“Qual é a causa deste Universo? – É Brahman? De onde viemos?
Porque viemos? Onde finalmente descansaremos? Sob o comando de quem estamos
atados pela lei da felicidade e seu oposto?
O tempo, a lei, o acaso, a matéria, a energia primordial, a
inteligência – nenhum desses, nem uma combinação deles, pode ser a causa final
do Universo, pois eles também são efeitos, e existem para servir a alma. Nem
pode o Eu individual ser a causa, pois, estando sujeito à lei da felicidade e
da miséria, não é livre.”
Upanishad XI - Swetasvatara
Pela primeira vez em Outubro de 2019, Joon Hyeop Lee e colegas, publicavam em The Astrophysical Journal (1), um estudo que apoiado em que evidências observacionais, defendia a hipótese de que a direcção de rotação de uma galáxia era coerente com a direcção média das galáxias na sua vizinhança no espaço de 1 Megaparsec. Ao estenderem o seu estudo para distâncias ainda maiores até 15 Megaparsecs, utilizando dados da pesquisa do Calar Alto Legacy Integral Field Area (CALIFA) e do catálogo NASA Sloan Atlas (NSA), depararam-se com o mesmo comportamento.
Ainda antes, em Julho de 2014, outro estudo empreendido por Hutsemékers e a sua equipa (2), utilizando o Very Large Telescope (VLT) no Chile, punham em evidência a existência de correlações entre o eixo de rotação de 19 Quasars que eram paralelos apesar de separados por biliões de anos-luz, o que coloca em causa o princípio cosmológico aceite da aleatoriedade da uniformidade e homogeneidade do Universo.
Agora mesmo, Oliver Müller em Janeiro de 2021, um estudo recentíssimo (3), descobre que as galáxias satélites anãs em torno da nossa Via Láctea, da galáxia de Andrómeda e da galáxia Centaurus A, possuem uma distribuição não aleatória, mas circunscrevem-se a um plano co-orbital formando uma estrutura de movimento síncrona, como se ensaiassem entre si um bailado cósmico.
Estes estudos recheados de evidências observacionais, vem novamente reforçar a ideia de que a teia filamentar que constitui o Universo, a denominada “web cósmica” que liga as galáxias por uma estrutura filamentar, tem a sua origem em algo que orienta e modela todo o Universo conhecido, ao contrário do que sugere a teoria cosmológica padrão comumente aceite.
Entretanto, N. Haramein e o seu modelo cosmológico (4), pressupõe que o alinhamento das galáxias e dos seus eixos de rotação se devem à estrutura dinâmica do espaço-tempo de cujo seio surge a matéria bariónica (partículas e campos quânticos conhecidos), de forma fractal holográfica, que o próprio define como um “Plasma Quântico de Vácuo”, ligando deste modo aquilo que parece ser uma estrutura pré-existente à escala de Planck com todas as estruturas à mega escala do Universo. Se assim for, então as megas estruturas do universo deveriam apresentar comportamentos conjuntos e direccionais e nunca aleatórios.
Ao atribuir ao espaço uma dimensão quântica pré-existente e um aspecto granular à escala de Planck, uma esfera definida por unidades de Planck, N. Haramein bem como C. Rovelli, com a sua “espuma de spins”, e ainda muitos outros que se dedicam à formulação dos aspectos intrincados da gravidade quântica, resolvem também a “velha” questão da falta de matéria no Universo, até agora sempre atribuída em parte à hipotética matéria escura.
A matéria escura é então substituída pelo concepção do espaço granular quantificável. Esta esfera de espaço onde se define holográficamente um horizonte de eventos, vai reproduzir-se de forma similar, no horizonte de eventos da esfera De Sitter que é o Universo, produzindo uma espécie de comportamento colectivo aos seus elementos constituintes.
Outro estudo empreendido por Kyu-Hyun Chae e a sua equipa em Novembro de 2020, regista este comportamento revelando a existência de Efeitos de Campo Externos (EFE – External Field Effect), tipo maré gravitacional, que são observados na velocidade orbital das estrelas em mais de 150 galáxias. Já em 1930 Fritz Zwicky, a quem se deve a designação de matéria escura, detectava este efeito, retomado mais tarde nos anos 70 por Vera Rubin e assumindo-se que era resultado da presença da dita matéria desconhecida, e como tal escura, atribuída depois a partículas de massa desconhecida, aos neutrinos, às supostas WIMPS e aos buracos negros primordiais.
De facto até hoje não houve qualquer evidência da existência da matéria escura, nem tão pouco prova de outras teorias, como a Teoria Mond que advoga a existência de outras leis gravitacionais.
Assim sendo, a gravidade passa a ser apenas o efeito da curvatura do espaço tido como mais um campo quântico e acabando com os paradoxos introduzidos pela divisão infinita da matéria. Plotino já se havia apercebido da razoabilidade deste conceito, tão antigo quanto a filosofia Védica ou a Cabala Caldeia.
A Constante Cosmológica (ꓥ), introduzida por Einstein para renormalizar a estabilidade do Universo, e depois retirada face à descoberta da expansão do Universo por Edwin Hubble, e novamente reposta aquando da descoberta da expansão acelerada do mesmo, ou com a concepção cosmológica de Sitter onde a energia escura actua como uma força adicional, criou aquilo que tem sido designado por “Vacuum Catastrophe”(8).
Esta “Catástrofe”, introduzida pela concepção do vácuo do espaço, deriva de uma profunda contradição entre as observações astronómicas e a teoria do campo quântico. Enquanto as primeiras, têm suportado até agora o modelo cosmológico actual, que defende vivermos num universo “flat”, homogéneo e isotrópico composto por radiação, matéria bariónica e por matéria escura não-bariónica com uma energia escura de densidade calculada em 5.83 x 10-30 g/cm3 (8); a segunda prevê que as flutuações quânticas com os seus modos oscilatórios infinitos, introduz um resultado infinito na densidade da energia do vácuo, a não ser que seja renormalizada à escala de Planck, dando então um valor de 5.16 x 1093 g/cm3.
Ou seja, a discrepância entre o modelo cosmológico actualmente aceite e a teoria dos campos quânticos é da ordem de 122 zeros!
Longe de esmiuçarmos a matemática subjacente aos complicados cálculos que resolvem esta “catástrofe”, daremos apenas nota breve da concepção do modelo holográfico de N. Haramein, que descreve uma geometria esférica como um volume básico de entropia ou de unidades PSU – Planck Shperical Units ou Unidades Esféricas de Planck, onde se aloja o bit de informação holográfica.
Estes PSU`s também designados por
“voxels” de Planck (neologismo de
volumes + pixels), estendem-se pelo horizonte da superfície esférica produzindo
uma relação holográfica com a densidade de informação dada pela massa-energia
no interior da esfera, e onde a área do disco equatorial,
Figura 1 - Esfera de “voxels” de Planck
Haramein, N. and Val Baker, A. (2019) Resolving the
Vacuum Catastrophe: A Generalized Holographic Approach. Journal of High Energy
Physics, Gravitation and Cosmology, 5, 412-424.
https://doi.org/10.4236/jhepgc.2019.52023
Assim podemos considerar o espaço como uma estrutura discreta quântica granular (como o fez Plotino, conceptualmente de outro modo), dando uma solução quântica holográfica e fractal ao fenómeno da gravidade em termos de Unidades Esféricas de Planck bem como a sua extensão à física dos buracos negros, e ultrapassar a discrepância da ordem dos 122 zeros que separavam as densidades de energia dos campos quânticos e do cosmológico.
E, aqui voltamos à nossa ideação septenária na base da qual residem dois campos quânticos na origem da cosmogénese: o campo Holográfico-Morfogenético e o Campo do Espaço Granular saídos do Campo da Informação/Consciência também designado nas tradições filosóficas por O Absoluto, O Uno, O Todo, O Gérmen na Raiz, Atma, Brahma e que formam a geometria ternária dos campos quânticos que se contêm a si próprios.
Deste ternário, parte o Campo de Higgs que confere massa à matéria bariónica (campos quânticos das forças forte, fraca e electromagnética e ainda os fermiões).
Poderemos conceber então o Campo Quântico Holo-Morfogenético responsável pela reprodução dos padrões fractais holográficos, a todos os níveis da existência, como fazendo parte integrante do próprio espaço, uma vez que este considerado como uma estrutura granular ou “espuma de spins”, em Rovelli, veicula a informação em bits de Planck ou em Unidades Esféricas de Planck (PSU`s).
Mais uma vez o segundo princípio de Hermes Trismegisto perpassando toda a fenomenologia.
“Este Universo é uma árvore que existe eternamente, com as suas raízes voltadas para cima (o ternário) e seu galhos espalhados embaixo (o quaternário). A raiz pura é Brahman, o imortal, em quem os três mundos têm a sua existência, a quem ninguém pode transcender, que é verdadeiramente o Eu. Todo o Universo veio de Brahman e se move em Brahman.” – Upanishad III, Katha.
Mais uma vez a filosofia vedanta de encontro às nossas mais actuais concepções do Universo.
“Los Tres caen en los Cuatro. La esencia Radiante se hace Siete dentro. Siete fuera. El Huevo Resplandeciente (matéria indistinta do espaço), que es Tres en si mismo, cuaja y se esparce en Coágulos blancos como la leche (Galáxias) por todas las Profundidaddes de la Madre, la Raiz que crece en las Profundidades del Oceano de la Vida.
La Raiz permanece, la Luz permanece, los Coágulos permanecen, y todavia o Oeaohoo (Raíz Septenária) es Único.” – Las Estancias de Dzyan, H. P. Blavatsky, Estancia III, [4,5].
Nestes dois parágrafos descrevem-se sob uma simbologia oculta que trespassa os tempos, de uma forma muito bela, o surgimento do Universo. Se tivermos em atenção aquela Constituição Septenária anteriormente descrita, tudo se torna claro.
É interessante também perceber que o universo considerado como tendo a idade de 13,8 biliões de anos apresenta desde logo muito cedo galáxias massivas já maduras, tais como a nossa própria galáxia – a Via Láctea, com a idade de 13,6 biliões de anos. Como explicar este paradoxo da evolução cosmológica se o nosso actual universo não tivesse surgido de outro, éon atrás de éon, como advoga a teoria Cosmológica Cíclica Conforme (CCC) de Roger Penrose, possuindo à nascença, de forma holográfica toda a informação necessária à sua constituição e evolução como propõe o modelo cosmológico de Haramein e a teoria da estrutura granular do espaço de Rovelli? Seria como ter um ADN próprio ou o Panpsiquismo aplicado à escala da Cosmogénese.
A suportar também este enquadramento, existe um estudo conduzido por
uma equipa internacional de astrónomos (9) e efectuado pelo Atacama Large
Millimeter/submillimeter Array (ALMA), investigando 118 galáxias massivas.
Outra questão prende-se com a formação dos
super massivos Buracos Negros Primordiais (BNP`s). Se estes resultam do colapso
de estrelas supermassivas que não existiam no início da formação do Universo
como foi possível a sua existência? De acordo com o modelo de Haramein, os
buracos negros surgiram primeiro quando a densidade de energia do vácuo tal
permitia, o que também está de acordo com a teoria CCC de Penrose. Estas
densidades extremas de energia resultantes do fim do Universo, funcionariam
como núcleos agregadores de formação de galáxias do novo Universo.
Assim as supracitadas estruturas geométricas
UPS`s funcionariam como osciladores dos campos quânticos do espaço, na criação
destes buracos negros primordiais, centros de futuras galáxias. Após 1 segundo
depois do Big Bang, ou de algo semelhante, tipo Big Bounce, ter-se-iam formado
Buracos Negros Primordiais (BNP`s) correspondentes a 100.000 massas solares.
Nesse intervalo de tempo muitos outros deverão ter sido formados, alguns do
tamanho de protões, mas que desapareceram por evaporação devido ao efeito conhecido
como Radiação de Hawking.
Em todo o caso a descoberta de que todas as
galáxias possuem um buraco negro ou um NGA – Núcleo Galáctico Activo, vem
corroborar este cenário. Mesmo aqueles Quasars, recentemente descobertos pelo SDSS
(Sloan Digital Sky Survey) a apenas 690 milhões de anos de idade, possuem um
buraco negro super massivo correspondente a 1 bilião de massas solares, muito
acima do estimado, mas que poderá ser justificado pela coalescência de vários
buracos negros ou pelo rápido crescimento dos mesmos face ao meio super
enriquecido de hidrogénio.
A estreita relação revelada pelo Fundo
Cósmico de Micro-ondas entre estruturas, como se houvesse um “entanglement” de
informação, anterior, pré-construído, provindo do universo mãe do qual surgiu o
Buraco Negro Primordial, faz-nos lembrar forçosamente a Teoria Cosmológica
Cíclica Conforme de Penrose e mais uma vez de que a Consciência/Informação
permeia todo o Universo.
No mapa da radiação cósmica de fundo em
micro-ondas (figura 3), as cores representam as pequenas flutuações de temperatura
do brilho remanescente da infância do universo onde as regiões vermelhas são
mais quentes e as azuis, mais frias. Penrose sugeriu que seriam vistos anéis
concêntricos que são ligeiramente mais quentes ou mais frios do que a
temperatura média, resultado de ondas de choque. Entretanto investigadores
polacos e canadianos confirmaram a presença destes anéis com um nível de
certeza de 99,7%.
Em qualquer dos casos, considera-se que a
cosmologia de Roger Penrose é aquela que se aproxima mais das evidências
observacionais e produz previsões susceptíveis de serem confirmadas. Em torno
dela tem-se agregado muitos outros modelos constituindo presentemente uma
teoria cosmológica unificadora para as concepções de matéria escura, gravidade
quântica, espaço quântico granular, formação e crescimento estelar e modelo de expansão
do Universo.
É de realçar as características semelhantes
desta teoria unificadora actual com a filosofia inscrita nos Vedas. Passados
tantos milénios parece que a humanidade volta a adoptar as concepções que estão
na base das filosofias mais antigas, num sempre retorno às origens ou numa
espiral cíclica do Conhecimento.
“Concebamos com o pensamento este universo [sensível]… cada uma de suas partes permanecendo o que é e não se confundindo [com as outras] … como o conjunto de todas as coisas reduzidas a uma unidade na medida do possível, de modo que, ao manifestar-se qualquer uma de suas partes, por exemplo a esfera [celeste] exterior, imediatamente siga-se também a representação do sol e dos outros astros em conjunto, e que sejam vistos a terra, o mar e todos os viventes, como seriam vistas em uma esfera diáfana todas as coisas que nela estão em actividade. Que haja, então, em tua alma uma representação luminosa de uma esfera que contém todas as coisas em si, quer estejam elas em movimento, quer estejam em repouso, ou melhor, umas em movimento e outras em repouso. Guardando esta imagem, concebe para ti outra, abstraindo a massa; abstrai também o espaço e a representação de matéria que há em ti, e tenta não substituir essa esfera por outra de menor massa, mas, clamando pelo deus que produziu a esfera cuja representação tens, implora que venha. E ele chega trazendo seu próprio universo com todos os deuses nele, sendo um e todos, e cada um é todos em unidade, e eles são diferentes por seus poderes, mas todos são um devido àquele único poder multíplice ( ...)” – Plotino em Enéadas, V. 8 [31] 9. 1ss.
Que mais poderíamos acrescentar a esta visão fractal do universo?
Bibliografia
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