quântico em redes
triádicas de spins. Assim, os complexos simpliciais (rede de
triângulos e tetraedros) oferecem coesão local máxima e interpretação
geométrica directa, tornando-se nos modelos geométricos que melhor suportam um
“espaço-tempo entrelaçado” combinando alta conectividade nodal e conectividade
global não-local.
Outras topologias, estas agora de natureza simbólica e mais ancestrais, orientaram
também as nossas opções. O "sólido do éter" de Platão
refere-se ao dodecaedro, um dos cinco sólidos platónicos, que Platão associou
ao cosmos ou ao Universo como um todo. Essa associação é apresentada no Timeu,
onde Platão descreve a criação do Universo por um artesão divino que utiliza
formas geométricas perfeitas para moldar os elementos da natureza. Os cinco sólidos platónicos correspondem ao
Tetraedro representado simbolicamente pelo Fogo, o Cubo (Hexaedro) sendo a Terra,
o Octaedro o Ar, o Icosaedro a Água e o Dodecaedro, representando o Universo
(Éter ou quintessência).
Enquanto os quatro primeiros sólidos estão
associados aos elementos tangíveis da natureza, o dodecaedro representa o
quinto elemento, conhecido como éter ou quintessência, simbolizando o todo
cósmico e a esfera celestial. O
dodecaedro, com suas doze faces pentagonais, é ali frequentemente associado à
perfeição, harmonia e totalidade. A sua complexidade geométrica e simetria
fazem dele um símbolo do Universo ordenado e da interconexão de todas as coisas.
Na tradição filosófica representa o éter, o elemento que permeia e interliga
todos os outros, sendo a substância que compõe os corpos celestes e o espaço
entre eles.
Por outro lado, as formas topológicas dos padrões
em que que se baseia a geometria sagrada como a Flor da Vida, o Cubo de
Metatron, a Árvore da Vida, os sólidos de Kepler-Poinsot e o Homem Vitruviano
de Da Vinci, representam caminhos de informação coerente onde as formas funcionam
como códigos de ressonância informacional entre células inseridas numa rede
expandida, no caso vertente um mosaico quântico não-euclidiano.
A
Dança de Shiva no CERN – Centro Europeu de Pesquisa Nuclear
Fonte:
Wikimedia Commons
Conclusão: a Dança de Shiva
Imagine que cada “tripleto” gira numa orientação preferencial, criando um micro vórtice no espaço-tempo. Depois a combinação coerente de biliões destes micro vórtices originariam consequentemente um fluxo macroscópico de tempo (o tempo linear) e um momento angular global no Universo. Resultado: a seta do tempo nossa conhecida, a entropia, a rotação cósmica e a das galáxias seriam consequências de um mesmo e único processo fundamental. Esta é uma previsão que a cosmologia e a astrofísica poderão confirmar.
Neste modelo, e voltando a lembrar o
Śvetāśvatara Upanishad 1.4, o “Uno” védico e também teosófico, “não-dual”, representa
a Consciência Fundamental ou um Campo Quântico Primordial, que se manifesta
através de um movimento tríplice fundamental, o “tripleto” de spins, agindo como “nanomotores” de
Planck, impulsionando o Universo como uma grande “Roda” em rotação. Cada ponto
da realidade nasce da dança entrelaçada desses vectores primordiais, tecendo o
espaço, o tempo e níveis de Consciência num só Campo quântico dinâmico. A dança
dos vectores, tal como a Dança de Shiva, descreve a coerência emergente dos
campos de spin que formam a estrutura
do espaço-tempo e a evolução da Consciência. A “Roda” em rotação, simboliza o
Universo giratório, com uma direcção predominante do tempo e da entropia, a
Samsara pessoal em cada um de nós, e a colectiva.
"E aconteceu que, ao descer, ela
olhou para baixo e viu a luz do poder abaixo. E ela não compreendeu que era o
reflexo da sua própria luz... e desejou ir até ela. E por causa dessa paixão,
ela foi precipitada nas regiões inferiores.", Pistis Sophia, Livro I.
Se a Consciência (como Pistis Sophia)
está originalmente em ressonância com um Campo atemporal coerente de não-localidade,
então a sua “queda” implica um colapso da simetria temporal, a emergência de
uma flecha do tempo, guiada por desequilíbrios informacionais, levando à prisão
do “espírito” num ciclo causal, mais próximo do tempo linear entrópico, aquilo
que os gnósticos chamam as "esferas dos arcontes”. Estas funcionam como
camadas de tempo, de causalidade (karma) e ilusão, de leis determinísticas, que
distorcem ou fragmentam a Luz (a Consciência original).
O retorno de Pistis Sophia às
“alturas” será pela restauração da coerência quântica, uma ressonância
novamente alinhada com o Campo informacional original (o Pléroma), e finalmente
uma libertação do tempo linear, voltando ao tempo interno da Consciência, que
permite perceber o fluxo do tempo como um todo (a simetria temporal), o passado
(a retenção), o presente (o agora) e a antecipação do futuro (a protensão), como
descrito por Edmund Husserl. O tempo é uma perspectiva parcial sobre o
Universo, ele só emerge porque somos ignorantes. O tempo aparece forçosamente
associado à entropia (2ª lei da termodinâmica) porque só emerge quando há perda
ou limitação de informação. A razão porque faremos todos o percurso de Pistis
Sophia (Fé no Conhecimento)!
Notas
(1) O
"eixo do mal" (Axis of Evil,
em inglês), um nome que empresta uma sonoridade fantasiosa, mas que aponta para
algo intrigante e real observado na Radiação Cósmica de Fundo (CMB, Cosmic Microwave Background). A Radiação
Cósmica de Fundo é o eco térmico daquilo que se pensa ser o Big Bang, uma luz
muito antiga e uniforme que preenche todo o Universo. Quando os observatórios
espaciais como o WMAP (2001) e depois o Planck (2013) mapearam esta radiação em
todo o céu, descobriram pequenas flutuações de temperatura — variações mínimas,
essenciais para a formação das galáxias. Aquelas flutuações vistas numa grande
escala não estavam distribuídas de maneira completamente aleatória. Pareciam
alinhadas ao longo de um determinado eixo no espaço, como se houvesse uma direcção
preferida no Universo e que foi apelidada de "eixo do mal", porque
contradizia o princípio cosmológico que diz que o Universo, em larga escala,
deveria ser homogéneo e isotrópico, isto é, ter a mesma aparência em todas as
direcções. Até hoje esta
questão não foi completamente resolvida, mas a possibilidade de que a estrutura
mais profunda do Universo tenha uma orientação global tornou-se fascinante para
a Cosmologia.
(2) O modelo
de Gödel é uma solução exótica das equações da relatividade geral de Einstein.
O que Gödel imaginou foi um Universo cheio de matéria que gira como um grande
redemoinho cósmico, onde o próprio tecido do espaço-tempo ao girar torce-se
tanto que o tempo enrola-se sobre si mesmo, criando uma situação estranha, onde
seria possível dar uma volta pelo espaço e voltar ao próprio passado como
existissem curvas fechadas do tempo. Em termos simples, no Universo de Gödel, o
tempo e o espaço estão tão ligados e distorcidos pela rotação que o
"futuro" e o "passado" podem encontrar-se.
(3) O que Carlo
Rovelli e Alain Connes propõem sobre o tempo é que ele não é uma entidade
fundamental que existe por si só, como um "rio" que corre
independente das margens. Em vez disso, o tempo surge de como as coisas mudam e
interagem, especialmente quando olhamos para elas de forma térmica de acordo
com as leis da termodinâmica, ou seja, considerando o calor, a energia e o
equilíbrio dos sistemas. Um sistema físico, como um conjunto de partículas, se
está em perfeito equilíbrio, nada muda e então não haveria um tempo visível
ali. Mas quando o sistema não está em equilíbrio, ou seja, há diferenças de
energia, temperatura etc, há um fluxo, uma transformação, que cria a sensação
de passagem do tempo. Em termos mais técnicos, o tempo surge do estado
estatístico do sistema, da distribuição e interacção das unidades que o formam.
Em conclusão, se tudo fosse perfeitamente estático e equilibrado não
perceberíamos o tempo. Quando há diferenças, relações, movimentos e colapsos de
equilíbrios o tempo aparece como tendo origem na organização natural da
mudança. Ora, se existe mudança e movimento será precisamente nos nossos
“tripletos” quânticos.
(4) Evidencias
observacionais de Alinhamentos em larga escala tem sido estudados e documentados
em dados observacionais. É o exemplo de Zhang et al. (2015), que analisaram uma
amostra de galáxias espirais do SDSS e do Galaxy Zoo 2, encontrando evidências
de que os eixos de rotação das galáxias estão correlacionados com o campo de
maré em larga escala, sugerindo um alinhamento com a estrutura cósmica.
Por outro lado, Welker et al. (2019),
utilizando dados do SAMI Galaxy Survey, detectaram uma transição na orientação
dos spins das galáxias em relação aos
filamentos cósmicos, dependendo da massa estelar das galáxias. Demonstraram que
galáxias de baixa massa alinham os seus spins
com os filamentos, enquanto galáxias mais massivas apresentam uma orientação
perpendicular.
Também Shamir (2022), analisou a
distribuição das direcções de rotação de galáxias espirais em diferentes
regiões do céu, utilizando dados de múltiplos levantamentos, incluindo SDSS,
Pan-STARRS e Hubble Space Telescope e os resultados evidenciaram a existência
de uma assimetria na distribuição das direcções de rotação, com possíveis
implicações para o estabelecimento de uma possível anisotropia do Universo.
Ponta Delgada e João Porto, 01/05/2025
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