Consideremos um espaço definido por duas dimensões espaciais para simplificar (por exemplo altura e comprimento) e uma dimensão de tempo, tal como um cubo, e façamos nele o vácuo absoluto. Para tal teríamos que deslocar-nos para o espaço intergaláctico onde existe em média uma partícula por metro cúbico. Se o fizéssemos no planeta Terra ou no Sistema Solar teríamos respectivamente 1.000.000.000 e 10.000.000 de partículas por metro cúbico.
Figura 1 – Malha espaço-temporal
Mas por mais rarefeito que fosse este vácuo, continuaríamos a ter o espaço, confinado neste cubo, atravessado por incontáveis radiações de toda a espécie, desde raios cósmicos até ondas electromagnéticas de todas as frequências e comprimentos de onda (micro-ondas, rádio, ultravioleta, infravermelho, etc). Então chegaríamos á conclusão que o nosso cubo não estaria vazio e que o vazio seria impossível de atingir, e que portanto o vazio como o concebemos não existe. Estaria “cheio” de campos quânticos que atribuiriam as mesmas propriedades a todas as famílias conhecidas de partículas, estivessem elas ou não nos mais recônditos sítios do Universo.
A Relatividade Especial atribui a este espaço características de simetria que definem a geometria do espaço-tempo, tais como a translação, a rotação e uma malha espacial de referência. Estas simetrias são respeitadas por determinados objectos, tais como as partículas elementares subatómicas, desde os fotões até aos electrões, através daquilo a que se designa por parâmetro spin, com valores numéricos inteiros e semi-inteiros de 0, 1, ½, 3/2 e 2.
Spin ou momento angular intrínseco, tendo surgido inicialmente para descrever a rotação das partículas em torno de um eixo, estando na origem do seu campo magnético, é agora considerada uma propriedade inerente às partículas elementares, sendo um de outros quatro números quânticos que no seu conjunto definem o estado de uma partícula. Os valores atribuídos ao spin são sempre inteiros (0, 1, 2, …) ou semi-inteiros (-3/2, -1/2, 1/2, 3/2, …) em unidades da constante de Plank dividida por duas vezes pi. Os primeiros designam-se por bosões e os segundos por fermiões. Descrever de forma clássica o spin é uma tarefa árdua se não impossível.
Assim, enquanto o valor numérico 0 implica que o spin é independente da rotação do “frame” ou da malha do espaço, como se o objecto fosse pontual, o valor 1 significa o contrário, sendo então que o spin é definido por um vector obrigando a que o “frame” espacial rode uma vez para que o objecto volte ao seu estado inicial. O valor ½ define um “spinor” onde o “frame” do espaço terá que rodar duas vezes até o objecto adquirir o seu estado inicial. Então poderemos conceber o Universo como estando repleto de todos estes objectos que se sobreporiam, respeitando sempre o princípio da conservação da energia: o seu momento angular, a velocidade do seu centro de massa e a sua carga.
Para Pitágoras o princípio de todas as coisas está no número e o universo poderia ser descrito por números sendo a própria alma um número. O número, sendo a essência de todas as coisas materiais e subtis, deixa de ser uma abstracção quantitativa para ser um meio relacional, através do qual tudo se define, tal como faz o spin.
Assim, até poderíamos fazer corresponder a alma numérica pitagórica ao campo magnético unificado com o eléctrico (o campo electromagnético) de todas as partículas, traduzido em spin, que na sua concepção geométrica configura um tórus de “linhas magnéticas”, tal como todos os planetas o fazem com o seu campo magnético ou as galáxias com as suas recém-descobertas Bolhas de Fermi, confirmando mais uma vez o segundo aforismo da correspondência do Kybalion. Esta “alma numérica” seria na concepção septenária do Homem correspondente ao 2º nível do quaternário, o etérico ou energético.
Esta concepção geométrica do tórus estaria também nos pitagóricos estendida a uma relação geométrica e espacial no domínio da arquitectura e das artes musicais (como se a música fosse o reflexo da ordem cósmica) com o Número de Ouro.
“A Evolução é a Lei da Vida, o Número é a Lei do Universo, a Unidade é a Lei de Deus.” - Pitágoras
Por outro lado, se por um efeito mágico tivéssemos o tamanho da dimensão de Planck, veríamos este cubo repleto de flutuações, de onde do nada surgiriam partículas virtuais resultantes das perturbações devido à interacção dos campos quânticos ali existentes - a luz que o inunda através do seu campo electromagnético daria um espectáculo constante de colapsos de onda mostrando os seus fotões que originariam partículas virtuais de duração instantânea, impossíveis de observar, electrões e positrões, matéria e antimatéria que se aniquilaria, decaindo novamente em fotões.
Seleccionemos apenas este campo quântico electromagnético e olhemos de forma mais profunda para as suas características definidas na mecânica quântica. Segundo a matemática este campo (tal como todos os outros) comporta-se como se fosse um fluído, tipo o “éter” newtoniano, mas agora considerado como uma onda de probabilidade, onde os fotões como partículas, estão em todo o lado e em lado nenhum. Para tal demos largas à nossa imaginação e concebamos este espaço cheio de pontos como sendo objectos matemáticos, os spins, onde cada qual é definido por um valor numérico ou um vector ou outros objectos ainda mais exóticos e dos quais resultam o momento angular, a massa e a carga da partícula (os chamados parâmetros intrínsecos).
Como introduzimos o tempo em vez de uma terceira dimensão espacial, façamos evoluir este sistema nesta variável e constataremos que esta situação particular do desenvolvimento do fotão é apenas um estado de uma multiplicidade de estados que se desenvolvem todos neste campo de probabilidades. Ou seja, o colapso de onda provocado, por exemplo, por uma interferência observacional, ou seja, uma perturbação do campo quântico, conduz à revelação de um destes estados, entre todos os cenários presentes e probabilisticamente possíveis, numa relação imediata de causa e efeito.
Agora transponhamos este sistema para um nível escalar de grandes dimensões como aquele que é o próprio Universo, agora repleto de campos quânticos sobrepostos e que representam famílias de partículas com os seus próprios spins característicos. Tal como um espaço pontuado pelos números primos em Pitágoras.
Figura 3 – Um Universo numérico
e exótico
Acrescentemos a isto o próprio espaço como campo quântico que se contém a si próprio.
Neste caso particular, se considerarmos que o Universo é na sua maioria constituído por espaço vazio, tal como é o átomo onde 99,9% da sua massa está no núcleo, e que este espaço é definido, na teoria da gravidade quântica, por um campo granular de spins, caracterizado por acoplamento de nodos de vectores, a designada “espuma de spins” por Carlos Rovelli, então teremos também uma multiplicidade de estados quânticos em desenvolvimento no tempo, em ondas de probabilidade sobrepostas e cujo colapso define um complexo modelo de causa e efeito como resultado da sua interacção conjunta destas ondas de probabilidade, criando o conhecido fenómeno da gravidade. Ou seja, o próprio espaço como campo quântico que se conteria a si próprio, conteria os restantes campos quânticos resultando desta interacção uma espécie de unidimensionalidade ou omnipresença e a explicação do fenómeno quântico de “entanglement” ou emaranhamento, agora verificado em moléculas com agrupamentos até 2000 átomos. Esta descoberta muito recente (2019), considerada histórica, abre novos caminhos à Biologia Quântica assim como à Holo-morfogenética. (cfr. Fein, Y.Y., Geyer, P., Zwick, P. et al. Quantum superposition of molecules beyond 25 kDa. Nat. Phys. 15, 1242–1245 (2019). https://doi.org/10.1038/s41567-019-0663-9).
Se ainda integrarmos no campo quântico “granular” do espaço mais dois campos quânticos que o caracterizam, e que a ciência só agora inicia a sua teorização, - o campo Holo-morfogenético e o campo da Informação/consciência, poderemos ter outras simetrias espaciais ainda desconhecidas e absolutamente exóticas, criando aquilo que consideramos ser a omniconsciência em que o Universo deverá passar a ser tratado como um organismo vivo (o Macrobios), estruturando a sua concepção septenária e um modelo padrão futuro da física unificada.
Em conclusão, a junção ou síntese de todos os cenários da evolução no tempo dos estados quânticos de todos estes 7 campos, caracteriza o estado físico final da matéria como nos é dada conhecer, e o desenrolar da evolução do Universo tanto no nível micro como no macro.
O próprio tempo surge então desta interacção conjunta como fenómeno circunstancial de causa e efeito.
Compreendidos estes aspectos fenoménicos, poderemos agora também apoiar-nos na tradição esotérica para percebermos que os fundamentos do Karma residem nos múltiplos estados e nos colapsos de onda respectivos provocados pelas perturbações nesta síntese ou amálgama de campos quânticos, criando sempre um parâmetro de causa e efeito que vai do particular ao universal, e vice-versa, funcionando como princípio geral de simetria, a derradeira Lei.
“É a lei infalível que ajusta o efeito à causa nos planos físico, mental e espiritual do ser. Como nenhuma causa deixa de produzir seu efeito correspondente, desde a maior até a menor, desde a perturbação cósmica até o movimento das nossas mãos e como o semelhante produz o semelhante Karma é aquela lei invisível e desconhecida que ajusta sábia, equitativa e inteligentemente cada efeito à sua causa, remontando esta ao seu produtor. Ainda que incognoscível, sua acção é perceptível...”, -cfr. Helena P. Blavatsky, A Doutrina Teosófica.
Se juntarmos os princípios de simetria exóticos, diga-se de passagem, classicamente muito dificilmente concebíveis, que deverão nortear os campos quânticos holo-morfogenéticos e o da informação/consciência, é então possível atribuir à síntese de todos estes campos quânticos que definem em última análise o nosso Universo, capacidades inexauríveis de omnipresença e omnipotência/consciência de que só a tradição Teosófica ou a Vedanta tem sido até agora capaz de descrever de forma muito simbólica.
Poderíamos agora inferir alguns aspectos do Karma, como se constituísse a grande Lei Geral da Simetria, como sendo Aquele parâmetro fundamental:
– O Universo funciona e interage como um todo e em todos os níveis onde o emaranhamento ou “entanglement” é a potência geral coordenadora da causa e efeito.
– Os campos quânticos inerentes à constituição septenária são transversais a tudo, desde a partícula subatómica ao enxame galáctico.
– Tudo é movimento e mudança cíclica, tudo é permanentemente direccionado de forma inteligente de éon em éon.
– Somos, seres vivos graduados com níveis de consciência, o espelho do Universo como fenómeno local de simetria que afinal tudo permeia. Será o princípio da organização fractal como princípio de economia energética e sustentabilidade universal.
– O passado, o presente e o futuro fazem parte da mesma linha de perturbação circunstancial, tal como a voz popular o confirma na assertividade daquilo que for semeado será a colheita.
– O Universo tem apenas um foco ascensional evolutivo (a ascese Dharmica) envolvendo todas as coisas materiais e subtis.
– O Conhecimento como informação é uma matriz sempre partilhada globalmente como uma rede de nodos que tudo envolve (conceito Akasha). A evolução é informação organizada e partilhada em níveis sempre crescentes.
– A potência e o esforço “do aqui e agora”são o mais importante porque definem os vectores de perturbação, sempre em modo retroactivo, dos cenários futuros e dos seus “colapsos de onda”.
Figura 5 – A Lei do Karma
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:The_Law_of_Karma,_Panel_0.20_(full),_Borobudur_0964.jpg
A estrutura conceptual agora aqui presente, resulta apenas de termos criado hipoteticamente a possibilidade de correlacionar os actuais conhecimentos da Física actual com as tradições mais antigas consideradas ocultas das doutrinas teosófica e védica ou ainda daquela mais recente da Escola Pitagórica. Resultou sobretudo de um desenvolvimento “ao correr da pena”, como luz que se fosse fazendo num caminho inexplorado e virgem, por vezes cheio de conceitos científicos dificilmente caracterizáveis mas sem intenção especulativa. É evidente que nos falta a sustentabilidade matemática para levar a cabo as necessárias demonstrações. No entanto, paira sobre nós a satisfação de concretizar em “letra de forma” os nossos mais íntimos pensamentos e de os poder partilhar.
Ao darmos este passo, foi como se consolidássemos no nosso ser interior, algumas assertividades já tomadas como certas de há muito tempo e que faziam já parte de nós.
Talvez que este impulso “aqui e agora” seja uma prova subtil do Karma.
Revista Fénix da Nova Acrópole
https://www.revistafenix.pt/das-origens-do-karma/
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