domingo, 4 de junho de 2023

Quando a Natureza nos confunde e maravilha

Quando o biólogo Michael Levin (www.drmichaellevin.org) demonstrou que uma planária (1) que havia sido submetida previamente a treinos de localização sensorial na procura de recursos alimentares, após ter sido decepada, regenerava novamente um “cérebro” e mantinha este as memórias da outra parte original, fez-nos pensar que as memórias e as ideias se situariam num outro plano, também defendido por outro biologista inglês, Rupert Sheldrake, e designado por Campo do Espaço Morfogenético ou Campo M, considerado por ele como uma variedade de um outro campo de natureza similar ao campo electromagnético. O experimento confirmava que se dividirmos uma planária em diversas porções, todas elas irão acabar por regenerar uma planária integral que manifestará cada uma as memórias da planaria original.

Estes experimentos foram feitos com outros seres que manifestaram a mesma plasticidade 3D como se existisse uma inteligência colectiva que modelasse a produção de proteínas, lhes dá ordem e sequência no processo construtivo de determinada estrutura anatómica, colocando em dúvida o próprio papel atribuído tradicionalmente ao ADN, que se limitará apenas ao mecanismo de codificação dos diversos tipos de proteínas e ainda menos à temporização geradora das quantidades necessárias e à sua disposição espacial 3D. Esta inteligência colectiva comunicaria aos grupos de células o que fazer, como fazer e quando parar, como se o espaço fosse permeado num sentido estrito para cada espécie por um Campo de Forma (do grego morphe) dominando numa dimensão invisível, mas também permitisse o intercâmbio de informação entre espécies, elevando a outros níveis a evolução biológica das espécies para patamares não Darwinistas, seguramente não mecanicistas e considerados tradicionalmente estritamente fisiológicos.

Refere M. Levin, na apresentação do seu Levin lab na Universidade de Tufts em Boston: “ O nosso modelo principal é a morfogénese: a capacidade dos organismos multicelulares em auto construírem-se, repararem-se e improvisarem soluções novas com objectivos anatómicos. Questionamo-nos sobre os mecanismos necessários para atingir in vivo objectivos robustos, multi-escalares e adaptativos, bem como sobre os algoritmos necessários para reproduzirem estas capacidades noutros substratos.”

Quando referimos Inteligência Colectiva, estamos a entrar num domínio considerado muito vago, nunca presente no quadro geral da evolução das espécies, mas que em trabalhos recentes (2022 e 2023) no âmbito de estudos das redes neuronais e de efeitos de natureza quântica em processos bioquímicos à temperatura ambiente, têm desbravado novos caminhos na forma de encarar a natureza em modelos emergentes de cognição e de aprendizagem.

A fronteira entre inteligência colectiva e individual perde-se quando descemos ao mundo microscópico onde o colectivo é feito de indivíduos: uma célula individual é composta por múltiplas estruturas, cada qual ocupando e desempenhando funções estritamente organizadas, hierárquicas e autónomas. Esta situação estende-se dos prócariotas aos eucariotas. É geral, e aqui reside a robustez da Vida, onde o todo parece ser maior que a soma das partes contribuintes. Sendo nós, animais, ou o mundo vegetal, colónias com uma dinâmica interdependente, somos uma sociedade organizada de células em níveis de escalas cooperantes crescentes. O mesmo se poderia afirmar das estruturas cristalinas que fazem parte deste sistema e o incorporam activa e decididamente seja como sais dissolvidos na corrente sanguínea ou nas redes de xilemas e floemas vegetais, seja como estruturas esqueléticas ósseas.

Nestes diversos mundos representativos da existência material e da evolução (amorfo, cristalino, vegetal e animal) os networks, sejam os mais aperfeiçoados de regulação genética, endócrina, metabólica até aqueles de âmbito ecológico e social, possuem uma característica comum a um network neuronal onde o que prevalece é a rede de canais de informação que asseguram a sua transmissão. É esta informação integrada que constitui a inteligência colectiva e os diversos níveis cognitivos, que se tornam autónomos e característicos para cada espécie como Campo Espacial Mórfico, armazém de memórias e processos que identificamos como aprendizagem. Um Campo Quântico cujas origens poderíamos endereçar ao spin das partículas elementares, os seus fundamentais momentos magnéticos.

Lógico que neste complexo sistema de informação entrem rotas de feedback e retro acção que irão elencar ao longo do tempo os processos de maior sustentabilidade por economia de energia – a entropia sempre presente. “Armazenar” informação requer energia, o processo mais natural é fazer uso de um campo quântico próprio – o Campo M, quando ele próprio é introduzido pela natureza por todos os fermiões com os campos electromagnéticos e os campos nucleares forte e fraco. A natureza joga sempre pelo seguro, criando alternativas indestrutíveis que perseveram as suas mais íntimas e caras conquistas fazendo parecer, como constatam os trabalhos do Levin lab (2), que quanto maior o grau de inteligência manifesto, menor a dependência do colectivo. Ou seja sobressai o Campo M como identidade autónoma, um componente do Eu, o elo Manas/Kama Manas da Constituição Septenária.

Esta inteligência por vezes manifesta-se na assunção de características anatómicas inter-espécies como se houvesse uma migração de memórias por uma espécie de epigenética onde as memórias passam a ser fixadas por via do ADN que altera o fenótipo, envolvendo o reconhecimento de um estado mais favorável à evolução por partilha de características fenotípicas de outras espécies animais. Como se existisse uma sensibilidade inter comportamental traduzido em ‘what is best for me to do depends on what you are doing’ (3).

Vem isto a propósito de inúmeras orquídeas assumirem, espantosamente ao pormenor, características anatómicas de aves ou outros animais, como mostram as imagens (4) que reproduzimos e que pautamos como confirmação do efeito do Campo Quântico Morfogenético.


                      a                                            b                                          c


                      d                                        e                                   f

 
                      g                                         h                                 i

Estão recenseadas em todo o mundo mais de 25.000 espécies de orquídeas assumindo grande parte formas muito estranhas tendo em consideração que pertencem ao reino vegetal.

A família Orchidaceae tem uma origem com cerca de 80 milhões de anos, datando da época dos dinossauros e constituem actualmente uma das mais diversificadas famílias botânicas. Sobreviveram à grande extinção que derrotou os dinossauros bem como a muitas outras catástrofes naturais uma das quais mais recente conhecida por Younger Dryas (à 12.900 anos). São o resultado de uma longa história onde sobressai a vitória da simbiose, da harmonia perfeita e da expressão do belo. Normalmente são consideradas pela botânica como um dos maiores exemplos de mimetismo, classificado como mimetismo reprodutivo ao se assemelharem às fêmeas dos seus polinizadores, mimetismo de ataque, quando o organismo mimético é o predador, e mimetismo defensivo, quando a presa é mimética para afastar o seu predador. Contudo a explicação cabal deste fenómeno continua a ser um mistério.

A ciência botânica apenas avança que estas formas se devem a uma acção mimética relativa aos seus polinizadores, uma vez que a maior parte das orquídeas não produzem néctar e não são polinizadas por agentes naturais como o vento ou a água. Assim, acredita-se terem desenvolvido “estratégias inteligentes” (sem nunca definir o significado profundo de inteligência), que configuram ao pormenor cores, perfumes e formas de alguns polinizadores entre os quais se encontram insectos, aves, morcegos e mesmo animais. Estas características implicam a inscrição ou fixação no código genético de particularidades que em absoluto nada têm a ver com a natureza das espécies, e representam forçosamente uma “leitura” de informação veiculada pelo exterior numa memória reescrita até à perfeição sincrónica e que estabelece uma relação unívoca entre planta e polinizador, onde cada orquídea tem preferencialmente o seu próprio polinizador. Inequivocamente um processo de partilha e aprendizagem só possível se for considerada a existência de um Campo Quântico Morfogenético, que se diferencia substancialmente dos fenómenos miméticos momentâneos e primitivos (mas também inteligentes) ou dos fenómenos de camuflagem desenvolvida pela actividade dos cromatóforos e tão característicos de outras espécies como o polvo, a lula, as borboletas, répteis, peixes, etc.

Podemos aqui citar alguns casos notórios e espantosos, três dos quais documentados nas fotografias aqui presentes. O caso da orquídea Dracula saulii conhecida por cara-de-macaco (imagem c) descoberta em 2006 pelo peruano Saúl Ruiz, o caso da orquídea Habenaria radiata ou garça-branca (imagens f/g) que está em processo de extinção, ou ainda a orquídea Caleana grande ou pato-voador (imagem h) do leste e sul australianos e que se assemelha a um pato em voo. Muitos outros casos poderiam ser aqui citados como demonstram as imagens.

A possível existência de um Campo Quântico Morfogenético tem vindo a sofrer sucessivas confirmações pela ciência. Um dos últimos desenvolvimentos foi a descoberta do Electroma. Assim como possuímos um Genoma constituído pela carga genética individual expressa no ADN, também possuímos um Proteoma que é o repositório de proteínas codificadas pelos genes, e um Microbioma formado por inúmeras populações de microorganismos, também reside em nós uma network de comunicação e informação de natureza bioeléctrica designado por Electroma. É esta rede bioeléctrica que permite a comunicação inter-celular e ao organismo desempenhar as suas múltiplas e complexas funções. Este Electroma não é específico do reino animal mas estende-se aos outros reinos da vida através da comum actividade celular onde a troca iónica ou seja de cargas eléctricas pelas membranas celulares, gera polaridades permanentes e concentrações energéticas que confirmam os preceitos do Ayurveda com osseus sete chakras primários e os tratamentos das práticas milenares da acupuntura.

Facilmente compreendemos que esta imensa rede de comunicação bioeléctrica gera campos electromagnéticos acompanhados por fenómenos de natureza quântica de sobreposição/emaranhamento e de efeito túnel à temperatura dos organismos e já registados nos processos fotossintéticos das plantas ou na estrutura dos microtúbulos que entre outras funções têm um papel preponderante na divisão celular e nas redes neuronais.

O sistema proteico receptor-efector, instalado nas membranas das cadeias fosfo-lipidicas, constitui um modelo 3D “chave-fechadura” de natureza electromagnética que actua como um interruptor, traduzindo os sinais ambientais em comportamentos celulares quando acciona outros interruptores que controlam a “leitura” dos genes.

Por seu turno a bomba iónica de sódio/potássio, que é um canal específico distribuído aos milhares pela membrana celular, transforma a célula numa pilha eléctrica (carga eléctrica negativa no interior e positiva no exterior) fornecendo energia e criando o designado “potencial de membrana”.

Deste modo a organização molecular complexa, que está na base da origem da vida, surge naturalmente por via da existência dos spins ou momentos magnéticos das partículas fermiónicas, que organizadas em etapas posteriores de evolução, geram as polaridades das orbitais atómicas que engendram aparentemente de forma “inteligente” geometrias espacialmente funcionais 3D – tipo fechadura/chave. Ao criarem sistemas ordenados de informação de natureza quântica, os campos morfogenéticos que poderíamos considerar autênticos estados pré-cognitivos, replicam-se de forma fractal, permitindo autosustentar de forma autónoma os primeiros organismos.

Note-se que não descuramos a influência do imperativo biológico da sobrevivência no caminho que levou ao agrupamento das células em comunidades e ao aumento da “consciência” ou estados pré-cognitivos. É certo que a divisão de trabalho nas eucariotas ofereceu vantagem adicional de sobrevivência - Lamarck sugeria uma evolução cooperativa e não tanto competitiva como afirmou Darwin. Hoje confirma-se este desiderato, pois sabe-se da existência de transferência genética interespécies e intraespécies.

Hoje está assente na comunidade científica a existência de um mecanismo de cooperação e adaptação entre as espécies como é o caso das orquídeas e dos seus respectivos polinizadores.

A natureza é frágil – a falta de um polinizador pode levar à extinção de uma espécie, mas também é resilente e transformante pela “inteligência” que dela emana e se faz rodear. Sigamos o seu exemplo, porque fazemos parte dela.

Poderemos tirar algumas lições para o ser humano sobre a “inteligência” e dos estados pré-cognitivos na natureza – o Campo M, e da importância das Mentes Consciente e Subconsciente. Enquanto a primeira “lê” e coordena o fluxo de sinais celulares e também gera emoções que se manifestam pela libertação de sinais controladores pelo sistema nervoso, é ela que deve assumir o controlo do comportamento das células do nosso corpo, enquanto a Mente Subconsciente, geradora de acções de natureza reflexiva, os designados hábitos, são apenas fruto do condicionamento instintivo, tipo Pavlov.

Ou seja, é desta dualidade, a manifesta capacidade da Mente Consciente para se sobrepor aos comportamentos pré-programados da Mente Subconsciente, das crenças e do funcionamento no e para o “agora”, que faz surgir a base do fenómeno sentido e comummente atribuído ao livre-arbítrio.

São as crenças que controlam a biologia de forma automática. Contudo à Mente Consciente é-lhe permitido planear o futuro, sobrepor-se ao Subconsciente e à crença, controlar o corpo - ver o Efeito Placebo (efeito positivo) / Nocebo (efeito negativo). Querem outros exemplos: a prática Yogue mostra que quem pratica meditação apresenta uma série de diferenças genéticas e moleculares que incluem níveis reduzidos de genes pró-inflamatórios e alterações dos mecanismos reguladores dos genes.

Precisamos de enveredar pela via do Crescimento Interior - uma vida alegre, com amor, realização e respeito pela Natureza. Abandonar a via da protecção biológica automática dominada pelo sistema HPA (Hipotálamo-Pituitário-Adrenal) que interfere com o pensarmos com clareza: o medo mata! O stress crónico debilita - doenças inflamatórias, cardiovasculares, cancro, diabetes tipo 2! É necessário controlá-los.

Os maiores obstáculos à concretização dos nossos sonhos são as limitações que temos programado ou inscrito secularmente no subconsciente, uma vez que a Mente Subconsciente controla 95% do nosso comportamento. O Homem Novo passa por aqui!

João Porto e Ponta Delgada, 4 de Junho de 2023

Publicado na Revista Fénix em

 https://www.revistafenix.pt/quando-a-natureza-nos-confunde-e-maravilha/


Bibliografia e notas

(1) Planárias são vermes que pertencem ao filo Platelmintos, que faz parte da classe de animais invertebrados.

(2) Watson, R., & Levin, M. (May 23, 2023). The collective intelligence of evolution and development. Collective Intelligence. https://doi.org/10.1177/26339137231168355.

(3) Capítulo “Implications for evolutionary intelligence and basal cognition”, Watson, R., & Levin, M. (May 23, 2023). The collective intelligence of evolution and development. Collective Intelligence.

(4) Colecção de imagens públicas recolhidas e divulgadas por muitos internautas nas redes sociais.


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