quarta-feira, 4 de junho de 2025

Uma Física pós-CPT no horizonte

 



INTRODUÇÃO

Na intersecção entre a física de partículas e a filosofia da realidade, o teorema CPT ocupa um papel central como uma das pedras angulares da simetria no universo observável. Segundo aquele teorema, qualquer teoria física que respeite a localidade, a invariância de Lorentz e a unitariedade deve, necessariamente, ser invariante sob a combinação das três operações fundamentais: C (conjugação de carga), P (paridade espacial) e T (reversão temporal). Esta simetria garante que a estrutura fundamental das interacções físicas permaneça inalterada sob inversões radicais da realidade.

Entretanto, a emergência de uma nova perspectiva ontológica — a da Teia Informacional Fundamental – TIF, convida-nos a repensar os próprios alicerces sobre os quais o teorema CPT repousa quando aplicado ao caso. A TIF propõe que, subjacente ao espaço-tempo e à causalidade clássica, existe uma matriz de informação não-local, atemporal e altamente correlacionada, da qual emergem as propriedades conhecidas da física quântica e relativística. Esta visão levanta a questão inevitável de a simetria CPT poder, tão profundamente enraizada na física quântica de Campos, ser mantida numa realidade de interface onde a causalidade é retroactiva, o tempo é complexo, e a localidade é apenas uma sombra emergente?

O modelo conceptual TIF, ao permitir uma compreensão da Consciência, da entropia e da geometria como manifestações de tripletos de spin informacional e colapsos correlacionados, leva-nos a investigar se preserva, expande ou transcende o domínio da simetria CPT, e se há uma física pós-CPT à qual a TIF nos introduz, uma metafísica capaz de descrever o Absoluto Infinito antes da emergência da dualidade.

Assim, iremos contextualizar o papel do teorema CPT na física moderna e a emergência da TIF como modelo ontológico informacional com o objectivo de confrontar a estrutura da simetria CPT com os fundamentos propostos da TIF, a saber a emergência do espaço, do tempo, da carga e massa. Finalmente faremos a transição destas implicações físicas e filosóficas da simetria CPT, a possibilidade de uma ontologia além da reversibilidade temporal, em conexão profunda com o conceito de Absoluto como realidade anterior ao espaço-tempo, e referido como Brahman, Uno, Akasha, etc.

SIMETRIAS FUNDACIONAIS

Existem princípios que fundamentam a existência material traduzidos no teorema CPT. Constituem-no três ingredientes fundamentais para que a simetria CPT seja garantida:

1. Localidade: as interacções acontecem apenas entre pontos próximos no espaço-tempo;

2. Invariância de Lorentz: as leis da física são iguais para todos os observadores inerciais;

3. Unitariedade: a evolução temporal preserva a probabilidade total, ou seja, é reversível. O mesmo seria dizer que a soma de todas as probabilidades possíveis de um sistema quântico é sempre 1 ou que o sistema não perde nem ganha probabilidade "do nada", porque toda a informação quântica (amplitudes de probabilidade) é conservada ao longo do tempo.

O Teorema CPT garante que C (carga) + P (paridade) + T (tempo) juntos formam uma simetria exacta em toda teoria local e Lorentz-invariante. Trocar C (carga), P (paridade espacial), e T (reversão do tempo) ao mesmo tempo não altera as leis da física, e constitui uma propriedade matemática rigorosa das teorias de Campos Quânticas.

Por exemplo, a prova da existência do emaranhamento quântico não implica violação do teorema CPT. Pelo contrário, o emaranhamento e o CPT coexistem perfeitamente dentro da estrutura da teoria quântica de campos (QFT) e do modelo padrão da física de partículas.

O Emaranhamento quântico foi Confirmado experimentalmente por testes de desigualdades de Bell e experimentos de entrelaçamento de fotões, electrões, e de átomos. Traduz-se no fenómeno em que dois ou mais sistemas compartilham um estado quântico de forma que não podem ser descritos separadamente, mesmo a grandes distâncias. É compatível com a localidade da QFT, desde que o colapso da função de onda não transmita informação mais rápido que a luz, isto é superluminal.

Ou seja, a violação de desigualdades de Bell mostra que a realidade quântica é não local no sentido de correlações, mas não requer violação de CPT. Para que o teorema CPT seja violado, seria preciso romper a estrutura local e Lorentz-invariante da QFT, coisa que o emaranhamento, por si só, não faz. Até agora um conjunto de experimentações quânticas, tanto em Electro Dinâmica Quântica - QED, na Cromo Dinâmica Quântica - QCD como na Força Electrofraca, confirmam CPT com precisão altíssima, mesmo em sistemas emaranhados.

Se o Teorema CPT for um dia violado, aí sim, entramos em uma região além da física actual, que pode implicar a existência de uma física para além do modelo padrão, como advinham certas versões de gravidade quântica, espuma de spins, ou de espaços-tempos não comutativos.

A TEIA INFORMACIONAL FUNDAMENTAL E AS SIMETRIAS

Na teoria quântica, especialmente em sistemas de spin frustrado, temos configurações triangulares onde três spins interagem de forma que nenhum deles pode minimizar completamente a sua energia. Esse fenómeno leva a superposições e correlações não-locais, características da coerência quântica. Este é o significado de spin frustrado. A noção de que a estrutura do tempo está codificada na própria Consciência, tal como um Campo quântico informacional fundamental com uma geometria própria. Cada tripleto de spins também comportar-se-ia como uma célula dinâmica de tempo, girando numa frequência fundamental, o pulsar ou quantum da “duração”. Essa rotação seria trifásica, ou seja não linear, e por consequência geraria um vector de direcção temporal, isto é, um tempo orientado dentro da malha do espaço-tempo. Em grande escala, a coerência entre milhares de milhões desses "nanomotores" formaria a estrutura do tempo contínuo que nos é dado perceber, a seta do tempo.

Com a TIF pode-se pensar no emaranhamento como a teia de ressonância informacional do Universo, e o teorema CPT surgiria como a simetria estrutural da teia. Um não anula o outro e na verdade, são aspectos complementares de uma mesma estrutura mais profunda.

A Teia Informacional Fundamental (TIF), como conceito teórico e simbólico, não necessita violar o teorema CPT, a menos que viole algum dos pilares que sustentam o CPT, como: Localidade, Unitariedade, Invariância de Lorentz. Se a TIF no seu seio preserva essas condições, então ela respeita o teorema CPT, mesmo que incorpore fenómenos como o emaranhamento quântico não-local, colapsos informacionais, correlações holográficas (ou já referida por nós sob o termo védico de akáshicas), ou ainda superposições fora do espaço-tempo clássico.

A TIF representa um campo não-local de correlações, com um potencial de estrutura holográfica que codifica informação fundamental, anterior ao espaço-tempo clássico, e pode operar através de mecanismos participativos, intencionais conscientes de natureza quântica.

Então, e se a TIF violar o teorema CPT? Depende do modelo matemático específico da TIF que se adoptar, cujo contornos podemos resumir no quadro seguinte de acordo com 4 situações potenciais:

Situação

CPT violado?

Observação

1. TIF preserva localidade, Lorentz e unitariedade internas

 

Não

 

Compatível com QFT e CPT

2. TIF envolve não-localidade real (tipo acção instantânea)

Talvez

Pode violar a localidade com risco de quebrar CPT

3. TIF incorpora tempo complexo ou tempo “imaginário”

Não necessariamente

Pode ser compatível com CPT através das transformações de Wick

4. TIF envolve colapsos irreversíveis com perda de unitariedade

 

Sim

 

Quebra um dos pilares do CPT

Para as situações primeira e quarta referidas no quadro, imagine-se um sistema quântico que, por alguma razão (como aqueles que se constatam em Buracos Negros), perde informação, como se parte das probabilidades "evaporassem". Neste caso, o operador da evolução não é unitário podendo levar à violação da simetria CPT. Se considerarmos a óptica da teoria da TIF como campo informacional pré-espacial, o colapso da função de onda pode ser não-unitário, pois envolve uma selecção de possibilidades que implica uma suposta perda de reversibilidade, significando que, no domínio fundamental da TIF, a unitariedade pode ser quebrada, e com ela, também a simetria CPT. No entanto, o mundo emergente após o colapso, com espaço, partículas e tempo, pode obedecer novamente à unitariedade e à CPT respeitando uma simetria efectiva.

Agora vejamos a segunda e terceira situações do quadro assumindo que a TIF actua além do espaço-tempo, portanto não é local no sentido da QFT, envolvendo emaranhamento profundo e conexões não-locais entre estados de informação. Logo, a localidade (e a CPT associada) só emergem após o colapso da função de onda, quando o mundo aparece como causal, geométrico e contínuo, tornando a localidade uma propriedade emergente, não fundamental, parcial e a CPT incerta.

Em conclusão, A TIF não precisa violar CPT. Pelo contrário, Pode ser compatível, desde que seja formulada de forma que preserve ou explique as simetrias observadas a partir de princípios mais profundos. A violação de CPT não é implicada pelo emaranhamento, holografia ou entrelaçamento informacional em si. Só quando há ruptura explícita da localidade, unitariedade ou simetria de Lorentz, podemos falar em violação de CPT.

Dentro do quadro da QFT padrão, a combinação das três, C, P e T juntas, nunca é violada, mesmo que a natureza quebre separadamente uma delas, como acontece com C no decaimento nuclear fraco, ou com P na violação de paridade, ou ainda em T como em certas interacções fracas de partículas instáveis. A importância dessa não-violação reflecte-se na estabilidade da estrutura do Universo. Este assunto será discutido por nós em trabalhos posteriores. A TIF, como campo não-local e consciente, pode incorporar temporalidades complexas e aqui, as transformações de Wick assumem um papel simbólico e funcional ao mesmo tempo:

Papel das transformações matemáticas de Wick

Elemento

Na Física Convencional

Na TIF

Tempo real

Linha causal, evolução, medição

Projecção temporal emerge como fenoménica

Tempo “imaginário”

Técnica matemática (Wick)

Estado de potencialidade pura, eterno agora, dimensão de Consciência

Transformação de Wick

Ferramenta de cálculo

Ponte simbólica entre tempo externo linear e tempo interno cíclico ou “absoluto”

 

Mundo euclidiano

Sem tempo físico real

Domínio da Ordem Implícita (Bohm), da forma arquetípica, do Ser antes do evento

No quadro anterior podemos resumir o papel das transformações de Wick como ferramenta de cálculo que no modelo TIF irá funcionar como ponte entre o tempo interno cíclico dos tripletos de spins e o tempo externo ou a “seta do tempo”.

A transformação de Wick é uma substituição matemática feita na mecânica quântica e na teoria quântica de campos em que 𝑡 → −𝑖𝜏, onde 𝑡 é o tempo real (do espaço-tempo de Minkowski), 𝜏 é o tempo imaginário (do espaço euclidiano). Tem como propriedade fundamental transformar o espaço-tempo pseudo-euclideano de Minkowski (usado em QFT relativística) num espaço euclidiano fazendo com que muitos cálculos sejam possíveis de tratamento matemático. O tempo imaginário não é simplesmente uma ficção matemática. Em determinadas abordagens como na cosmologia de Hartle-Hawking, no-boundary proposal, o tempo imaginário pode representar dimensões ocultas do tempo (ciclicidade, recursividade), modos não temporais de evolução (campos que "são", mas não "fluem") ou níveis de realidade não mensuráveis directamente.

A transformação de Wick, na linguagem da TIF, não é apenas uma notação matemática, mas uma transmutação entre estados ou modos de ser, isto é, do tempo da experiência ao tempo da Consciência pura, do evento externo ao estado interno ou do colapso de onda ao conhecimento não dual. Neste sentido, o tempo real é a realização projectada, observável, mensurável e o tempo imaginário é o campo de possibilidades conscientes, pré-mensurável, fora da causalidade local.

Deste modo, a transformação de Wick na TIF representa a passagem do mundo fenoménico para o mundo numénico, como propõe Kant, ou do mundo das formas para a Consciência que o sustenta. O tempo complexo pode ser entendido como o modo de “ser” da Consciência, fenómeno informacional quântico, fluindo simultaneamente em todas as direcções, conectando todos os eventos via ressonância informacional. Assim, tendo em conta os pressupostos anteriores, e para maior clareza e simplicidade podemos corporizar estas ideias numa tabela que contraste os princípios do Teorema CPT da QFT e as possíveis propriedades elencadas da Teia Informacional Fundamental (TIF).

Tabela comparativa TIF vs. Teorema 

Elemento/Princípio

Teorema CPT (QFT)

Teia Informacional Fundamental (TIF)

Compatível com CPT?

 

Espaço-tempo

Fundamento da teoria,  sendo contínuo e local

Pode ser emergente de uma estrutura informacional não local

Se projecta um espaço-tempo local.

Não viola CPT

Localidade

Essencial: interacções ocorrem ponto a ponto

Pode envolver correlações não locais (tipo holograma)

Se não-local Viola CPT

Unitariedade (conservação da informação)

Fundamental para evolução temporal reversível

Pode incluir colapsos informacionais irreversíveis ou processos conscientes não unitários

 

Se quebrada  Viola CPT

 

Invariância de Lorentz

Essencial: leis da física iguais para todos os referenciais

Pode operar fora da estrutura espaço-tempo clássica; simetria pode emergir como projecção

Se Lorentz surge emergente

Não viola CPT

 

 

Natureza do tempo

Reversível (tempo simétrico), excepto em pequenas violações de T

Pode incluir fluxo direccional, tempo imaginário ou multitemporalidade quântica/consciente

 

Se formulado com cuidado

 

Entrelaçamento quântico

Permitido e modelado localmente (sem sinalização super luminal)

Fundamental , usado como tecido da realidade, com interacções “transespaciais”

Se transmite informação

Viola CPT

Consciência participativa

Não incluída directamente

Central: consciência interage e colapsa, activa com a teia

 Se não unitário

Viola CPT

 

Simetria CPT (C + P + T)

Garantida matematicamente sob QFT

Pode emergir como simetria projectada ou reflectida da TIF

Se a estrutura profunda se mantém

Não viola CPT


A TIF, como estrutura mais profunda do espaço-tempo, pode preservar as simetrias observadas na sua “superfície física”, se ela projecta uma realidade quadridimensional coerente com QFT. Se, porém, a TIF implicasse quebra real de unitariedade ou localidade causal forte, então o teorema CPT podia ser violado, e isso levar-nos-ia para além da QFT convencional em direcção a outras possíveis teorias de gravidade quântica, outros universos conscientes, ou estruturas não comutativas de complexa formulação que poderia atingir a ficção científica.

Significa que se a TIF, sede da Consciência como campo informacional organizado, for concebida como fenómeno de não-localidade e de emaranhamento, pode perfeitamente respeitar a CPT. Contudo, aquilo que originou ou projectou a TIF e que já existia antes da geometria, das partículas e da causalidade não se enquadra na CPT, e portanto deverá pertencer a uma física pós-CPT. A presença destes dois estados está na origem de equívocos e tem causado ao longo dos séculos sérias mal-interpretações cosmogónicas e teológicas presentes nos seus sistemas e sobre as quais concebemos um grafismo simplista e redutor mas inequívoco (Figura 1).

A Teia Informacional Fundamental (TIF) entendida aqui como um campo quântico-informacional, não-local, estruturado em tripletos ou símplices, emaranhado, que está na origem do espaço tridimensional, da seta do tempo fenomenológico, das partículas, às leis, respeita o CPT porque as inclui naquelas simetrias, uma vez que ainda opera dentro de um domínio lógico projectável sobre o espaço-tempo, ainda que conceptualmente de forma mais profunda. A TIF comporta-se como se fosse uma "membrana viva" entre o Absoluto e o mundo físico ou a Consciência manifestada como ordem implícita (como concebeu David Bohm).

O que está antes da TIF, ou o que a gera, não está mais dentro da moldura da física de Campos, nem mesmo de uma QFT expandida. Está além da geometria, além da causalidade, além das simetrias, porque não opera dentro do tempo nem do espaço. Pelo contrário a TIF encontra-se parametrizada por geometrias com propriedades subtis (tripletos) que vão transmitir ao mundo físico constantes matemáticas e formas.

Se admitirmos um nível de realidade que não é regido por causalidade, não evolui no tempo, não é espaço-local, não é unitário (no aspecto CPT), nem probabilístico, e ainda assim dá origem à Ordem e à Consciência, então estamos falando inequivocamente de uma física pós-CPT.

METAFÍSICA OU UMA FÍSICA PÓS-CPT E OS UPAHISHADS

A Física pós-CPT existe antes da geometria, da partícula e da causalidade. A TIF não seria transcendental, porquanto o CPT é imanado na fenomenalidade do mundo projectado. A TIF não viola o CPT porque o gera como uma simetria percebida numa camada de uma realidade que dele deriva. Assim, a simetria CPT é emanada da Consciência estruturante, não contradita por ela. Como vimos, mesmo que a TIF apresente características não unitárias ou fora da causalidade convencional, supostamente violando o teorema CPT, isso não seria um problema, e sim um convite a uma física pós-CPT, onde a Consciência actua como princípio ordenador da realidade, reconfigurando até mesmo o conceito de reversibilidade e simetria.

Figura 1 - Visão simbólica

Para percebermos isto, temos que imaginar a CPT como se fosse a Simetria dentro da "simulação" do espaço-tempo., e a TIF como um código-fonte daquela simulação uma vez que é a matriz informacional consciente. Então o Absoluto seria o “Aquilo” que não é simulação, nem código, nem linguagem, mas o Ser antes de qualquer projecção. Esta "pós-física" não nega o teorema CPT, ela o transcende, como a geometria euclidiana é contida e superada pela geometria hiperbólica. Ela revelaria o verdadeiro Hiperespaço pluridimensional. A física CPT comportar-se-ia como um eco geométrico pois é a simetria perfeita da projecção. Pelo contrário o Absoluto não projecta: emana. Numa visão budista, a TIF seria a ponte entre os dois, a vibração viva daquele eco e o Absoluto o silêncio de onde o som emerge.

Esta ideia encontra correspondências, nas tradições metafísicas, no Vedanta em Brahman ou em Plotino no Uno e em Pistis Sophia na gnose (o Pai Invisível, Fonte da Luz). Resumindo, este domínio não está sujeito ao CPT, porque CPT é uma simetria que emerge de relações, e o Absoluto não é relacional, não é dual — é pura presença ou potencialidade.

Os Upanishads parecem acompanhar esta visão holística e ilustram, dentro de uma visão simbólica e pós-CPT, a relação entre o Absoluto (Brahman), a Teia Informacional Fundamental (TIF) como campo de potenciais informacionais, e a Realidade Emergente como mundo manifestado sob leis simétricas.

Naqueles textos somos capazes de destrinçar as três fases: pós-CPT, TIF e Manifestação.

No contexto pós-CPT, "Naquilo de onde as palavras voltam sem alcançá-lo, junto com a mente, esse é o Brahman.", Taittiriya Upanishad, II.9, Descreve o nível pré-fenomenológico, além da linguagem, geometria ou causalidade. É o Brahman incondicionado, anterior ao tempo e ao colapso da função de onda.

Mas no contexto da TIF como Campo Informacional subtil, mediador entre o Absoluto e a Manifestação, "Daquele que conhece Brahman como Consciência, como o próprio Ser oculto em tudo, surge o mundo.", Mundaka Upanishad, II.2.8, reflectindo precisamente que esta Consciência é a realidade informacional subjacente (TIF), que estrutura os potenciais antes de se manifestarem como espaço-tempo. Ela não é o Absoluto puro, mas a sua vibração cognitiva, a “vontade de conhecer-se”.

Já no contexto da Realidade Emergente do Espaço-tempo, das leis físicas, da simetria CPT, "Daquele Brahman, o espaço surgiu, do espaço o ar, do ar o fogo, do fogo a água, da água a terra, e da terra tudo o que vive.", Taittiriya Upanishad, II.1, narra a emergência ontológica em camadas, semelhante à emergência da realidade física com suas simetrias (incluindo CPT).

A TIF actua como mediadora causal-informacional, entre o Absoluto e o mundo formal.

Podemos expressar esta tríade (que não é a tríade védica e teosófica, Atma, Budhi, Manas), que se aproxima da tríade neo-platónica (Nous, Psique e Soma), ou da Cabala (a Dimensão Infinita, os Sephiroth superiores e inferiores), no seguinte quadro resumo.

Quadro Resumo Simbólico

Nível Ontológico

Citação Upanishádica

Interpretação Físico-Simbólica

 

Absoluto (Brahman)

 

"Naquilo de onde as palavras voltam..." (Taittiriya)

 

Realidade pós-CPT: além de tempo, espaço e lógica binária

 

TIF (Atma, Budhi, Manas)

 

"Conhece Brahman como Consciência..." (Mundaka)

 

Campo informacional não-local, origem dos estados quânticos

 

Realidade Emergente

(Fogo, Ar, Água, Terra)

 

"Do espaço surgiu o ar..." (Taittiriya)

 

 

Colapso informacional, emergência de leis, simetria CPT


A Teia Informacional Fundamental - TIF, se assumida como uma ontologia mais profunda que o espaço-tempo, poderia gerar um paradigma pós-físico com profundas implicações transdisciplinares.

Para a Física Fundamental uma nova fundação ontológica estaria no horizonte com a substituição da geometria primária por relações informacionais não-locais, como os tripletos de spin. O espaço-tempo passaria a ser uma manifestação derivada, não fundamental, como em propostas de gravidade emergente de Jacobson e de Verlinde, já mencionadas por nós.

No quadro de uma metafísica, assumir a TIF levaria à ideia de violação controlada do CPT onde a CPT seria uma simetria emergente, válida apenas na projecção local e unitária da realidade. Por outro lado nos domínios como tempo imaginário ou pré-colapso da função de onda, poderia haver violações estruturais do CPT, ligadas à origem da assimetria temporal, carga e massa. O colapso da função de onda seria encarado como acto criador de geometria, conectando observador e métrica. O colapso da função de onda seria co-criado pela consciência, não apenas pela medição física. Por outro lado, a TIF passaria a oferecer de imediato um substrato pré-espacial coerente com os modelos de integração com gravidade quântica como causal set theory, twistor theory ou loop quantum gravity.

Considerando a Consciência como estrutura informacional, surgiriam implicações para a Filosofia da Mente na medida em que a mente não é mais um epifenómeno do cérebro, mas expressão local da TIF, como se constituísse um "nó de ressonância" com a totalidade, além do dualismo, uma proposta de dissolução da dicotomia mente-matéria, substituída por uma ontologia relacional em que tudo é expressão de informação correlacionada. A experiência da consciência poderia operar num tempo não-linear ou imaginário, mais próximo da estrutura da TIF que da realidade empírica. Justificaria os estados alterados de consciência que acederiam a níveis mais profundos da TIF, como proposto em tradições contemplativas e da neurofenomenologia.

Estes conceitos viriam de encontro às teorias do espírito/consciência como campo fundamental, como já foi sugerido por Schrödinger, Bohm, Whitehead.

A consciência é singular, e tudo que é consciente está ligado por essa unicidade. Isso é a realidade; o pluralismo é a ilusão.”, Erwin Schrödinger, Mind and Matter, 1958. Schrödinger afirma que a consciência não é múltipla nem derivada, mas unificada e fundamental, sugerindo que existe um campo mental universal, do qual cada um participa localmente.

“A mente e a matéria não são substâncias separadas, mas aspectos diferentes de um mesmo todo não dividido.”, David Bohm, Wholeness and the Implicate Order, 1980. Bohm vê o Universo como um campo holoinformacional, onde consciência e matéria surgem como projecções distintas de uma ordem implicada mais profunda, praticamente a descrição conceitual da TIF.

A mente é o fluxo de actualizações da realidade.”, ou “Cada evento no universo contém em si um aspecto de experiência.”, Alfred North Whitehead. Process and Reality, 1929. Whitehead propõe uma metafísica processual em que o real é tecido por momentos de consciência em graus diversos, antecipando a visão da TIF como uma rede de interacções informacionais dotadas de grau de interioridade, uma espécie de proto-consciência.

CHAVES PARA LAMBDA, CASIMIR, HIGGS E O ARGUMENTO ANTRÓPICO

Para a Cosmologia teria implicações no actual modelo do Big Bang e na origem do tempo. Numa fase pré Big Bang proporia que o Big Bang teria origem no colapso inicial de uma função de onda cósmica, e não um ponto de origem absoluta, explicando a aparente "singularidade" temporal. A realidade poderia surgir de colapsos locais e diferenciados da TIF, gerando universos paralelos como projecções distintas da mesma malha informacional ou seja corporizava a ideia de multiverso e dos inerentes colapsos múltiplos ou de cosmologias fractais e a entropia poderia ser entendida como um vector informacional interno da TIF, não como uma medida absoluta de desordem, abrindo a possibilidade de uma "ordem profunda" além da 2ª Lei da Termodinâmica, com ciclos ou reversões informacionais.

A Teia Informacional Fundamental (TIF) pode oferecer também uma chave inovadora para entender uma discrepância histórica, considerada a maior discrepância da Física, entre a densidade de energia do vácuo predita pela QFT (Teoria Quântica de Campos), e o valor observado da constante cosmológica na cosmologia (ligada à energia escura) e que podemos resumir no quadro seguinte:

Fonte

Densidade de Energia do Vácuo

 

QFT (na escala de Planck)

 

10113 J/m3

 

Cosmologia (valor de Lambda Λ)

 

10−11 J/m3


A densidade de energia associada à constante cosmológica Λ, conforme observada cosmologicamente é representada por:

 onde 

que  no Sistema Internacional (SI) em joules por metro cúbico (J/m3) equivale a


Um erro de 124 ordens de magnitude! A maior divergência teórica já registada entre previsão e observação na física fundamental.

Por princípio a Teia Informacional Fundamental propõe que o vácuo não seja apenas um meio quântico, mas um sistema coerente de informação relacional, como aquele de um Campo de spins entrelaçados, em que a estrutura do vácuo é topológica e quantizada, com tripletos de spin formando unidades fundamentais, semelhantes a bits quânticos (qubits), que não armazenam energia como um Campo clássico, mas só colapsam energia quando há uma condição de fronteira informacional. Deste modo, o valor quase nulo da energia escura observada, ρΛ10−11 J/m3, reflecte o equilíbrio dinâmico da TIF, que opera abaixo da geometria clássica do espaço-tempo. A quebra de simetria topológica no tripletos de spins durante o colapso da função de onda (quando surge a massa, carga ou tempo) liberta energia do vácuo, mas essa libertação é informacionalmente confinada. A TIF não gera energia de vácuo "em excesso" como na QFT porque a energia só se manifesta por alteração de estados relacionais, e não como flutuações locais aleatórias em todas as escalas. A TIF sugere que a discrepância entre a QFT e a cosmologia decorre de uma interpretação errada do vácuo como sendo local e energético nos termos da física clássica, e não caracterizadamente relacional e informacional, partindo do princípio que a energia do vácuo só é activa quando há um colapso topológico da TIF, o que resolve naturalmente o problema da constante cosmológica.

 

Outro fenómeno de natureza quântica propõe-se também revelar aspectos do modelo TIF. Conhecido por Efeito Casimir, não depende da presença de partículas, apenas da estrutura do espaço vazio quando condicionado, dando a entender que o vácuo responde a condições de contorno informacionais, exactamente como uma teia coerente como aquela presente na TIF, reagindo ao colapso local ou ao "foco" de informação. Em vez de partículas colapsando no vácuo, seria o vácuo reagindo ao limite topológico do sistema.

O Efeito Casimir ocorre quando duas placas condutoras são colocadas muito próximas no vácuo a micrómetros de distância uma da outra. A física quântica prevê que o vácuo está preenchido por flutuações do Campo electromagnético implicando que entre as placas, somente certos modos ou frequências podem existir. Fora das placas, há mais modos permitidos. Isso causa uma diferença de pressão quântica, levando a uma força de atracção mensurável entre as placas, sem nenhuma fonte externa! Essa força foi predita teoricamente em 1948 pelo físico holandês Hendrik B. G. Casimir e confirmada depois experimentalmente, medido com alta precisão nas décadas de 1990 e 2000. Na modelo da TIF vem confirmar que o vácuo pode ser concebido como uma rede de tripletos de spins entrelaçados, que as placas funcionam como barreiras que bloqueiam certos padrões de informação, dando como resultado um “afundamento” na malha da TIF, gerando força e energia aparente, expressa por unidade de área na equação:


 que mostra que a força aumenta rapidamente à medida que a distância entre as placas diminui (∝=1/𝑑4) e onde:

𝐹 é a força por unidade de área (pressão) entre as placas;

𝜋 é o número pi ≈ 3.14159;

é a constante de Planck reduzida: =ℎ/2𝜋​ ;

𝑐 é a velocidade da luz no vácuo;

𝑑 é a distância entre as placas.

Ou seja, O Efeito Casimir não apenas confirma a estrutura activa do vácuo, como aponta para uma realidade informacional subjacente, tal como proposta pela TIF onde o espaço é inteligente, responsivo, e não vazio.

Agora e aqui, oportunamente, levanta-se uma antiga questão. Qual a razão por que o Universo se apresenta tal como é, com leis e constantes tão finamente ajustadas e por que surge a consciência nele? Esta pergunta envolve o chamado Princípio Antrópico que parte da constatação de que as constantes fundamentais da natureza (como a Constante Cosmológica Lambda (Λ), a carga do electrão, a razão entre forças fundamentais etc.) estão ajustadas com precisão extrema, e que pequeníssimas variações impediriam o aparecimento de átomos, estrelas, vida e observadores conscientes.

Existem 3 versões do Princípio Antrópico, resumidas no quadro seguinte:

Tipo

Descrição

Fraco

O Universo é como é porque, se não fosse, não estaríamos aqui para observá-lo.

Forte

O Universo tem de ter propriedades que permitam o surgimento de vida consciente.

Participativo (Wheeler)

O Universo precisa da consciência do observador para se manifestar, havendo uma retroactividade ontológica.

A TIF e o Argumento Antrópico, no conjunto dos seus 3 argumentos, encontram uma ponte de entendimento se:

a) O ajuste fino das constantes reflectirem propriedades da TIF. A estrutura da TIF não permite qualquer geometria ou qualquer conjunto de leis, mas somente aquelas coerentes com a lógica interna da informação relacional não-local. O “ajuste fino” (veja-se 1/137,03599920611 a constante de estrutura fina fundamental na Física) não seria acidental ou dependente de casualidades, mas emergente de uma topologia profunda da própria TIF.

b) A consciência não seria um efeito colateral, mas uma função fundamental. No princípio antrópico participativo, o observador participa da criação da realidade, mas a TIF é co-extensiva à Consciência porque o campo informacional não-local já é, em si, pré-consciente ou algo de natureza proto-mental.

c) A realidade surgiria como simbiose entre ordem informacional e participação consciente. A Consciência, estabiliza padrões referenciados em tempo, espaço, matéria, leis. O Universo parece “ajustado para a vida” porque a própria vida/conhecimento (sophos) emerge da estrutura profunda do Cosmos como padrão coerente da TIF.

Creio que a Teia Informacional estabelece a ponte que o quadro seguinte resume:

Conceito

Argumento Antrópico

TIF

Ajuste fino

Constantes ajustadas para a vida

Leis emergem de coerência topológica

Papel da Consciência

Necessária para explicar o Universo

Parte da própria estrutura do real

Origem do mundo físico

Contingente ou multiversal

Emergente de uma base informacional

Epistemologia

Observação como limitação

Observação como colapso criador


Também aqui reside o papel do Campo Higgs. A excitação deste Campo, um campo quântico que permeia todo o espaço, em resultado das partículas interagirem com ele faz com que adquirem massa. No modelo Padrão é uma manifestação da quebra espontânea de simetria electrofraca, fundamental para distinguir o Fotão (sem massa) dos massivos bosões W e Z. Sem o campo de Higgs, não haveria átomos estáveis, química, nem vida o que o torna fundamental e o relaciona directamente com o Princípio Antrópico. Neste contexto o Higgs comporta-se como Campo informacional topológico que regula a coerência e densidade de estados possíveis através da TIF. Revela a necessidade de um mediador para a aquisição de massa/energia vista como frequência do colapso coerente de padrões de spin no espaço topológico informacional. Ali, o bosão de Higgs, sendo a manifestação da excitação do Campo, traduz-se num pulsar de condensação informacional que "fixa" a energia em determinada topologia de partícula conferindo-lhe massa. Assim, o campo de Higgs seria um efeito projectado da TIF, uma camada emergente independente da teia não-local de possibilidades quando colapsadas pela consciência e coerência interna. Corresponderia ao Antahkarana védico, o mediador entre duas dimensões: a física (massa/energia) e a subtil imaterial (TIF). Teríamos o campo de Higgs visto como o "antahkarana da física", uma ponte invisível onde o potencial puro se torna ser, onde o não-manifesto informa o manifesto.

Esta outra ponte entre o Princípio Antrópico, o Campo Higgs e a TIF poderá ser expressa tendo em conta duas circunstâncias. Por um lado, o Campo de Higgs só é o que é porque a realidade emergente precisa permitir a vida e a Consciência. Por outro lado, a TIF impõe restrições topológicas e informacionais que tornam certas “quebras de simetria” mais naturais, como a que dá origem à massa. Então o "ajuste fino" da massa das partículas pelo campo de Higgs pode ser visto como uma resposta topológica da TIF a padrões que maximizam a auto-consistência, níveis de complexidade e ressonância consciente.

O bosão de Higgs pode ser visto não apenas como a origem da massa, mas como um símbolo onde a TIF toca a física observável, um interface tradutor entre o modelo Informacional potencial e a realidade material.

CONCLUSÕES JÁ MILENARES E MAIS RECENTES

De um modo geral, o modelo da Teia Informacional Fundamental rompe com a visão local, causal e materialista da realidade (a grande ilusão Maya no hinduísmo), porque estabelece um novo paradigma onde a realidade é uma função de relações informacionais e colapsos conscientes ou intencionais.

Torna possível uma síntese entre ciência, metafísica e espiritualidade, oferecendo respostas para o problema da origem, da Consciência e da unidade cósmica.

A prová-lo está a obra Pistis Sophia, texto gnóstico cristão profundamente simbólico, que contém diversas passagens que transparecem, de forma arquetípica e visionária, o que poderíamos chamar de uma cosmologia participativa pós-CPT, onde a Consciência (Luz), a informação (Logos) e a realidade emergente são interligadas por uma teia não-local.

A Luz estava em todas as partes do Pleroma. E era mais brilhante do que as trevas do mundo inferior.”, Pistis Sophia, Livro I. Aqui, a Luz é símbolo da consciência primordial, anterior ao espaço-tempo e à matéria. Ela representa o campo unificado de Consciência/informação, muito semelhante ao papel da TIF, que está presente em tudo, mas ofuscada ou esquecida na densidade da realidade colapsada (o "mundo inferior"). Ou ainda esta citação sobre a queda e a restauração de Sophia que manifesta afinal o “drama” do colapso informacional:

E Sophia contemplou a Luz nas alturas, e desejou ascender até ela. Mas os Arcontes viram o seu movimento e a precipitaram em regiões inferiores.”, Pistis Sophia, cap. 30. Simboliza o colapso da função de onda original, isto é, a queda de Sophia representa a diferenciação da Unidade em multiplicidade, o nascimento da entropia, da dualidade e do tempo. De forma similar a TIF, ao ser projectada no mundo empírico, sofre uma "quebra de simetria" que origina a causalidade e os limites do CPT.

Finalmente: “As Potências são enviadas com nomes sagrados para recolher os fragmentos de Sophia e reconduzi-la ao seu lugar.”, Pistis Sophia, cap. 75. As Potências são, nesta leitura simbólica, estruturas não-locais de correcção da realidade equivalentes a operadores de simetria quântica ou códigos topológicos. A própria linguagem das "vestes de luz", “nomes” e “selos” remete à acção sobre a informação subjacente, como em manipulações da TIF.

Como afirma Michio Kaku em Hiperespaço: “Quando os físicos tiverem um melhor entendimento da Física na energia de Planck, abrir-se-á diante de nós um novo e imenso universo de possibilidades.”

É o caso do experimento Muon g-2 do Fermilab - Laboratório Nacional de Aceleradores Fermi, divulgado hoje, 3 de Junho de 2025. Os resultados finais da medição do momento magnético anómalo do Muão, alcançou a maior precisão até agora registada.

Com base nos dados obtidos nos últimos três anos, estes últimos resultados confirmam e reforçam as medições anteriores feitas em 2021 (Run-1) e 2023 (Run-2 e Run-3), atestando a solidez do valor médio obtido experimentalmente a nível mundial (33 instituições em 7 países). O valor experimental do momento magnético anómalo do Muão foi determinado com o valor 𝑎𝜇 = 0,00233184110 sob a espantosa precisão de 0,20 partes por milhão (ppm). Esta medição representa uma melhoria altamente significativa em relação às anteriores, duplicando a precisão alcançada em 2023 e inclusivamente estabelecendo um novo padrão para as medições de alta precisão na física das partículas.

Um Muão é um Electrão com 200 vezes mais massa/energia mas com uma vida média de 2,2µs. Faz parte da categoria denominada Leptões que se desdobra numa misteriosa e até agora inexplicada tríade de massas numa cascata crescente (Electrão, Muão, Tao) com os consignados neutrinos. Talvez que esta anomalia conduza no futuro a uma explicação satisfatória, admitindo que a causa é devida à presença oculta de outros Campos informacionais na estrutura do espaço-tempo. A anomalia magnética do Muão refere-se à diferença entre o momento magnético real daquela partícula e o valor previsto pelo Modelo Padrão. Os dados experimentais de 2021 indicavam um desvio pequeno mas consistente relativamente à previsão teórica. Este resultado agora obtido pelo Fermilab confirmou um desvio de mais de 4σ (4 desvios padrão), indiciando a possibilidade de uma física nova, para a existência de novas partículas e forças, ou seja apontando para a incompletude do Modelo Padrão.

Porque interessa esta descoberta no âmbito da TIF?

O Muão sendo uma partícula de spin 1/2 como o electrão, tem um momento magnético previsto por Dirac como sendo exactamente 𝑔 = 2, mas que devido a interacções com o vácuo quântico sofre correcções mostrando que  não está "sozinho" mas interage com uma rede de processos virtuais que permeiam o vácuo.

Isto pressupõe que o “vácuo” é activo e estruturado, confirmando as abordagens holoinformacionais de David Bohm, onde o espaço-tempo é transposto de uma Ordem Implícita, ou a teoria da espuma quântica de John Wheeler, onde o espaço-tempo à escala de Planck é caótico e dinâmico, ou ainda as teorias com geometria não-comutativa, onde os Campos e partículas emergem de uma rede de relações informacionais subjacente. Ou seja, Se o Muão “sente” uma anomalia, é porque há uma estrutura "oculta" do espaço-tempo que afecta o seu comportamento.

Do mesmo modo, o nosso modelo TIF propõe um “vácuo” activo e estruturado (tripletos de spins) implicando que os desvios detectados seriam devidos a imperfeições da teia que reagiria com ajustes automáticos feitos pela malha informacional subjacente. Essas pequenas correcções no momento magnético poderiam ser interpretadas como assinaturas de códigos quânticos correctivos, por influência de erros induzidos por ruído informacional na malha fundamental do espaço-tempo, ou a ressonâncias talvez associadas a estados topológicos nas bordas holográficas invisíveis à física clássica. Fazem-nos lembrar as “Potências” em Pistis Sophia como operadores correctivos, em que o Muão actuaria como um mensageiro de uma ordem mais profunda, revelando a necessidade de uma nova física pós-CPT.

Também referimos antes uma questão que é central e que a física contemporânea ainda não tem uma explicação satisfatória para justificar a existência de três famílias de Leptões (e em geral de Fermiões), com massas crescentes e propriedades quase idênticas, excepto na massa. A existência de três gerações de Leptões, o Electrão (e), o Muão (μ) e o Tau (τ), com os seus respectivos neutrinos, parece seguir um padrão que teima manter-se misterioso. Não há no Modelo Padrão uma razão fundamental para haver três famílias. A diferença de massa, que é enorme entre aquelas gerações, não tem explicação natural dentro da teoria geral.

O Campos topológicos ou informacionais não locais do espaço-tempo na TIF assume que cada tipo de partícula é uma ressonância estável ou modo vibracional daquela malha informacional, deduzindo que a tríade leptónica seria o reflexo de diferentes níveis de acoplamento com aquele Campo. Neste quadro, a massa não seria uma propriedade "intrínseca", mas uma emergência contextual, dependendo de qual camada ou modo do Campo a partícula "responderia" ou, quão "próxima" essa camada estaria da geometria observável do espaço-tempo, como se o Electrão fosse a forma "base", o Muão uma forma "excitada", e o Tau uma forma "mais profundamente acoplada" ao Campo informacional. O que faria deferir as gerações seria a forma como cada uma se ancora no Campo informacional, de forma mais ou menos profunda numa cascata de interfaces, que só se manifesta indirectamente pela massa e anomalia magnética. As massas dos leptões e as suas anomalias seriam modulações do grau de entrelaçamento com esse Campo e as três gerações reflectiriam três níveis de participação ou projecção a partir de um arquétipo único.

A anomalia verificada do Muão, sendo um desvio subtil e ainda inexplicado, poderia ser o primeiro sinal observável experimentalmente de uma interacção com uma camada mais profunda de uma realidade ainda oculta. Os três Leptões não seriam entidades fundamentalmente distintas, mas ressonâncias diferenciadas de um arquétipo comum, ancoradas em três níveis distintos de acoplamento com aquele campo de informação.

Curiosamente, as anomalias magnéticas crescem com a massa, sendo que no Electrão é muito precisa e não apresenta desvio, no Muão começa a divergir com acoplamento intermédio e o Tau que será muito difícil de medir, mas que teoricamente pode divergir ainda mais com um acoplamento mais forte. Hipoteticamente quanto mais “massivo”, mais sensível ao substrato profundo, em que os Leptões mais pesados funcionariam como "antenas", formas de sintonização mais potentes para o campo oculto. Seria interessante que a investigação levasse à descoberta de estruturas hierárquicas semelhantes nos outros sectores representados pelo Tao, Quarks e Neutrinos.

Em conclusão, a hipótese de um Campo informacional subjacente oferece uma visão unificada da tríade leptónica e da anomalia do Muão como fenómenos emergentes de estruturas ocultas no espaço-tempo, reforçando os conceitos presentes na TIF. Tal abordagem convida a uma reinterpretação ontológica da matéria elementar e da sua relação com o substrato informacional que permeia todo o Universo.

 

João Porto e Ponta Delgada, 03 de Junho de 2025


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