Nesta
proposta, vamos partir da hipótese de que o colapso da função de onda é uma
ponte entre Consciência e matéria, motivo suficiente para uma leitura simbólica
e profunda da equação de Schrödinger assumindo que é a expressão matemática da
interacção entre aquelas duas dimensões, consideradas como:
i.
A teia quântica informacional fundamental (TIF), uma 5ª dimensão
enrolada, sede dos fenómenos quânticos de emaranhamento, superposição e da
não-localidade, que se revela aos nossos olhos (4D) como o tecido do espaço-tempo.
Dela emerge a Consciência, o Tempo, a Entropia, a Fractalidade holográfica e
todas as potencialidades, propriedades características da dimensão material
(massa, carga, momento, simetria).
ii. A matéria (realidade manifesta).
A Equação de Schrödinger na sua forma
geral é dada por:
em que:
Ψ, a função de onda, representa a superposição de todos os estados
possíveis de um sistema e pode ser vista como um Campo vasto de todas as possibilidades;
Ĥ o operador Hamiltoniano, que
descreve a energia total do sistema envolvendo matéria, forças, interacções, e
finalmente
iħ ∂/∂t que
descreve como Ψ evolui no tempo.
Poderíamos resumir estes termos a uma
interpretação simbólica dada pelo conteúdo do quadro seguinte:
Termo da equação |
Interpretação
simbólica |
Ψ |
A teia quântica informacional ou TIF, o campo potencial quântico onde
todas as possibilidades estão contidas. |
Ĥ |
A "estrutura material" dada pelas relações físicas (leis) que
moldam a manifestação concreta no espaço-tempo. |
Evolução temporal ∂Ψ/∂t |
Processo de "actualização da realidade" ao longo do tempo, como
uma “dança” entre potencialidade (Ψ)
e manifestação (Ĥ). |
Na interpretação padrão, o colapso da
função de onda não está incluído na equação de Schrödinger, pois é considerado
um postulado externo. Contudo na nossa leitura simbólica, o colapso seria
assumido como o acto em que a Teia Informacional “escolhe” uma possibilidade e
a imprime na matéria, como se a Consciência, uma das propriedades da TIF, actualizasse
a realidade. Esse momento seria não-determinístico (salvaguarda do
livre-arbítrio) e dependente de uma relação, da observação/observador, o mesmo
é dizer, que desenvolta na “brana” do tempo presente (o agora husserliano),
visto como resultado de interacção entrópica na nossa dimensão. Esse momento
seria tido como um “evento” ontológico em termos cosmológicos, porque ligada à
TIF, e não apenas epistemológico. Estaria de acordo com o nosso modelo gráfico
holístico, que une os conceitos de Schrödinger, Husserl, Bohm e Penrose/Stuart
Hameroff (este último agora expandido a um nível cosmológico).
Neste modelo, o Universo é um sistema
auto consciente, que se revela a si mesmo através da experiência consciente (o
agora ou o presente), emergindo de uma estrutura holográfica informacional, que
do ponto de vista histórico é considerada sagrada por todas as teogonias. O
aspecto “ontológico” deriva deste modelo. Ou seja, globalmente existiriam dois
níveis ontológicos emergentes: aquele da TIF e outro da Mente humana (e animal)
– o “Orch-OR” proposto por Roger Penrose. Este último desenvolver-se-ia como um
processo de partilha/sintonia com o primeiro. A integração de uma dualidade,
que afinal sempre foi aparente e justificativa do “religare” - o espírito
religioso manifesto na vivência permanente da revelação e do sagrado desde o
homem primordial.
Então, do ponto de vista expandido “ontológico”
(cosmológico), poderíamos reescrever a equação com um termo Ĉ(Ψ) que representaria a Consciência,
propriedade da Teia Informacional em modo interactivo:
onde:
Ĥ, continua a representar as interacções
“físicas” e Ĉ seria um operador abstracto que
representa a influência activa da Consciência, ou a coerência informacional
não-local com base no emaranhamento quântico, constantemente sujeita a
correcções de erros quânticos (importante para o estado de coerência).
Logo, a equação de Schrödinger podia
ser reinterpretada como expressão matemática da tensão dinâmica entre uma
realidade potencial da teia quântica informacional (Ψ) e a estrutura “material” que permitiria a manifestação (Ĥ). Deste modo o colapso da função de
onda seria o acto de fusão ou ressonância entre essas duas dimensões, quando a
Consciência (ou a informação fundamental) actualiza um dos muitos estados potenciais
que será traduzida numa realidade concreta acontecendo no “agora” (o presente).
Podíamos ainda elaborar uma variação
matemática-filosófica (arquetípica) da equação de Schrödinger, capaz de representar
as interacções propostas entre:
a) A teia quântica informacional (Ψ)
b) A estrutura material (o operador Hamiltoniano
Ĥ)
c) A Consciência / colapso (o operador
Ĉ).
Aqui os termos representariam:
Ψ = função de onda do sistema, o Campo
informacional de possibilidades.
Ĥ = Hamiltoniano usual que representa
a energia total envolvida no sistema.
Ĉ [Ψ,Φ] = operador de Consciência / colapso, que depende de Ψ (pois actua sobre o estado total de possibilidades), e também de Φ, o estado da teia informacional consciente, um Campo ainda mais fundamental, entendido como subjacente à realidade e gerado pela dinâmica do processo.
A interpretação conceptual seria resumida pelo quadro seguinte:
Componente |
Significado
Filosófico |
Ĥ Ψ |
A evolução do estado “matéria” conforme as leis físicas conhecidas |
Ĉ [Ψ,Φ]Ψ |
O colapso selectivo das possibilidades, regido por uma interacção com a Consciência
ou coerência informacional |
Φ |
Um Campo subjacente de coerência consciente (semelhante ao Akasha védico),
uma teia de ressonância quântica |
Que podemos traduzir por esta fórmula simbólica:
Se Ĉ = 0, voltamos à
mecânica quântica convencional (sem Consciência).
Se Ĉ for um operador de projecção tipo:
então, actuará como um colapso para um estado específico, mediado
pela teia informacional.
Em conclusão: o Universo não é uma
máquina que evolui segundo equações diferenciais, mas por um processo de actualização
consciente, em que a informação potencial (Ψ) se transforma em realidade
manifesta através de uma interacção com um Campo subjacente de coerência (Φ), onde o
efeito fenomenológico se traduz por entropia de acordo com a 2ª Lei da
Termodinâmica.
Roger Penrose e Stuart Hameroff propuseram
juntos a teoria Orch-OR - Orchestrated
Objective Reduction, uma hipótese sobre a Consciência que integra os
aspectos da física quântica e da neurociência. A perspectiva central da teoria evidencia
que os processos da Consciência não podem ser explicados por processos de computação
clássica, como tem sido encarado até agora por muitos investigadores, propondo,
ao invés, que há algo não computável na Mente humana, ligado à física quântica
e à própria estrutura do espaço-tempo. Hameroff contribuiu com a ideia de que
este processo ocorre nos microtúbulos, estruturas presentes nos neurónios, que
poderiam manter estados quânticos coerentes. Contudo o espaço-tempo teria aqui
um papel fundamental, quando a sua estrutura quântica afecta aqueles estados,
ocorre uma redução objectiva com o colapso da função de onda. Este colapso não
é aleatório, mas orquestrado — daí a designação de "Orch-OR" —, influenciado pelas estruturas neuronais, resultando
na prática em momentos de Consciência. Ou seja, a Consciência, nesta visão,
emerge da interacção/sintonia entre o cérebro e a estrutura fundamental do Universo,
onde o espaço-tempo quântico desempenha um papel activo no colapso da função de
onda, fazendo a ponte entre o mundo físico e a experiência subjectiva. Tal como
a nossa proposta!
A vida e morte da dualidade
O paradoxo do “Gato de Schrödinger”
resulta desta interpretação: uma alegoria
da realidade como superposição de possibilidades, que só se torna realidade
definida quando a Consciência interage com a matéria, colapsando num estado definido.
No nosso modelo o colapso da função
de onda não é meramente físico, mas participativo, um entrelaçamento entre a matéria
e a teia de Consciência, lembrando a abordagem de Henry Stapp – que defende que
a consciência actua “seleccionando” entre possibilidades quânticas.Similar
também à abordagem de David Bohm cujo holomovimento une o implícito (ordem
quântica) ao explícito (matéria manifesta), através da consciência.
Esta dualidade poderá mostrar-se em
consonância com uma outra interpretação da mecânica quântica chamada “idealismo
participativo”, proposta por John Wheeler, e emparelhando, de certo modo, com a
visão do colapso consciente da função de onda, como sugerido por Wigner,
expressa na sua afirmação: "It is
not meaningful to say that the cat is alive or dead until an observer becomes
conscious of the result."
O "idealismo participativo"
é uma proposta filosófica e cosmológica formulada por John Archibald Wheeler,
físico teórico que trabalhou com Einstein e teve um papel central no
desenvolvimento da Relatividade e da física quântica.
Para Wheeler o Universo precisa ser
observado para existir plenamente, ideia condensada na sua frase famosa "It from bit" — tudo vem da
informação. A Consciência não é um subproduto do Universo, mas uma componente
fundamental da sua existência. O tempo, o espaço e os objectos físicos e a
entropia seriam, em última instância, derivados da informação registada por
sistemas observadores. O próprio Cosmos, na sua totalidade, precisa de um
observador consciente para se tornar real na sua forma actual. Os observadores
precisam de um Observador! Esse Observador único e universal é a própria Teia
Informacional Fundamental – TIF que lhe confere a estrutura conhecida.
O estado simultâneo do gato morto e
vivo representa o futuro – a protensão no modelo de Husserl ou a ordem
implícita de Bohm, enquanto a observação o “agora” ou presente (o holomovimento
bohmiano) e o estado morto ou vivo o passado ou a retenção do “agora” ou a
ordem explícita em Bohm. Este fluxo de tempo inerente à própria estrutura do
espaço-tempo 4D, constrói o antes e o depois do colapso de onda, a seta do
desenvolvimento do tempo irredutível da nossa dimensão, tal como a entropia
termodinâmica. Ambas, sempre dependente de um sistema ontológico.
Podemos apresentar um diagrama de
integração destes conceitos, incluindo o gnóstico:
Aspecto |
Wheeler |
Penrose |
Bohm |
Pistis Sophia |
Realidade |
Participativa |
Não computável |
Implícita →
Explícita |
Manifestação decaída |
Consciência |
Cria realidade |
Ressonância quântica |
Holográfica |
Luz aprisionada |
Colapso da onda |
Criação factual |
Redução objetiva |
Desdobramento
implícito |
Actos de queda e
correcção |
Teia Informacional |
“It from Bit” |
Substrato não
computável |
Ordem implícita |
Pleroma/Teia de Luz |
No gnosticismo de Pistis Sophia a
Queda da Luz na Matéria onde Sophia representa a sabedoria/Luz (a Verdade) que
caiu nos Aeons e Arcontes, gera a perda de graus de liberdade inerentes ao
mundo físico. O retorno à Luz implica purificação e reascensão da Consciência, enquanto
a conexão com Bohm estabelece-se com a queda que seria a passagem da Ordem
Implícita à Explícita. Em Penrose a Consciência aprisionada (Sophia) colapsa a
função de onda, mas busca libertar-se, e com Wheeler o "participar"
da realidade é também uma redenção cósmica como se a Consciência e a observação
extraíssem realidades da ordem implícita de Bohm.
Podíamos encarar um processo
desenvolto em 3 fases:
Antes do colapso, perfila-se um horizonte de potencialidades ou possibilidades, o sistema encontra-se em superposição — ou seja, todas as possibilidades coexistem num estado puramente informacional e não temporal (não há ainda uma linha de causalidade definida). Este estado assemelha-se ao que Husserl chama de protensão — uma abertura para o futuro ainda não realizado, mas intencionalmente visado pela Consciência. Do ponto de vista da termodinâmica é como um estado de baixa entropia, onde a ordem ainda está latente e não houve diferenciação entre estados. A informação está “compactada” ou “potencial”.
No acto de actualização, o colapso é a selecção de um único estado entre as possibilidades. É o acto onde o tempo físico emerge, porque há um antes e um depois definidos, correspondendo ao “agora” husserliano (das vivências internas), a “brana” de presença – o “Ping” no nosso gráfico, onde passado e futuro se fundem no nano instante da percepção ou da decisão. A transição para um estado concreto aumenta a entropia — pois há uma perda de simetria e uma passagem da ordem potencial para a multiplicidade de interacções possíveis no tempo.
Depois do colapso, o sistema evolui classicamente por via das equações deterministas ou da decoerência (perda do livre-arbítrio). O tempo flui, e a memória do colapso define a realidade. É a “retenção” onde a Consciência guarda o traço do instante anterior e constrói uma narrativa de continuidade, uma memória que confere sentido ao tempo como fluxo. Neste estado termodinâmico a realidade evolui com crescimento da entropia com mais desordem, mais possibilidades combinatórias, mais história que poderá modelar o futuro.
No
quadro seguinte podemos sintetizar estes três aspectos do desenvolvimento
fenomenológico do tempo termodinâmico quântico no processo do colapso de onda:
Domínio |
Pré Colapso |
Colapso |
Pós Colapso |
Quântico |
Superposição |
Colapso |
Evolução clássica /
decoerência |
Fenomenologia
(Husserl) |
Protensão |
Presença (vivência
do agora) |
Retenção (memória
interna) |
Termodinâmica e as Ordens de David
Bohm |
Baixa entropia ou ordem
implícita |
Ato de diferenciação ou holomovimento |
Aumento da entropia
ou ordem explicita |
Em conclusão, o colapso da função de onda pode
ser visto como um momento que continuamente abrange o Universo nos seus 3
aspectos: térmico, fenomenológico e ontológico de transição, onde o tempo
emerge da Consciência (em Husserl aspecto apenas limitado ao Ser, mas agora
ampliado ontologicamente ao Universo).
A dinâmica
subjacente à contínua actualização da realidade faz-se a partir da teia
informacional fundamental (que desempenha o papel de observador) iniciando a
seta do tempo térmica (entropia).
A equação
de Schrödinger mostra ou determina como a possibilidade (potencialidade)
evolui. O colapso da função de onda é onde a possibilidade vira realidade, e
isso só ocorre com a participação de um Observador Consciente como sistema
quântico proprietário e propriedade fenomenológica do espaço-tempo – as
variáveis ocultas pressentidas por Bohm e declaradas como “efeito
fantasmagórico” por Einstein.
O
colapso da onda, nesta óptica, não é apenas um artefacto matemático ou técnico,
mas uma assinatura do acto ontológico primordial do Cosmos: a passagem do Ser
em potencial (TIF) ao Ser manifesto (realidade concreta). É onde o “oceano
quântico informacional” se cristaliza em mundo.
Podemos expressar esta ideia em termos de uma função
de onda “existencial":
Ψ (x, t) → Realidade observada ↔ Interacção com a TIF via Consciência
ou
onde:
Ψ = função de onda (possibilidades da TIF)
C = Consciência
ou processo de colapso
R =
realidade manifestada.
Uma ponte para a dualidade
De
acordo com a conhecida fórmula de Albert Einstein, E = mc2, a matéria (m)
é uma forma condensada de energia (E),
da mesma forma que acabámos de assumir que a realidade (R) é uma forma condensada
de informação potencial (Ψ). Em ambos os casos, algo actua como factor
de colapso/conversão expresso na física por c², a constante da luz e na informação
quântica por C, a Consciência ou operador de actualização
da realidade.
A ponte pode ser estabelecida pelo seguinte quadro relacional:
Se
tomarmos em consideração que Ψ representa a “massa informacional” (o conteúdo em
potência) e C (Consciência) que age como “energia de actualização”, então podemos
analogamente dizer que C(Ψ) é a energia informacional disponível
para manifestar a realidade, assim como E
= mc² é a energia física disponível num corpo massivo. A equivalência entre
Energia-Massa-Informação definida no Princípio de Landauer vem em nosso
auxílio.
Esta
equivalência entre massa e bits e
agora qubits (Landauer, Seth Lloyd) refere
que a massa de um sistema limita a quantidade de operações lógicas (qubits) que ele pode realizar, e é dada
por:
Onde substituindo E por mc2, se transfigura
em:
Esta
transformação conduz a que um corpo de massa 𝑚 pode “processar” um número finito de bits por unidade de tempo, estabelecendo
uma capacidade computacional máxima do Universo físico.
Se pensarmos a
massa como densidade de informação colapsada e tendo em consideração 𝐸=𝑚𝑐2 e S=k ln Ω (entropia como logaritmo
dos microestados) podemos então escrever:
onde:
Ɪ =
densidade de informação manifesta (bits/tempo).
= indica a taxa de “colapso informacional”.
Esta proposta sugere que a massa emerge da taxa de colapso de estados informacionais (Ψ) no tempo, reforçando a ideia da unicidade da acção entre colapso de onda e a manifestação da matéria.
Outros modelos
existem que elencam a relação estreita entre massa, energia e informação.
Podemos referir a Fórmula de Bekenstein que estabelece um limite de informação
de um sistema físico pela relação directa entre informação e massa (através da
energia):
onde:
𝐼 =
quantidade máxima de informação (em bits),
𝑅
= raio da região onde a massa está
confinada,
𝐸
= energia total do sistema (que pode ser 𝐸=𝑚𝑐2),
ℏ = constante de Planck reduzida,
𝑐
= velocidade da luz,
ln 2 = factor de conversão (logaritmo Neperiano).
Ainda outro
modelo, demonstrando que a informação ganha preponderância como estado a
considerar, é aquela que, relaciona a informação e massa de um Buraco Negro
(Bekenstein–Hawking), estabelece que a entropia é proporcional à área, não ao
volume, e que essa entropia pode ser interpretada como quantidade de informação
perdida no buraco negro.
onde:
𝑆 =
entropia,
𝐴
= área do horizonte de eventos (relacionada com a massa do Buraco Negro),
𝑘
= constante de Boltzmann.
Ainda que não exista uma fórmula definitiva para a equivalência entre massa e informação, os modelos de Bekenstein, Hawking, Lloyd e Landauer constroem pontes fundamentais que vão de encontro ao nosso modelo da Teia Informacional Fundamental, onde a Consciência, a Entropia e a seta do Tempo, o Espaço-Tempo, emergem naturalmente.
Muito antes destes modelos, Helena Blavatsky formulava “preto no branco” os princípios teosóficos que lhe foram transmitidos por Mestres tibetanos (Morya, Koot Hoomi, Hilarion Smerdis e Djwal Khul):
“A Mente Cósmica é algo bastante diferente da Ideação Cósmica. A manifestação da Mente faz-se só durante o Período Manvantárico de actividade. Porém, a Ideação Cósmica não conhece nenhuma mudança. Foi, e sempre foi, é e será. Nunca deixou de existir, e só não existia para a nossa percepção por não haver mentes para a aperceber. A Mente Universal não existia porque não havia ninguém para a aperceber. Uma é latente e a outra é activa. Um é uma potencialidade.”, cfr. H.P.Blavatsky, “Os Manuscritos Perdidos da Loja Blavatsky”.
Outra forma expressa pela Teosofia: “O Infinito Imutável, o Ilimitado Absoluto, não pode querer, pensar ou actuar. Para fazê-lo, deve converter-se em finito; e o faz por intermédio de seu Raio (leia-se Ah-ih), que penetra o Ovo do Mundo ou Espaço Infinito e dele sai como Deus Finito (leia-se matéria).”, cfr. Blavatsky, “Doutrina Secreta”.
Na linguagem
simbólica da matemática, o mesmo conceito estaria presente ao propormos um
modelo unificador com base na hipótese de
que o espaço-tempo emerge de uma Teia Informacional Quântica (TIF), sustentada
por tripletos de spins emaranhados, e que a massa resulta do colapso dessa teia
pela acção do campo de Higgs.
Para tal podemos
propor a seguinte equação simbólica integradora:
onde:
m =
massa efectiva da partícula ou entidade emergente.
α = constante simbólica de acoplamento (pode
incluir c, ħ, etc).
ψTIF =
função de onda da TIF.
C(ψTIF) = operador de colapso coerente representando
a interacção entre estados quânticos não-locais (emaranhados) e a
Consciência/Observador.
ℍ = filtro de Higgs, simbolizando a activação do Campo de Higgs, responsável por conferir massa ao padrão colapsado.
=
derivada temporal associada ao fluxo de tempo interno (husserliano) e à
entropia informacional..
Ou ainda uma
versão expandida contemplando a geometria dos tripletos de spin, representada por uma malha
Sijk de tripletos de spins entrelaçados onde cada tripleto (𝑖, 𝑗, 𝑘) contribui “localmente” para a massa
manifesta no ponto x, espelhando, na
nossa opinião, as ideias da gravidade de Tullio Regge (2) e das triangulações da “espuma de spins”:
Podíamos ainda
tentar relacionar esta equação simbólica de massa informacional à equação de Dirac
(3), construindo pontes entre a Teia
Informacional Quântica (TIF) e a dinâmica quântica padrão.
A equação de
Dirac incorpora relatividade e spin e
é dada por:
em que 𝜓 é
o spinor quântico relativístico e 𝑚 aparece como um parâmetro fixo, mas que na
TIF pretendemos que possa emergir da informação. Para tal esta reinterpretação
conduz à introdução de um operador de massa gerado dinamicamente pela interacção com a teia informacional,, e também do
operador de Higgs, a funcionar como “filtro”:
Como resultado final a equação de Dirac
transforma-se num Campo spinorial acoplado à Consciência quântica da teia
informacional:
Quadro de interpretação unificada das equações
1 e 2
Elemento |
Interpretação
convencional |
Interpretação TIF |
Ψ, ψ |
Função de onda |
Padrão de coerência da teia informacional |
m |
Massa constante |
Resultado do colapso da informação via Higgs |
∂\∂t |
Tempo físico |
Fluxo husserliano / entropia “interna” |
Colapso de
onda |
Medição/observação |
Conexão entre consciência e realidade material |
Paul Dirac
reflectia muitas vezes a confiança de que a ordem fundamental do Universo era
de natureza matemática, dando a entender que a estrutura da realidade
assentaria segundo princípios informacionais de harmonização geral, como numa
teia subjacente de coerência, algo muito próximo à ideia transmitida pelo
modelo TIF, reforçando a matemática como linguagem do real antes da
manifestação empírica. É sua a afirmação: "É mais importante ter beleza nas equações do
que fazer com que elas se ajustem à experiência." (cfr. Dirac,
Paul A.M. (1963), “The Evolution of the
Physicist’s Picture of Nature”, Scientific American, vol. 208, no. 5.) (4).
Dirac acreditava
que as ideias e as estruturas matemáticas eram mais fundamentais que os objectos
físicos, suportando a visão de que a informação, como ideação organizada, antecede
e governa a matéria.
A Consciência, formaliza nestes modelos, o conceito de actuação como matriz interprete e agente colapsador da informação. Por detrás da beleza arquetípica das equações está também a simplicidade expressa pela “navalha de Ockham” também conhecida pela Lei da Parcimónia ou do princípio filosófico da simplicidade. Dirac também afirmou: "O objectivo da ciência é fazer com que a complexidade da natureza seja compreendida em termos de ideias simples.",(cfr. Dirac, Paul A.M. (1930), “The Principles of Quantum Mechanics”, Oxford University Press (5).
Consideramos que
o modelo TIF para além da beleza expressa nas suas equações simbólicas, revela simultaneamente
simplicidade e abrangência conceptual. Contudo, aceitá-lo implica a existência
de uma dimensão maior que ecoa no pensamento de Jagadish Chandra Chatterji:
“Parama Shiva está para além dos limites do tempo, do espaço e da forma; e como tal é eterno e infinito (…). A sua natureza apresenta um aspecto essencialmente duplo – um aspecto iminente em que Ele permeia o Universo, e um aspecto transcendente em que Ele está para além de toda e qualquer Manifestação Universal.”(Cfr. “The Wisdom of the Vedas-Theosophical Heritage Classics”, Jagadish Chandra Chatterji, Red Wheel/Weiser, Quest Books, Oct 1992).
Chatterji (1895–1960),
procurou demonstrar que os antigos textos da Índia, nomeadamente os Upanishads
e o Bhagavad Gita, continham chaves filosóficas que poderiam dialogar
profundamente com a Ciência, inclusive com a física quântica emergente nos
primórdios daquela época. Via os Vedas não apenas como textos rituais ou
mitológicos, mas como tratados simbólicos de metafísica, cosmologia e
psicologia espiritual. Por exemplo, interpretava o conceito de Ṛta (Ordem
Cósmica) como equivalente a determinados princípios das leis físicas. Sustentava o conceito de Realidade Una, uma forma de
não-dualismo espiritual, onde toda manifestação da realidade (matéria, mente, Consciência)
derivava de uma fonte unitiva transcendental, designada de Brahman, Parabrahman
ou Consciência Suprema, o substrato ontológico defendido na TIF.
A Rta (em
sânscrito, pronunciado rita) é um conceito central e profundamente antigo da
tradição védica, especialmente no Ṛig Veda (c. 1500 a.C.), podendo ser
traduzido como“ordem cósmica”, “verdade universal”,
“lei natural” ou “harmonia divina”, considerada a lei fundamental que governa o
Cosmos, anterior até mesmo aos deuses (Devas), e da qual todas as outras leis
físicas, morais, espirituais derivavam. Similarmente apresenta uma coerência (que
podíamos dizer quântica) primordial que sustenta o aparecimento do mundo
manifestado, tal como a TIF vista como uma rede de micro estados coerentes de
informação quântica.
Nos textos
védicos, Ṛta precede as formas e funções, tipicamente um Campo informacional subtil
que está por detrás da simetria, da causalidade e até da matemática da realidade,
o que lembra o papel de um Campo unificado de consciência-informação. Na
tradição vedanta, viver segundo o Dharma é alinhar-se com a verdade (Satya) e,
portanto, com o Ṛta universal.
Posteriormente,
este conceito aparece na Grécia com Heráclito, Platão, Plotino (o Uno, o Nous
ou mente divina) e nos Estoicos, traduzido em Logos, identificado com a inteligência
divina que permeia o Cosmos dando forma e inteligibilidade ao mundo sensível,
através da Palavra Criadora (o Verbo). Interessante que Dirac também acreditava
que a Beleza matemática era um critério da Verdade do mesmo modo semelhante à
ideia de que Ṛta é bṛhat (significando vastidão luminosa e verdadeira).
Até o Ṛta védico
sendo conceptualmente uma estrutura participada pela Consciência, poderá ser
comparada com o universo informacional “it
from bit” de John Wheeler com o seu Idealismo Participativo que emerge do acto
de observação.
Contudo, todos estes
sistemas, separados por milénios e culturas, apontam para um padrão comum
ontológico:
a) Que a
realidade não é apenas física, mas informacional e participativa.
b) Que existe uma
ordem invisível, anterior ao espaço-tempo, que organiza, revela e sustenta o Cosmos.
c) Que a Consciência,
a Verdade e a Beleza não são visitantes tardios no Universo, são afinal o
princípio activo por detrás da sua manifestação, arquétipos-guias
estruturantes.
“Ṛtam satyaṃ bṛhat” — Ṛig Veda 10.190.1
“Ṛta é a verdade, o vasto.”
Notas
(1)
Agora, em 21 de Abril de 2025,
Benzmüller e Dana Scott usando o teorema de testagem automática Isabelle
(HOL), validaram as demonstrações para a variante
de Scott do argumento modal ontológico de Gödel. Fonte - Christoph Benzmüller e Dana Scott. "Notes on Gödel's and Scott's variants of the ontological argument".
Monatsh
Math. doi:10.1007/s00605-025-02078-x.
A versão de Benzmüller e Scott do argumento
ontológico de Gödel
Fonte - Higher-Order Modal Logics:
Automation and Applications - Scientific Figure on ResearchGate. Disponível em: https://www.researchgate.net/figure/Scotts-version-of-Goedels-ontological-argument-66_fig7_281677232.
Kurt Gödel (1906–1978) foi um dos maiores lógicos e matemáticos
do século XX, sendo considerado um dos pilares fundamentais da lógica
matemática, ao lado de Aristóteles, Leibniz, Frege e Turing. Os seus teoremas
têm implicações profundas não apenas para a matemática, mas também para a
filosofia, para a teoria da computação e ainda hoje alimenta debates sobre os
limites do conhecimento formal e da razão. Natural da Áustria-Hungria (hoje
República Tcheca), tornou-se cidadão americano, sendo conhecido pelos seus
teoremas da incompletude, publicados em 1931, que abalaram profundamente os
fundamentos da matemática e da lógica. Influenciado por Platão e Leibniz, Gödel
defendia a realidade objectiva dos conceitos matemáticos, tendo formulado um
argumento ontológico formal para a existência de Deus, baseado na lógica modal,
a versão moderna do argumento de Anselmo de Aosta.
Trabalhou no Institute for Advanced Study, em Princeton (EUA),
onde cultivou forte amizade com Albert Einstein. Diz-se que, nos últimos anos,
Einstein ia ao instituto apenas para caminhar com Gödel. Também formulou uma
solução para as equações de campo da Relatividade Geral de Einstein, implicando
a possibilidade de "curvas temporais fechadas", ou seja as bases para
a teoria das viagens no tempo. Os Teoremas da Incompletude de Gödel demonstram
que em qualquer sistema formal, suficientemente estruturado para incluir a
aritmética, existem proposições que não podem ser provadas nem refutadas dentro
do sistema, ou seja, o sistema é incompleto, e que a própria consistência do
sistema não pode ser provada por meios pertencentes ao próprio sistema.
(2)
A gravidade de Regge é uma formulação da gravidade em termos discretos,
desenvolvida por Tullio Regge em 1961. Em vez de descrever o espaço-tempo como
uma entidade contínua, como faz a Relatividade Geral de Einstein, descreve o
espaço-tempo como construído a partir de blocos discretos, mais
especificamente, símplices em 4D tais como tetraedros. É a base de modelos como
a Gravidade Quântica em Laços (Loop
Quantum Gravity - LQG), onde o espaço-tempo é quantizado ou “granularizado”,
permitindo simulações computacionais da gravidade e deste modo ajudando a
entender o comportamento do espaço-tempo na escala de Planck.
A aplicação de
símplices tem como consequência o tratamento do espaço-tempo como se fossem peças
de um Lego geométrico, uma estrutura feita com blocos de Lego muito pequenos (à
escala de Planck). Em vez de curvas suaves, é formado por pedaços planos que se
ligam como um mosaico tridimensional (ou melhor, 4D). Estes blocos são símplices,
aquilo que podemos conceber como análogo multidimensional dos triângulos. Um
simplex 2D é um triângulo, um 3D é um tetraedro, e um 4D é designado por
4-simplex, etc. A curvatura do espaço-tempo, que na Relatividade Geral é a causa
da massa/energia, aparece aqui nos déficits
angulares. É como se tentássemos montar uma esfera com triângulos planos que
forçosamente faria com que fosse sobrar ou faltar formas adequadas ao
preenchimento das curvaturas nos ângulos em torno dos pontos de inserção dos
triângulos. Esses desvios de forma indiciam a curvatura. Deste modo, gravidade
de Regge, em vez de resolver as equações diferenciais da Relatividade Geral,
calcula como os ângulos e arestas dos símplices se ajustam para descreverem
correctamente a geometria do espaço-tempo e a sua curvatura.
(3) A
equação de Dirac, formulada por Paul Dirac em 1928, é uma das equações mais
importantes da física moderna. Ela descreve o comportamento de partículas
fundamentais com spin ½ (como o
electrão) em regime relativístico, ou seja, levando em conta a teoria da
Relatividade Restrita sendo compatível com a estrutura do espaço-tempo de
Minkowski. A equação une duas grandes teorias, a mecânica quântica (como no
modelo de Schrödinger), e a relatividade restrita (de Einstein). Como tal
permitiu descrever partículas com massa e carga eléctrica que se movem a
velocidades próximas à da luz, estabelecendo o modelo quântico relativístico
que mais tarde influenciou toda a Teoria Quântica de Campos de Yang-Mills que
está na origem da unificação da
força fraca e a força electromagnética (ou seja, U(1)xSU(2)), bem como da
cromodinâmica quântica (QCD) da força forte (baseado em SU (3)).
Dirac, como
consequência matemática da estrutura da sua equação, também introduziu o
conceito de spin e previu a
existência de antipartículas, como o positrão, a antipartícula do electrão, confirmada
experimentalmente em 1932.
(4) “It is more important to have beauty in one’s equations than to have
them fit experiment. If the equations are beautiful, they are more likely to be
correct.”
(5) “The fundamental laws necessary for the mathematical treatment of a
large part of physics and the whole of chemistry are thus completely known, and
the difficulty lies only in the fact that the exact application of these laws
leads to equations much too complicated to be soluble.”. Esta outra frase, reflectindo o mesmo espírito, é também de Dirac e consta no “The Oxford Dictionary of Scientific Quotations”.
Ponta
Delgada e João Porto, 23/05/2025
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