sexta-feira, 16 de abril de 2021

Astrosofia, a astronomia ancestral

 







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“Sujeito e objecto são uma só. Não se pode dizer que a barreira entre eles tenha ruído em consequência da experiência recente nas ciências físicas, visto que tal barreira não existe.”

Erwin Schrodinger

 

Astrosofia, literalmente sabedoria dos astros, acredita-se ser a mais antiga ciência conhecida sobre o nosso planeta. Faz parte integrante dos primórdios da cultura humana colocando a consciência como “objecto” matricial transversal a todo o Universo e integrando o ser humano e o ambiente numa dinâmica relacional estreita.

O Homem percebeu desde cedo a relação íntima entre as coisas vivas da Terra – a mãe natureza, e as coisas vivas do céu – os arquétipos. No despertar da consciência atribuiu outro significado aos movimentos intrigantes dos astros. Reparou nos agrupamentos de estrelas em determinadas regiões do céu relacionadas com eventos terrestres do clima, do crescimento vegetal ou das transumancias animais. Percebeu que a sua sobrevivência dependia do estabelecimento de uma relação harmónica com o Universo que o rodeava. A sincronicidade dos eventos naturais com a biologia humana e animal em geral tomou significados por um lado concretos e também transcendentes por outro lado, referenciados em rituais cronologicamente estabelecidos e de mímica fenoménica, cuja interpretação competia aos que assumiam estados de consciência elevados, às vezes por meios artificiais, que os aproximavam da revelação.

A disrrupção na natureza, catástrofes ou eventos extremos, representava forçosamente um desequilíbrio nessas forças ocultas que reinavam na natureza. Essas forças ocultas poderiam ser redimidas pela assunção de comportamentos convenientes que reporiam a normalidade. A Terra, e todas as coisas viventes e não viventes, representavam um organismo vivo com todos os seus subsistemas interdependentes, que acumulava a informação relativa a todos os acontecimentos num feedback contínuo. Esta é ainda hoje a concepção Gaia fortemente arreigada às bases teóricas do Panpsiquismo.

Saído de uma evolução natural, tendo absorvido todas as circunstâncias que o rodeavam, tanto na competição como na colaboração com as espécies de maior proximidade, onde a condição inferior ou superior era muito relativa, o Homem, o “bom selvagem”, trazia consigo a carga genética, o inconsciente colectivo da espécie, a constituição holomorfogenética necessária à expressão da consciência.

É em Carl Gustav Jung que surge o conceito do “inconsciente colectivo” que molda o ser humano como um ser colectivo, como um representante de sua espécie num determinado momento de desenvolvimento histórico, desde os tempos ancestrais, onde os arquétipos, género imagens arquiprimitivas gravadas na mente, são já parte do património comum daquela humanidade, reflectindo-se posteriormente em todas as mitologias como expressão do “inconsciente colectivo”.

Os arquétipos pré-existentes, construções de um passado de cuja condição o Homem primitivo se afastava de dia para dia, evoluíam lentamente impulsionados tanto pela amenidade dos fenómenos naturais como pelas condições adversas. O Sol iria tornar-se menos agressivo na sua actividade influenciando os climas, estabilizando o geomagnetismo terrestre, protegendo o ambiente dos raios cósmicos e da radiação ultra-violeta; a Lua distanciar-se-ia permitindo que o gigantismo desse lugar a outras naturezas mais conformes, estabelecendo ciclos biológicos mais adequados e, as agressões meteoríticas e cometárias seriam mais clementes. Os impulsos eram cíclicos e transformantes: basta analisar os sucessivos extractos geológicos. Havia urgência na futura humanização do planeta como ser vivo global.

A consciência, sendo sobretudo fenómeno numénico e de natureza quântica, haveria de promover rupturas epistemológicas na evolução da recente espécie humana, sujeita que estava, está e sempre estará, às influências aditivas e construtivas do emaranhamento dos campos quânticos que se estendem por todo o cosmos. Sempre o Homem sentiu essa presença, uma presença natural da qual se foi afastando progressivamente.

Desse afastamento surgiu a astrologia, vertente prática e utilitarista da Astrosofia. Supostamente descortinaria as melhores confluências e influências astrais para orientar as trocas de bens, as viagens, as relações, a guerra e a paz, e se transformaria num instrumento de dominação deitando por terra o “religare” original, aquilo que unia o Homem ao Cosmos.

Atestam-no ainda os Xamanes das mais diversas culturas, ditas primitivas, em fase acelerada de extinção.

Como se realiza esta união? Os princípios da Física Quântica e a estrutura do Modelo Padrão quando aplicados ao modelo da Constituição Septenária, alargam os nossos horizontes dando outro significado abrangente e unificador a toda a natureza, mais densa ou mais subtil, perpassando esta nova percepção do Cosmos a todos os níveis da existência. Modernamente tanto a Cosmologia como a Astrofísica perdem diariamente a fronteira que as distinguia de doutrinas mais esotéricas e da própria ficção científica mais exótica. Poderíamos citar um sem número de teorias que tentam explicar a Vida, a Consciência e a Inteligência como mais uma propriedade quantificável da existência. No entanto bastar-nos-á apontar, de forma muito resumida, algumas mais conhecidas:

1. A teoria do Big Bang, nas suas mais diversas variações, afirma por base que tudo teve uma origem comum pressupondo que tudo o que existe no momento presente e futuro esteve em contacto. Segundo a Física Quântica, os fenómenos de superposição, do estado de probabilidade e simultaneidade onda-partícula, é o reconhecimento implícito da passagem de uma natureza de uma dimensão física para outra de dimensão mais subtil. A Superposição, a não-localidade e o fenómeno do emaranhamento, de que já temos aplicações práticas pouco ou nada compreendidas na computação quântica, poderão derivar desta partilha original comum o que implica que dois objectos distanciados por milhares de milhões de anos-luz estão permanentemente interligados. Uma partícula ao interagir com outra, mantém um vínculo que não depende do espaço e do tempo. É como se estabelecessem uma comunicação telepática, registando ambas o que ocorre uma com a outra. Será a omnisciência e omnipresença que surgem da profunda união das concepções relativistas com a mecânica quântica.

 

2. A Teoria IIT - Integrated Information of Consciousness de GiulioTononi, na qual a evolução física dos subsistemas é concebida nos termos de um processo integrado quantificável matematicamente por uma variável designada Φ (Phi). Assim, sistemas tais como o cérebro humano seriam o culminar de um Φ muito alto enquanto a inexistência de consciência (uma rocha) significaria um Φ nulo.

A integração da informação inerente aos subsistemas (as partes) no Todo, fariam com que o Todo fosse maior que o conjunto das partes. Esta ideia tem conduzido a tentativas infrutíferas de construir modelos computacionais albergando componentes biológicos na ânsia de que fosse atingida uma espécie de massa crítica necessária ao aparecimento da consciência. Esta situação faz da teoria da informação uma área de pesquisa relativamente recente colocando-a na vanguarda da investigação de ponta profundamente ligada aos fundamentos da mecânica quântica.

3. A Teoria do Network Neuronal olha para o Universo como um ampla rede de ligações estabelecidas entre os aglomerados e superaglomerados de galáxias, estendendo-se por biliões de anos-luz e formando estruturas como a Laniakea com mais de 100 000 galáxias onde se inclui a nossa e o Grande Aglomerado da Virgem. Outros dois superaglomerados vizinhos foram também detectados, a saber o Superaglomerado de Shapley e o Superaglomerado de Perseus-Pices. Estas estruturas titânicas condicionariam a curvatura do espaço conferindo gravitacionalmente a distribuição e movimentação das grandes massas de grupos de galáxias e de estrelas. A descoberta destas tendências conjuntas através dos actuais meios observacionais da Astronomia, parece confirmar esta teoria e aspectos particulares da fluidez da expansão do universo. Estes networks seriam os veículos utilizados pelo trânsito de informação inter-galáctica que faria do Universo uma estrutura única onde a actividade dos Buracos Negros seria uma peça fundamental. A recente descoberta (2019) de jactos, detectados em frequências rádio, ultrapassando extensões de milhões de anos-luz entre aglomerados de galáxias e a formação de campos magnéticos e de fluxos de partículas relativísticas, veio confirmar aspectos desta teoria.

4. A Teoria do Universo Holográfico criado pelo físico Leonard Susskind, nos anos 90 do século passado, revela também a unidade básica do universo. Mostra-nos que não podemos decompô-lo em unidades infinitamente pequenas ou grandes com existências independentes, tal como a física quântica o demonstra à escala pequeníssima de Planck (10-35). Pelo contrário, ao penetrarmos nos menores constituintes conhecidos, evidencia-se uma teia complexa de relações entre as várias partes com o todo unificado. Esta teoria replica a estrutura holográfica bidimensional 2D dos Horizontes de Eventos dos Buracos Negros na própria estrutura geral do Universo como se ela fosse uma emanação em 3D. Daí distar apenas um passo para que o Universo tenha tido origem nos Buracos Negros Primordiais.

A Astrosofia vê-se assim reforçada pelas concepções mais modernas saídas da Astrofísica, da Cosmologia e da Física Quântica. Conceber influências espaciais dos mais diversos tipos, é uma tarefa que agora está ao nosso alcance de uma forma segura, alicerçadas nas provas dos instrumentos mais recentes e poderosos dedicados à investigação científica. Destes poderemos citar a plêiade de observatórios espaciais que vasculham o universo nos mais diversos comprimentos de onda (Fermi, Spitzer, Panstarrs, Kepler, Observatório Chandra Raios-X, Observatório de Raios Gama Compton, etc), o futuro James Webb Space Telescope, ou as grandes máquinas com dezenas de quilómetros como o Grande Colisionador de Hadrões, o LIGO - Laser Interferometer Gravitational-Wave Observatory, ou ainda mega telescópios terrestres (como exemplos o futuro Square Kilometre Array ou o Extreme Very Large Telescope – EVLT, o observatório de neutrinos instalado nas profundezas de um glaciar na Antárctida – o IceCube, o maior radiotelescópio do mundo, o FAST na província chinesa de Guizhou, entre muitos outros.

A Astrosofia assume o modelo fractal que está na base da natureza holográfica da matéria do mesmo modo que as últimas teorias sobre a origem do Universo, como vimos anteriormente. O fractalismo está presente na fórmula 4-3-2-1 da Tetraktys pitagórica bem como na estrutura da doutrina dos Manvataras (os “Mentores, os Manus ou avatares cósmicos) em que a partir de uma fracção do todo em particular, se pode construir o todo completo sob a precisão de fórmula matemática. É o número de ouro que se reflecte na estrutura organizativa da natureza, desde as galáxias até ao nautilus.

A influência da estrutura fractal é transversal a todos os fenómenos naturais, de tal modo que não pode ser encarada como uma coincidência. A sua matriz determinou a concepção dos padrões temporais (Manvatara/Pralaya, Eras), os signos da astrologia, a concepção sobre as idades das civilizações, e os Ciclos Yugas védicos. Esta geometria cíclica quando surge está dividida pela influência das fractais, plasmando o “inconsciente colectivo” ou os fluxos fundamentais da energia akáshica e holomorfogenética. É assim que se reflecte depois mais tarde na estrutura dos “idos” dos meses romanos ou mesmo antes no calendário grego luni-solar e na astrologia hinduísta quando cria os milénios dentro das Eras.

A concepção septenária traduz também esta realidade ao perpassar todas as coisas, adaptando a sua terminologia a cada caso específico do micro ao macrocosmo, aos ciclos da cabala hebraica na “Árvore da Vida”, o Caduceu ou ainda os ciclos Dharmicos hinduístas.

Perpassa todas as cosmogonias presentes nas doutrinas religiosas. Religa o humano à sua natureza mais profunda e oculta e está presente no nosso dia-a-dia.

“Morri mineral e converti-me em planta. Morri planta e nasci animal. Morri animal e me converti em homem. Por que, pois, hei-de temer a alguém? Acaso poderei ser menos ao morrer? Na próxima vez morrerei como homem para que me possam nascer asas de anjo, mas também da condição de anjo me elevarei, por que, como ensina o Corão, tudo perecerá, menos a face do Senhor. Outra vez, tomarei o voo por cima dos anjos e me converterei no que a imaginação não pode conceber. Na verdade, voltaremos a Ele”. - Do livro persa, Mathnawi, autor Jalalu’l Din Rumi (1207-1273).

Nesta métrica até aonde poderemos delimitar influências siderais pré-determinadas matematicamente na evolução da espécie humana, sabendo de antemão que tudo se move no Universo? Qual a probabilidade muito concreta de um acontecimento semelhante aquele que retirou da face do planeta os dinossauros, acontecer de novo? Haverá um calendário cósmico gerido por um relojoeiro multidimensional onde estão assentes os acontecimentos futuros já pré-determinados ou teremos o livre arbítrio como opção num campo probabilístico onde apenas o colapso de onda da opção momentânea faz o acontecer?

A questão fundamental que se coloca: poderá a Astrosofia (o conhecimento dos astros) parametrizar a probabilidade de um evento num campo unificado quântico multidimensional e relativístico como parece tendencialmente concluir a ciência actualmente? Esta será a base conceptual unificadora, a religação do Homem e do Universo, apenas uma dualidade temporária e ilusória.

“Poderemos olhar para a matéria como as regiões do espaço onde o campo é extremamente forte (…). Não poderá haver lugar, nesta nova física, para o campo e para a matéria, uma vez que o campo é a única realidade.” – Albert Einstein, Out of My Later Years (Nova Iorque: Philosophical Library, 1956).

 

João Porto e Ponta Delgada, 16 de Abril de 2021


Publicado na revista Fénix da Nova Acrópole Portugal

https://www.revistafenix.pt/astrosofia-a-astronomia-ancestral/


sábado, 10 de abril de 2021

O que me disseram as Estrelas

 











Vincent Van Gogh - The Starry Night [1888]

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Em termos cosmológicos o espaço “vazio” é a realidade suprema e as estrelas serão as partículas que revelam a potência nele pré-existente. Chegam-nos das profundezas do Universo, ondas de Tempo reveladas pelas estrelas e trazidas pelo espaço. Todas as vezes quando levantamos o nosso olhar para o fundo estelar do céu nocturno, aquilo que se vê não é aquilo que é, mas aquilo que foi. A luz do Sol leva cerca de 8 minutos para chegar até a Terra e as galáxias do aglomerado da Virgem mostram-se como eram há 65 milhões de anos. Portanto, ao olharmos para o céu à noite, vemos naquele momento presente, fluxos muito distintos do passado da história do Universo. Contudo este tempo é de uma relatividade a toda a prova, dado que sabemos que estas galáxias deste aglomerado deslocam-se a 1 600 km/segundo. Também sabemos hoje que o nosso planeta, gira a 1 600 km/hora em torno do seu próprio eixo e que este gira em torno do Sol a cerca de 108 000 km/hora, que por sua vez gira em torno do centro da galáxia a 830 000 km/hora. Tudo é movimento e por isso relativo. Aqui a Revolução Coperniciana continua a dar cartas na sua contínua expansão universalista.

Como é facilmente perceptível o Universo possui uma natureza hierárquica. A analogia com os objectos fractais poderá ajudar esta visão cosmológica. Fractal é um objecto que pode ser dividido em partes, cada uma das quais semelhante ao objecto original e que no seu conjunto reproduzem o todo. Teilhard de Chardin estava profundamente convencido de que o universo é um todo (Totum):

“Quanto mais longe e profundamente penetramos na Matéria, graças a meios cada vez mais poderosos, mais nos confunde a interligação das suas partes. Cada elemento do Cosmo é positivamente tecido de todos os outros: por baixo de si próprio, pelo misterioso fenómeno da «composição», que o faz subsistir pela extremidade de um conjunto organizado; e, em cima, pela influência recebida das unidades de ordem superior que o englobam e o dominam para os seus próprios fins. Impossível cortar nesta rede e isolar um retalho sem que este se desfie e se desfaça por todos os lados. A perder de vista, em volta de nós, o Universo aguenta-se pelo seu conjunto. E há apenas uma única maneira realmente possível de o considerar: tomá-lo como um bloco, todo inteiro.” – Teilhard de Chardin, O Fenómeno Humano, 3ª Edição 1970, pág. 21, Livraria Tavares Martins, Porto.

Esta ligação de tipo fractal por sua vez reflecte-se ao nível do microcosmo subatómico na existência também predominante do espaço “vazio”. Mesmo nos materiais mais sólidos, como o ferro ou na estrutura cristalina, existe um grande espaço entre as moléculas que os constituem. Um átomo é essencialmente espaço vazio: se o seu núcleo fosse ampliado até o tamanho de uma bola de futebol, a nuvem de electrões circularia nos limites do estádio de futebol. Se o núcleo do átomo fosse ampliado um pouco menos, digamos até o tamanho de um berlinde, o núcleo do átomo mais próximo estaria aproximadamente a cerca de mil metros! Segundo algumas estimativas da astrofísica dos Buracos Negros, se toda a matéria do nosso planeta fosse confinada, eliminando os espaços vazios, ocuparia apenas a dimensão de uma bola de ténis. A densidade no espaço intergaláctico é apenas de 7 a 8 átomos por metro cúbico. Ou seja, o mundo sólido e o espaço entre as galáxias é basicamente espaço vazio!

Esta relação que se estende desde o micro ao macrocosmo é uma relação de organização fractal onde a informação subjacente aos subsistemas que o compõem tem a tendência de replicar estruturas em escalas diferentes, como se houvesse uma acção à distância.

Ora, aqui entra a Teoria dos Campos que surgiu na física precisamente para explicar a acção à distância que Einstein designou como “acção fantasmagórica à distância”. Bem conhecidos são os efeitos dos campos electromagnéticos definidos por Maxwell e dos campos gravitacionais de Newton, Kepler e Galileu. As interacções entre partículas subatómicas são também descritas em termos de campos, combinando ideias da teoria clássica de campo com a teoria granular dos quanta, transformando as partículas em fenómenos transitórios como concentrações de energia que emergem do campo e nele tornam a desaparecer no “vazio”, mas contendo a potencialidade para todos os tipos de partículas que constituem o actual Modelo Padrão.

No entanto o espaço possui um número muito maior de dimensões, pois que para além de se conter a si próprio como campo quântico e a todos os outros campos, é o gerador de toda a manifestação fenoménica. Do micro ao macrocosmo uma coisa em comum existe: o espaço finito granular quantizável a que Carlo Rovelli designa por “espuma de spins” e que os Upanishads chamam de “espuma da água”. Será também aquela realidade numénica kantiana de onde tudo se origina e na qual tudo se retrairá agora confrontada com a teoria CCC – Cosmologia Cíclica Conforme de Roger Penrose!

Qual o papel destes campos e a constituição da Consciência encarada como matriz de informação organizada? Enquanto para uns a Mente seria olhada como mera segregação do cérebro e a Consciência um subproduto da evolução física de unidades quase isoladas, independentes, sem qualquer ou com fraca ligação entre si; para outros que defendem a teoria IIT – Integrated Information of Consciousness de Giulio Tononi, a evolução física dos subsistemas é concebida nos termos de um processo integrado quantificável matematicamente por uma variável designada Φ (Phi). Assim, sistemas tais como o cérebro humano seriam o culminar de um Φ muito alto enquanto a inexistência de consciência (uma rocha) significaria um Φ nulo.

A integração da informação inerente aos subsistemas (as partes) no Todo, fariam com que o Todo fosse maior que o conjunto das partes.

Então vamos partir do axioma de que as estrelas, de que não escapa o caso particular do nosso Sol, têm uma estrutura complexa que permite aceder a um nível relativamente alto de Φ. Senão vejamos:

O plasma (o 4º estado da matéria) é o material de que são feitas as estrelas onde os electrões são arrancados dos núcleos de hidrogénio, formando um gás electricamente carregado gerando campos magnéticos extraordinariamente elevados que provocam correntes de convecção dinamizadas pela rotação da estrela, que na nossa estrela tem a duração média de 28 dias: roda mais depressa no equador do que nas zonas polares, criando o Efeito de Torniquete na distribuição das massas de plasma no espaço e o Efeito Borboleta na distribuição das manchas solares na superfície solar - a fotosfera.

Esta rotação diferencial, que em estrelas milhões de vezes maiores que o Sol gera fluxos internos de plasma incomensuravelmente colossais, na sua ascensão até à fotosfera criam vórtices de vibrações acústicas rítmicas, de frequências ressonantes, que podem ser analisadas pela nova ciência da heliosismologia (no caso do Sol) ou da asterossismologia (para o caso das outras estrelas) permitindo ver o que ocorre por detrás da estrela e literalmente ouvir as suas frequências e amplitudes harmónicas.

Estas oscilações de portentosas massas, criadas por ondas de pressão (modo p) e por ondas gravíticas (modo g), originam pulsações de luminosidade causadas pela propagação do som no interior das estrelas, gerando autêntica música estelar que pode ser detectada e ouvida e que caracterizam a individualidade de cada estrela. As baleias e as estrelas têm esta particularidade em comum.

Toda esta movimentação de massas pode ser estudada e seguida pela aplicação dos princípios da magneto hidrodinâmica que na fotosfera criam um reticulado que a pavimenta em triliões de células, criando a denominada granulação e supergranulação como se fosse a epiderme da estrela. Aqui surgem erupções gigantescas – as espículas e as célebres manchas solares (conhecidas e desenhadas por Galileu) que se desenvolvem ciclicamente – na nossa estrela por períodos de 22 anos, 11 anos de actividade crescente e 11 anos de actividade decrescente e que se caracterizam pela sua marcada polaridade. Esta polaridade bloqueia a ascensão convectiva de plasma e arrefece a fotosfera que está a cerca de 6 000º Celsius, dando o aspecto negro à mancha solar.

Figura 1 – CD sobre o 23º Ciclo Solar.

Reportório resultante das observações do autor, com mais de 2500 imagens da fotosfera e cromosfera solar na luz visível e na primeira linha de emissão do hidrogénio (H-alfa). Edição 2001 sob o patrocínio da Presidência do Governo Regional dos Açores – Direcção Regional da Ciência e Tecnologia


Ao acompanhar o 23º Ciclo Solar (nós estamos presentemente a iniciar o 25º), tivemos a oportunidade de assistir a um dos mais criativos ciclos de actividade solar onde as manchas solares puderam ser classificadas morfologicamente de acordo com o sistema de Macintosh, seguindo quase sempre padrões previsíveis de evolução magnética, algumas vezes originando Fulgurações e Ejecções de Massa Coronal (EMC), como se o sol atirasse para o espaço em redor quantidades astronómicas da sua própria massa (plasma), com efeitos a curto prazo (48 a 72 horas) sobre o nosso planeta.


Figura 2 – Ejecção de Massa Coronal (EMC) em 8/12/2003 entre as 12:00 e as 12:52 horas UT. Gif elaborado pelo autor.

 Estas EMC`s lançam no espaço biliões de partículas electricamente carregadas e como tal são orientadas pelos potentes campos electromagnéticos que se estendem por todo o sistema solar com influência marcante na designada meteorologia espacial, nomeadamente no campo magnético terrestre (o fenómeno mais comum são as Auroras Boreais e Austrais). Marte perdeu a sua atmosfera devido ao seu fraco campo magnético que não protegeu o planeta destas erupções titânicas quando o sol ainda era mais jovem.

Para além disso, as estrelas, e o Sol, possuem uma actividade magnética polarizada cíclica. Durante o ciclo de actividade máxima surge a inversão da polaridade em que o pólo norte magnético passa a pólo sul magnético, recompondo-se a configuração inicial no fim do ciclo. Não me abstenho de comparar estes ciclos com os Gunas védicos – Rajas, Sattva e Tamas.


Figura 3 – Proeminências (2001 e 2006 em H-alfa) e manchas solares (2003 no espectro da luz visível) durante o 23º Ciclo Solar. Imagens do autor.

Esta descrição, de forma muito resumida, revela no entanto a complexidade da estrutura estelar, dos seus subsistemas, dos seus networks hierárquicos e a integração dos seus componentes que funcionam tal como um organismo vivo funcionaria, criando inclusive padrões de actividade previsível e influenciando o espaço para além da heliosfera no caso do Sol, talvez mesmo até em outros sistemas estelares (certamente no caso de sistemas binários e triplos). Poderíamos então inferir da existência de um Φ relativamente alto.

No entanto calcular matematicamente o Φ de uma estrela ou no caso particular do Sol, tornar-se-ia inviável, mesmo utilizando a computação quântica. Acredita-se que o cálculo de Φ para a minhoca C. Elegans que possui menos de um milímetro de tamanho e com apenas 8 000 ligações neuronais, levaria alguns milhares de milhões de anos. A teoria IIT assume que a consciência deriva da integração da informação reforçando a ideia do Panpsiquismo acerca da sua origem e confirmando que a base funcional assenta nos networks electromagnéticos. Contudo não entra em linha de conta com outros campos quânticos como o da ressonância holomórfica de Rupert Sheldrake ou o possível campo quântico da Informação que utiliza os microtúbulos das células cerebrais para se expressar nos seres vivos biológicos, como advogam Stuart Hameroff e Roger Penrose.

As estrelas não poderiam deixar de encerrar em si a estrutura septenária onde no ápice ternário Logoi reside a capacidade de conversão massa-energia-informação, expressa pelas fórmulas E=mc2 ou m=E/c2 , Kb T Ln(2)=mc2 e m=Kb T Ln(2)/c2 pelo princípio de Landauer, criando os campos quânticos de ressonância holomórfica e o de Informação/consciência na IIT designada como Phi (Φ). Como em todos os corpos a força gravítica inerente é o fenómeno resultante da curvatura do espaço granular – a “espuma de spins”, exercida pela massa da própria estrela.

As forças nucleares forte e fraca, para além da electromagnética, mantêm a sua estrutura física e material fermiónica (neste caso o 4º estado da matéria). É a força forte que gera as potentes reacções nucleares e a força fraca que está na base da degradação radioactiva e da própria vida no nosso planeta, e que no seu conjunto formam a estrutura base quaternária desta constituição septenária.

Figura 4 – Um modelo de Constituição Septenária que Unifica os Campos

Neste modelo a massa advém do campo quântico do Bosão de Higgs, que tudo permeia e faz a ligação entre a estrutura quaternária e ternária, tal como o Antahkarana sânscrito.

Para Blavatsky, o nosso sistema solar seria composto de sete planos distintos (modernamente considerados como os campos quânticos e a matéria propriamente dita), coexistindo no mesmo espaço e assumindo uma hierarquia do mais “denso” para o mais “subtil” assim reflectida tanto no ser humano como na partícula subatómica mais ínfima (por ex. um quark):

1 - o plano físico ou os fermiões (protões, quarks, electrões, muões, mesões, neutrinos);

2 - o plano emocional (astral) ou a força electromagnética (fotão);

3 - o plano mental (concreto/abstracto) ou Força Nuclear Fraca (W, Z);

4 - o plano búdico (intuitivo) ou Força nuclear Forte (gluões);

5 - o plano átmico (espiritual) ou Campo Granular do Espaço;

6 - o plano anupadaka (monádico) ou Campo Informação Holomórfica;

7 - o plano adi (divino) ou Campo da Informação/Consciência;

e acrescentaríamos o plano de ligação Antahkarana (Bosão de Higgs).

Por aqui se apercebe que o actual Modelo Padrão está incompleto e que mais uma vez as estrelas e o ser humano são da mesma substância, desde a mais subtil à mais densa. Bases para uma futura Astrosofia!

 

Tenho dó das estrelas

Luzindo há tanto tempo,

Há tanto tempo...

Tenho dó delas.

Não haverá um cansaço

Das coisas.

De todas as coisas,

Como das pernas ou de um braço?

Um cansaço de existir,

De ser,

Só de ser,

O ser triste brilhar ou sorrir...

Não haverá, enfim,

Para as coisas que são,

Não a morte, mas sim

Uma outra espécie de fim,

Ou uma grande razão —

Qualquer coisa assim

Como um perdão?

 

Poesias - Fernando Pessoa

 

João Porto

Ponta Delgada, 10 de Abril de 2021


Publicado na Revista Fénix da Nova Acrópole Portugal

https://www.revistafenix.pt/o-que-me-disseram-as-estrelas/


Os Tattvas, Platão e Bohm – o fio da meada

  "O Universo inteiro é uma emanação da suprema Consciência (Cit), vibrando em diferentes níveis de manifestação." Tantrāloka de...