sexta-feira, 30 de maio de 2025

Chaves simbólicas entre a TIF, a Teoria das Cordas e os mistérios cosmogónicos

 

Aquilo que é, apenas é pura consciência,

que apesar de pura, vê através da mente

e é identificada pelo ego como sendo apenas a mente.”

                                                                          Patanjali, 2.20


O nosso modelo topológico da Teia Informacional Fundamental – TIF, assente nos tripletos dos operadores de spins associados aos acoplamentos dos estados temporais formam uma célula topológica mínima de tempo, como vimos anteriormente um triângulo dinâmico em rotação. Estes triângulos, conectando-se em tetraedros, formariam uma malha de quantização do tempo e do espaço, servindo como se fossem “átomos do espaço-tempo”. Seriam os quantas do espaço-tempo!

A rede cósmica tridimensional surgiria da multiplicação dessas células numa rede tridimensional formando um sistema dinâmico que evolui conforme a reorganização permanente dos estados quânticos locais. O Universo seria, então, uma “teia giratória” de ressonâncias que se auto-organiza a partir de condições iniciais quânticas. O que pressupõe que o Universo possa ter também um sentido rotacional preferencial.

A fase inflacionária inicial do Universo poderia ser interpretada como uma aceleração de ressonância ou uma transição de fase da rede de tripletos, onde os acoplamentos de spins mudam abruptamente, gerando expansão geométrica por coerência angular não local, conformando a explicação para as flutuações quânticas do vácuo, que segundo alguns cosmologistas, estariam na origem do Universo.

Por sua vez a gravidade mais não seria que um defeito topológico. As ondulações ou imperfeições na rede de tripletos gerariam curvaturas, interpretadas como gravidade, explicando abordagens como as de Verlinde ou da gravidade quântica em laços. O tempo, encarado do ponto de vista cósmico, apresentar-se-ia como uma frequência de ressonância global. Emergiria da frequência dominante da rede, gerada pela média dos “giros” dos tripletos. As flutuações locais naqueles “giros” causariam dilatação ou contracção temporal, correspondendo às variações registadas do tempo fenoménico relativístico.

 Com a Teoria das Cordas, o seu conceito de corda heterótica, atribui dois tipos vibracionais, uma no sentido dos ponteiros do relógio e a outra no sentido contrário, criando por consequência duas dimensões diferentes como tentativa de explicar todas as simetrias encontradas na Relatividade e na Teoria Quântica. De todas as teorias do tipo Kaluza-Klein apresentadas no passado, a da corda heterótica é a que apresentava maior potencial para unificar as leis da natureza numa única teoria GUT – Grand Unified Theory.

A corda heterótica é um tipo especial de corda fechada proposta em meados da década de 1980, pelo grupo constituído por David Gross, Jeffrey Harvey, Emil Martinec e Ryan Rohm, conhecido por quarteto de cordas de Princeton. Genericamente é construída de maneira assimétrica por 36 dimensões como mostra o quadro seguinte:

Orientação horária da corda

Tipo de teoria

Número de dimensões

Esquerda (left-moving) -sentido anti horário

Corda bosónica                            

26 dimensões

Direita (right-moving) – sentido horário

Supercorda (supersimétrica, tipo II)

10 dimensões


Na corda heterótica, os dois sentidos de propagação vibracional ao longo da corda (esquerda e direita) são tratados de maneira diferente. Enquanto o lado esquerdo é bosónico e vive em 26 dimensões, das quais 16 dessas dimensões extras são compactificadas num toro especial, conhecido como toro de Narain (1), originando as simetrias de calibre SO(32) ou 𝐸(8) X 𝐸(8), o lado direito é supersimétrico, vive nas 10 dimensões comuns da supercorda, onde há uma correspondência entre Bosões e Fermiões, garantindo estabilidade quântica.

Como resultado, e sem entrarmos em pormenores teóricos, a junção das duas partes origina uma teoria que é consistente ou coerente, conhecida como corda heterótica, cuja designação deriva do grego heterosis que significa vigor híbrido, por apresentar dois tipos de vibrações que são tratadas de dois modos diferentes ao desenvolverem-se uma no sentido dos ponteiros do relógio e a outra no sentido contrário. O seu carácter único especial de corda fechada deve-se a que a “mão esquerda” (sentido anti-horário) vibra como uma corda bosónica vivendo num espaço de 26 dimensões, enquanto a “mão direita” (sentido horário), super-simétrica (supercorda tipo II),) vibra como uma corda com 10 dimensões.

Na simetria E(8) X E(8) todas as vibrações da corda herdam a simetria do espaço de 16 dimensões compactadas. Assim, o espaço das 26 dimensões das vibrações da corda heterótica no sentido contrário ao dos ponteiros do relógio, explicariam todas as simetrias encontradas na Relatividade einsteiniana e na Teoria Quântica. Ou seja, aquela assimetria (sentido horário e anti-horário) seria compatível com a presença de duas estruturas internas distintas, com uma junção coerente que respeitaria as simetrias locais e globais. Deste modo, as simetrias constatadas ao nível subatómico seriam apenas vestígios de um espaço multidimensional, ao mesmo tempo que existiria compatibilidade com o aparecimento natural de simetrias de calibre E(8) X E(8) ou SO(32).

Ao estudar as características das cordas heteróticas fomos surpreendidos por eventuais pontos comuns quando tentámos estabelecer uma comparação conceitual e estrutural entre o nosso modelo topológico do tríplice operador de spins com os seus estados temporais acoplados inerentes ao modelo TIF, e a corda heterótica, especialmente quando sob a óptica das simetrias fundamentais da física.

Explicando melhor: o modelo topológico do tripleto de spins e estados temporais acoplados é caracterizado por três operadores de spins, que podem ser associados aos graus de liberdade internos da teia informacional quântica, onde os estados temporais acoplados (a emergência do fluxo passado, presente, futuro) podem ser entendidos como modos de ressonância ou projecções da Consciência Informacional na direccionalidade do fluxo temporal. Os spins formam um tripleto acoplado topologicamente, criando uma estrutura cíclica ou aquilo que designámos metaforicamente por “nanomotor trifásico” quântico, com direccionalidade. Podíamos comparar aquela metáfora fisicalista ao conceito teosófico designado por Atma, Budhi, Manas, a trilogia védica também de aspecto unificado.

Por outro lado, a Teia Informacional quântica, globalmente fundamentada nas redes daqueles microestados de spins, vai posteriormente via acoplamento ao campo de Higgs, gerar simultaneamente a carga (momento angular magnético) e a massa/energia nos Fermiões e Bosões (as partículas do Modelo Padrão), criando deste modo um cenário natural para uma espécie de filtro quântico que favorece a matéria sobre a antimatéria. Verificando-se um “giro preferencial” na malha, isso implica uma possível violação de paridade (P), que quando combinada com as interacções do Higgs na transição de fase electrofraca cria possíveis condições de violação de CP, essencial para gerar uma diferença entre matéria e antimatéria. Significa que o nosso modelo, torna-se único, ao incorporar uma explicação para a predominância constatada da existência da matéria sobre a antimatéria: a razão da nossa existência. (ver o nosso texto O “MOTOR PRIMEIRO” E A PREDOMINANCIA DA MATÉRIA (ORDEM?) SOBRE A ANTIMATÉRIA”.

O nosso tripleto de spins refere-se a um estado com spins entrelaçados, geralmente com um total spin inteiro, característica bosónica, e que aparece normalmente nas teorias quânticas com múltiplos graus de liberdade internos originando uma espécie de arranjos dinâmicos que derivam de uma geometrização da informação quântica, compostas na sua essência por fases topológicas entrelaçadas (o volume espaço-temporal)!

Com a tríade de spins, se houver assimetria na orientação espacial por helicidade, pela existência de uma assimetria derivada de uma orientação anti-horária e de outra horária na própria estrutura de acoplamento ou mesmo nas fases entre aqueles microestados, pode levar a uma violação efectiva temporal (T) e consequentemente à violação de CP por inerência da aplicação do teorema CPT da QFT (2). Uma “anomalia” quiral ou CP-violação induzida pela topologia. Esta poderá ser uma possível  origem da CP-violação com os tripletos de spin. Como os spins estão entrelaçados não-localmente e sujeitos a condições do contorno das fases quânticas, como são as redes ou no nosso caso a TIF, um modelo de “vácuo” com tríades de spin, a assimetria na propagação da informação pode induzir a comportamentos irreversíveis, ou não-invariantes sob CP, manifestando a “seta do tempo” da existência fenoménica. Internamente será a quebra dinâmica de simetria por uma espécie de “condensação”que conduz à assimetria.

Porém, dentro do quadro da QFT padrão, a combinação das três, C, P e T juntas, nunca é violada, mesmo que a natureza quebre separadamente uma delas, como acontece com C no decaimento nuclear fraco, ou com P na violação de paridade, ou ainda em T como em certas interacções fracas de partículas instáveis. A importância dessa não-violação reflecte-se na estabilidade da estrutura do Universo. Este assunto será discutido por nós em trabalhos posteriores (ver "Uma Física pós-CPT no horizonte").

A ligação com a escala cosmológica vai surgir “naturalmente” com a violação de CP emergente uma vez que terá implicações na Bariogénese estando na origem e explicando a assimetria matéria-antimatéria, dado que a geometria do espaço-tempo na sua fase inicial desenvolve-se com a expansão de tripletos de spin com orientações preferenciais.

Muitos físicos acreditam que deverão existir mais fontes de CP-violação, porque a CP-violação do CKM é muito pequena. O nosso modelo TIF enquadra-se neste problema ultrapassando-o pela raiz, dando-lhe a devida importância. A fase de Cabibbo-Kobayashi-Maskawa (CKM), é a chave para entender a violação de CP no modelo padrão da física de partículas e traduz-se numa matriz que descreve como os Quarks de diferentes "sabores" (tipos: up, down, strange, charm, bottom, top) se misturam quando interagem através da força fraca que troca um quark por outro, mas não necessariamente da mesma "família". Acredita-se que sem a fase CKM, o Universo poderia não ter mais matéria que antimatéria e nós não existiríamos (3).

Na Teoria das Cordas, justamente pela existência também de uma assimetria dada pelo entrelaçamento de dois tipos vibracionais distintos na corda heterótica, um com 26 dimensões bosónicas, outro com 10 dimensões supersimétricas, remeteu-nos fortemente ao nosso modelo que espelha a dualidade entre Matéria (tripleto de spins via Higgs) e Informação (Consciência), como duas faces entrelaçadas da mesma realidade única.

Agora podemos construir um quadro de analogias onde sugerimos que o tripleto de spins actua como se fosse similar à dupla vibração da corda heterótica. A estrutura cíclica do tripleto e da consequente emergência do tempo (sentido anti-horário) transformado agora num reflexo temporal dessa dualidade vibracional (o sentido horário) tal como na corda heterótica.

Elemento

Corda Heterótica

Tripleto Topológico

Dualidade interna

Vibrações esquerda/direita

Spins acoplados geram helicidade e a “seta do tempo” fenoménica

Simetrias globais

E8​×E8​ / SO(32)

Simetrias emergentes de entrelaçamentos topológicos

 

Tempo e causalidade

Dimensões compactificadas podem dar origem à “seta do tempo”

Estados temporais (passado-presente-futuro) integrados no fluxo de spins, originam “seta do tempo”

 

Coerência

Anomalia cancelada pela combinação das duas cordas

Coerência mantida pela rede de microestados de spins e acoplamento informacional com correcção de erros quânticos

Manifestação da realidade

Vibrações determinam partículas, forças e espaço-tempo

Colapso de onda manifesta realidade fenoménica e as suas propriedades

Baseados no quadro podemos criar, sob a simbologia matemática, uma equação que mostra a contribuição de dois fluxos temporais (horário e anti-horário) sobre os operadores de spin, como duas dimensões vibracionais que de forma similar co-criam o tempo presente nos tripletos de spins da TIF, tal como a corda heterótica conjuga dois modos distintos de vibração para formar o Universo coerente.

Assim, dando maior substância ao nosso modelo TIF, podemos criar uma equação simbólica que transpõe a propriedade considerada essencial e inultrapassável da existência da corda heterótica (a direccionalidade temporal, que afinal também é própria do tripleto de spins) para o nosso modelo, mostrando que conceptualmente até partilham este aspecto fundamental.

Se definirmos os seguintes termos:

Si​ = componentes do tripleto de spin (com orientação temporal);

Ψ(t) = estado da TIF em função do tempo (ou o fluxo de Consciência);

α,β = direcções helicoidais (análogas às vibrações esquerda/direita de uma corda heterótica),

teremos então o fluxo informacional da TIF dado por:


O mesmo é dizer que todas as simetrias encontradas no Universo das baixas energias, e que são observadas nos elementos químicos da Tabela Periódica, emergem na teoria das cordas, do enrolamento de um espaço multidimensional da corda heterótica, enquanto no modelo da TIF, emergem de uma única 5ª dimensão unificada na geometria dos tripletos de spins. Este modelo resolve a emergência da Consciência como teia informacional do espaço-tempo, da seta do tempo fenoménica, da entropia como 2ª lei da termodinâmica, do evento tido como colapso da função de onda, das propriedades das partículas como a massa e a carga. À escala cosmológica contextualiza a gravidade e une a Relatividade à Teoria Quântica, de uma forma simples e bela. Interpreta correctamente as cosmogonias históricas, nomeadamente as védicas, ou modernamente o fenómeno atribuído à Matéria Escura, às características consideradas fractais e holográficas do Universo. Lança âncoras explicativas da própria Existência e ao Livre-Arbítrio (causalidade/retrocausalidade), obviando aos conceitos tradicionais da dualidade e do reducionismo fisicalista.

Outra constatação interessante prende-se ao facto de a Natureza também evidenciar um sentido preferencial anti-horário idêntico àquele do fluxo do “movimento” dos spins nos tripletos, que poderíamos, neste caso, considerar a sua origem. É conhecido que todos os aminoácidos usados pelos seres vivos apresentam quiralidade levógira (L). Exceptuam-se os açúcares como a ribose, a desoxiribose e a glicose com quiralidade dextrógira (D) que parecem suportar (caso da ribose e da desoxiribose) a quiralidade dextrógira do B-ADN e do ARN. Dão a indicação de que a vida escolheu um lado preferencial. A homoquiralidade biológica, designação pela qual é conhecido este fenómeno, continua a ser um dos maiores mistérios ligados à origem da vida. Há hipóteses que sugerem que a presença de interacções com campos físicos assimétricos, tais como radiação circularmente polarizada ou o decaimento beta da interacção fraca que viola a simetria de paridade (P), pudessem ter influenciado aquela preferência.

Noutra escala, recentes estudos na área da Cosmologia, baseados em dados observacionais, sugerem padrões comuns e uma tendência estatística preferencial por rotação anti-horária nas galáxias.

A nossa interpretação, obviamente de carácter filosófico, assume que se a realidade é estruturada por uma Teia Informacional Fundamental - TIF, então a quebra de simetria quiral pode reflectir uma “intenção” topológica profunda da rede, assente numa forma de direccionalidade informacional. A “preferência anti-horária/horária” poderia representar uma memória orientada, uma “seta do tempo” codificada geometricamente, por exemplo, associada ao entrelaçamento dos operadores do tripleto de spins. Uma herança cosmológica desde a origem do espaço-tempo que nos pode levar a viagens conceptuais por outras cosmogonias.

O giro anti-horário, nas tradições espirituais, representa o retorno ao centro, à Fonte, ao Eixo. Nas danças tântricas, como a de Śiva Natarāja, o giro destruidor é anti-horário, simbolizando a dissolução da ilusão.

No Śvetāśvatara Upanishad (cap. 5, verso 1) refere que "Ekākī na ramate" ou “O Uno não se regozija sozinho.”, um verso que antecede uma reflexão sobre a manifestação do movimento, da polaridade e da dança cósmica a partir da unidade. Noutra sequência (5.2 - 5.3), fala-se do Purusha (o espírito cósmico) que, ao projectar-se no tempo e no espaço, move a “Roda do Dharma”:

"A Roda gira através da ilusão, mas quem vê seu eixo imóvel, transcende o giro."

Esta ideia associa-se ao caminho de retorno que vai “contra o giro”, como quem sobe a corrente de entropia ou do caos, a volta ao eixo silencioso da origem, o anti-horário simbólico. Essa "inversão" do movimento comum é interpretada em muitas tradições (tântricas, védicas e yogues) como o caminho espiritual, que rompe o Samsara, a roda do nascimento e morte.

O evangelho apócrifo Pistis Sophia contém trechos que transmitem o simbolismo do movimento inverso, da ascensão contra o fluxo comum do cosmos, muito próximo à ideia do “giro anti-horário”. Um trecho particularmente significativo é aquele do capítulo 15, “Pistis Sophia”, Edição Nova Acrópole, 2019:

E o Fado [destino ou o acesso ao tempo futuro] e a Esfera [um espaço multidimensional] sobre os quais eles governam, Eu mudei-os e fiz com que passassem seis meses virados para a esquerda [sentido anti-horário] e realizando a influência deles, e que seis meses eles ficassem voltados para a direita [sentido horário] e realizando as influências deles [a simetria temporal expressa em tempo igual de 6 meses ou, o que bem poderia ser, a representação diagramática dos cones de luz da física relativística]. Pois, por mandato do Primeiro Mandamento e por Mandato do Primeiro Mistério, Yew, o Vigilante da Luz [lei da causalidade, Akasha, Psicostasia, Thoth (4)], tinha-os colocado voltados sempre para a esquerda e realizando as influências deles e as obras deles.

Aqui, descreve-se um movimento de retorno à Luz, um esforço contra a corrente descendente que aprisiona Sofia (o Conhecimento informacional) nas esferas ou dimensões vibracionais inferiores. A imagem transmitida é de um giro contrário ao fluxo natural de queda, o que, simbolicamente, pode ser comparado à preferência da alma pela ascensão “contra o sentido da entropia”, do caos, ou seja, um movimento de sentido horário. Em Pistis Sophia esta perspectiva enquadra-se na necessidade de um processo evolutivo que configura a metempsicose (o Acelerador, cfr capítulo 25, pp 86), a hinduísta Roda Samsara e a inacessibilidade material ao futuro (à premonição).

Essa inversão de marcha, no contexto esotérico, é uma clara analogia à mudança de orientação: sair do mundo da multiplicidade e de retorno à Unidade, passando por um “giro” no sentido espiritual. Espelha a simbologia de uma quiralidade alquímica presente noutros contextos mistéricos, que se manifesta na ascensão mística e nos inerentes processos de correcção.

A geometria apoia esta visão de quebra de simetria temporal interdimensional realizada pelo “renascimento” metempsicótico, quando reitera que “Porque Eu [Cristo-Luz (Lucífer)] mudei nesse momento as tarefas que eles efectuavam outrora nos quadrados [matéria organizada, Constituição Quaternária: partículas fermiónicas e as respectivas forças electromagnética, nucleares forte e fraca] deles, quando virados para a esquerda, e nos triângulos [Atma, Budhi e Manas – os Campos unificados da Teia Informacional Fundamental quântica - TIF] deles e nos octógonos [símbolo do renascimento, metempsicose: o baptistério cristão herdou aquela forma geométrica] deles, nas quais eles são continuamente virados para a esquerda [tempo futuro ou “protensão” em Husserl].”, cfr. Pistis Sophia, capítulo 21.

Este texto faz a clara destrinça entre a dimensão dos quadrados e aquela dos triângulos, definindo a possibilidade de ultrapassar esta separatividade (dualidade) apenas através da quebra da simetria temporal permitida pelos octógonos (o renascimento), ou seja pela passagem de uma dimensão temporal (matéria) para outra atemporal (espírito).

A Divina Comédia de Dante Alighieri é riquíssima em simbologia dos movimentos ascendentes e circulares, e muitos estudiosos já notaram que Dante descreve a ascensão espiritual como um giro inverso, espiralado, que reflecte uma cosmologia baseada em uma hierarquia de esferas e sentidos rotacionais. O próprio movimento do céu e das almas justas é descrito em termos de giros e órbitas que evocam um sentido “espiritualmente anti-horário”, não no sentido físico estrito, mas no de uma inversão mística e metafísica da queda.

No Canto XXVIII, 12 -24, 48, do Paraíso, Dante contempla o centro do Universo, Deus, como um ponto de pura Luz cercado por nove esferas angélicas girando: [O ponto luminoso e os nove círculos de fogo. Explicação de Beatriz: a ordem celeste e a ordem do mundo. As hierarquias dos anjos.], cfr. Dante Alighieri, “A Divina Comédia”, tradução de Vasco Graça Moura, Quetzal.

 

E como me voltei, e fui tocando

os meus o que parece em tal volume

se se for o seu giro bem fitando

um ponto vi de onde raiava lume

e tão agudo, que o olhar que enfoca

tem de fechar-se ante tão forte acume;

tal gira e em torno ao ponto se restringe

um círculo ígneo tão veloz, que sinto

vencera o moto assim que o mundo cinge.

….

mas no mundo sensível ver as rotas

se pode, tanto mais divinas, sim,

quanto elas são do centro mais remotas.”

 

Dante descreve, ao longo deste Canto, um movimento esférico em rotações espirais concêntricas (volume) ao redor do ponto divino (o ponto matemático, adimensional, indiviso, símbolo de Deus), onde os céus superiores giram mais rapidamente quanto mais próximos estão de Deus (como se Deus fosse uma entidade de massa/energia titânicas que conformam o espaço envolvente com efeito gravitacional intenso, muito similar aos efeitos de um Horizonte de Eventos de um Buraco Negro). Aquelas inversões de velocidade e orientação são idênticas à ideia de que o “retorno à Fonte” se dá por uma inversão do fluxo comum, quase como um movimento anti-horário de cariz espiritual.

Não nos demoraremos mais em ilustrar este tema com conteúdos de origem revelada expressa em cantos poéticos ou em preposições axiomáticas de obras icónicas da humanidade, porque parecem provir do âmago da Consciência ao longo dos séculos, assumindo simplicidade, beleza e verdade, arquétipos universais transversais a todas as culturas.

A razão da Existência é a quebra da simetria temporal entre duas dimensões, pelo fluxo contínuo (Holomovimento) entre uma Ordem Implícita e a outra Explícita, como diria David Bohm (5). A Existência deve-se ao cavaleiro (Campo Higgs, o Antakharana védico) que cavalga o colapso da função de onda. Os sistemas (sejam físicos ou biológicos) só evoluem (no sentido oposto ao estritamente escatológico) por seu intermédio, pelo renascimento continuado (os ciclos de Entropia/Sintropia, envoltos na Causalidade/Casualidade), do Homem vitruviano ao Cosmos em éons.


As mentes são muitas e individualizadas,

mas há uma mente universal que a todas rege.

 Patanjali, aforismo 4.5

 

 Ao invés, os contratempos da teoria das cordas são muitos. A teoria da corda bosónica foi a primeira tentativa GUT da teoria das cordas, na década de setenta do século XX. A ideia subjacente, também muito bela e inspiradora, apontava para uma similitude: assim como as cordas de um instrumento vibram em diferentes modos para produzir diferentes notas musicais, aquelas cordas fundamentais supostamente vibrariam de modos diferentes para produzir diferentes partículas elementares. Mas, do seio da teoria surgiram limitações sérias ao propor a existência de Taquiões (partículas instáveis e de massa imaginária), e não incluir os Fermiões, significando com isso que não podia descrever toda a matéria. A corda bosónica só pode vibrar nos modos que correspondem aos Bosões, ou seja, partículas com spin inteiro (0, 1, 2, ...), como  o Fotão e o Gluão ambos com spin 1, ou o suposto Gravitão (spin 2?). Limitada por não incluir os Fermiões, como os Electrões, que têm spin ½, essa limitação só seria ultrapassada apenas pelas teorias supersimétricas, como as supercordas, que implicavam a existência de s-partículas ou partículas supersimétricas, nunca detectadas no Grande Colisionador de Hadrões do CERN. Outro exemplo, flagrante e complicativo, é a estrutura conceptual advogar que as equações da teoria bosónica das cordas só façam sentido matematicamente, na presença de 26 dimensões do espaço-tempo, o que parece muito estranho, mesmo quando conceptualiza as dimensões extras compactificadas ou enroladas sobre si mesmas de forma invisível. Esta situação conduziu a que a teoria decadimensional caísse numa letargia mortal, constatada hoje em dia pela grande maioria dos investigadores. Contudo os seus contributos foram importantíssimos, sobretudo na área da matemática.

 

Notas

(1) Imagine que as dimensões extras do Universo (aquelas que não vemos, segundo a teoria das cordas) estão enroladas sobre si mesmas, como donuts. A ideia do Toro de Narain elenca que essas dimensões extras não apenas se enrolam como num toro comum, mas que o modo como se enrolam carrega estruturas internas que influenciam as partículas e as forças fundamentais. A Teoria das Cordas, para reduzir de 10 (ou 26) dimensões para as 4 que percebemos, faz a compactificação, ou seja o enrolamento das dimensões extras como um toro, simbolicamente 𝑇𝑛 ou um n-toro, representando uma generalização do donut para várias dimensões.

O Toro de Narain, é pois um tipo especial de n-toro com uma estrutura de rede designada por lattice, que permite descrever cordas fechadas que se propagam em espaços compactificados, unificando simetricamente as vibrações da corda esquerda (bosónica) com as da corda direita (supersimétrica), ao mesmo tempo que incorpora tanto momentum quanto o enrolamento ou winding da corda e, deste modo, preserva a coesão matemática das cordas heteróticas incluindo assim aquelas simetrias duplas.

(2) O teorema CPT é uma das pedras angulares da Teoria Quântica de Campos (QFT). Qualquer teoria quântica de campos local, unitária e obedecendo à invariância de Lorentz deve ser invariante sob o aspecto da combinação simultânea de três simetrias consideradas fundamentais. São elas, a conjugação de carga (C) trocar partículas por antipartículas; a paridade (P) que consiste em inverter o espaço ou realizar o espelhamento, e a reversão temporal (T) trocando o tempo 𝑡 por𝑡. Porém, dentro do quadro da QFT padrão, a combinação das três, C, P e T juntas, nunca é violada, mesmo que a natureza quebre separadamente uma delas, como acontece com C no decaimento nuclear fraco, ou com P na violação de paridade, ou ainda em T como em certas interacções fracas de partículas instáveis.

A importância dessa não-violação reflecte-se na estabilidade da estrutura do Universo onde partículas e antipartículas apresentam exactamente a mesma massa e tempo de vida, e onde os processos físicos vistos sob reflexão espacial, troca de carga e inversão temporal são indistinguíveis dos originais. Na prática serve de teste rigoroso à coerência da existência. Pelo contrário qualquer teoria que viole CPT provavelmente não é local, não é relativisticamente invariante, ou não é unitária. Se algum dia for observada uma violação do teorema CPT, significaria que alguma hipótese da QFT falhava, como por exemplo a localidade ou a invariância de Lorentz, ou que podia haver efeitos relativos a uma natureza de uma gravidade quântica, de uma estrutura discreta do espaço-tempo para além do modelo padrão. Poderia abrir portas para outros modelos conceptuais tais como aqueles em apreciação por este nosso trabalho, como as teorias de espuma de spins ou de uma física de cordas.

 (3) Para termos uma ideia mais concisa deste assunto, imaginemos um dançarino quântico que precisa mudar de roupa (um Quark mudando de “sabor”). Pode fazê-lo tomando caminhos diferentes onde cada caminho tem um "ritmo" diferente (a denominada fase). Apesar de todos os caminhos conduzirem ao mesmo objectivo a existência de interferência entre os mesmos (derivada da combinação dos “ritmos”) pode gerar um pequeno desequilíbrio. Esse desequilíbrio é a violação de CP que permite teoricamente explicar, porque o Universo tivesse originalmente mais matéria do que antimatéria.

(4) No Livro dos Mortos, ocorre a pesagem do coração (psicostasia), diante do deus Osíris. O coração representa a consciência moral e vibracional da alma. O coração do falecido é colocado numa balança contra a pena de Maat (símbolo da Verdade e da ordem cósmica). Se o coração for leve (ou seja, puro), a alma entra nos Campos de Iaru (paraíso). Se for pesado, é devorado por Ammit, o monstro do esquecimento. Todo o processo é supervisionado por Thoth, o escriba e juiz divino, que regista tudo (Akasha).

Na Pistis Sophia, Yew desempenha um papel semelhante, presidindo os rituais de julgamento das almas quando estas ascendem pelas “esferas”. Verifica os mistérios recebidos, as “vestimentas de Luz”, e o grau de purificação da alma, como se fosse um guardião liminar da justiça divina que permite ou impede a entrada no “Tesouro da Luz”.

Yew, foneticamente relacionado com o nome sagrado IAO, a forma gnóstica do Tetragrama YHWH, assim como Thoth, representa o aspecto vigilante e impessoal da justiça divina, que não pode ser enganado. É o equivalente gnóstico da Consciência cósmica que regista e avalia a trajectória espiritual da alma, assim como o sistema egípcio via a psicostasia como algo inevitável e sagrado. Em ambos os casos, trata-se da transição da alma entre mundos, mediada por entidades luminais e pela lei da causalidade.

(5) Ver o nosso texto “Os Tattvas, Platão e Bohm – o fio da meada”, Blog “O Buscador da Verdade”, https://buscadorverdade.blogspot.com , 26/03/2025.

 

João Porto e Ponta Delgada, 30 de maio de 2025

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