É consensual que a vida só é possível com a presença de um solvente universal conhecido como água, aquele que é um dos elementos principais considerados pela alquimia, mediador entre os elementos etéreos Fogo/Ar e a Terra, o elemento material. A água, quimicamente conhecida pela fórmula molecular H2O, tem uma estrutura constituída por dois átomos de hidrogénio e um de oxigénio partilhando entre si os seus electrões e formando uma ligação geometricamente assimétrica de 104,50. A partilha faz-se entre o electrão do hidrogénio com um electrão do oxigénio, criando as denominadas ligações covalentes. No entanto os campos orbitais dos electrões dos átomos de hidrogénio encontram-se sempre deslocados pela forte atracão do núcleo positivo do átomo de oxigénio o que cria uma polaridade molecular, apesar de globalmente a água ser uma molécula neutra. Este aspecto dipolar faz com que as moléculas de água se alinhem entre si formando as pontes de hidrogénio cuja presença permite à água funcionar como agregador de moléculas orgânicas mais complexas, como aquelas pertencentes á classe das proteínas, enzimas, nucleotídeos, açúcares e mesmo o próprio ADN, sendo que todas elas apresentam também polaridade (moléculas hidrófilas). São também estas pontes de hidrogénio que autorizam a água no seu estado sólido, quando congela, a assumir uma estrutura semi-cristalina hexagonal formada por 4 pontes de hidrogénio.
A água como solvente universal, pelas suas propriedades de coesão e adesão, conferida pelas tais pontes de hidrogénio, apresenta-se como a solução natural e sustentável encontrada pelo Universo onde abundam o hidrogénio em primeiro lugar (92%), seguido pelo hélio (7,1%) e em terceiro lugar o oxigénio (0,1%), apesar de raramente se encontrar na sua forma molecular O2, devido precisamente ao facto de espontaneamente se ligar ao hidrogénio formando água. Por essa razão a água é tão abundante em todo o Universo sob a forma de gelo intersticial nos agregados de poeiras interestelares.
O Oxigénio que tem a sua origem no final do processo de combustão do hélio, reacções de fusão dominantes no interior das estrelas massivas através do ciclo CNO-I (Carbono-Azoto-Oxigénio), torna-se assim o elemento preferencial para síntese da água.
Curiosamente o HeH+ (hidreto de hélio), carregado positivamente, é a primeira molécula conhecida a ser formada no universo, cerca de 380.000 anos após aquilo que se considerava ser o Big Bang, num período conhecido como época de recombinação e que irá posteriormente dar origem às primeiras estrelas. Este esquema de momento continua a ser fiável apesar de o Big Bang ter sido posto em causa pelas últimas observações do telescópio espacial James Webb.
Façamos uma rápida viagem pela história conhecida até agora dos planetas telúricos do Sistema Solar e pela lua da Terra.
Na Terra, no éon Arqueano, um período geológico compreendido aproximadamente entre 3,85 e 2,5 mil milhões de anos, o nosso planeta era totalmente coberto por oceanos. Um estudo das rochas australianas datadas desse período geológico, revelaram ainda que os oceanos arcaicos tinham uma presença do isótopo pesado O18 muito superior aos actuais oceanos. Na África do Sul em Barberton Greenstone Belt, onde existem algumas das mais antigas rochas na Terra, os geólogos Maarten De Wit e Harald Furnes estudaram uma espécie de sílica chamada “chert” (uma variedade de quartzo) cuja formação é atribuída a grandes profundidades sob água onde predominariam fontes hidrotermais, concluindo que há cerca de 3,5 mil milhões de anos, os oceanos da Terra foram relativamente frios, e não inospitamente quentes como se pensava anteriormente (1). Surgem assim evidências geoquímicas e paleomagnéticas de que ao longo dos últimos 3,5 mil milhões de anos, a Terra tem permanecido dentro de uma faixa de temperatura favorável à vida.
Pela mesma altura, Marte tinha 36% da sua superfície coberta por oceanos e possuía um ciclo hidrológico de acordo com estudos recentes da Universidade do Colorado nos EUA e das missões da NASA naquele planeta nomeadamente a MRO - Mars Reconnaissance Orbiter (NASA/MRO/Horganet al. 2019).
Figura 1 –
Marte - carbonatos marginais destacados em vermelho (NASA/MRO/Horganet al.
2019).
A recente descoberta de carbonatos na beira de extintos lagos (caso da área geológica da cratera Jezero) (2), e de depósitos de sílica hidratada no fundo do delta durante o período Noachiano, o primeiro período geológico de Marte e que teve o seu término há cerca de 3,5 mil milhões de anos, parece confirmar as suspeitas de vida arcaica no planeta. Naquela época Marte tinha um clima relativamente húmido e uma atmosfera rica em dióxido de carbono (CO2). Os carbonatos só se formam quando rochas e água reagem com o CO2. Como é do domínio público, a investigação no terreno prossegue, já que encontrar água líquida em Marte foi um dos principais objectivos do programa da NASA, sendo que tal hipótese no entretanto foi já confirmada. A hipótese inicial era de que a água ocorresse sob a forma de água salgada com sais de perclorato (compostos de cloro e oxigénio) que reduzem o ponto de congelamento da água fazendo com que permaneça líquida apesar das temperaturas congelantes de Marte atingirem em média -63°C.
Quanto a Vénus, tinha oceanos e atmosferas onde preponderavam a água, o azoto e o oxigénio. A recente detecção de gás fosfina (PH3), caracterizada por ser por excelência a bio assinatura da vida, poderá ser um indício da existência de vida antiga que adquiriu formas biológicas adaptadas às condições das camadas externas da atmosfera venusiana onde persistem temperaturas propícias à vida microbiológica actual (180 C). É verdade que a fosfina foi detectada na década de 70 do século passado em Júpiter e Saturno, onde se formou nas camadas mais internas das suas atmosferas. Mas, só a presença de calor e da pressão do hidrogénio muito grandes, favoreceram a produção abiótica de fosfina, condições extremas não verificáveis em Vénus. A síntese de fosfina fora de condições extremas implica fornecimento contínuo de muita energia o que só é possível pela via biológica como na Terra.
Lembremo-nos que Carl Sagan e Harold Morowitz sugeriram em 1967 formas de vida num cenário envolvendo “balões ecológicos” flutuando entre as nuvens, metabolizando água e minerais.
De encontro a esta ideia, simulações feitas em computador sobre a história climática de Vénus, pelo Instituto Goddard de Ciência Espacial da NASA, mostraram que até há bem pouco tempo (cerca de 715 milhões de anos) as temperaturas podiam ter variado entre 20 e 50 °C, suficientemente frias para a existência de água líquida formando extensos oceanos por 2 a 3 mil milhões de anos, sugerindo que a vida poderia ter evoluído naquele planeta.
No entanto a crosta terrestre de Vénus é espessa e sem sinal de tectonicidade e o planeta não tem basicamente campo magnético o que deverá ter contribuído de forma irredutível para a sua situação actual.
A presença de água em Vénus, Terra e Marte está também de acordo com a teoria geral da formação do sistema solar e em particular dos planetas telúricos a partir do gás nebular original. Enquanto os planetas exteriores e gigantes como Júpiter, Saturno, Úrano e Neptuno, arredados da influência radiactiva do Sol tinham condições para acumular a água presente na nebulosa primordial, os três planetas telúricos não tinham essa hipótese. A composição isotópica da Terra indica que os principais blocos de construção dos planetas rochosos são materiais semelhantes a enstatita condrite dos asteróides e cometas cuja concentração em água e as relações entre o deutério e o hidrogénio (D/H) correspondem às da Terra (3).
Assim, a probabilidade do surgimento da vida deve ter sido transversal aos planetas telúricos. Contudo a Terra poderá ter sido o local preferido, dado que um acontecimento inesperado poderia ter acelerado ou mesmo justificado o aparecimento de vida. Um corpo planetesimal gelado que se encontrava na mesma órbita do que a Terra, num ponto de Lagrange L4, viria a fazer pender o prato da balança no que respeita à presença da água.
Theia colidiu com a Terra há 4,5 mil milhões de anos e trouxe mais água. Para além de outros factores estabilizadores. Dessa colisão iria resultar a Lua, como massa arrancada ao nosso próprio planeta e em quantidade suficiente para formar um futuro corpo esferóide – a Lua é a nossa antiga Terra. A assimilação pela Terra de uma parte de Theia foi extremamente importante para que o material metálico dos dois fosse unido e se estabilizasse no centro do nosso planeta, caso contrário a Terra seria apenas uma estrutura rochosa estérea muito semelhante a Vénus, sem um campo magnético e sem placas tectónicas. Por outro lado, a presença do efeito gravitacional da Lua induziu a uma oscilação muito pequena do eixo da Terra à medida que evolui em torno do Sol, diferente do que parece ter acontecido com Marte que é orbitado por apenas dois asteróides capturados, para além de ter perdido o seu campo magnético e deste modo a protecção aos raios cósmicos e aos ventos solares que assim lhe arrancaram a atmosfera, precisamente numa época em que o Sol, mais jovem, era mais activo.
A vida na Terra surgiu entre 3,5 e 4,5 mil milhões de anos, corolário provável de um conjunto de “homeostasias” como a nova força exercida pela gravidade de uma lua, a sua protecção em parte ao bombardeamento meteorítico tardio e a estabilidade magnética da Terra e do seu eixo em que o clima passa a ser regulado por estações. Na Terra, alguns dos fósseis mais antigos são estromatólitos datando para cima de 3,5 mil milhões de anos. Os estromatólitos são estruturas estratificadas formadas por camadas de cianobactérias.
A descoberta de que os sistemas naturais podem conduzir a reacções electroquímicas entre os minerais e o líquido circundante tem implicações importantes para o campo da astrobiologia, indicando que em qualquer lugar a presença de salmouras (água e sais) e de rochas ígneas poderão conduzir às condições necessárias ao aparecimento da vida. Tais eram as condições presentes nas fontes hidrotermais nas profundidades oceânicas como à superfície terrestre nas lagoas quentes pela actividade vulcânica na Terra Arqueana pré-biótica, onde os componentes essenciais dos nucleotídeos, plasmados primeiramente nos polímeros de RNA, fornecidos por meteoritos carbonáceos, aumentavam de concentração através de fenómenos de precipitação, evaporação e infiltração em ciclos contínuos de fases húmidas e secas. Estas condições seriam o catalisador que levaria à ligação dos blocos de construção molecular básicos e que dariam nascimento ao primeiro código genético que garantiria a replicação das primeiras proto-células (3).
Podemos concluir, com alguma segurança, que o aparecimento da vida foi transversal e simultâneo nos três planetas entre 3 e 4,5 mil milhões de anos porque existiriam as condições necessárias e suficientes para tal. O seu surgimento foi relativamente rápido, pois acredita-se que teria levado cerca de 550 milhões de anos a surgir no nosso planeta, ou seja o período de tempo que medeia entre a formação da Terra (4,5 mil milhões de anos) e o primeiro registo biogénico conhecido - LUCA (Last Universal Common Ancestor). Iremos assumir que o mesmo se tenha passado tanto em Vénus como em Marte.
Chegámos agora a um ponto do nosso conhecimento que nos possibilita explorar e estabelecer eventualmente linhas de aproximação com doutrinas muito antigas, sobre a evolução da vida planetária, nomeadamente daquelas defendidas pela Teosofia e por Helena Blavatsky na sua Doutrina Secreta (4) nos respectivos volumes da Cosmogénese e da Antropogénese.
Começaremos por tentar expor de forma sucinta e simples a estrutura do corpo desta doutrina quanto a este assunto.
Na Teosofia, a evolução planetária gira em torno do conceito das Rondas que está relacionado ao ciclo evolutivo dos Globos planetários e de múltiplas Humanidades. Segundo essa visão esotérica, o desenvolvimento da vida ocorre em vastos períodos de tempo, seguindo um esquema cíclico de evolução espiritual e material.
O conceito ligado à Constituição Septenária estende-se aqui à evolução planetária quando atribui a cada corpo do sistema solar, sob a designação de Globo, a existência simultânea de sete dimensões ou Globos que se desenvolvem numa sequência ou Cadeia formando uma chamada "Corrente de Vida". Desta sequência de Globos apenas um se torna materialmente visível.
De acordo com a Teosofia, a Terra faz parte de uma Cadeia Planetária de Sete Globos, onde a vida evolui passando por cada um deles em sucessivas Rondas. Cada Ronda representa um ciclo completo no qual desenvolvem-se outras formas de vida e a própria humanidade, evoluindo em progressivos níveis de existência.
Este conceito evolutivo envolve três sistemas concatenados, que iremos descrever, e estende-se sobretudo aos planetas telúricos do Sistema Solar:
a) Os Globos em número de sete, que tal como a Constituição Septenária humana remete a sua origem ao Modelo Padrão da Física das Partículas, como já propusemos noutras exposições nossas, e assim, serem indexados aos três campos quânticos mais a matéria fermiónica que aqueles estruturam, - o designado Quaternário, a saber a Força Electromagnética, Força Nuclear Forte e Força Nuclear Fraca, e ainda o Ternário de campos quânticos covariantes, ainda desconhecidos mas cada vez mais levados em conta pela Ciência. No seu conjunto, distribuídos temporalmente por quatro níveis de actividade (o efeito do tempo sempre na ordem de mil milhões de anos, na acumulação e consequente aprimoração das características evolutivas), são também conhecidos pelas tradições ocultistas pelos símbolos alquímicos de Terra, Água, Ar e Fogo.
Na prática este sistema das Cadeias implica que em cada Ronda se verifiquem processos de construção e destruição, sintropia e entropia, Rajas e Tamas na filosofia hinduísta, em que aquelas referidas forças do Modelo Padrão tem um papel fundamental e reconhecido na formação planetária. Estas tem em cada Ronda o corolário da sua actividade no Globo D, manifesto no planeta materialmente visível, onde as forças se mantém em equilíbrio, o aspecto hinduísta Sattva, fundamental ao surgimento de humanidades através das quais a Consciência (existente no entanto desde as origens) vai evoluir progressivamente para patamares superiores.
b) As Cadeias também estruturadas em ciclos de sete onde o percurso de cada uma define ou activa uma Ronda, na sua totalidade criando assim sete Rondas, em que são percorridos 49 Globos (7x7). Ao completar-se uma Ronda, o mesmo é dizer o percurso de uma Cadeia, vão se actualizando as propriedades inerentes às características evolutivas internas dos Globos. Ou seja na primeira Ronda são percorridos todos os Globos, na segunda Ronda não se passa pelo Globo A, na terceira Ronda não se percorrem os Globos A e B e assim por diante, como se no avanço de cada Ronda os processos dos Globos anteriores tivessem sido assumidos e se apresentassem actualizados ou adquiridos. Um aspecto importante no funcionamento da Natureza: sustentabilidade com economia de recursos. Assim o Globo D, único que se revela na dimensão material em todas as cadeias planetárias, assume a evolução e os estados dos restantes seis e passa a ser um Globo de charneira na respectiva Cadeia que se desenvolve em determinado éon. Os Puranas hinduístas designam os Globos por Dvipas sendo a Terra conhecida por Jambudvipa.
c) Finalmente, cada Globo é constituído por sete fases evolutivas (Raças ou Humanidades) sendo que estas por sua vez se desdobram em sete outras sub-fases cíclicas evolutivas (designadas pela Teosofia como Sub-raças). Globalmente o sistema evolutivo é definido por um esquema temporal de 7x7x7 = 343 que atira a origem da Humanidade para uma antiguidade de éons de tempo realizada em Globos (corpos planetários) de diversas características e dimensões.
Como a doutrina postula que cada planeta evolui durante sete Rondas, no nosso caso estará o planeta Terra a atravessar o período correspondente à 4ª Ronda.

Diagrama I – Diagrama interpretativo de Globos terrestres baseado
em Geoffrey Farthing (5).
Upadhi significa veículo.
Esta estrutura toma por base que cada planeta é um organismo vivo (podemos considerá-lo próximo do conceito Gaia) que durante éons de tempo evolui desde uma forma não física (A, B e C), no sentido em que resulta da interacção das forças nucleares fracas e fortes, do decaimento radioactivo, bem como das potentes forças electromagnéticas que estão presentes no início da formação planetária, passando depois pela forma densa (D), a agregação de matéria que origina o próprio planeta até atingir, éons depois, passados que foram muitos mil milhões de anos, formas, considerados pela doutrina de desenvolvimento “subtil”, onde despontam forças, que atribuímos aos campos quânticos covariantes (G).
Em conclusão:
a) Sete Globos: A vida evolui em sete Globos, quatro materiais e três tidos por mais “subtis”. Aqui consideramos os Globos as fases de formação e evolução diferenciada do planeta.
b) Sete Rondas: Em cada Ronda, outras formas de vida e finalmente a humanidade, passam por todos os sete Globos.
c) Cada Ronda traz consigo um salto evolutivo: A cada ciclo, a consciência e a forma física evoluem para níveis mais elevados de desenvolvimento.
d) Actualmente, estamos na Quarta Ronda: Segundo a doutrina teosófica, a humanidade está presentemente na quarta Ronda, vivendo no Globo da fase D (a Terra).
Por mais inacreditável que pareça, este diagrama e os conceitos nele expresso têm a ver de certo modo com a evolução biogénica conhecida hoje e que anteriormente expusemos.
A formação planetária, de acordo com a Teosofia e outras tradições esotéricas hinduístas, é dividida em seis fases que envolvem tanto 4 aspectos físicos já referidos (correspondentes a Stula Sharira, Prana Sharira, Linga Sharira e Kama-Manas) quanto a 3 espirituais (Manas, Budhi e Atma), que consideramos serem campos quânticos covariantes, e dos quais tencionamos consolidar ideias mais à frente.
As seis fases podem ser descritas da seguinte forma:
1. Fase de Formação ou “Período de Incubação”
O planeta inicia a sua formação a partir de uma nuvem de gás e poeira interestelar, onde a gravidade, por imposição do espaço-tempo curvo na presença progressiva de massas por aglomeração da matéria, começa a formar um corpo mais sólido. “Espiritualmente”, essa fase é descrita como um período em que as energias da matéria densa começam a se manifestar com os processos de decaimento radioactivo dos átomos e onde as interacções nucleares forte e fraca participam da fissão nuclear e da fusão nuclear.
2. Fase Protoplanetária
Em termos físicos o planeta apresenta-se num estado primitivo que se traduz na formação da sua crosta e nas condições iniciais propícias para o surgimento da vida. Em termos “espirituais”, é o momento em que os "elementais" ou as forças electromagnéticas decorrentes do campo magnético do planeta, em conjunto com a acção do vento solar e as condições geomorfológicas começam a moldar a matéria de inorgânica para complexos orgânicos próprios do processo da biogénese. Nesta fase as correntes de Birkeland desempenham um papel importante. Constituem fluxos de partículas carregadas (plasmas) que seguem as linhas do campo magnético e podem ligar diferentes corpos celestes, como o Sol e a Terra, ou até galáxias inteiras.
3. Fase de Evolução
O planeta passa por uma fase de evolução rápida, tanto de crescente organização orgânica (material) quanto da emergência dos primeiros sistemas ligados à actividade sensorial e senciente (espiritual). Constrói-se a capacidade dos primeiros organismos serem afectados positiva ou negativamente. É a capacidade de ter experiências e da selecção natural inteligente. Não é a mera capacidade para perceber um estímulo ou reagir a uma dada acção, como no caso de uma máquina. Deste modo, os primeiros organismos unicelulares iniciam a evolução “espiritual” percorrendo futuramente cadeias de aprendizagem e desenvolvimento de consciência sempre mais complexas.
4. Fase de Consolidação
O planeta transforma-se num local habitável, e as formas de vida começam a diversificar-se por razões das experiências que desenvolvem. Em termos “espirituais”, essa fase é associada ao surgimento das designadas “Raças” e “Sub-raças”, espelho de diferentes condições sencientes e que impõem o desenvolvimento dos órgãos neurológicos mais complexos.
5. Fase de Desintegração
Com maior ou menor probabilidade, o planeta passará por processos de destruição ou desintegração, seja por causas cósmicas (como colisões com outros corpos celestes, no caso da Terra, a colisão com o proto planeta Theia que origina a formação da Lua) ou por uma evolução natural de seu ciclo de vida. Este é o considerado período de descanso ou "Pralaya" com o retorno a um estado mais “subtil”, precursor de um novo ciclo ou de uma nova Ronda.
6. Período de “Pralaya”
O planeta entra num período de regeneração, onde as condições anteriores relativas à consciência e à matéria entram num novo ciclo de manifestação. Esse estado é uma pausa de reflexão e reorganização “espiritual”. Os impactos têm sempre este condão de provocar saltos qualitativos.
Podemos dizer que a evolução do planeta obedece aos designados “planos de manifestação”, onde por exemplo o “Plano Físico” da Terra (a matéria fermiónica corporizada pela leis físicas conhecidas que a regem) ocorre nas três primeira fases da Cadeia (A,B e C), mas sobretudo no presente éon (D), não deixando, no entanto e logicamente, de evoluir em outros planos representados pelos Globos antecedentes (fase descendente do diagrama I). É uma ideia muito interessante, face ao desconhecimento ao tempo dos processos nucleares internos das estrelas e da formação planetária. Esta integração dos Globos, numa concepção aparente do espaço ocupado simultaneamente por três campos de natureza quântica e de outros futuros três que nesta actual Ronda da Terra ainda não existem, por não se ter esta Cadeia ainda completado. No entanto já coexistem, como existências sencientes adimensionais, derivados de Cadeias temporalmente anteriores nos seus processos evolutivos mais tardios (fases ascendentes).
Como disse Antoine Lavoisier (1743-1794), fundador da Química moderna, “Nada se perde, tudo se transforma”.
Assim, as 3 dimensões iniciais referidas no II Diagrama, integradas nos “Planos da Manifestação”, poderiam ser consideradas como sendo de natureza idêntica aos campos quânticos, a saber o campo electromagnético (no diagrama a fase C) que está ligado presentemente aos efeitos dos campos eléctricos e magnéticos terrestres, o campo das forças fracas, (B) ligado aos fenómenos de decaimento radioactivo gerador do calor interno do planeta, controlando o “humor” do planeta através da sua actividade vulcânica e tectonicidade, e finalmente o campo das forças nucleares fortes que substancialmente mantêm o planeta coeso como um corpo único (A).

Diagrama II - Comparação entre os princípios da
constituição Septenária
no Homem e na formação planetária. Baseado em Geoffrey Farthing (5)
Neste corpo doutrinário, a Humanidade evolui de acordo com as Rondas sendo atribuída a noção de Raça, que nada têm a ver com o conceito racial, aos estádios evolutivos da espécie em que as características espirituais seriam cada vez mais apuradas, despertando as nossas capacidades internas e presentemente pouco evidentes. Assim, segundo a doutrina teosófica estaríamos actualmente, e maioritariamente, a atingir a 5º Raça, a Ariana. A 3ª Raça teria sido a do continente Lemuriano (os recentes descobertos Hobbit da ilha das Flores na Indonésia ou o Homo luzonensis nas Filipinas seriam os seus descendentes) e a 4ª, aquela relativa aos gigantes do continente da Atlântida descrito por Platão e possíveis construtores do megalitismo presente em todas as antigas civilizações da Terra e referidas nas suas mitologias.
Fundamentalmente esta concepção da Vida e da sua natureza não atribui propriamente uma origem ou começo, muito menos a um acto de criação, mas um ciclo contínuo de transformação onde a existência de um vector na evolução define os impulsos internos da própria natureza, talvez resultado de uma dimensão arquetípica – uma Mente Universal. Deste modo, a Terra e os restantes planetas pré-existiram sob a forma de Globos fisicamente ou materialmente invisíveis (em dimensões de correntes de plasma e electromagnéticas) antes mesmo da formação material do Sistema Solar. Pressupõe-se então, que a actual existência física dos planetas foi antecedida por formas não materiais (no sentido fermiónico do termo) onde deveriam prevalecer campos quânticos que definiriam o futuro da sua natureza.
Não deixa de ser uma teoria absolutamente inovadora e que se enquadraria sem dificuldade nas actuais hipóteses da Cosmologia e da Astrofísica, nomeadamente da Astronomia Planetária, vindo de certo modo ao encontro dos problemas enfrentados pela actual crise nestas ciências.
Ponto de possível encontro entre a ciência e estes conceitos teosóficos é o postulado compartilhado do aparecimento simultâneo da vida em diversos corpos planetários no sistema solar. Vejamos então.
Segundo este esquema, que foi basear-se nas milenares Estâncias de Dzyan, na Cabala Hebraica e no Budismo do Norte, primeiramente tem formação o planeta não-material (fases A e B) pelo surgimento de extensos campos toroidais eléctricos (os conceitos Fohat e Jiva) criados pelos vórtices de plasma das ejecções de material coronal da estrela em formação (o Sol).
A agregação de material nebular em consonância com estes campos toroidais, conduzem à formação de um corpo esferóide, e só depois de existir massa crítica necessária se inicia o processo de criação do campo toroidal magnético interno (fase C) - seja pelo crescimento acelerado de um núcleo metálico de ferro e níquel, seja pela criação de bolsas magmáticas e circulação de fluidos magmáticos internos e mais tarde pelo surgimento de um sistema de placas tectónicas.
Inicia-se a actividade vulcânica nesta fase que é a expressão maior deste Globo onde se criam as condições bióticas para o aparecimento da vida (fase D).
Todas estas fases duram éons de tempo – Manvantaras e Pralayas planetários, sobre as quais nos iremos debruçar mais à frente.
Ora é sabido que Vénus possuiu oceanos e um campo magnético forte tendo havido condições para ter surgido vida, que logo desapareceu pelo atroz efeito de estufa. É o planeta mais antigo a manifestar vida e encontra-se na 5ª Ronda, segundo a Teosofia. O futuro longínquo da Terra, que se encontra na 4ª Ronda será então algo semelhante ao actual ambiente venusiano?
Marte teria 1/3 da sua superfície ocupada por oceanos, uma ténue atmosfera, mais densa que a actual, mas um campo magnético extremamente fraco que não protegeu as primeiras formas de vida. No entanto presentemente situa-se na 4ª Ronda.
A Terra, ao ter sido impactada pelo proto-planeta Theia, adquire um núcleo interno, um acréscimo significativo do solvente universal (a água), placas tectónicas, ganha uma lua que cria sinergias com o planeta e tem assim condições para que a vida vingue e evolua estando na 4ª Cadeia assim como Marte. Seria, portanto, possível voltar a acelerar o aparecimento de vida em Marte, talvez pelo processo de “terraformação” de acordo com alguns projectos ficcionistas actuais de engenharia planetária.
Segundo a Teosofia a Lua é definida como um resíduo de Globo muito maior, que foi o planeta físico da 3ª Cadeia mantendo a mesma posição na 3ª Cadeia que aquela mantida pela Terra na 4ª Cadeia e que irá desaparecer no futuro (na 7ª Ronda). Nisto a coincidência parece ser total.
Interessante verificar que tanto Júpiter como Saturno, se encontram na 3ª Cadeia levando a crer que os processos bióticos ainda não estão em curso, mas que poderão ter-se iniciado nas suas luas Titan, Europa, Encélado, e que poderão corresponder aos 3 “Esquemas Sem Nome” que existem no diagrama da estrutura do Sistema Solar e que nem a Teosofia, nem Blavatsky, conseguiram definir, referindo apenas que eram planetas que ainda não existiam (ver diagrama III).
Na actual 4ª Ronda a Teosofia acrescenta que a Terra, Mercúrio e Marte possuem as mesmas características físicas (fase D), ou seja, possuem núcleos densos de ferro e níquel, água sobretudo nas condições de permafrost ou em glaciares nas zonas polares, o que coincide também com o actual conhecimento sobre a estrutura interna destes planetas. Marte inclusive apresenta sismicidade detectada muito recentemente pela sonda InSight da NASA que registou até agora centenas de sismos ou “martemotos” atestando que o planeta é geologicamente activo, apesar de não ter sido confirmada ainda a existência de um sistema de placas tectónicas como na Terra.
Verifica-se então alguma semelhança, em termos gerais, daquilo que a Ciência tem vindo a descobrir e a levantar hipóteses, com aqueles axiomas revelados pela doutrina teosófica e por Helena Blavatsky na sua obra Doutrina Secreta.
Diagrama III - Representação do nosso Sistema Solar
com os seus 10 esquemas de evolução, cada um formado por 7 Cadeias de 7 Globos com
as suas sete Raças (5).
A concepção dos Globos insere-se numa hierarquia evolutiva em que numa Cadeia um Globo dura um período Manvantárico e a passagem de um Globo para outro medeia éons de tempo designados no sânscrito por Pralayas Planetários. O mesmo se aplica aos ciclos entre Cadeias designado como Pralaya intercatenário. Sete Cadeias constituem um “Esquema Evolutivo” sendo considerado que o nosso Logos Solar é constituído por 10 “Esquemas Evolutivos” (Diagrama III).
Cada “Esquema Evolutivo”, como vimos anteriormente, representa patamares sempre mais evoluídos dos Globos onde a dualidade – construção/dissolução, é o mecanismo de aprimoramento evolutivo.
As cadeias desenvolvem-se de acordo com a proximidade dos planetas ao Sol e tomam o seu nome. Aqui surge uma cadeia denominada de Vulcano que pressupõe a existência de um corpo mais próximo do Sol para além de Mercúrio. Tal nunca foi verificado pela astrometria ou por observações astronómicas directas, o que não invalida a hipótese de tal existência se a remetermos para o início da formação do Sistema Solar.
Talvez outras conexões nos ajudem a desvelar mistérios seculares.
Exploremos uma ligação entre a Tetraktis Pitagórica e o sistema teosófico das Rondas e dos Globos, revelada pela presença de uma constante numérica, infinitamente evolutiva em direcção à perfeição, representada por uma suposta constante, designada por Número de Ouro ou Phi (φ), cuja origem muito antiga é remetida para as concepções de sistemas metafísicos e de hierarquias espirituais ligadas à evolução cósmica dos Vedas, amplamente representada na arquitectura monumental sagrada, e que milénios depois vai continuar a reflectir-se nas concepções cosmológicas herméticas da cabala e da alquimia ou ainda nas estruturas filosóficas hinduístas (Rajas, Sattva, Tamas) ou no Yin/Yang chinês (recriando os ciclos de criação/destruição). Mais tarde (Idade Média e Renascimento) deixa a sua marca no delineamento da construção das catedrais, na arte escultórica e na pintura.
De forma sintética e simbólica a Tetraktis (do grego τετρακτύς), representa uma figura geométrica envolvendo a distribuição espacial triangular de 10 pontos em arranjos de 4 linhas (1+2+3+4=10), representando a Década Pitagórica (que na cabala serão os 10 Sephirots ou a Árvore da Vida), simbolizando a unicidade cósmica na geração dos seguintes elementos:
1 Ponto = a Unidade/Fonte Divina/Fogo.
2 Pontos = a Dualidade/Espírito versus Matéria/Ar.
3 Pontos = a Tríade ou o interface-harmonia/Água.
4 Pontos = a Tétrada ou a manifestação do mundo material/Terra.
Com a Teosofia e Helena P. Blavatsky esta estrutura, é reinterpretada de acordo com a estrutura da evolução cósmica representada pela Constituição Septenária onde o Quaternário (plano material: Stula Sharira, Prana Sharira, Linga Sharira e Kama-Manas ) e a Tríade (os 3 planos espirituais: Manas, Budhi e Atma) são alinhados com as quatro camadas pitagóricas, no total perfazendo sete níveis que reflectem a dualidade entre os reinos numénico (espiritual) e fenomenal (material).
Como vimos anteriormente, o sistema teosófico descreve nas Cadeias Planetárias a existência total de sete Globos (de A a G), sob dois arranjos, um descendente de 3 Globos (de A a C) e outros 3 ascendentes (de E a G) que correspondem às três primeiras camadas da Tetraktis Pitagórica (os elementos alquímicos Fogo, Ar e Água) e onde o Globo D alinha com a sua 4ª camada (o elemento alquímico Terra). Assim, pretende-se que estes 4 planos governem a evolução material e senciente no Kosmos. Estas Cadeias são percorridas sete vezes (sete ciclos de Rondas ou Correntes de Vida). A Década Pitagórica simboliza a totalidade de ciclos cósmicos feitos pelas sete Rondas e representados também no Diagrama III.
Conclusão sobre estes dois sistemas simbólicos unificadores:
A Tetraktis como arquétipo representa a forma numérica e geométrica da estrutura Septenária Teosófica em que ambos os sistemas partilham a mesma visão da evolução codificada, por um lado pela geometria sagrada da Tetraktis e por outro lado, pela dinâmica cíclica das Correntes de Vida Teosóficas, concebida como uma jornada espiral partindo da Unidade para a diferenciação material e de regresso à síntese última representada de novo pela Unidade.
Figura 4 - Triângulo de Pascal e a emergência
de Fibonacci
Por outro lado, o Triângulo de Pascal codifica matematicamente a Sequência de Fibonacci através de somas numéricas feitas em linhas diagonais de 45º. No triângulo de Pascal cada termo resulta da soma dos dois termos anteriores enquanto na Sequência de Fibonacci cada termo é a soma na diagonal de dois termos prévios. Á medida que a sequência cresce em valor, a razão Fn+1/Fn aproxima-se de Phi (φ) ou ~1.618 designado por Número de Ouro que reflecte o crescimento recorrente presente na Natureza sob a forma de espirais (desde as galáxias até à flor do girasol), espelhando a crença pitagórica na harmonia matemática e o tema transversal e unificador de todos os aspectos do Kosmos (espirituais e materiais).
Afinal, como confirma a doutrina hermética, o que está acima é como o que está abaixo, como tudo estivesse interligado. Assunto que a Física Quântica já demonstrou com o “entanglement” ou emparelhamento e o sistema de Informação Quântica.
Conceitos
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Padrão
chave
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Conexão
com os outros
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Tetracktis
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1+2+3+4 = 10
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Simbolismos numéricos e triângulos
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Triângulo de Pascal
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C(n,k)
= C(n-1,k)+C(n-1,k-1)
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Gera Fibonacci via linhas diagonais
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Fibonacci
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F(n)
= F(n-1)+F(n-2)
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Emerge do triângulo de Pascal
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Phi → φ
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1,618…
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Emerge da Sequência de Fibonacci
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Chegados aqui, colocar-se-á a questão da razão desta abordagem e ao inultrapassável assunto ligado às formas triangulares.
Tenhamos em conta que o triângulo representa a única hipótese de construção de uma superfície. Com dois pontos apenas obteremos uma linha, mas juntando três pontos geramos superfícies triangulares com que podemos construir algo sólido.
É o caso dos sólidos platónicos formados por poliedros convexos cujas faces são polígonos regulares congruentes em que os ângulos nos vértices são iguais. São eles o Tetraedro (4 faces triangulares), o Cubo ou hexaedro (6 faces quadradas que podem ser decompostas em 12 triângulos, o Octaedro (8 faces triangulares), o Dodecaedro (12 faces pentagonais que podem ser desdobradas em 24 triângulos) e o Icosaedro (20 faces triangulares).
Vemos que as formas triangulares têm uma forte presença na construção daqueles 5 sólidos platónicos porque são estruturalmente estáveis e não podem ser deformados sem alterar o tamanho dos lados. Três dos cinco sólidos platónicos são totalmente compostos por triângulos equiláteros:
Tetraedro (4 triângulos)
Octaedro (8 triângulos)
Icosaedro (20 triângulos).
Mostra que o triângulo equilátero é uma das formas fundamentais para a construção de sólidos altamente simétricos e estáveis. Além disso, o tetraedro é o único sólido platónico que tem o menor número de faces e vértices possíveis, servindo como base estrutural para muitas outras formas geométricas. É assim que no Timeu, Platão faz corresponder os “quatro elementos”, a estes sólidos, a saber o Fogo (tetraedro), o Ar (octaedro), a Água (icosaedro), a Terra (cubo), tendo atribuído ao dodecaedro a estrutura do próprio Universo.
Revelo agora o meu propósito.
Chegados aqui, recorro à teoria actual de quantização do espaço e da gravidade quântica em loop, que advoga que o próprio espaço, não sendo vazio, é um campo quântico covariante por conter todos os outros, como uma “espuma” de tensores ou de momentos magnéticos, spins, à escala de Planck (10-35 metros). Isto configura uma estrutura pluridimensional de nodos interligados numa rede complexa visualizada em unidades de formas triangulares, como tem sido defendida em grafismos pelo astrofísico teórico italiano Carlos Rovelli, e na nossa opinião provável veículo e suporte do fenómeno de emparelhamento (o Akasha védico de que falaremos adiante).
Figura 5 – Simulação gráfica da espuma de spins
Pensamos que será útil ao leitor reservarmos algum espaço a este assunto e enfatizar estes aspectos científicos quase de pendor oculto e de matemática impenetrável, face à sua crescente importância na formulação de uma visão holística do mundo que passa pela unificação de duas “mecânicas”: a Relativista Einsteiniana e a Quântica.
A designada “espuma de spins” é um conceito fundamental na “Gravidade Quântica em Loop” (GQL), no quadro da unificação da relatividade geral e da mecânica quântica, ao propor que o espaço-tempo não é contínuo, mas tem uma estrutura “discreta” (no sentido de quantum) na escala de Planck.
Constitui uma abordagem teórica baseada num modelo matemático que descreve a evolução do espaço quântico ao longo do tempo e descreve o espaço-tempo como uma rede de nós e laços, os elementos básicos derivados da sua quantização, tal como os átomos são os blocos fundamentais da matéria.
O espaço-tempo deixa de ser um continuum suave, como na Relatividade Geral, para se transformar numa teia de interacções quânticas discretas, a originada pela designada quantização, formada por unidades mínimas, chamadas áreas e volumes quânticos.
Deste modo o espaço tridimensional é representado por redes de spins, que são grafos com arestas rotuladas por números que indicam momentos angulares quânticos que ao evoluírem no tempo adquirem uma estrutura quadridimensional.
Este modelo introduz uma nova visão relativamente à gravidade concebida até agora como uma força, que agora passa a ser descrita como o somatório de histórias evolutivas na gravidade quântica, de maneira similar à formulação dos Diagramas de Feynman na mecânica quântica.
Em vez de partículas definidas por trajectórias clássicas, o espaço-tempo é agora descrito como uma superposição de geometrias possíveis, cada uma representada por uma rede de spins que evolui no tempo. Este modelo vem explicar a origem do Universo por uma emergência de um estado quântico discreto, uma flutuação quântica do vazio, e assim obviar à existência de singularidades, incluindo aquelas atribuídas aos Buracos Negros e evitando a perda da informação quando a matéria é engolida por eles.
A rede de spins descreve pequenos volumes do espaço que estão conectados, o que implica que a estrutura geométrica do espaço-tempo seja devida à existência de um grau de emaranhamento entre os laços de spin cuja evolução no tempo representa a reconstrução dinâmica da geometria do próprio espaço-tempo que pode ser agora entendida como um código quântico, onde o emaranhamento entre regiões da rede de spins age como a cola que mantém o espaço conectado de forma instantânea como fenómeno global de não-localidade. É também explicada de acordo com o Princípio Holográfico que postula que toda a informação pode ser armazenada na fronteira de um volume de espaço geométrico como as redes de spins e o emaranhamento. Esta ideia surge no contexto dos códigos quânticos tensoriais, que mostram que as estruturas geométricas podem emergir de redes de qubits altamente emaranhados. É assim que hoje em dia funciona a tão propalada, mas pouco compreendida, computação quântica.
Se o espaço-tempo emerge de um processo de informação quântica, pode então ser descrito como um código de correcção de erros quânticos. Isso significa que o Universo pode ser visto como um processador de informação quântica (não um computador!), onde a geometria do espaço-tempo mantém uma estrutura estável devido a este processo de codificação quântica, que confere protecção contra a decoerência e “ruído quântico” devido à presença de sistemas físicos ambientais, tornando-o assim robusto face às flutuações quânticas. Assim, as flutuações quânticas do vazio ou do vácuo, que é o mesmo que dizer do espaço-tempo, poderiam ser interpretadas como se fossem resultado de erros que são constantemente corrigidos pela rede de spins e pelas conexões emaranhadas.
Como é sabido, as flutuações quânticas surgem devido ao Princípio da Incerteza de Heisenberg, precisamente porque o vácuo quântico não é realmente vazio, mas cheio de partículas virtuais e de variações aleatórias nos próprios campos quânticos que lá residem. Essas flutuações explicam os fenómenos atribuídos ao Efeito Casimir (atracção entre placas devido a flutuações no vácuo), a já mencionada Radiação Hawking (onde as flutuações quânticas perto do Horizonte de Eventos dos Buracos Negros geram pares partícula-antipartícula), e a Espuma Quântica de Spins (flutuações na própria estrutura do espaço-tempo à escala de Planck). A Gravidade encontraria também aqui a razão da sua existência.
Isto poderá ter um significado mais profundo que se espraia pela natureza material: as partículas subatómicas, os fermiões e os bosões, que constituem a matéria e as forças conhecidas (Força Electromagnética, Forças Nucleares Forte e Fraca) que fazem parte do actual Modelo Padrão, acabam por ser o resultado desta actividade de correcção de erros e de onde literalmente emerge outro fenómeno, a gravidade. O actual conceito de “Filamentos Gravitacionais” surge então das conexões geométricas que emergem da correlação entre diferentes regiões do espaço-tempo e das massas em redor. As flutuações do campo quântico do bosão de Higgs seriam encarregues desta correlação
O bosão de Higgs (erradamente conhecido como a Partícula de Deus), deverá ter um papel na nas flutuações quânticas, a que está sujeito sendo um campo quântico, e potencialmente, de forma directa no colapso da função de onda. Esse papel derivará do mecanismo ligado às correcções quânticas de erros, explicando porque a sua massa não é muito maior do que os 125 GeV (o Problema da Hierarquia) e conferindo assim estabilidade e robustez ao tecido do espaço-tempo, e explicando também o aspecto da estrutura cósmica presente evidenciada no Fundo Cósmico de Micro-ondas.
De facto a mecânica quântica tradicional não explica o como ou o porquê do colapso de onda. Assume apenas que o colapso da função de onda ocorre aquando da interferência da medição.
Propostas (como a de Roger Penrose) sugerem que o colapso da onda está relacionado com a massa ou energia envolvida no sistema quântico (relação dada pela fórmula E=mc2). Como o bosão de Higgs dá massa às partículas, afectará indirectamente a forma como a construção dos sistemas massivos evoluem de estados quânticos para estados clássicos e dar origem ao aparecimento do efeito gravítico. A gravidade não é uma força mas apenas o espaço-tempo curvado sob a influência dos sistemas massivos, de acordo com a Relatividade Geral.
Apesar de tudo, ainda não há um modelo bem estabelecido, mas o caminho está feito, que ligue directamente o Higgs ao colapso da função de onda, constituindo um dos problemas fundamentais na interpretação da mecânica quântica.
Porém este corpo teórico da Física Quântica encontra eco nas milenares doutrinas védicas. O bosão de Higgs corresponderia ao Antaḥkaraṇa (अन्तःकरण) vedanta, presente como mediador entre o Ternário e o Quaternário na Constituição Septenária teosófica, o interface e ao mesmo tempo veículo que metaforicamente em todas as teogonias é descrito como a queda do espírito na matéria.
Também na cosmogonia védica encontramos conexões profundas com os modelos actuais da cosmologia.
Um dos modelos de correcção de erros quânticos mais conhecido é o código tensorial HaPPY (Holographic Perfect Tensor), baseado na geometria hiperbólica. Fornece um modelo para o espaço-tempo no modelo amplamente aceite do astrofísico Juan Maldecena e conhecido por AdS/CFT - Correspondência Anti-de Sitter/Teoria de Campos Conforme (Anti-de Sitter/Conformal Field Theory). Assume que aquele é construído a partir de qubits entrelaçados que, como vimos anteriormente, torna o Horizonte de Eventos de um Buraco Negro numa região protegida por um código quântico implicando que a informação pode ser recuperada de um Buraco Negro (resolvendo o paradoxo da “Informação de Hawking”).
Ou seja, o próprio espaço-tempo possui uma estrutura redundante, a superposição quântica, permitindo que a mesma informação possa ser armazenada em múltiplos locais dentro daquela estrutura holográfica que lhe é própria.
Esta ideia é muito interessante por dar-nos pistas sobre a origem do Universo.
Sabendo que todas as galáxias possuem um NGA (Núcleo Galáctico Activo) que corresponde a um Buraco Negro Supermassivo (SMBHs), com milhões a mil milhões de massas solares, de onde parece emergir o próprio nascimento da galáxia, leva-nos a pensar que SMBHs e galáxias crescem juntos, partilha esta teorizada como “co-evolução galáctica”, fundamental para o estabelecimento da relação entre a massa de qualquer SMBH e a dispersão das velocidades das estrelas no seu núcleo galáctico.
Aliás, encontramos acordo perfeito com a teoria CCC de Roger Penrose (Cosmologia Cíclica Conforme). Esta foi proposta como uma alternativa ao modelo padrão do Big Bang. A ideia principal é que o universo passa por ciclos sucessivos de expansão e dissolução, chamados de eons (aions). Aqui o fim de um Universo transforma-se no começo de um novo, sem necessidade de um Big Bang com singularidades mas apenas por reescalonamento da geometria conforme da métrica do espaço-tempo que preserva ângulos, mas não distâncias.
De acordo com a Teoria CCC, num futuro extremamente distante, o Universo torna-se cada vez mais homogéneo, inclusivamente sem partículas massivas, onde predominarão apenas fotões e a dissipação ou evaporação de Buracos Negros através da Radiação Hawking, com isto gerando um novo ciclo (eon) a partir do que era o infinito futuro do eon anterior. Deste modo surgem ciclos infinitos de Universos.
Sir Roger Penrose e colaboradores afirmam ter encontrado padrões circulares no Fundo Cósmico de Micro-ondas (CMB - Cosmic Micro-wave Background) que poderiam ser vestígios da evaporação de Buracos Negros pertencentes a um eon anterior.
Como corolário de toda a informação tratada até agora, constatamos que afinal não estamos longe dos conceitos da geometria pitagórica da Tetraktis, dos sólidos platónicos, e da geometria espacial e temporal das “Correntes de Vida” ou Rondas, carregadas de Informação Quântica pela concepção vedanta e hinduísta da Tríade concebida funcionalmente como um todo (o verdadeiro Gestalt):
a) Atma (आत्मन्) = Informação quântica pura, o princípio fundamental gerador da Consciência;
b) Budhi (बुद्धि) = Intelecto ou discernimento que analisa, discrimina e toma decisões “racionais” e tem a capacidade de discernir entre certo e errado, tida como sede da intuição e portanto das flutuações quânticas interpretadas e sujeitas a correcção como erros emergentes;
c) Manas (मनस्) = tida como a mente inferior que recepciona estímulos e impulsos, a geometria holográfica da rede de spins, indutora do fenómeno de não-localidade e de fluxos de emaranhamento.
Como escreveu Erwin Schrodinger “The total number of minds in the universe is one. In fact, consciousness is a singularity phasing within all beings” (Erwin Schrödinger, 1944, “What Is Life? and Other Scientific Essays.”).
Os Upanishads no capítulo VIII, AITAREYA, é-nos dito “Brahman, fonte, sustentação e fim do Universo, participa de todas as fases da existência. Ele acorda com o homem que acorda, sonha com o que sonha e dorme o sono profundo do que dorme sem sonhar; porém ele transcende esses três estados para se tornar ele próprio. Sua verdadeira natureza é a consciência pura.” (7)
E no capítulo MUNDAKA “Como a teia vem da aranha, como as plantas crescem do solo e o cabelo do corpo do homem, assim jorra o Universo do eterno Brahman.
“Brahman quis que fosse assim, e extraiu de si mesmo a causa material do Universo, disso veio a energia primordial; e da energia primordial a mente; da mente os elementos subtis; dos elementos subtis os diversos mundos; e de acções realizadas por seres nos diversos mundos a cadeia de causa e efeito – a recompensa e punição das acções.
“Brahman tudo vê, tudo sabe, ele é o próprio conhecimento. Dele nascem a inteligência cósmica, o nome, a forma, e a causa material de todos os seres criados e das coisas.”
Mas poderíamos ainda recorrer à Estância Segunda do UTTARA GITA (8), o cântico da Iniciação de Arjuna após a batalha de Kurukshetra, descrita no BHAGAVAD GITA: “Este Brahman modelado com Terra dissolve-se na Água; a Água seca-se pelo Fogo; o Fogo é devorado pelo Ar; e o Ar é absorvido por sua vez pelo Akasha.
Mas o mesmo Akasha assemelha-se à mente, a mente a Buddhi, e Buddhi ao Ahankara, o Ahankara ao Chittam e o Chittam ao Atma.”
Em conclusão, e fazendo uso de linguagem moderna dos últimos desenvolvimentos teóricos da ciência, a ligação antevista entre “Espuma de Spins”, emaranhamento e a teoria da Informação Quântica, sugere que o espaço-tempo pode ser uma estrutura emergente, sustentada por padrões de emaranhamento quântico. Por outras palavras, a realidade que percebemos pode ser uma manifestação de redes quânticas de informação, algo parecido com um código quântico cósmico de que o fenómeno gravítico é apenas outra manifestação trabalhada pelo bosão de Higgs.
Esta poderia ser a versão moderna, em linguagem científica, dos Upanishads ou do Bhagavad Gita.
Pela frente temos Eons e Eons de tempo!
Nas tradições filosóficas helenísticas, temporalmente mais próximas, Aion é uma divindade associada ao tempo ilimitado e cíclico, em contraste com Chronos (o tempo cronológico). No contexto Gnóstico os Èons são também entidades divinas, emanadas de uma entidade divina suprema – o Bythos ou o “Abismo”, interfaces entre a dimensão espiritual (o Pleroma) e o material (Kenoma). Partilham a sua actividade na criação do Universo e da Humanidade restabelecendo a harmonia cósmica (o Sattva hinduísta), funcionalmente através de emanações em pares de “sizígias”, masculino-feminino ou Rajas-Tamas no hinduísmo, construção-dissolução, sendo que a mais conhecida é “Pittis Sophia”, a Sabedoria, cuja “queda” teria dado origem ao mundo material.
Em tradições védicas e hinduístas, mais ancestrais, estas temporalidades ganham dimensões quantificáveis. Manvantara ou idade de Brahma ou Manu (Manu no hinduísmo e depois na teosofia é o criador de universos, mas também um período astronómico) deriva de "Manuantara", "Manu-antara" ou "Manvantara" e significa, literalmente, a duração de Manu, ou a duração da sua vida.
Assim, um dia e uma noite de Brahma corresponde a um ciclo Manvantárico e um Pralaya, ou seja, de construção e dissolução que corresponde a 8 640 000 000 anos terrestres, o que se aproxima dos valores calculados para a idade do Sistema Solar que é entre 4 571 000 000 e 5 000 000 000 de anos.
Multiplicar este valor por 365, que é o número de dias num ano, equivale a um ano de Brahma equivalente a 3 110 400 000 000 anos, enquanto um Maha Kalpa que é uma época ou Ciclo de Brahma é aquele valor multiplicado por 100 (ou 311 040 000 000 000 anos) e que segundo Helena Blavatsky corresponde aos períodos de actividade crescente (Maha manvantara) e decrescente (Maha pralaya) do Universo – a vida de Brahma.
Presentemente a Cosmologia estima que o nosso Universo tenha uma dimensão de 94 mil milhões de anos-luz e estará sempre em expansão, à velocidade da luz. A idade atribuída à nossa galáxia que é tão antiga quanto o Universo é cerca de 14 mil milhões de anos. Logo aqueles valores da doutrina teosófica superam em muito as nossas estimativas actuais, mas são valores a considerar numa teoria como aquela defendida por Roger Penrose, a CCC – Cosmologia Cíclica Conforme, em que os Universos surgem de outros antecedentes, acompanhando, como já vimos, a ideia de ciclos contínuos de construção e dissolução.
É estonteante a imensa e complexa estrutura de sistemas elaborados pelas antigas doutrinas védicas, expressa nas Estâncias de Dzyan, presentes nos Puranas, vertidas nos Upanishads, e reflectidas no Bhagavad Gita. Nelas se basearam posteriormente as diversas escolas Teosóficas, para explicar o surgimento do Universo, a sua natureza e a sua evolução. Contudo, de forma genérica, como verificámos, existem pontos comuns entre os conhecimentos científicos actuais e aquelas elaboradas teorias axiomáticas.
Porém nunca encontrámos “humanidades” anteriores.
Neste aspecto, a hipótese da existência de outras humanidades ou de outros seres vivos ao tempo da formação inicial do nosso planeta, poderá encontrar eco nas explicações dadas pela teoria do deslocamento das placas tectónicas terrestres.
A recente descoberta de autênticos continentes de magma no interior da Terra está ligada ao estudo das chamadas "províncias de baixa velocidade de cisalhamento" (LLSVPs, na sigla em inglês), que são vastas regiões no manto inferior onde as ondas sísmicas se propagam mais lentamente. Essas estruturas podem ser interpretadas como regiões de rocha parcialmente fundida ou diferente na sua composição em relação ao restante do manto.
Tem-se por adquirido que o movimento das placas tectónicas influencia directamente a dinâmica do manto terrestre. Quando as placas oceânicas afundam em zonas de subducção, carregam o material frio para o interior do planeta, afectando a convecção do manto e potencialmente alimentando essas regiões profundas de magma. Deste modo criam-se as grandes plumas mantélicas conhecidas, que dão origem a vulcanismos intensos, como os hotspots de que são exemplos o Hawai e a Islândia.
Estes gigantescos processos geodinâmicos apagam em milhões de anos tudo o que tiver existido em fases iniciais da formação planetária. Se alguma proto-humanidade tiver existido, sob formas orgânicas semelhantes ou diferentes às nossas conhecidas, todos os indícios terão desaparecido. A interacção dessas regiões com a convecção do manto pode inclusivamente afectar o movimento das placas tectónicas e a formação de supercontinentes no futuro.
Somos insignificantes sobre este orbe terrestre. Em nossa ajuda vem aquilo que se pensa saber actualmente da escala temporal terrestre com 4,5 mil milhões de anos e dos primórdios da existência humana:
a) Que os ancestrais da linha humana (os hominídeos), terão eventualmente aparecido apenas há 7 milhões de anos, isso representa apenas 0,0015% da história da presença humana no nosso planeta. Se a história da Terra fosse resumida a um dia de 24 horas, os hominídeos teriam aparecido às 23:59:59 horas, nas últimas fracções do último segundo.
b) Que se incluirmos o genus Homo (Homo habilis com uma antiguidade em redor dos 2,8 milhões de anos), a percentagem retrocede para 0,0006% da história terrestre.
c) Mas, se compararmos com a época dos dinossauros, 165 milhões de anos, representará uma infinitésima fracção de tempo.
Será que a dinâmica planetária não gerou outras oportunidades de “Correntes de Vida” ou Rondas? Engolidas pela frenética actividade geológica terrestre daqueles tempos de renovação e consolidação, e agora convertidas em magmas nos LLSVPs, aonde perdemos qualquer hipótese de verificação e confirmação científica?
De facto, esta ideia adquiriu substância em 2018, quando dois investigadores, nomeadamente Gavin Schmidt, director do Instituto Goddard e Adam Frank, astrofísico da Universidade de Rochester, sugeriram aquilo que ficou conhecida por Hipótese Siluriana (6), sobre a possível existência no nosso planeta há milhões de anos de uma civilização relativamente avançada. Tal hipótese não afirma que tal civilização tenha existido. Apenas constrói hipóteses de como poderíamos cientificamente detectar sinais de uma sociedade tecnologicamente próxima daquilo que poderiam ter sido, por exemplo, os estágios tecnológicos similares aos dos Séculos XVII ou XVIII, e que poderiam ter desaparecido completamente da memória actual da nossa civilização. Se uma civilização minimamente avançada tivesse surgido antes, digamos, há 100 milhões de anos, a maior parte das evidências físicas (como cidades e tecnologia) já teriam sido apagadas pela erosão, pela subducção tectónica e por outros processos geológicos. De facto, para além de alguns milhões de anos, tornam-se raros os registos geológicos acedíveis, e poucos fósseis não têm qualquer probabilidade de preservação. Também desapareceriam aquilo que poderia constituir fontes de pesquisa credível nos registos geológicos, como picos incomuns de CO₂ ou isótopos alterados, depósitos residuais de materiais sintéticos (ligas metálicas e outros materiais derivados de actividades industriais ou de mineração) ou algum impacto como uma extinção em massa semelhante àquela do Antropoceno.
Na verdade, o que hoje constatamos é que o Modelo Padrão da Física das Partículas não está completo; que se equacionam novos campos quânticos ligados à quantização do próprio espaço-tempo e da gravidade, numa tentativa de unificação urgente da Relatividade Geral com a Física Quântica; que a Consciência seja um constructo de per si, o motor fundamental na arquitectura do Cosmos; que o Big Bang esteja posto em causa pelas evidências observacionais profundas do telescópio James Webb; que mais de 90% dos constituintes do Universo, referidos como Matéria Escura e Energia Escura, não são conhecidos (aqui a escuridão só reflecte a nossa ignorância); que a história da humanidade tem retrocedido a par e passo com novas e impactantes descobertas arqueológicas (por exemplo Gobleki Tepe e a ligação ao impacto da última pequena idade do gelo do Younger Dryas); e que por conseguinte, a Cosmologia e a Astrofísica, bem como muitas outras ciências, enfrentam crises de crescimento, como nunca antes presenciadas, sendo que a cada passo dado na investigação em todos estes quadrantes do conhecimento surgem mais perguntas que soluções.
Afinal, a Ciência no seu melhor!
Figura 6 –. Ilustra a tectónica de placas na
formação planetária. Fonte: BENNU'S JOURNEY - Early Earth
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Sendo Açoriano, não poderia deixar de citar Antero de Quental (1842-1891). No soneto Evolução, expressa magistralmente o percurso da Monada Humana pelos vários Reinos Naturais até ser o que é hoje. É a doutrina teosófica da Evolução, influenciado pelas obras de Helena Blavatsky e do 1º Visconde de Figaniére (1827-1908), Frederico Francisco Stuart de Figanière e Morão, considerado um dos fundadores da actual Teosofia Portuguesa, admirador e amigo chegado de H. P. Blavatsky, primo de Serpa Pinto, explorador das savanas africanas):
Fui rocha em tempo, e fui no mundo antigo
tronco ou ramo na incógnita floresta...
Onda, espumei, quebrando-me na aresta
Do granito, antiquíssimo inimigo...
Rugi, fera talvez, buscando abrigo
Na caverna que ensombra urze e giesta;
O, monstro primitivo, ergui a testa
No limoso paúl, glauco pascigo...
Hoje sou homem, e na sombra enorme
Vejo, a meus pés, a escada multiforme,
Que desce, em espirais, da imensidade...
Interrogo o infinito e às vezes choro...
Mas estendendo as mãos no vácuo, adoro
E aspiro unicamente à liberdade
Antero de Quental, in "Sonetos"
Foi nosso propósito deixar pistas para futura reflexão, sabendo que a verdade de hoje é a ignorância do futuro, parafraseando Helena P. Blavatsky.
Notas e Bibliografia
(1) L. Pianiet al., Science 369, 1110 (2020).
(2) Briony H.N. Horgan, Ryan B. Anderson, Gilles Dromart, Elena S. Amador, Melissa S. Rice,
The mineral diversity of Jezero crater: Evidence for possible lacustrine carbonates on Mars,
Icarus, Volume 339, 2020.
(3) Chyba C, Sagan C (1992) Endogenous production, exogenous delivery and impactshock synthesis of organic molecules: An inventory for the origins of life. Nature 355:125–132.
(4) Helena P. Blavatsky, Doutrina Secreta, Volume II, Editora Pensamento, São Paulo.
(5) Deity, Cosmos and Man by Geoffrey Farthing, Published in the late 1900's, Edição Digital.
(6) OS UPANISHADS, Sopro Vital do Eterno, de acordo com a versão inglesa de SWAMI PRABAHVANANDA e FREDERICK MANCHESTER, Editorial Pensamento.
(7) UTTARA GITA (Iniciação de Arjuna), VYASA, Traduzido do sânscrito para o inglês por D. R. Laheri e do inglês para o castelhano por Federico Climent Terrer, versão digital em PDF.
(8) Schmidt GA, Frank A. The Silurian hypothesis: would it be possible to detect an industrial civilization in the geological record? International Journal of Astrobiology. 2019;18(2):142-150. doi:10.1017/S1473550418000095.
João Porto e Ponta Delgada, 20 de Fevereiro de 2025
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