segunda-feira, 27 de novembro de 2023

Viver numa outra dimensão

 




Michio Kaku em “Supremacia Quântica” descreve como seria hipoteticamente viver num mundo quântico, destacando a seguintes situações:

·         “Podemos estar em dois sítios ao mesmo tempo.

·        Podemos desaparecer e reaparecer noutro lado.

·        Podemos atravessar paredes e penetrar em barreiras sem dificuldade, algo a que se chama “efeito túnel”.

·        As pessoas que morreram no nosso Universo podem estar vivas noutro.

·        Quando atravessamos uma sala, na verdade estamos a seguir simultaneamente, por mais bizarro que pareça, todos os infinitos caminhos possíveis através da sala.” (1)

 

No entanto faz questão de esclarecer que na nossa vida comum, na dimensão material conhecida, nunca será possível experienciar estas situações uma vez que elas só existem a comprimentos da ordem dos 10-36 metros – o designado comprimento de Planck.

 

Mas suponhamos, tal como a teoria em laços do espaço-tempo de Lee Smolin e Carlo Rovelli, que quantiza-o, propondo uma estrutura quântica covariante que se contem a si própria, que aquilo que designaremos por outras dimensões que envolvem Informação, tal como aquela presente e raiz do entrelaçamento quântico, possa coexistir com a primeira, dando-lhe fundamento ou suporte. Isto seria possível porque consideramos a existência de uma tríade funcional Informação-Massa-Energia que tem por fundamento o Principio de Landauer e no qual a massa de 1 bit de informação é

 

mbit=kBTln2/c2

 

O princípio de Landauer afirma que o apagamento de um bit de informação requer um custo mínimo de energia igual a kBT ln2, onde T é a temperatura usada no processo e k é a constante de Boltzmann, confirmando que a Informação é uma unidade física e tem um equivalente energético permitindo uma leitura ampliada das leis da termodinâmica.

O princípio de Landauer, estabelece uma relação entre lógica e reversibilidade termodinâmica, e assenta em duas afirmações:

(1) Qualquer processo logicamente irreversível deve resultar em um aumento de entropia nos graus de liberdade não relacionados com a informação do sistema de processamento das informações ou de seu próprio ambiente;

(2) Qualquer processo logicamente reversível pode ser implementado de forma termodinamicamente reversível.

Ou seja, Uma quantidade de energia igual a kBT ln2 (onde kBT é o ruído térmico por unidade de largura de banda) é necessária para transmitir um bit de informação, e ainda mais se meios quantizados forem usados com energias electromagnéticas de fotão (a partícula da luz) onde hν > kT. É assim que foi relatado um custo de momento angular ou spin necessário para a gravação ou apagamento de informações. (2)

O Princípio de Landauer fornece uma nova perspectiva para o problema da grande unificação da Física (GUT). De fato, aquela equação pode ser facilmente estendida para campos quânticos escalares como por exemplo o campo electromagnético. O que diríamos para campos quânticos covariantes? A questão da informação, considerada como campo covariante, e a da entropia (2ª lei da Termodinâmica), poderiam conjugar-se sem violação do Princípio de Landauer e da termodinâmica, ultrapassando os actuais e insolúveis problemas da identificação da Matéria Escura: neste caso seria atribuível à própria estrutura quantizável espaço-temporal. De facto, se a matéria escura é composta por “partículas” para as quais,


 então estas não poderiam ser registadas devido ao facto de que não transferem informações para o meio ambiente circundante e detectáveis pelos actuais dispositivos experimentais.

Outras confirmações do Princípio da Landauer aplicado a sistemas quânticos têm sido feitas nos últimos tempos (3).

A existência de trilogias em todas as teologias e teogonias antigas estão presentes no âmbito de cosmogonias (no Hinduísmo por Brahma, Visnhu e Shiva, nos por Vedas Athma, Budhi e Manas, no Cristianismo por Pai, Filho e Espírito Santo) ou da natureza humana (em Platão e nos neo-platónicos são a Soma, Psyche e Nous). Todas elas encerram uma Inteligência suprema cuja vontade se traduz na criação universal e que se expressa pela utilização de forças construtoras (deuses) que conferem os princípios mórficos e inteligentes (as monadas de Leibnitz) a todas as coisas e seres, formalizando a progressiva génese do universo da desordem para a ordem: a cíclica luta contra as águas do caos, sintropia versus entropia.

No ápice destas trilogias encontramos sempre a ideia de Informação, transmissão de comando, o Verbo. O logos spermatikos, o princípio gerador do universo dos filósofos estóicos ou mais tarde em Agostinho de Hipona, reinterpretando Platão e Aristóteles à luz do Cristianismo, ao descrever Logos como "A Palavra Eterna Divina". Em Heráclito Logos surge como razão e sabedoria configurando uma lei universal ou princípio organizacional, transmitindo sempre a ideia de linguagem, pensamento ou razão, norma, padrão ou regra, em qualquer dos casos envolvendo sempre a estrutura da Informação e a necessidade de um emissor.

 

 

A batalha contra o Leviatã. Gustave Doré

 

Informação também envolve Meio onde se desenvolve que neste caso atribuímos ao Espaço-Tempo como campo quântico que se contem a si próprio, covariante, recipiente de desenvolvimentos desdobrados passados-presentes-futuros que confinarão com a futura matéria fermiónica surgida do Big Bang ou do CCC – Ciclo Cosmológico Conforme.

 

 O tecido do espaço e do tempo emerge como se costurado a partir de anéis quânticos de acordo com um padrão ainda desconhecido. Ali, reinam os fenómenos de não-localidade, emaranhamento quântico, suporte da informação de aspecto omnisciente e omnipresente. Como estrutura covariante justifica a prevista “Matéria Escura” e a existência teorizada das Estrelas de Planck (encaradas como fios quânticos no final de vida dos buracos negros por Carlo Rovelli (4)) e resolvendo definitivamente o problema existencial introduzida pelas singularidades e dos infinitos, corporizando as forças da gravidade da Relatividade Especial Einsteiniana e unindo num corpo teórico todas as forças da natureza num quadro unificado para a gravidade quântica em Sitter.

Na trilogia dos Vedas será Budhi. Contudo o conceito de Logos, na sua abrangência, acaba por contemplar este desiderato.

Continuemos então a explorar estas trilogias ancestrais.

Fazendo parte integrante de um sistema covariante, a Informação também envolve Forma e Padrão dando substância à conhecida estrutura filosófica tri-logoica.

A Forma/Padrão integrando a covariância do Espaço-Tempo, sob uma hipotética estrutura anelar de spins, a designada “espuma de spins” pelo físico italiano Carlo Rovelli, pressupõe outro campo quântico forçosamente de natureza covariante que atribua conformalmente, desenvolvimentos padronizados em formas fractais, pressupostamente correspondente ao modelo do Universo Holográfico De Sitter do espaço esférico, a correspondência AdS/CFT (5), desenvolvida também por Juan Maldacena na sua teoria quântica da gravidade.

Os físicos descobriram nos últimos anos que a correspondência AdS / CFT (espaço Anti De Sitter/Teoria de Campo Conforme) funciona exactamente de modo a codificar informações de forma segura dentro de um sistema quântico agitado tal como é um CFT (Campo Conforme), utilizando um código quântico de correcção de erros. Ou seja, a correcção quântica de erros pode ser como o tecido emergente do espaço-tempo alcança a estrutura robusta que nos é dada conhecer, apesar de ser tecido a partir de “partículas” quânticas frágeis – formalmente o seu aspecto “granular” e covariante.

A Natureza resolveu de forma simples e bela aquilo que o Homem ainda não anteviu com os desafios da computação quântica.

 

Um esboço de Xi Dong do procedimento de corte, deformação e colagem, uma dualidade entre o espaço AdS e uma “teoria de campo conforme”, que ele e seus colegas usaram para construir um holograma de um universo de de Sitter tal qual o nosso Universo conhecido.

 

Assim, este grupo de campos covariantes, sendo aparentemente diferentes pelos papéis que desempenham (Informação, Meio e Forma) formam no entanto um sistema funcional único: mais uma vez a trilogia teológica resolvida numa entidade única de alto nível (o Uno) que define o baixo nível logo a seguir (o trilogos).

 

Esta ideia está em consonância com a Teoria dos Construtores de David Deutsch onde as leis fundamentais da natureza não são redutíveis, isto é, “as leis microscópicas de baixo nível são propriedades emergentes das leis de alto nível, e não o contrário (6).” As pequenas escalas não explicam as grandes escalas.

Aqui poderíamos facilmente atribuir à ideia de Construtores de David Deutsch a teogonia presente nos deuses equiparando-os ao resultado das grandes escalas que transcendem o Universo, em contra-mão com o reducionismo presente ou o chamado “desacoplamento de escala”.

Helena Blavatsky em A Doutrina Secreta transmite esta ideia, que não desistimos de reproduzir integralmente, onde interpomos entre parêntesis os nossos comentários, ao referir num amplo quadro de conteúdo esotérico, que:

 

 “O impulso manvatárico (o Big Bang ou momento de expansão do Universo) principia com o redespertar (Cosmogénese Cíclica Conforme – CCC de Roger Penrose, de acordo com a reversibilidade temporal e a sintropia/entropia) da Ideação Cósmica, a Mente Universal (Campo covariante da Informação), simultânea e paralelamente com o primeiro emergir da Substância Cósmica (Espaço-Tempo granular) – sendo esta última o veículo manvantático da primeira – de seu estado pralaico não diferenciado (a fase de regressão do Universo no modelo CCC). A Sabedoria Absoluta (Espaço Infinito percebido como actualmente como a Constante Cosmológica lambda Λ) então se reflecte em sua Ideação (Informação), a qual, por um processo transcendente superior e incompreensível (não-local) à consciência humana, se transforma em Energia Cósmica: Fohat (Campo covariante Holomórfico da Forma). Vibrando no seio da Substância Inerte (Espaço-Tempo granular), Fohat a impulsiona à actividade e guia suas primeiras diferenciações em todos os sete planos da Consciência Cósmica … os sete Prakritis ou Naturezas (a saber os Condensados de Bose-Einstei e plasmas de quarks-gluões, o Plasma, e os Estados Gasoso, Liquído e Sólido – produtos dos fermiões e bosões do Modelo Padrão da Física), servindo cada um de base relativamente homogénea, que se vai diferenciando (durante milhares de milhares de milhões de anos), no curso da crescente heterogeneidade, durante a evolução do Universo, na maravilhosa complexidade dos fenómenos que se apresentam nos planos de percepção.”(7)

 

É um dado adquirido pela astrofísica que a Informação não é destruída quando o Universo na sua fase de regressão irreversível permeado por milhões de Buracos Negros que se evaporam (fase de alta entropia), a única coisa que sobressai é a Radiação de Hawking e a informação intacta espalhada pelo Universo suportada deste modo pelo próprio tecido do Espaço-Tempo em que o emaranhamento e a não-localidade têm um papel fundamental para o surgimento de um “estado inicial” de baixa entropia (o “ponto Laya” da teosofia ou a “ordem implícita” de David Bohm em claro contraponto com a “Interpretação de Copenhaga” de Bohr) que regenera o Universo de forma cíclica (os períodos manvantáricos e de pralaya nos Vedas, um período de 311.040.000.000.000 anos, segundo os cálculos bramânicos).

Acredita-se que todo o combustível nuclear do Universo terá acabado nos próximos 100 quatriliões de anos, um número que se aproxima do bramânico. No entanto, também é sabido que do vazio qualquer flutuação quântica de baixa entropia pode surgir a qualquer momento sobretudo se considerarmos a existência de um campo quântico de Informação/Consciência (“Ideação Cósmica” em HPB) emergente do Absoluto cuja presença nos é dada a conhecer pela expansão do Universo por efeito de uma “Energia Escura”, escura porque não a conhecemos, teorizada por Einstein na Constante Cosmológica lambda.

 

Também Sabine Hossenfelder corrobora a importância da invariância da inversão temporal – que na Relatividade Geral não se verificaria dado existirem singularidades, cremos nós ultrapassadas no entanto pela quantização do Espaço-Tempo - ao afirmar “que o Universo mantém um registo fiel das informações sobre tudo o que já se disse, se pensou e se fez.” (8).

Espantosamente os conceitos introduzidos no ocidente por Helena Blavatsky na Doutrina Secreta, da Substância Primordial ou Akasha sânscrito, referido como Upâdhi do Pensamento Divino ou Ideação Cósmica, e do Éter ou Luz Astral, são reconfigurados agora à luz da Física e da Astrofísica respectivamente nos conceitos de Informação e Espaço-Tempo, concebidos como “facetas da Existência Absoluta” de acordo com a H.P.B. (9).

 

Esta é a linguagem com que a natureza se expressa. A antiga linguagem pitagórica dos números que a matemática vai revelando paulatinamente na actualidade, defendida por Max Tegmark ao afirmar que a Matemática é real.

Como diz Blavatsky no volume II da DS (pp. 35), “Para dizer com toda a exactidão, evitando confusões e interpretações erróneas, a palavra “Matéria” deveria ser aplicada ao agregado de objectos cuja percepção é possível, e a palavra “Substância” aos Números”. Como quem nos diz que os Números ou a Matemática não residem “no nosso plano” das “criações do Ego que percebe” ou do incompreendido colapso de onda, não sendo “resultado da sensação ou fenómeno” mas situam-se a um nível superior em parceria com as Constantes da Natureza e do seu ajuste fino por um Construtor, o “Aquilo”, que permita a existência de Vida em acordo com o Princípio Antrópico Fraco. Mais uma vez um nível alto a formatar um nível baixo, uma acção anti-reducionista. Afirma HPB (DS, II volume, pp 135), que “É por isso que todos os Deuses Criadores, ou Divindades Pessoais, só aparecem na fase secundária da Evolução Cósmica.”, apresentando de seguida múltiplos exemplos de diversas cosmogonias.

Contudo porque razão ainda nada foi revelado do cerne último da Natureza, pelas potentes máquinas do CERN com o seu Grande Colisor de Hadrões? A verdade é que a quantização do Espaço-Tempo, como aliás todos os restantes fenómenos dos campos quânticos, desenrolam-se a uma escala infinitesimal – o designado comprimento de Planck, 10-35 metros - ao passo que o colisor de Hadrões ainda não ultrapassou a escala dos 10-20 metros.

 

Isto significa que viver numa dimensão covariante é possível? Será por mero acaso que os relatos clínicos e médicos das EQM- Experiências de Quase Morte se aproximam espantosamente das cinco situações descritas por Michio Kaku com que iniciámos este texto?


Notas

 

(1) Michio Kaku, “Supremacia Quântica”, Bertrand Editora, Lisboa 2023.

(2) Barnett S.M., Vaccaro J.A. Beyond Landauer erasure. Entropy. 2013;15:4956–4968. doi: 10.3390/e15114956 e Lostaglio M., Jennings D., Rudolph T. Thermodynamic resource theories, non-commutativity and maximum entropy principles. New J. Phys. 2017;19:043008. doi: 10.1088/1367-2630/aa617f.

(3) Single-Atom Demonstration of the Quantum Landauer Principle, L. L. Yan, T. P. Xiong, K. Rehan, F. Zhou, D. F. Liang, L. Chen, J. Q. Zhang, W. L. Yang, Z. H. Ma, and M. Feng, Phys. Rev. Lett. 120, 210601 (2018), Published May 21, 2018.

(4) Carlo Rovelli, “Buracos Brancos, Dentro do Horizonte”, Penguin Random House, Grupo Editorial Unipessoal, Lda, 1ª edição, 2023.

(5) DONG, Xi; SILVERSTEIN, Eva; TORROBA, Gonzalo. De Sitter holography and entanglement entropy. Journal of High Energy Physics, 2018, 2018.7: 1-24.

(6) Sabine Hossenfelder, “ A Física e as Grandes questões da Vida”, Bertrand Editora, Lisboa 2023, pp 129.

(7) Helena Blavatsky, “A Doutrina Secreta”, Volume II, Editora Pensamento, 2019, pp 34.

(8) Sabine Hossenfelder, “ A Física e as Grandes questões da Vida”, Bertrand Editora, Lisboa 2023, pp 35.

(9) Helena Blavatsky, “A Doutrina Secreta”, Volume II, Editora Pensamento, 2019

 

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