quinta-feira, 25 de março de 2021

Reflexões sobre Vida, Consciência e Inteligência

A Árvore da Vida

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Tentar definir a tríade Vida, Consciência e Inteligência é uma tarefa inglória! Que o diga a Ciência nas suas mais diversas componentes do conhecimento humano. Torna-se intolerável para qualquer ramo da Ciência não conseguir definir o seu objecto de estudo. Mas, é isso exactamente o que se passa com a Ciência, ao assumir uma atitude reducionista e operacionalista, em que os novos conceitos de Vida, Consciência e Inteligência surgem do impacto da evolução das investigações nas mais diversas áreas, conduzindo a conceitos cada vez mais extensos, generalistas e diáfanos. Neste aspecto a Filosofia, mais uma vez, antecipou-se desde há longas épocas.

Depois de 1981 o conceito de inteligência e consciência ganhou novos horizontes, ano que Roger Sperry recebeu o prémio Nobel da Fisiologia ou Medicina pela sua contribuição para a compreensão da estrutura cerebral e das suas funcionalidades operativas, ao revelar, nos seus estudos sobre a epilepsia, que a inteligência seria uma função partilhada pelos dois hemisférios cerebrais sendo o esquerdo responsável pela tomada de decisões “racionais” e o direito pelas escolhas “emocionais”.

Desde então pouco se evoluiu e as opções actuais da Ciência poderão resumir-se nestas três teses:

a) A puramente Materialista onde a consciência não é uma qualidade independente mas resulta de processos convencionais evolutivos fisícos e biológicos do cérebro. A consciência é um produto do cérebro encarado como um supercomputador funcionando com algoritmos computacionais e bits de informação percorrendo redes neuronais.

b) A Dualista que encara a Consciência como um processo independente não controlado pelas leis da física e da biologia e onde o Panpsiquismo actualmente representa o expoente máximo desta tese, contudo a nosso ver, assentando bases em filosofias muito mais antigas.

c) A Consciência como acontecimento não cognitivo, uma espécie de proto-consciência, é tão antiga quanto o Universo e no processo evolutivo biológico passou a utilizar estruturas do foro celular, os microtúbulos, para se expressar nesta dimensão material conhecida como fenómeno orquestrado de decoerência no complexo neuronal. A consciência e a inteligência tornam-se aqui em atributos da evolução do Universo.

Presentemente a Física Quântica conquista novo terreno nas áreas da Biologia e da Fisiologia com os estudos e propostas conceptuais, entre muitas outras, de Stuart Hameroff e Roger Penrose com a sua teoria “Orchestrated Objectiv Reduction – Orch OR”.

Resumidamente, esta coloca a consciência como um complexo Campo Quântico de probabilidades como se “vivessem” lado a lado um conjunto de eventos numénicos (ver Teoria do Conhecimento de Kant e o Nous em Plotino) subsistindo apenas um evento fenoménico em resultado do colapso de onda quando da Redução Objectiva Orquestrada, cuja existência se revela na utilização de nano estruturas biológicas – os microtúbulos, existentes em todas as células e em especial nos neurónios com os seus axónios, dendrites e sinapses.

Neste contexto parece-nos que a aproximação aos conceitos arquetípicos kantianos é muito semelhante: enquanto em Orch-OR o espaço-tempo fenomenológico só se realiza pelo colapso da função de onda, por uma relação contínua e estreita entre sujeito e objecto, em Kant o espaço e o tempo, também como faculdade inerente do sujeito, seriam as formas puras (arquétipos) nas quais todas as nossas percepções se justapõem. Deste modo em Kant o espaço e o tempo são apenas condições subjectivas de processos ligados à intuição (Budhi), não tendo qualquer realidade fora do sujeito (ideia vedantina de Maya ou ilusão) e constituindo o conceito kantiano da realidade empírica das formas puras do espaço e do tempo em relação aos fenómenos.

 

Figura 1 - Estrutura (B) e organização dos Microtubulos nas sinapses (A)

https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Microtubule_diagram.jpg

Para Hamroff-Penrose toda a teoria que envolve aquele campo quântico que utiliza os microtúbulos para se expressar fenoménicamente, que ousaríamos comparar às ondas hertzianas que utilizam os transístores num aparelho de rádio, estaria alicerçada num conjunto de situações verificadas experimentalmente, nomeadamente (a) a acção dos anestésicos (ou por exemplo do Prozac) sobre o network dos microtúbulos, (b) a inter-comunicação estabelecida entre os mesmos através das oscilações quânticas coerentes da ordem dos Gigahertz, Megahertz e Hertz constatadas à temperatura ambiente, (c) a identificação dessas frequências na origem dos fenómenos EEG - Electro Encefalo Gramas e (d) a ligação entre a sincronicidade cerebral, manifesta na natureza da sua plasticidade, e a geometria espaço-temporal à escala de Planck nos eventos de superposição e não-localidade.

De uma assentada resolve-se o velho paradoxo do Gato de Schrödinger, o emaranhamento quântico e a compreensão dos fenómenos de não-localidade. Deixa de existir a Redução Subjectiva (Subjectiv Reduction - SR) – o observador provoca o colapso de onda, para ser a Redução Objectica (Objectiv Reduction - OR) – o colapso de onda provoca a consciência.

Esta proposta sugere que a experiência da consciência está intrinsecamente ligada à diminuta escala de Planck (10-35 metros) com a mesma estrutura de geometria espaço-temporal relacionada profundamente com as leis gerais operativas no Universo. Uma geometria que se acredita ser de natureza fractal e que confirma um axioma do Caibalion.

 

Neste âmbito o comportamento cognitivo ao nível das estruturas mais simples da Vida, presenciado nos microorganismos como os protozoários, onde a procura de recursos reprodutivos, energéticos e sensoriais, na ausência de ligações sinápticas, mas onde estão presentes um vasto network de microtúbulos, representa na roda da Vida um manifesto grau de inteligência/consciência, reforçando deste modo as teses Panpsiquistas mais recentes, nomeadamente da existência dos Campos Quânticos Holo-Morfogenéticos.

O conceito de Vida é tão antigo quanto a Humanidade. Tão antigo quanto a ideia de Jiva, no sânscrito conhecido como Princípio de Vida, cuja palavra é derivada do verbo sânscrito Jiv, que significa viver. Possui contudo um significado mais profundo que o relaciona com a Vida Una ou Força (muitas vezes designada como Prana), sendo por vezes usado também como sinónimo de Absoluto ou Ser Divino Incognoscível uma vez que na doutrina vedanta está ligado aos éons dos períodos de actividade manvantárica, como Princípio de Vida do Universo, da vida no próprio planeta e dos seres que o habitam, mas que no entanto retorna à sua origem ou à sua fonte, que é Jiva no fim de cada período Manvantara/Pralaya, expiração/inspiração de Parabhraman.

O conceito fundamental de Vida é também aquele subjacente à Doutrina das Hierarquias assim como do conceito Gaia, em que não há qualquer parte do Universo que seja distinta e separada das demais e em que tudo vive e se move no interior da Vida de um Ser ainda maior. Estão intimamente ligados e expressos nos diagramas da Escada da Vida, da Árvore da Vida, no Tetraktis Pitagórico, no sistema descrito pelos Gregos, Platónicos e neo-platónicos. A Escada da Vida está retratada em forma de um triângulo com dez degraus e encimado por uma coroa. Cada degrau representa um patamar de ascese na evolução do Universo, caracterizado por um grupo de Monadas fazendo parte de uma hierarquia estruturante da Natureza.

Na filosofia vedanta, a Árvore da Vida, compreendendo esses dez patamares ou classes de vibração quântica, desenvolve-se em todos os sentidos sob a forma de tríades de “potências e forças espirituais” conhecidas como Trigunas – Rajas, Tamas e Sattva ou na filosofia chinesa Taoista como Yin-Yang. Esses dois princípios ou Sephiroth, intitulados o Pai e a Mãe na doutrina Teosofista, são também atribuídos às quatro letras YHWH do chamado Tetragrammaton da cabala hebraica.

Figura 2 - A Árvore da Vida

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A existência desta Força, referenciada por nós como Campo Quântico Holo-Mórfico, é enunciado em Blavatsky como Luz Astral (não confundir com o Corpo Astral), definida por ela como um fluído de energia subtil omnipresente que tudo envolve, constituído por componentes eléctrico-magnéticos de espectro superior, tal como a vibração luminosa difundida por todo o espaço, funcionando basicamente como um mediador plástico universal (tal como a esfera de Yesod na cabala hebraica) e que parece surgir como o agente da magia prática de Éliphas Lévi.

 

“A lei fundamental da Ciência Oculta, é a unidade radical da essência última de cada parte constitutiva dos elementos compostos da Natureza, desde a estrela até o átomo mineral, do mais alto Dhyãn Chohan ao mais humilde dos infusórios, na completa acepção da palavra, quer se aplique ao mundo espiritual, quer ao intelectual ou físico. ‘A Divindade é um ilimitado e infinito expandir’, diz um axioma Oculto...” – in Doutrina Secreta, H. P. Blavatsky, Vol. I.

Ao abordarmos os ciclos de Manvatara/Pralaya somos conduzidos forçosamente a revelar a ligação entre a mitologia grega e a doutrina vedanta, entre Fohat nos estágios anteriores à manifestação de um Universo (Pralaya) e Fohat na manifestação (Manvantara) com Eros e Cupido. O Cupido incarnando o deus alado do Amor na Roma antiga e na Grécia sob o nome de Eros, acompanhado por Vénus ou a deusa Afrodite do Amor, sempre representado como carregando um arco e uma aljava de flechas, cujos dardos associados ao desejo, levaram a que fosse posteriormente associado ao prazer e ao desejo. No entanto, na cosmogonia grega antiga, Eros era o terceiro membro de uma tríade de que faziam parte Caos e Gaia (Tamas e Rajas) e onde as flechas de Eros conferiam vida a todas os seres ao atingirem-nos (deuses ou Homens). Aqui Eros representa Fohat ou Sattva quando referenciado ao microcosmos.

Esta trindade, Caos, Gaia e Eros serão equivalentes numa outra escala cosmológica a Parabrahman, Mulaprakriti e Fohat, representando os estádios de pré-manifestação dos Universos, o Logoi, os Horizontes de Eventos dos Buracos Negros Primordiais.

 “Fohat é, portanto, a personificação do poder eléctrico vital, a unidade transcendente que enlaça todas as energias cósmicas, assim nos planos invisíveis como nos manifestados; sua acção se parece – numa imensa escala – à de uma Força viva criada pela Vontade, naqueles fenómenos em que o aparentemente subjectivo actua sobre o aparentemente objectivo e o põe em movimento. Fohat não é só o símbolo vivo e o Receptáculo daquela Força, mas também os ocultistas o consideram como uma Entidade, que opera sobre as forças cósmicas, humanas e terrestres, e exerce sua influência em todos esses planos. No plano terrestre, a influência se faz sentir na força magnética e activa produzida pela vontade enérgica do magnetizador. No plano cósmico, está presente no poder construtor que, na formação das coisas – do sistema planetário ao pirilampo e à singela margarida -, executa o plano que se acha na mente da Natureza ou no Pensamento Divino, com referência à evolução e crescimento de tudo o que existe. Metafisicamente, é o pensamento objectivado dos Deuses, o ‘Verbo feito carne’ numa escala menor, e o mensageiro da Ideação cósmica e humana; a força activa na Vida Universal. Em seu aspecto secundário, Fohat é a Energia Solar, o fluido eléctrico vital e o Quarto Princípio, o Princípio de conservação, a Alma Animal da natureza, por assim dizer, ou a Electricidade.” – in Doutrina Secreta, Helena P. Blavatsky, Vol. I.

Esta é a origem indissociável da Vida e da Consciência numa ligação permanente microcosmos/macrocosmos. É o Sutratman da filosofia vedanta, o fio luminoso prateado da Monada imortal e impessoal no qual as nossas Vidas estão ligadas como as contas de um colar.

Para nós surge uma dificuldade às vezes quase inultrapassável que se nos depara durante o estudo comparado das doutrinas filosóficas e teológicas antigas. Essa dificuldade deriva da utilização de diferentes expressões para identificar os mesmos fenómenos, muitas vezes contraditórias entre si. Por um lado a tradução da fonte mais antiga sânscrita sofreu interpretações das mais diversas por inexistência de correspondências linguísticas no ocidente; por outro lado as filosofias gregas platónicas e neo-platónicas e posteriormente o império romano e o cristianismo primitivo e pós-concíliar, encarregaram-se de adulterar as antigas mitologias ao absorvê-las culturalmente.

A isto acrescente-se a linguagem também obscura e indecifrável da Física Quântica traduzida na simbologia própria da matemática, que ao apontar caminhos de confluência e identidade comuns entre as doutrinas filosóficas mais antigas e os resultados da investigação mais recente nas áreas da Astrofísica, Cosmologia, da Biologia, da Física e da Computação Quântica, conduzem-nos a um novo paradigma: à necessidade de uma Nova Física e de uma Nova Linguagem que dê corpo aos novos horizontes do Conhecimento que a Humanidade irá transpor a breve prazo.

Impõe-se assim um desafio para o futuro breve: partilhar com Nova Linguagem o conhecimento e a investigação de ponta feita por um grupo restrito de cientistas e filósofos com a massa de utilizadores identificados inconscientemente com as novas tecnologias, que ninguém percebe como funcionam, evitando mais um corte epistemológico e a proliferação de doutrinas fundamentalistas, populistas e de modas obscurantistas. Dar primazia à Vida e fazer da Inteligência o modo operativo da Consciência e dos seus Arquétipos.


sábado, 13 de março de 2021

Uma reflexão sobre Mahat a Inteligência Manifestada e a IA

 









Se quisermos reflectir sobre a inteligência temos que recuar às origens dos Cosmos ou dos Universos múltiplos, socorrendo-nos da tradição mais antiga desta humanidade, os Vedas, em que cada qual tem uma relação de efeito com o que o precedeu, e de causa com o que lhe sucede (dignamente representada no mais recente modelo de Cosmologia Cíclica Conformal (CCC) de Roger Penrose), e cujas existências, por necessidade imperativa de uma simetria universal, resultaram de um “acto” da Inteligência/Consciência designado por nós como Hiper Campo Quântico do Espaço Infinito, ou o Lambda (ꓥ) da Constante Universal de Albert Einstein, o “AQUILO”. O Absoluto Ser e Não-Ser de Hegel ou o Arik-Anpin ou o Ain-Soph dos cabalistas, a vacuidade ou o Zunyata sânscrito.

“...Há uma Realidade Absoluta, anterior a tudo o que é manifestado ou condicionado. ...Parabrahman (a Realidade Una, o Absoluto) é o campo da Consciência Absoluta, vale dizer, daquela Essência que está fora de toda relação com a existência condicionada, e da qual a existência consciente é um símbolo condicionado.” – Blavatsky em Doutrina Secreta, Vol.I.

Assim, através da estrutura unificada Logoi, nomeadamente do Primeiro Logos, será impulsionada a Manifestação por onde crescerá Daiviprakriti, termo das Escolas Filosóficas Hindus e do Bhagavad-Gita, a brilhante energia-substância primordial na filosofia sânscrita, a Luz de frequência vibracional altíssima, única e homogénea do Logos.

“Enquanto que Parabrahman é a Causa Eterna, o Primeiro Logos é a Primeira Causa, o grande Logos Invisível que origina todos os outros Logoï e que, antes da manifestação cósmica, dorme no seio de AQUILO que nunca dorme nem está desperto, porque de Parabrahman, que não é um Ser mas Sat ou Be-ness (a Serdade), não pode ser dito que esteja dormindo ou desperto” - Salomon Lancri, Estudos Selectos em A Doutrina Secreta, Editora Teosófica, Brasília, 1992; pág. 13.

O Primeiro Logos pode ser visto como a primeira perturbação vibracional de um campo quântico que se contém a si próprio, o designado Akasha formado por Qubits de informação (pelo princípio de Landauer a informação – Mahat, é equivalente a energia - Fohat e massa - Prakriti). Esta perturbação dar-se-á no seio do “oceano das águas primordiais”, o Campo Quântico da Informação/Consciência, pura potência de probabilidades existente como interface para a Manifestação do Segundo Logos e como tal designado Logos Imanifestado.

O Segundo Logos ou o Logos semi-manifestado, corresponde à expansão do “Gérmen na Raiz”. De uma estrutura unitária, define-se agora a unipolaridade que contém a futura polaridade, Trigunas - Raja, Sattva e Tamas ou Yin e Yang da filosofia Taoista chinesa. A estrutura do Campo Quântico Holo-Mórfico, protótipo futuro dos conceitos Purusha e Prakriti, vida e matéria, entre os quais decorrerá todo o desenvolvimento posterior dos Cosmos. Esses pólos não estão ainda separados, estão potencialmente contidos em Sattva, são os dois, uma unidade, vistos na doutrina védica e teosófica como um ser hermafrodita: o Pai-Mãe dos Universos.

No Segundo Logos funcionarão os “Construtores do Universo”, os Ah-In, motores da actividade logóica em que os Universos existindo como desenhos de um Arquitecto, como arquétipos, veiculados pelo Primeiro Logos, iniciam a sua actividade na criação de Horizontes de Eventos colossais (Mulaprakriti) onde a informação, Fohat, as “Bolhas de Adi”, os bits da informação quântica (Lipitakas ou Qubits) ou Vogels no modelo das PSU`s – Planck Sperical Units se vão organizar fractalmente, formando condensados quânticos e originando a bidimensionalidade holográfica (o “véu” Mulaprakriti, a Raiz da Natureza ou da Substância) iniciadores dos futuros Buracos Negros Primordiais.

No Terceiro Logos, ou o Logos Manifestado, surge pela primeira vez a separatividade, o início da não partilha da mesma Consciência Una e Absoluta que existe em tudo, a dualidade Purusha/Prakriti, veiculada pela estruturação do Campo Quântico do Espaço Granular Finito e consequentemente do Tempo. Fohat é o interface entre os dois, é a força dinâmica que transmite os Princípios de Simetria, da Entropia e da Causalidade, o designado “pensamento divino” que os imprimirá posteriormente nas primeiras partículas de matéria (fermiões).

Assim, o Terceiro Logos veicula de forma unitária os 3 conceitos do budismo do norte:

1. Mahat – a Mente Cósmica ou Informação/Consciência, campo quântico organizador dos Cosmos representando o conjunto de todas as Inteligências Espirituais, como se o “AQUILO” estivesse fraccionado por Necessidade de Simetria.

 2. Fohat – a força do Campo Quântico Holo-Mórfico, transmissora da ideação contida em Mahat, a Luz do Logos.

3 – Prakriti, a Natureza, Substância ou Matéria, que se vai diferenciar pela orientação de Fohat em distintos planos, dando finalmente origem à Constituição Septenária, através de planos energéticos e vibracionais progressivamente mais densos, e onde reinarão as Forças Nucleares Fraca e Forte e a Força Electromagnética.

Como vemos, a Inteligência está presente sempre, e faz parte integrante fundamental de todas as fases desta Cosmogonia. Ela preenche como Consciência 99,9% da vacuidade do espaço confirmando o primeiro aforismo do Caibalion: o Universo é Mental.

Como diz H. Blavatsky na Doutrina Secreta, “Cada átomo do Universo traz em si a potencialidade da própria consciência...é um Universo em si mesmo e por si mesmo.”

No Homem é o Ternário (os Logos I, II e III) designado por Atma, Budhi e Mente Superior ou Manas que constitui a sua individualidade, o espírito indestrutível, a Monada neo-platónica de Giordano Bruno e de Leibniz.

Blavatsky em Doutrina Secreta, Volume I, refere que “A identidade fundamental de todas as Almas com a Alma Suprema Universal, sendo esta última um aspecto da Raiz Desconhecida; e a peregrinação obrigatória para todas as Almas, centelhas daquela Alma Suprema, através do Ciclo de Encarnação, ou de Necessidade, de acordo com a lei Cíclica e Kármica, durante todo esse período. Em outras palavras: nenhum Buddhi puramente espiritual (Alma Divina) pode ter uma existência consciente independente, antes que a centelha, emanada da Essência pura do Sexto Princípio Universal — ou seja, da ALMA SUPREMA – haja (a) passado por todas as formas elementais pertencentes ao mundo fenomenal do Manvantara, e (b) adquirido a individualidade, primeiro por impulso natural e depois à custa dos próprios esforços, conscientemente dirigidos e regulados pelo Karma, escalando assim todos os graus de inteligência, desde o Manas inferior até o Manas superior; desde o mineral e a planta ao Arcanjo mais sublime (Dhyâni-Buddha).”

Bhagavad-gita também transmite este conceito de uma forma eloquentemente simples: “Tal como um homem que, despojando-se de suas vestimentas velhas, toma outras novas, de igual modo o morador do corpo, despojando-se dos corpos gastos, entra em outros que são novos.”

Assim, a directriz da evolução, o Dharma, como seta imposta pelo Tempo à matéria nas suas mais diversas formas, desde os condensados de Bose-Einstein até às mais complexas estruturas moleculares, pressupõe dois princípios fundamentais:

1. Os Ciclos Yuga de Manvatara/Pralaya desenvolvendo-se durante éons de tempo, na nossa perspectiva quase infinitos;

2. A Causa e Efeito Kármicos que se revelam no microcosmo a partir dos fenómenos quânticos da superposição, emaranhamento e não-localidade, onde o tempo existe nas duas direcções antes do colapso de onda Ψ, mas que no entanto se traduz no nosso macrocosmo em livre-arbítrio.

Estes pressupostos são da maior importância para compreender a natureza e a acção da inteligência e evitar concepções transmigracionistas que ganham força nos tempos actuais com a ascensão da Inteligência Artificial (IA) e da Robótica.

Enquanto a IA assenta na aprendizagem mecanicista por algoritmos e no acesso a Base de Dados colossais (informação estruturada e disponibilizada por nós sob a forma escrita e imagética digital) sem compreensão de objectivos (estes e o seu porquê são introduzidos por nós), sem dimensão de natureza sentimental, emocional e de esperança (dimensões que são possíveis de encontrar já noutras formas de vida “inferiores”), o Ser Humano é capaz ter “insights” em todos os domínios do Conhecimento, de fazer e dedicar-se à Poesia, à Literatura, à Musica e à Matemática mais abstracta, onde imprime os seus “estados de alma”.

O “comportamento” da IA e da robótica é similar ao do Rei Midas da lenda grega quando este pediu para que tudo aquilo em que tocasse se transformasse em ouro, porém tendo ficado desiludido quando verificou que isso o impedia de comer e, quando inadvertidamente transformou a sua filha em ouro. Ou seja, por detrás de uma ordem existe sempre um objectivo humano ligado à própria experiência de ser humano. Como somos 7,8 mil milhões (estatística de Julho de 2020) com experiências estendendo-se segundo uma distribuição probabilística gaussiana continuamente influenciada para a esquerda ou para a direita, pelo ambiente e pela evolução das nossas acções … não será para amanhã a existência de uma super inteligência e, nessa altura, passados tantos éons, seremos deuses.

Mesmo que seja possível clonar o cérebro humano, ou reproduzir a sua estrutura neuronal, apenas estaremos a copiar um órgão. Ao introduzir software que tenha acesso a todas as bases de dados mundiais (um pouco como já faz a Google), estaremos a produzir uma máquina autista focada nos nossos objectivos mas fazendo contudo descobertas apreciáveis sobre o comportamento humano e do mundo que o rodeia, tendo mesmo assim a possibilidade de criar sub-objectivos, degrau a degrau, mas que num modelo piramidal evolutivo levaria a uma singularidade de carácter quase existencial … porque no entanto, no máximo, só faria poesia métrica! Essa singularidade seria a sua própria destruição porque finalmente as características da IA são projectadas/concebidas e não resultado da evolução seja darwiniana (de curto prazo) seja manvatárica (de longo prazo) onde se constroem e perduram ambições e altruísmos, beleza, bondade e verdade, tudo objectivos éticos.

Inteligência ao nível do Ser Humano é fazer Poesia, é exprimir sentimentos, emoções e esperanças, aquilo que é inexpressível organicamente mesmo através de um complexo sistema neuro-hormonal e respectivos padrões visuais, auditivos e de estados cognitivos.

Contudo, preventivamente, e da mesma forma que existe a Declaração Universal dos Direitos do Homem, adoptada pelas Nações unidas em 1948, após a II Guerra Mundial e como forma de salvaguardar lições desse tremendo conflito, poderemos sempre fazer uso das Leis da Robótica de Isaac Asimov, de modo a controlar e prevenir os futuros comportamentos robóticos superinteligentes. São elas:

1ª Lei – Um robot não pode causar mal à humanidade ou, por omissão, permitir que a humanidade sofra algum mal.

2ª Lei: Um robot não pode ferir um ser humano nem, por inacção, permitir que um ser humano seja prejudicado.

3ª Lei: Um robot deve obedecer às ordens dadas por seres humanos, a não ser que essas ordens contradigam a Segunda Lei.

4ª Lei: Um robot deve proteger a sua própria existência, desde que essa protecção não contradiga a Segunda e Terceira Leis.

Sendo nós a actual e presunçosa “superinteligência” sobre o planeta compete-nos alinhar os objectivos das máquinas com os nossos princípios éticos fazendo com que elas os adoptem e sejam extensíveis e consideradas a todas as formas de Vida onde a Inteligência experiencia, cria e modela o futuro. Com a ascensão da robótica teremos que ser menos antropocêntricos e mais humildes.

Hoje a Ciência encontra-se perante a hipótese de que a Inteligência se estende em todas as direcções fenoménicas do Universo. Desde o verme C. Elegans com os seus 300 neurónios, passando pela Teoria Orchestrated Objective Reduction (Orch OR) da consciência quântica de Hameroff-Penrose até à Laniakea com mais de 150.000 galáxias preenchendo um espaço de 520 milhões de anos-luz á volta de um Atractor. A todos os níveis existe algo comum: uma estrutura do tipo fractal, uma matriz de informação, uma network organizacional, um arquétipo que é transversal.


Network neurológico do C. Elegans que organiza a informação
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Laniakea ou “céu imensurável” em hawaianao – Wikipédia


Células cerebrais de um rato
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Esta network, na sua transversalidade universal, demonstra que o que é importante é a estrutura do processamento da informação e não a estrutura da matéria, reforçando a acção da ideação primordial – Mahat, ao longo de éons de evolução manvantárica/pralaya macrocósmica (Macroprosopus), expiração/inspiração de Parabrahman, simultaneamente resultado de uma gesta microcósmica (Microprosopus) contínua de causalidade e livre-arbítrio.

A Evolução é informação (Inteligência) organizada e partilhada em níveis sempre crescentes numa luta entre a Luz do Logos (Purusha) e a Matéria (Prakriti), até à integração no plano Adi, quando do retorno à unidade original. Neste termo seremos Dhyan-Chohan, Inteligência pura.

 

J.P., 13 de Março de 2021 e Ponta Delgada


REVISTA FÉNIX - NOVA ACRÓPOLE PORTUGAL

https://www.revistafenix.pt/uma-reflexao-sobre-mahat-a-inteligencia-manifestada-e-a-ia/


O Indescritível

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