Todo o Homem é filósofo, é um sophoi, um especialista no domínio da procura do saber, algo apenas inerente à espécie humana, por dois motivos:
1. Pela presença constante da dúvida ou da ignorância relativa à razão da sua existência e do mundo que o rodeia. Dúvida motivada pela cíclica “queda na matéria” do seu Ser, geradora de uma tremenda opacidade que há que desvelar (retirando véus).
2. Em razão da primeira asserção o nascimento de uma inquietação que o acompanha toda a vida conduzindo-o à procura crescente do saber e do conhecimento. Aqui reside a sua raiz inventiva e criadora num afã de maior Luz.
Opacidade e inquietação são os motores da sua evolução, ora criando dor e alegria, satisfação e insatisfação, paz e guerra, alimentos constantes de emoções, desejos e pensamentos – o mito grego Eros/Psique, que conformam a sua Personalidade, cavalgando ondas do espaço-tempo, per aspera ad astra, na construção sólida da sua futura Individualidade assente nos eternos princípios da Vontade e da Iluminação, da Intuição e das Virtudes, - o Nous platónico.
“A Voz do Silêncio” de H. P. Blavatsky é o fio condutor do Budismo do Norte que baliza e explica este Caminho. Sendo filósofa, porque explicar, na sua simplicidade, já faz parte da especialidade humana de ser sophoi, Blavatsky mostra-nos os passos sucessivos a serem percorridos, avisando-nos que alguns tornam-se retrógrados, no percurso do Caminho:
“Acautela-te, não vás pousar um pé ainda sujo no primeiro degrau da escada. Ai daquele que ousa poluir um degrau com seus pés lamacentos. A lama vil e viscosa secará, tornar-se-á pegajosa, e acabara por colar-lhe o pé ao degrau; e, como uma ave presa no visco do caçador subtil, ele será afastado de todo o progresso ulterior. Os seus vícios tomarão forma e puxá-lo-ão para baixo.”
A dualidade presente na forma de Opacidade e Inquietação, do que se pensa saber e do que não se sabe mesmo, é a geradora de perenes sobressaltos com os caminhos alternativos que o Principio da Causalidade, - afinal o que é possível e não é possível, é também a construtora da maior ilusão chamada de Livre Arbítrio, no fundo a razão que nos permite viver na ignorância – a Esperança.
A luta que se desenvolve temporalmente, dia-a-dia, neste imenso e titânico corpo que é o espaço universal, cosmogónico, da nossa geografia física, cultural, societária e política, reflecte esta dura dualidade. Representa bem aquilo que é a nossa interacção espírito-matéria, a derradeira dualidade.
A Esperança é o maior informe da “Voz do Silêncio” e a Consciência, como paradigma que sempre foi, constrói-se na opacidade e na inqietação.
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